Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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Neste episódio:
- Qual a boa sobre os laticínios?
- Revisão de revisões sistemáticas e meta-análises sobre laticínios;
- Falaremos novamente sobre crise científica;
Escute e passe adiante!!
Saúde é importante!
OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br
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Ouça o Episódio De Hoje:
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Caso de Sucesso do Dia
Referências
Revisão de Revisões Sistemáticas
Estado Crítico da Ciência Nutricional
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá, olá! Bem-vindo a
mais um episódio do seu podcast querido semanal, o podcast da Tribo Forte. Eu
sou o Rodrigo Polesso e mais uma vez a gente vai compartilhar aqui o melhor que
a gente pode sobre o que? Estilo de vida saudável, saúde, emagrecimento, tudo
baseado em evidência. Hoje a gente vai discorrer sobre alguns assuntos com
destaque para laticínios. Qual é a boa sobre laticínios? E claro, temos que
falar sobre crise científica de novo. Meu Deus do céu, é uma trend isso
aí, não é? Mas enfim, dr. Souto, bem-vindo a esse podcast. Tudo certo,
preparado?
Dr. Souto: Tudo certo. Boa tarde, boa
tarde aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Olha lá, laticínios.
Esse é um outro assunto que, bom… é controverso. Quer dizer, não é controverso.
Mas, enfim, a discussão popular é controversa sobre esse assunto. É uma coisa
que a gente tem aproveitado, degustado há muitos séculos, né, pessoal? Talvez
até milênios. Laticínios e todos os derivados de laticínios. Só que claro que a
“sabedoria” moderna acha que a gente não deva comer, que a gente deva modificar
isso e comer laticínios de baixa gordura, e que deva matar o leite
pasteurizando e tudo mais. Parece que a gente fica mais burro quanto mais o
tempo passa. Enfim, mas o que a evidência está dizendo sobre isso? Tem uma
evidência muito legal que saiu, é uma nova revisão de revisões sistemáticas e
metanálises sobre o consumo de laticínios e risco de doenças que foi publicada
recentemente. É altíssimo o número de evidências se você pensar em estudos
observacionais, ensaios clínicos randomizados, a gente tem metanálises, a gente
tem revisões. E essa aqui é uma revisão de revisões e uma revisão de
metanálises de ensaios clínicos randomizados. Então, é realmente um apanhado
geral sobre evidência. Mesmo com a literatura apontando há décadas que o
consumo de laticínios integrais não está associado a riscos aumentados de
problemas, o dogma nutricional, como eu falei, hoje ainda é de se recomendar
que seja cortado esse consumo e que sejam consumidos laticínios de baixa gordura.
O que a gente vê no mercado hoje, por exemplo, são iogurtes de baixa gordura ou
0 gordura. Queijos e leites de baixa gordura também. E vejamos o que essa
revisão de revisões concluiu ao analisar toda a literatura que foi constituída
de revisões, estudos observacionais e também metanálises de ensaios clínicos
randomizados. Eles disseram o seguinte: “O risco estimado de associação entre o
consumo de diferentes tipos de laticínios em diferentes doses e problemas
cardiovasculares, mostrou uma associação negativa estatisticamente
significante, ou não mostrou nenhuma associação significativa. A análise geral
das 12 metanálises de ensaios clínicos randomizados e também novas metanálises
atualizadas de ensaios clínicos randomizados não resultou em mudança significativa
em marcadores como pressão, colesterol total ou LDL. Logo, o presente estudo
infere que o consumo de laticínios integrais com quantidade de gordura normal
ou reduzida não afeta negativamente os riscos de problemas cardiovasculares.”
Está aí! Está na mesa! Dr. Souto, então por que a gente continua encontrando
coisas de baixa gordura por aí? Por que os médicos e nutricionistas, muitos
deles, continuam receitando que a gente coma pouca gordura ou nem coma
laticínios? Claro, se você é intolerante a isso é óbvio o motivo que você não
coma, mas em pessoas normais, um laticínio de qualidade pode ser uma fonte boa
de nutrição.
Dr.
Souto: Por que, né?
Rodrigo Polesso: Por quê? Qual é a
evidência?
Dr. Souto: Por que como diz o dr.
Steven Nissen, que é o chefe da cardiologia da Cleveland Clinic, as
diretrizes nutricionais são uma zona livre de evidências.
Rodrigo Polesso: Não precisa de
evidência para ter um dogma, parece.
Dr. Souto: Sim, porque olha só, se eu
posso fazer uma metanálise de metanálises isso seria uma metametanálise? Mas se
eu posso fazer uma metanálise de metanálises e mostrar que eu já tenho 12
metanálises e elas mostram que os laticínios com a sua gordura integral não
apenas não estão associados com problemas, mas estão associados com benefícios,
redução de peso, redução do risco de diabetes, por que nós ainda estamos com
gente dizendo para consumir laticínios desnatados? Então, nos Estados Unidos,
por exemplo, isso está nas diretrizes do USDA. E essas diretrizes determinam o
que as crianças vão consumir nos lanches escolares. Então, lá é permitido
consumir achocolatado adoçado com açúcar, mas com leite desnatado. Isso pode.
Rodrigo Polesso: Desde que seja leite
desnatado!
Dr. Souto: Então, é sério isso,
pessoal. Observem o quão obtusa pode ser uma orientação nutricional errada. O
pavor da gordura, que como nós vimos agora, tem 12 metanálises de ensaios
clínicos randomizados mostrando que isto é errado. Mas eles continuam achando.
Por quê? Porque são dogmáticos. Continuam achando que a gordura dos laticínios
é um problema. Então, se você for americano, tem seu filho em uma escola
pública, ele pode lá no lanche da escola tomar o que seria tipo um Nescau
pronto, um Toddynho, desde que feito com leite desnatado. Porque o açúcar, a
tonelada de açúcar que tem ali, isso eles não veem como problema. Mas, nossa, a
gordura do leite! Em compensação, se você quiser dar leite integral para essa
criança, não pode. As diretrizes4 governamentais proíbem. Então, sim, a
ignorância tem consequências, ela tem consequências danosas. Então, é
importante a gente ficar batendo na tecla. Mostrar assim: olha, não é só uma
questão de opinião. Quando se chega no ponto de ter tantas metanálises que se
pode fazer uma metanálise das metanálises para mostrar: olha, não existe mais
dúvida. E as diretrizes ainda assim não mudam, nós estamos tratando de dogma,
nós estamos tratando de religião. Nós não estamos tratando de ciência. E é uma
pena que a nutrição seja regida por dogmas e posturas religiosas.
Rodrigo Polesso: Perfeito. Ideologia
não combina com ciência. E você falou de ignorância, e o pior é quando
ignorância vira lei. Como no caso que você comentou.
Dr. Souto: Claro!
Rodrigo Polesso: Inclusive, o pessoal
que produz leite tem problemas se eles quiserem vender o leite cru, o leite
integral como sai da vaca, tem problema. Por causa do controle sanitário.
Então, eles têm dificuldade em vender o alimento como ele sempre foi vendido em
toda a história, por causa de uma lei, por causa do medo dos germes, o medo da
gordura, enfim, o medo irreal que foi artificialmente criado sem evidências.
Dr. Souto: Agora, o que seria bom é se
as pessoas tivessem medo daquilo que elas têm que ter medo. E aí, mais uma vez,
não tem ausência de estudos, não tem falta, não tem… no que diz respeito aos
efeitos danosos do açúcar. Então, como é possível ter uma legislação que
permita que achocolatado adoçado com açúcar seja permitido, mas que leite
integral seja proibido? Então, esse é o mundo no qual a gente vive. Essa é a
consequência última da ignorância. Então, quando as pessoas dizem assim: não dá
para culpar as diretrizes nutricionais pela epidemia de obesidade, diabetes.
Pensa um pouco! Pegue esse exemplo. Claro que dá para culpar.
Rodrigo Polesso: Dá sim.
Dr. Souto: Sim, obviamente as pessoas
vão buscar aquilo que dá mais prazer, aquilo que é mais gostoso. Isso é
natural. Porque a gente vive em um ambiente tóxico, onde hoje em dia em tudo
que é lugar tem comida da pior espécie para comprar, tudo isso é verdade.
Agora, ajuda… Já dei esse exemplo diversas vezes aqui: imagina que nós
vivêssemos num mundo onde, ao contrário da situação atual, em que se a pessoa
fumar tem que ir lá para o meio da rua, quando compra uma carteira de cigarro
tem aquelas fotos horrorosas de doenças no verso. Mas imagina que fosse o
contrário, que tivesse escrito na carteira que aquilo é bom, que faz bem.
Assim: fume mais para a sua saúde! E, na realidade, quem não fumasse é que
seguisse o ostracismo e se você quisesse entrar em algum lugar, basicamente o
cigarro fosse a moeda de troca, fosse o ingresso para entrar em qualquer lugar.
Bom, aí ia ser difícil parar de fumar. Pois o nosso governo se comporta dessa
forma no que diz respeito à alimentação. O nosso governo, eu digo, eu estou me
referindo ao mundo. Ao mundo com diretrizes obtusas. Às vezes eu penso que
talvez o melhor é que simplesmente o governo não se metesse nisso, porque o
nível de incompetência é tão grande, que se deixasse tudo valer pela tradição,
se as pessoas simplesmente começassem a seguir mais aquilo que seus avós faziam
talvez fosse a melhor opção do que deixar o governo se meter e piorar as coisas
com esse tipo de orientação. Então, o problema é que cai no balaio alguma coisa
certa com duas ou três erradas. É o famoso um passo para frente e dois para trás.
Agora estão começando a surgir mundo afora várias diretrizes de rotulagem.
Então, por exemplo, a imprensa brasileira anda elogiando muito um sistema que
foi adotado no Chile, que na parte da frente do pacote aparece bem grande, é um
hexágono preto escrito no fundo: alto em açúcar. Ok, né? Mas sabe o que mais
eles colocam? Alto em gordura. Alto em gordura saturada. Alto em sódio. Então,
as pessoas ficam com a impressão de que se é alto em gordura e se é alto em
açúcar é igualmente danoso. Isso é péssimo, né? Isso é péssimo.
Rodrigo Polesso: Péssimo.
Dr. Souto: Porque na realidade, eu
posso ter um filé de salmão que é altíssimo em gordura, quem não acreditar no
que eu digo, no que eu vou dizer agora, pega na internet e vai olhar. Se eu
pegar 100 gramas de salmão e 100 gramas de filé, o salmão tem mais gordura que
o filé.
Rodrigo Polesso: Com certeza.
Dr. Souto: Inclusive saturada, meus
amigos! Ok? Não obstante, um salmão nesse esquema receberia um rótulo preto
dizendo: cuidado, ele é rico em gorduras. Então, o pessoal pela sua confusão,
pela falta de medicina baseada em evidências, de práticas de saúde baseadas em
evidências, começa a misturar coisas boas com coisas péssimas. Então, eu
sinceramente quando penso no assunto, eu imagino que não adianta. A nutrição
com todo o tempo que já passou, continua anticientífica. E os governos
continuam incompetentes, se não seria o caso de simplesmente não se meter.
Rodrigo Polesso: Exatamente! Não se
meter. Como falam: é melhor ficar quieto do que atrapalhar. Deveria se aplicar
isso ao governo também.
Dr. Souto: Deixa o peixe ser peixe,
deixa a carne ser carne e deixa, então, as pessoas se alimentarem baseado na
tradição alimentar. Provavelmente a coisa daria melhor do que ver assim:
atenção, esse peixe é rico em gorduras e colesterol. Sim, porque peixe tem
colesterol. Camarão tem colesterol.
Rodrigo Polesso: Graças à Deus!
Dr. Souto: Na Austrália tem um outro
sistema de rotulagem que é ainda pior. É um tal sistema de cinco estrelas.
Então, para ganhar cinco estrelas a coisa não pode ter açúcar, mas também não
pode ter gordura e muito menos gordura saturada. De modo que tem um sujeito que
eu sigo no Twitter, que é um australiano, e ele volta e meia coloca fotos e
elas são absolutamente bizarras.
Rodrigo Polesso: O Toddynho é cinco
estrelas!
Dr. Souto: O Toddynho é cinco estrelas,
porque ele é um Toddynho que é pobre em gordura, pobre em gordura saturada e
pobre em sódio. Já um azeite de oliva é quatro estrelas, porque ele tem gordura
saturada. É absolutamente bizarro. As fotos que ele coloca mostram assim… eu
não sei se escolho a teoria da conspiração e digo que aquilo ali foi feito
basicamente porque tem uma série de alimentos industrializados e processados
que conseguem ter 5 estrelas por fazer a engenharia dos ingredientes, ou se é
somente ser obtuso, sabe? Tem, se não me engano, chama Navalha de Hanlon: nunca
atribua à malícia aquilo que pode ser completamente explicado pela
incompetência.
Rodrigo Polesso: Exato! Essa é boa
mesmo. Eu acho que é pura tapadice mesmo.
Dr. Souto: Complicado.
Rodrigo Polesso: Se vocês pensarem,
pessoal, o primeiro alimento que a natureza escolheu que um ser humano deve
comer é laticínio, né? Laticínio é o primeiro alimento que chega na boca do
bebezinho. E adivinha: não é pasteurizado, não é UHT!
Dr. Souto: O leite materno, se fosse
utilizar esse sistema de rotulagem, tinha que grudar na mama da mãe que ele é
rico em gordura, rico em gordura saturada e tem sódio, viu! Já aviso, tem 140
mg de sódio por ml. Aliás, por decilitro.
Rodrigo Polesso: Olha só, pessoal,
falta um pensamento assim, uma reflexão básica.
Dr. Souto: Falta um pouquinho usar a
cabeça para algo que não seja usar boné.
Rodrigo Polesso: Falta muito. O pessoal
que curte queijo, eu já gravei e não postei ainda, mas quando esse episódio
estiver no ar, eu acho que vai estar no ar lá no YouTube. Procure Queijo e mais
queijo; queijo Rodrigo Polesso. Você vai achar um vídeo que eu falo de queijo,
dou sugestão dos melhores queijos, explico o que é queijo de verdade, o que não
é, as piores opções, as melhores opções e como você pode incluir isso no seu
dia a dia sem nenhum malefício. Então é só procurar: queijo Rodrigo Polesso no
YouTube, que você vai achar. Caso de sucesso de hoje! Ângelo Almeida mandou
para a gente: “Hoje finalizei o desafio da primeira fase. Acho que foi mais
fácil do que eu imaginava. Nessa última semana eu perdi 2,5 kg, fazendo um
total de peso -10,5 kg, cintura -10,5 cm também.” Olha só, combinou a cintura
com o peso! Então ele finalizou isso tudo em 30 dias, perdeu 10,5 kg em questão
de um mês, quatro semanas fazendo uma alimentação forte, uma alimentação focada
em emagrecimento nesse caso. Se você quer o passo a passo que ele seguiu para
tentar atingir a melhor forma da sua vida e se manter lá, mais importante ainda,
entre em CódigoEmagrecerDeVez.com.br e veja a apresentação lá. Ok! O estado
crítico da ciência. Meu Deus do céu! Sério que a ciência tem falhas? Não, não
tem. É perfeita! O estado crítico da ciência nutricional em particular. Saiu um
artigo em um jornal, o PLOS, em estudos feitos em animais na área da medicina e
da nutrição, a replicação desses estudos para verificar a validade das
conclusões, é algo considerado boa prática e boa ciência também. Ao final, se
você não consegue replicar um estudo, tem algum problema aí, deveria ser
replicado. No entanto, a gente está vivendo em uma era de crise de replicação e
crise de boa ciência de fato. O novo estudo tristemente interessante foi
publicado agora este ano, colocando uma luz sobre este grande problema. Cientistas
de Berlim, na Alemanha, compararam o poder da replicação do jeito que ela é
feita agora com um medo cara ou coroa com a moeda. Como o artigo no site Science
Daily fala, vou traduzir aqui simultaneamente, eles falam: em estudos de
replicação de pouca amostragem, de poucos animais, normalmente menos de 10
animais nesse caso, e também… Ah, e outra coisa, eles estão criticando a
pequena amostragem de animais e também a alta barra para se caracterizar algo
como estatisticamente significante, que é 5% aqui que eles falam, uma taxa alta
para ser considerada. E isso acaba resultando em falsos positivos e também na
exageração dos efeitos verdadeiros. Ele falou que esse estudo alerta os
pesquisadores que, ao contrário do que se imagina, um estudo de replicação, nesse
caso quando os laboratórios do mundo inteiro, não vai adicionar mais evidência
do que o mero jogar para cima uma moeda. Então, quando esse pessoal segue e
bola esses estudos de replicação, eles não são mais precisos do que tirar cara
ou coroa na moeda. Eles falam que normalmente esses estudos não podem ser
replicados por outros laboratórios e que o sucesso na replicação desses estudos
cai e fica abaixo de 50%. Então, olha só, eles falam que replicação é
fundamental para o processo científico. Eles falam que nós podemos aprender
sobre uma replicação que deu certo, uma replicação que deu errado, mas somente
se o design for feito corretamente. Então, basicamente eles sugerem que é
necessário se elevar o tamanho da amostra dos animais nesses estudos de replicação
para se tirar conclusões mais precisas e também se elevar os pré-requisitos
para se caracterizar os resultados como significantes estatisticamente. Agora,
presta atenção do que foi dito aqui: menos de 50% dos estudos feitos em
animais, esses que a gente usa até para extrapolar para conclusões humanas,
para mudar hábitos humanos, menos de 50% deles são possíveis de serem
replicados. E esses que são replicados têm altas chances de terem falsos
positivos e exageros também dos resultados, por causa do péssimo design desses
estudos, inerentemente falhos. Então, em resumo acho que a palavra aqui é
catástrofe científica, né, dr. Souto? Nesses estudos de ratos. E a gente vê
muitos estudos de ratos ou estudos mecanísticos em ratos também, extrapolando
para modificações alimentares de humanos, né?
Dr. Souto: É, é bastante coisa,
bastante assunto para a gente destilar isso aí. Então, a primeira coisa que eu
acho que vale a pena a gente pensar é: por que tem tanto estudo em modelos
animais, especialmente, claro, no modelo animal preferido, que são ratos,
camundongos? Por que tem tanto e eles são tão contraditórios? Existe um
conceito em economia que se chamam os incentivos perversos. Então, os
economistas usam incentivos para que determinadas coisas aconteçam. Então, por
exemplo, se o governo quer que determinada indústria produza mais, então eles
vão reduzir os impostos daquela indústria. É um incentivo financeiro, um
incentivo fiscal. O que é um incentivo perverso? É aquele incentivo que acaba
dando resultados ruins, resultados que a gente não quer, resultados opostos.
Então, dentro da vida acadêmica, do mundo acadêmico, o incentivo perverso é
aquilo que em inglês a gente chama de publish or perish, publique ou
morra dentro do mundo acadêmico. Então, para que alguém se mantenha vivo dentro
do meio acadêmico, se torne um pesquisador conhecido, consiga dinheiro para
pesquisa, essa pessoa tem que estar sempre produzindo, sempre publicando.
Então, isso gera um incentivo perverso. Por quê? Porque não precisa ter qualidade,
não precisa ser bem feito, eu não preciso realmente estar descobrindo algo que
vai ser útil, eu preciso publicar. Se eu publicar, eu avanço na minha carreira,
eu consigo progredir na minha carreira acadêmica e isso significa, inclusive,
salário e outras coisas além de prestígio. Então, isso gera um mar de estudos
que foram feitos não porque o pesquisador realmente estava extremamente curioso
para descobrir alguma coisa sobre a natureza, e sim porque ele precisava de
mais alguma publicação para justificar a sua posição acadêmica. Isso gera
muitos desses estudos problemáticos. A outra coisa é o seguinte: é muito mais
fácil publicar um estudo positivo do que um estudo negativo, certo?
Rodrigo Polesso: Sim.
Dr. Souto: Então, se eu faço… Eu tenho
uma hipótese lá, que determinada comida… pega alguma coisa famosa aí, bluberries,
mirtilo, né? Hoje em dia tem um monte de estudos dizendo que mirtilo é bom para
tudo. Aí o sujeito quer lá ver se ele der mirtilo para os ratos, se isso vai
melhorar a artrite reumatoide dos ratos. Bom, se não melhora é difícil ele
publicar um estudo dizendo que bluberries não melhoram a artrite, mas é
muito fácil mostrar se o estudo der positivo. Então, existe um incentivo
perverso aí também de que os estudos mostrem algo. E acontece que existe um
negócio chamado graus de liberdade do pesquisador. O que é isso? Que diabos é
isso? Olha lá, se eu defino previamente que eu vou fazer um estudo de blueberries
em humanos, então eu defino qual é a doença, quantos eu vou pesquisar, eu vou
ter uma amostra de 400, quantas blueberries eu vou dar para um grupo e
quanto eu não vou dar para o outro… Bom, eu defino tudo isso e aí eu posso mais
ou menos ter uma ideia se essas blueberries ajudaram ou não. Nos estudos
em animais a gente não tem isso. A gente normalmente tem muito mais graus de
liberdade, o pesquisador escolhe quantos animais ele quer botar em cada gaiola,
quais as doses que ele quer testar e ele pode continuar mexendo nessas coisas
até achar uma diferença. Então, olha só, ele testou com um número x de animais
e não achou a diferença: então vou testar em mais 20 para ver se dá diferença.
Daqui a pouco ele vai testando ou vai mudando as doses, quando finamente deu
uma diferença, ele pega e diz assim: achamos, agora vamos publicar. Mas ele não
cita todas essas experiências que ele fez antes. Qual é o problema disso? O
problema disso é assim… uma vez eu li um exemplo e achei maravilhoso! Imagina
que tem um campeonato esportivo, o campeonato brasileiro de futebol.
Normalmente, esse campeonato tem as regras definidas lá no início. Quer dizer,
tem as regras do futebol que não vão mudar durante o campeonato e já foi
sorteado desde o início quais partidas ocorrerão em quais estádios, não é
verdade? Eu sei o calendário das partidas desde o início. Agora, imagina que
não fosse assim, que fosse o seguinte: olha, as partidas vão ocorrendo e daqui
a pouco o time do meu coração está em primeiro lugar, mas ainda faltam mais 10
rodadas para terminar o campeonato. E aí eu decreto que o campeonato terminou e
que o meu time é campeão. Eu não posso mudar as regras durante o campeonato
para beneficiar um resultado que eu gostei. Mas é isso que se faz nos estudos
em animais. A gente vai fazendo um monte de experimentos e vai mudando as
regras durante. Quando finalmente saiu campeão, quer dizer, saiu o resultado
que eu quero com P menor que 0,05, eu interrompo, eu escrevo aquilo, submeto
para publicação, publico. Por isso que depois ninguém consegue reproduzir esses
resultados, vira jogar uma moeda para cima. Porque aí alguém tenta fazer, só
que aquele resultado foi ao acaso, está certo? É a mesma coisa: às vezes tem um
time bem ruinzinho, mas que nas primeiras cinco rodadas do campeonato por um
acaso ele consegue ficar entre os dois primeiros ali. Bom, aí depois até o fim do
campeonato ele vai lá para o fim, lá para os que vão para a zona de
rebaixamento. Mas e se eu pudesse interromper o campeonato na hora que eu
quero, na hora que o resultado deu como eu quero? Então, são coisas
epistemológicas da ciência que a gente… vamos dizer, aquele leitor leigo de
assuntos científicos que se informa pelos meios de comunicação não tem a menor
ideia disso aí. Só que o jornalista que está escrevendo sobre aquilo ali também
não tem. E aí a gente vê essa sucessão de estudos contraditórios falando coisas
absurdas. Por isso que tem uma conta agora no Twitter sensacional que é aquela
@justsayinmice, ou seja, apenas diga em ratos. É sensacional! A única
coisa que essa conta faz é retweettar notícias que falam de estudos. Só
que as notícias dizem assim: comer cenouras reduz o seu risco de Alzheimer, e
aí o cara retweeta e coloca: em camundongos.
Rodrigo Polesso: Em camundongos!
Dr. Souto: Então, se simplesmente isso
fosse agregado, a gente já saberia. Olha, a chance disso ser verdade é ínfima por
todos esses problemas que nós estamos falando aí, que o Polesso citou desse
estudo. É praticamente jogar uma moeda para cima.
Rodrigo Polesso: Espero que todos os
camundongos nos ouvindo tenham anotado esse Twitter. É uma boa fonte de
informação para a dieta deles, eu imagino. Então, se você é um camundongo,
corra no Twitter lá. Olha só, pessoal! Que coisa! Então não dá para acreditar.
Imagina só a gente acreditar em um artigo que sai na mídia em massa hoje em
dia, se até as pessoas que fazem, que conduzem esses experimentos têm todas
essas falhas, imagina só quem escreve o bendito do artigo, quem publica ele.
Então, pessoal, é aquela coisa, o ceticismo inteligente é muito necessário.
Hoje mais do que nunca na era da informação e da desinformação também, mais
ainda. Dr. Souto, imagino que você já comeu no almoço aí, mas então vamos usar
a bola de cristal e tentar contar para a galera o que você está planejando
degustar na janta, já que você está fora de casa agora.
Dr. Souto: Pois é, né.
Rodrigo Polesso: Pode pedir ajuda para
os universitários aí se precisar.
Dr. Souto: Se sobrar fome para a janta…
se sobrar fome para a janta, provavelmente vai ser, se for em casa, vai ser um
bife de hambúrguer. Aí o pessoal diz assim: Ah, bife de hambúrguer processado!
Não, né, pessoal! Tem bife de hambúrguer que é 100% carne bovina. É só uma
carnezinha moída, é bom, é fácil de preparar, é maciozinho. Bota um ovo em
cima, não precisa de mais nada.
Rodrigo Polesso: Sim.
Dr. Souto: Caso contrário, bem, a gente
já passa 170 episódios tentando explicar para as pessoas que não existe
praticamente um restaurante onde você não possa pedir um prato que seja
compatível com uma alimentação forte, ou que você não possa pedir para
modificar. Então, a bola de cristal, algo me diz que vai ter um bifinho de
hambúrguer caseiro.
Rodrigo Polesso: Muito prático. Eu vou
fazer um ovo e um bacon hoje para mim. Eu acho que é ótimo. E aí um queijinho
de sobremesa também, muito fácil. Eu vi em um programa na TV ontem, eu acho… o
que que era… Tava falando que fizeram uma pesquisa, acho que de opinião, e a
maioria das pessoas dada a opção, prefeririam comer bacon do que fazer sexo!
Acredita nessa? É tamanho o poder do bacon, pessoal! E outra coisa também, eu
vi também na televisão, o pessoal tentando criar… é uma marca, eu não sei se
existe ainda, mas eu estava vendo nesses programas que o pessoal com
microempresa chega tentando pegar patrocínio, que eles criaram uma imitação de
bacon. O nome é Isso não é Bacon, que é tipo um bacon feito de coco. São lascas
de coco torradas, sei lá que diabos, para tentar imitar. Enfim, para
vegetarianos, né. Porque imagina que vida amarga sendo vegetariano e se
privando de coisas como bacon. E bacon tem qualidade, pessoal! Na verdade, se
você cortar a barriga do porco só sem nada, sem curar, sem colocar fumaça, sem
colocar nitrito, nada, zero. Só a barriga do porco e fizer na frigideira com
uma gordura, fica excelente. Então, o bacon, seja ele como for, é um dos
grandes presentes da natureza para nós, seres humanos. Enfim, é isso! Dr.
Souto, obrigado pela atenção, a gente se fala no próximo episódio. Mas antes
disso, siga a gente no Instagram! Siga lá @jcsouto o dr. Souto, siga
@rodrigopolesso e também @ablc.org.br. E lembre-se de conhecer também o que a
Tribo Forte tem para oferecer para você. Lá dentro tem muita coisa! Entre em
TriboForte.com.br e faça parte desse movimento forte e a gente segue em frente
juntos! Então obrigado, pessoal! A gente se fala na próxima semana! Até mais! Dr. Souto: Obrigado. Um abraço e até a próxima!