Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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Neste podcast:
- Vamos falar de ovos;
- De pão no emagrecimento;
- Impacto dos processados vs não processados;
Escute e passe adiante!!
Saúde é importante!
OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br
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Ouça o Episódio De Hoje:
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Caso de Sucesso do Dia
Referências
Artigo no Donna Fitness
Ensaio Clínico Randomizado Analisou os Efeitos de uma dieta Rica em Processados e Refinados e uma Dieta Equivalente Rica em Alimentos Não Processados
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Buenas, buenas,
pessoal! Bom dia para você! Bem-vindo ao episódio número 160 aqui do podcast
oficial da Tribo Forte, a sua dose semanal de ciência aplicada ao estilo de
vida saudável. Hoje a gente vai falar de ovos, como você deve ter ouvido falar
de ovos nas últimas semanas, coisa recente na mídia. Vamos falar de colesterol,
vamos falar de pão na dieta. E também do impacto dos processados na
alimentação. Enfim, sempre tem assunto, a gente nunca fica sem assunto aqui com
a quantidade de besteira que sai nessa mídia. Antes de começar quero agradecer
especialmente a galera de Portugal que segue o nosso trabalho. Semana passada
eu fiz um encontro aqui em Lisboa com uma galera que segue alimentação forte e
tudo mais, e foi absolutamente incrível. Foi bastante gente lá, foi bem legar
bater esse papo com o pessoal e saber que o conhecimento que a gente
compartilha cruza o oceano e impacta pessoas em todos os lugares. Um grande
agradecimento ao pessoal de Lisboa, à todo mundo que estava presente. Foi bem
bacana falar com vocês. Muita gente daqui perguntou também sobre o livro. Se
você mora no Brasil você pode adquirir o meu novo livro na versão física, ou
versão Kindle, ou também no Google Books, na Amazon.com.br. Se você mora fora
do Brasil, você ainda pode adquirir na Amazon do teu país, ou no Google Books a
versão eletrônica. A versão física não está disponível fora do Brasil. O nome
do livro é Este Não É Mais Um Livro De Dieta e eu tenho plena confiança que ele
pode ajudar muita gente a enxergar a alimentação de forma diferente e se
libertar desses mitos e balelas que a gente vê por aí. É isso! Dr. Souto,
bem-vindo a mais esse episódio! Como está?
Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo. Parabéns
pelo evento lá em Portugal. Bom dia e bom dia aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Bom dia à todo mundo!
Foi bem legal mesmo, foi bem bacana! Até ganhei um queijo. Um queijo de leite
cru de ovelha, que maravilha!
Dr.
Souto: Nossa, isso é muito bom!
Rodrigo Polesso: Na verdade, sabe por
que me deram queijo? Porque alguém ouviu o podcast e naquele podcast a gente
falou… Eu falei aqui de Lisboa, você comentou que tem o queijo da Serra da
Estrela.
Dr. Souto: Isso!
Rodrigo Polesso: Lembra? Aí a pessoa
falou: “Eu ouvi o podcast, o dr. Souto tinha mencionado esse queijo, tentei
achar, mas não consegui achar exatamente aquele. Mas consegui um outro para
trazer.” Então foi muito bacana. Com certeza vai ser bem aproveitado. Enfim,
olha só, primeiro assunto aqui… Deixa eu ver se não vou inverter essa ordem…
Para a gente aquecer, eu não vou falar dos ovos primeiros. O ovo foi tema que
caiu na mídia nos últimos dias. Mas um para a gente aquecer aqui, que eu tinha
anotado, eu achei bacana. Um artigo publicado no site Donna Fitness, que faz
parte da rede RBS do Rio Grande do Sul, da Zero Hora. E a manchete foi a
seguinte: “Saiba porque o pão não é o vilão da dieta como você pensa.” Seguido
pela sub readline aqui: “A verdade é que adotar uma dieta que seja leve
e sem restrições sem sentido é fundamental para que você consiga manter um novo
padrão alimentar.” Sabe aquele tipo de texto típico de nutricionista que começa
dar náusea já no primeiro parágrafo? Pois é! Aquele texto clichê, chato e que
baseia todas as ideias na infame moderação, no conceito de moderação. Aquela
coisa: tudo pode desde que seja com moderação. Esse tipo de bullshit.
Chama a atenção com uma manchete dizendo que o pão é bem-vindo e daí
compartilham resultados aqui de um estudo de perda de peso, onde tinha pão em
um grupo e não tinha pão no outro grupo. Eles pegaram dois grupos e fizeram o
que? Cortaram as calorias dos dois grupos, pediram para que os dois grupos se
exercitassem e deram aulas de alimentação saudável para ambos os grupos. O que
aconteceu? Claro, eles perderam peso. Eureca! Desse jeito até dieta baseada em mousse
de chocolate funciona, corta caloria, se exercita mais, etc. Só que
aparentemente, e aí é onde entra o pão na história, o grupo onde o pão era
permitido perdeu no final de 4 meses… Se segurem na cadeira agora! 500 gramas a
mais de peso do que o outro grupo. Então, você vê um benefício estrondoso do
pão! Que não é nenhum erro estatístico, a gente poderia dizer. Enfim, isso
acabou gerando essa manchete de pessoas que estão desesperadamente procurando
por desculpas por aí: “Ah, agora o pão pode, então vou entupir a cara de pão.”
Pessoas que estão diabéticas, resistentes à insulina, onde esse tipo de
alimento… Não só o pão especificamente, mas qualquer fonte de amido pouco
nutritiva pode ser realmente uma kriptonita para esse tipo de pessoa, elas leem
uma coisa como essa e depois podem tomar más decisões por aí. E o pior que esse
tipo de informação vem baseada em coisas pífias, como esse estudo, por exemplo,
que eu acabei de comentar, que não tem nenhum valor realmente para se
recomendar pão a ninguém (como a gente acabou de falar). Mas, enfim, dr. Souto,
é o que a gente tem visto por aí. Até pela falta de competência científica de
pessoas que escrevem esse tipo de coisa.
Dr. Souto: Por onde começar, né,
Rodrigo? Isso aí volta e meia alguém comenta de algum estudo comparando dieta X
com dieta Y, na qual não houve diferença. E aí você vai ver e as calorias foram
estritamente controladas para serem iguais. A gente sempre brinca que é a mesma
coisa que comparar dois carros: um carro esportivo e um carro popular e
estabelecer que existe um limite de velocidade na corrida, não pode passar de
30 km/h. E se eles chegarem na linha de chegada juntos, você vai dizer que
ambos os carros são iguais, embora um seja um carro esportivo e o outro seja um
popular. Mas dependendo das condições que você criar para o seu experimento,
você pode concluir aquilo que você quiser, inclusive que uma Ferrari e um Fusca
são iguais. Talvez alguns dos que estão nos ouvindo lembrem que há uns anos
atrás foi manchete uma notícia que um nutricionista americano queria mostrar
como era possível emagrecer comendo porcaria se ele reduzisse as calorias.
Então, ele pegou… eu não me lembro qual era a barrinha que ele usou. Não sei se
você se lembra. Rodrigo. Mas era uma dessas barrinhas que a gente encontra no
caixa do supermercado, aqueles doces. E aí o cara comeu só aquilo por um número
x de dias, não sei se foi 14 ou 20 dias, uma coisa assim. Ele só comia aquilo.
Mas, ele comia no máximo mil calorias por dia. E ele perdeu peso, é óbvio!
Porque, afinal, se você come mil calorias de qualquer coisa… Mesmo que ele coma
mil calorias de açúcar puro do açucareiro, sendo um sujeito, um homem de
estatura média, que precisa, pelo menos, umas 1.800 ou 2.000 calorias para
manter o peso estável ou perder. Então, a pergunta não é: É possível perder
peso comendo porcaria? A pergunta é: Qual é a estratégia alimentar que você
pode fazer que seja nutricionalmente completa, que não lhe deixe com fome, que
você possa seguir a vida inteira melhorando a sua saúde no processo e que ajude
na recomposição corporal sem que você tenha que contar manualmente calorias?
Esse é o desafio.
Rodrigo Polesso: Exato.
Dr. Souto: Então, pegar um grupo de
pessoas, sortear para um grupo comer pão e o outro grupo não comer pão e ambos
com restrição calórica, é óbvio que ambos vão perder peso.
Rodrigo Polesso: É! Exato! E outra,
peso não é saúde. Uma coisa que as pessoas esquecem.
Dr. Souto: Sim, tem esse detalhe. Vamos
pegar esse sujeito que comia só essas barrinhas. Imagina que maravilha que
seria a saúde dele depois de um tempo fazendo essa estratégia. Ou como é a vida
social de alguém que só pode comer essas barrinhas. Porque às vezes o pessoal
coloca, vocês já devem ter ouvido falar isso: “Esse estilo de vida que vocês
estão propondo é muito difícil de levar no dia a dia, porque, afinal, como é
que a pessoa vai fazer para comer fora ou para ir na casa de alguém?” Bom, é
melhor do que se fosse a dieta da sopa, não é?
Rodrigo Polesso: Exato! E ainda assim
seguem a bendita sem reclamar!
Dr. Souto: É melhor do que se fosse…
Veja bem, é até mais fácil, inclusive, do que uma estratégia vegana.
Rodrigo Polesso: Com certeza.
Dr. Souto: Então, qual é o restaurante
que não dá para fazer uma opção, que não dá para fazer uma composição, que não
dá para pedir para o garçom mudar algum componente daquilo que você está
pedindo para adaptar para uma estratégia low carb? Não existe isso.
Rodrigo Polesso: Não. Eu acho que é
mais fácil.
Dr. Souto: Agora, enfim… É basicamente
aquilo que você falou e eu não duvidaria que haja por trás desse “estudo” dessa
reportagem alguma influência da indústria.
Rodrigo Polesso: Com certeza. Esse foi
um bom aquecimento, porque a gente vai falar de mídia, vai falar de besteiras
ditas na mídia. E se tem um assunto que eu achava que estava meio velho, que
estava encaixotado, pregado, sem abrir de novo era essa questão de colesterol
na dieta. Mas a gente nunca pode cometer o erro de subestimar a estupidez
humana, como eu costumo dizer. E na verdade, olha a manchete que saiu aqui na
revista Saúde, da Editora Abril: “Ovo não aumenta taxas de colesterol e ajuda a
perder peso. Tido como perigoso durante décadas, o ovo foi reabilitado por
pesquisadores do mundo todo.” Opa, isso saiu em setembro de 2018, final do ano
passado. Ah, meu Deus do céu, o que aconteceu agora? Será que eles estavam
mentindo para a gente? Porque agora, se você está vivo, você deve ter visto na
mídia que não tem nada a ver com isso, ovo é um problema, ovo aumenta o
colesterol, ovo aumenta risco de mortalidade, cada meio ovo que você come leva
você mais próximo do teu caixão, de fato. Então, o que é esse disse não disse,
o que aconteceu que voltou à mídia agora, o pessoal botando medo na gente em
relação ao ovo. E saiu em toda mídia que a gente tem acesso no Brasil, saiu
fora do Brasil também, tudo baseado em um novo estudo. Será que esse estudo
merece essa atenção toda? Será que esse estudo finalmente comprovou que o ovo é
ruim, que o colesterol é ruim de fato? Vamos colocar o pessoal a par disso aí e
vamos destruir esse medo infundado.
Dr. Souto: Olha, dada a repercussão,
porque a gente… Eu, você, no que sai uma coisa na mídia a gente já começa a
receber mensagens, e-mails, o pessoal bate foto da televisão e manda pelo
Whatsapp. Que foi o que aconteceu nessa semana que passou. Então, saiu na
televisão, em mais de um telejornal, saiu no jornal aqui em Porto Alegre, saiu
em revistas, saiu em tudo. Então, assim, pela quantidade de mídia que teve, era
de se supor que tenha sido um estudo revolucionário, algo que realmente tenha
condições de mudar a conduta. E o tipo de estudo que é capaz de fazer isso
seria um experimento. Então, vamos lá, pessoal, vamos acompanhar. Para eu
chegar e dizer: “Olha, parem as prensas, parem as máquinas. Extra, extra! Novo
estudo muda tudo!” Teria que ter o que? Alguns milhares de pessoas que foram
sorteadas para comer ovo, outros milhares de pessoas que foram sorteadas para
não comer ovo e após um acompanhamento médio de, sei lá, 5 anos, se descobriu
que morreu mais gente no grupo do ovo. Foi esse o estudo? Não, não foi. Eu dou
um pirulito low carb virtual para quem está nos ouvindo aqui e imaginar que
tipo de estudo é esse.
Rodrigo Polesso: Vou ler o título dele.
Dr. Souto: Vamos lá!
Rodrigo Polesso: O nome do estudo é:
“Associações do colesterol na dieta, ou consumo de ovos, com incidência de
doença cardiovascular e mortalidade.” Quem pegou a dica aí?
Dr. Souto: Então, pessoal, a primeira
palavrinha do título é associações. O que associações não implicam? O que uma
associação não é?
Rodrigo Polesso: Não é causa e efeito.
Dr. Souto: Não é causa e efeito, não é,
pessoal? Porque se fosse causa e efeito, se fosse um estudo que realmente fosse
um experimento, se fosse um ensaio clínico, estaria escrito ali: “O consumo de
ovos causa doença cardiovascular e mortalidade.” Porque um estudo desse tipo,
um experimento, um ensaio clínico poderia realmente afirmar isso. Os autores já
não colocam no título uma linguagem causal, porque, afinal, é um estudo
observacional, que não pode estabelecer causa e efeito.
Rodrigo Polesso: Hein, dr. Souto, e
para as pessoas que vão dizer: “Ah, mas só porque é epidemiologia vocês
descartam.” Não, ela pode ser útil, como a gente falou no episódio passado. Por
exemplo, Bradford Hill, se tem uma associação extremamente forte. Então,
analisando esse estudo como epidemiológico mesmo, será que a associação foi
forte o suficiente para tirar de questão o que pode ter sido uma manipulação
estatística, um erro que não pode ser controlado. Como foi isso aí?
Dr. Souto: Então, pessoal, quem não
escutou o podcast passado, nós falamos dos critérios de Bradford Hill, que são
os critérios utilizados para ver se um estudo observacional tem algum motivo
maior para ser levado a sério, se é possível fazer alguma mínima inferência
causal a partir de um estudo observacional. E um destes critérios era a
magnitude do efeito, o quanto a exposição a determinada coisa aumenta o efeito.
Magnitudes inferiores a 2 (2 significa o dobro) normalmente não são levadas nem
em consideração em um estudo observacional, porque o risco daquilo ser devido
simplesmente ao acaso é gigantesco. E aqui foi 1,17. Foi um aumento de risco
relativo de 17% de doença cardiovascular para cada 300 mg de colesterol por
dia. Isso corresponde a incríveis 3% de diferença de risco absoluto. Quando se
analisou por ovo, cada meio ovo consumido por dia, estava associado com um
risco relativo de 1,06 por dia de doença cardiovascular. Agora eu vou dar um
exemplo de uma situação na qual há uma magnitude de efeito muito maior. Eu não
vou dizer para vocês qual é a exposição, o que estava sendo testado aqui, mas
eu vou dizer o seguinte: 2438 homens entre 45 e 59 anos foram acompanhados por
um período de 20 anos. Bom, como era gente que já tinha na média 55, quase 60
anos, em 20 anos o pessoal chegando nos 80, vários faleceram. Então, era
possível acompanhando esse grupo de homens por 20 anos avaliar do que eles
morreram, o que eles faziam. Então, desse grupo de 2438 homens, 34% morreram.
Mas tinha uma coisa diferente nesses homens, que aqueles que tinham essa coisa,
31% morreram. Mas aqueles que não faziam essa coisa, 45% morreram. Agora, isso
sim é uma magnitude grande de efeito. É uma diferença de basicamente 15% de
mortalidade. 15% de risco absoluto. Vou repetir: ao final de 20 anos 34% tinham
morrido, mas daqueles que faziam determinada coisa 31% morreram, daqueles que
não faziam essa coisa 45% morreram. Rodrigo, o que será que era essa coisa? Era
esporte?
Rodrigo Polesso: Eu não sei, mas é
muito mais importante do que a questão do ovo, não é? Acho que o pessoal vai
querer saber o que é.
Dr. Souto: É muito mais importante do
que a questão do ovo. O ovo foi 1,06%, aqui nós estamos falando…
Rodrigo Polesso: E vai ser
especialmente problemático para as mulheres, eu imagino.
Dr. Souto: É, porque é uma coisa que só
homens fazem. É um estudo com 2438 homens. Desculpe as mulheres, mas essa coisa
que é capaz de reduzir em 15% a sua chance de morrer é um negócio que só os
homens fazem. Vamos acabar com a angústia dos nossos ouvintes: fazer a barba,
pessoal! Aqueles que faziam a barba diariamente, pelo menos diariamente, 31,3%
morreram em 20 anos. Mas aqueles que não faziam a barba todos os dias, 45%
morreram. Esse é um estudo observacional, pessoal. Ele não é um ensaio clínico
randomizado de fazer a barba. Não houve um sorteio em que metade tinha que
fazer a barba e metade não tinha que fazer a barba. E a pergunta é, prezado
ouvinte: alguém acredita que é o fazer a barba que está mudando a mortalidade
dessas pessoas?
Rodrigo Polesso: Compare com o ovo para
entender a perspectiva.
Dr. Souto: Exatamente. É isso que o
Rodrigo falou: comparem com o ovo. Vamos pensar. No caso desse estudo da barba,
por que eu citei ele, me lembrei dele, falei em um vídeo que gravei lá no IgTV,
no Instagram @jcsouto? Porque às vezes a gente tem que sair… Porque a nutrição
é um mundo tão cheio de balelas, é tão habitual ouvir bobagem, ouvir coisa
ridícula no mundo da nutrição, que a gente ica anestesiado do ponto de vista
intelectual quanto às bobagens, quando o assunto é nutrição. É legal sair do
mundo da nutrição, porque aí qualquer pessoa com meio neurônio diz assim: “É
óbvio que não é fazer a barba ou não que está fazendo a diferença na
mortalidade dessas pessoas.” É óbvio que o que está sendo observado aqui é que aquelas
pessoas que se barbeiam diariamente são diferentes das que não se barbeiam.
Obviamente há variações, mas com certeza deve ter a ver com o sujeito que está
empregado, que tem uma renda maior, que tem um nível socioeconômico maior, por
uma questão da forma como a nossa sociedade é estruturada, especialmente porque
esse estudo foi de 1979 a 1983 e até o ano 2000, em um período que o sujeito
não ia para o escritório sem fazer a barba. Então, vamos dizer que eu não sei
se é esta a causa real que está por trás, e o importante é que você que está
nos ouvindo entenda que ninguém tem como saber a causa real de coisa nenhuma em
um estudo observacional. Voltemos para o ovo agora. Será que as pessoas que
comem ovo são iguais às que não comem ovo em todos os aspectos? Foi um ensaio
clínico randomizado? Não foi, pessoal. E vocês veem que mesmo uma coisa abobada
como esse assunto da barba, pode dar uma diferença gigantesca de 15% de risco
absoluto de morte, sem que a barba seja a caus do problema. Agora vocês imaginem
um errinho de 1,06% de risco relativo. Isso está gerando manchete? Fala sério!
Rodrigo Polesso: E outra, quando eles
falam em você consumir ovo, existem várias formas de você fazer isso. E no
questionário, no estudo epidemiológico, é muito difícil de saber exatamente
como foi feito. Então, as pessoas tentam pintar na cabeça do ouvinte, da cabeça
que está lendo, que esses ovos são comidos com bacon, ovo cozido. Mas imagine,
pessoal, a quantidade de ovos que a gente come dentro de bolo, dentro de
frituras, dentro de donuts. Isso também conta como consumo de ovo e com certeza
não é o mesmo resultado que dá.
Dr. Souto: Isso aí que o Rodrigo falou
não é chute. A doutora Zoe Harcombe, que a gente já citou várias vezes aqui, a
especialidade dela é pegar estudos e dissecá-los. Olhar eles item por item na
metodologia. Ela verificou e isso é verdade, eles não estavam contando apenas o
consumo do ovo… Porque quem lê a manchete imagina que o que está sendo
analisado ali é o ovo cozido, ovo frito e tal. Não, eles pegavam questionário
de frequência alimentar, aquele negócio onde você chuta, digo, imagina, digo,
tenta lembrar o que você comeu nas últimas semanas e meses, pegaram as
respostas daquilo e viram como o Rodrigo disse. Uma fatia de bolo tem, em
média, ¾ de ovo. Um donut tem, em média, 1 ovo. Uma servida de macarrão tem, em
média, meio ovo. Entendeu? O ovo aqui não é só comer o ovo puro. Eles levaram
em consideração… Então, bom, como é que a maioria dos americanos come ovo?
Sabendo que, eu não me lembro, acho que 60% ou 70% de todas as calorias que um
americano médio consome são de alimentos ultraprocessados. Americano hoje em
dia come muito pouco ovo puro. Então, o consumo de ovos ali é na realidade um
marcador do consumo de fast food. Mas isso é tão óbvio, é mais óbvio do que o
negócio da barba.
Rodrigo Polesso: E mesmo assim eles
acharam essa insignificante associação. Mesmo assim!
Dr. Souto: Exatamente! Aí tem um outro
detalhe. Que esse aí precisaria ter tido acesso ao apêndice publicado do
estudo. Eu não consegui chegar a pegar o apêndice publicado do estudo, então eu
estou relatando para vocês algo que um pesquisador no Twitter teve, porque acho
que precisa ser assinante do JAMA para conseguir ver o apêndice desse estudo. O
detalhe sensacional é o seguinte: os autores do estudo dizem que o problema é o
consumo de ovos, mas o motivo é o consumo de colesterol. No entanto, no
apêndice do estudo, se você olhar na tabela, as pessoas que comiam mais ovos
tinham colesterol mais baixo. Ou seja, no próprio apêndice do estudo havia um
dado que contradizia a alegação dos próprios autores.
Rodrigo Polesso: Pois é.
Dr. Souto: E por fim, pessoal, tem mais
um detalhe. Esse é o único estudo observacional sobre o assunto? Não. Existem,
inclusive, metanálises de estudos observacionais sobre o consumo de ovos e
doença cardiovascular. E o conjunto da literatura considera que, inclusive,
pode ser benéfico. Então, esse estudo primeiro: é observacional; segundo: a
magnitude do efeito que ele encontrou é minúscula; terceiro: no apêndice do
estudo, o consumo de ovos está associado com menor colesterol; e, por fim, esse
estudo é um ponto fora da curva no conjunto dos estudos, mesmo os
observacionais sobre ovos. E a pergunta é: Por que nós estamos conversando
sobre isso?
Rodrigo Polesso: Exatamente! Por que
ganhou tanta exposição assim? Estava na hora de uma manchete chamativa,
polêmica, será?
Dr. Souto: Exatamente. Eu deixo em
aberto para vocês pensarem aí. Então, pessoal, podem comer ovos, tá? Faz bem.
Rodrigo Polesso: Pelo amor de Deus, assim
como sempre foi, né, pessoal? Só para vocês entenderem de onde vem esse bafafá
todo. Porque tem que ser verdade se saiu em todos os canais, né? Essa é a
origem, esse estudo com esse nível de evidência. Essa aí foi a origem do medo.
Dr. Souto: Ou então, se vocês
realmente, realmente acreditam nesse tipo de estudo observacional, eu sugiro
que comecem a fazer a barba duas vezes por dia.
Rodrigo Polesso: Inclusive as mulheres,
não é?
Dr. Souto: Isso! Inclusive as mulheres!
Rodrigo Polesso: É verdade! Boa! Não
tem escapatória. Bom argumento. Pessoal, a gente vai falar agora um pouco sobre
alimentação. Olha só: processados e não processados. Tem um efeito interessante
que eu quero compartilhar com vocês, um novo ensaio clínico randomizado. Mas
antes de eu falar disso, só um parabéns rápido aqui para o Cristiano Augusto,
que enviou o caso de sucesso de hoje. Ele falou: “Eu completei a minha fase 1.
Eu saí de 105,2 kg para 96,4 kg, 10,5 cm de cintura perdidos. Tudo isso em 30
dias. Estou muito grato por fazer parte desse programa, pois os ganhos até
agora foram muito bons.” Então foram 30 dias, que é a fase 1 do Programa
Código, e 8,8 kg eliminados. E lá dentro, adivinhe… Sim! Ovos estão inclusos
como coisas que podem ser consumidas sem nenhum problema, se você não tem
nenhum problema de alergia a ovos. Então ele obteve esse resultado incrível em
somente 30 dias seguindo a primeira fase do Programa Código. Se você tem
interesse, como eu sempre digo aqui, entre em CódigoEmagrecerDeVez.com.br, veja
a apresentação e a gente se vê lá dentro. Então, parabéns para o Cristiano e
obrigado por ter enviado. Isso sempre acaba motivando outras pessoas, essas
mudanças incríveis da noite para o dia, digamos assim, de saúde e peso também.
Olha só, um novo ensaio clínico randomizado interessante e bem controlado
analisou os efeitos de uma dieta rica em processados e refinados, e uma dieta
equivalente, porém rica em alimentos não processados. Eles pegaram 10 homens e
10 mulheres que iriam ficar morando dentro da clínica por 4 semanas, sendo que
em 2 dessas semanas eles iriam comer uma dieta baseada em ultraprocessados e
nas últimas duas semanas uma dieta, a mesma dieta, digamos assim, mas de não
processados e não refinados. A oferta da comida em si para cada pessoa nas duas
dietas era equivalente em calorias, macronutrientes, densidade energética, sal,
açúcar e fibras. Os coordenadores deixavam à disposição de cada pessoa uma
quantidade de comida equivalente a duas vezes o que elas precisariam para
manter o mesmo peso, para ver quanto eles iriam comer, para que no final eles
pudessem decidir quem comia mais e quem comia menos. Tudo à vontade.
Dr. Souto: Isso aí é o que no mundo da
pesquisa se chama ad libitum, quer dizer, disponível para comer à
vontade. Tudo bem, não é à vontade 100%, porque não chega a ser mais do que o
dobro do que a pessoa precisaria comer. Mas vamos combinar que para todos os
fins é: pode comer à vontade. Isso é importante na análise desse estudo.
Rodrigo Polesso: Exatamente! Então,
eles deixaram à disposição das pessoas uma quantidade bem maior do que elas
comeriam somente para matar a fome. Nessas duas versões, nessas duas dietas, o
que variou nas dietas então, novamente, foi basicamente uma ser refinada e
processada e a outra com os alimentos mais próximos de serem integrais, na sua
forma natural. Basicamente isso. Era igual em calorias, igual em
macronutrientes, etc. Mesma quantidade de carboidratos, proteínas, etc. O
resultado foi que as pessoas espontaneamente comeram em média mais de 500
calorias em excesso na dieta que era processada em comparação à dieta não
processada, resultando em um ganho de peso durante essa fase e no outro grupo
uma perda de peso na fase da dieta não processada. Aliás, a gente vê também
resultados semelhantes até em roedores. Tem estudos mostrando que quando se
refina a dieta, independente dos macronutrientes, você automaticamente faz com
que eles comam mais. Então existe uma importância ainda não completamente
entendida, digamos assim, mecanisticamente pela ciência, de se consumir alimentos
mais íntegros na sua estrutura, ou seja, não refinados e na sua forma natural.
E não é por nada também que esse é de fato o principal, primeiro fundamento do
estilo de vida da alimentação forte, que é consumir alimentos na sua forma mais
natural e não processada possível. Então, novamente, quando você destrói a
estrutura do alimento, você refina, você muda a estrutura dele, a gente tende a
comer mais. Nesse estudo eles mediram também alguns outros marcadores como
grelina, por exemplo, que é o hormônio que dá sensação de fome e viram que
estava maior no grupo que comia a dieta processada. Então teve vários
marcadores metabólicos que apontaram negativamente de você comer “a mesma
coisa”, digamos, mas de uma forma processada e refinada em comparação a uma
dieta mais integral, com alimentos em sua forma mais natural. O que vem a dizer
bastante também, apontar, pelo menos, dr. Souto, na direção do que pode ser uma
das grandes causas dessa explosão de obesidade, já que pão, por exemplo, é
isso. É uma coisa ultrarrefinada, ultraprocessada. Açúcares, os donuts que a
gente falou, os bolos, esse tipo de coisa. Então é de se pensar.
Dr. Souto: Esse é um estudo bem
importante. Merece ser repercutido. Porque, ao contrário da bullshit que
nós começamos o podcast hoje, que era esse estudo observacional epidemiológico
ridículo e que não deveria ter tido nenhuma repercussão. Aliás, sinceramente na
minha opinião, não deveria ter sido publicado, nem deveria ter sido aceito para
publicação. Porque eu acho que a epidemiologia nutricional em sendo basicamente
o esgoto da medicina baseada em evidência, não deveria ter espaço em revistas
de grande circulação e importância como o JAMA, que é a revista da associação
médica americana. O pessoal deveria devolver o estudo dizendo: “Olha, nós não
precisamos de mais do mesmo, mais um estudo observacional que não estabelece
causa e efeito, que só cria confusão. Essa aqui é uma revista séria e nós vamos
reservar as nossas páginas para ensaios clínicos randomizados.” Como este agora
que o Rodrigo falou. Então esse sim, esse é muito interessante. Ele é um estudo
bem controlado, como vocês viram as pessoas ficaram internadas na área
metabólica de um hospital que era para garantir que elas iam comer só o que
tinha lá dentro, o que estava sendo oferecido. A diferença foi efetivamente no
tipo de alimento… Então, uma coisa é a gente supor que simplesmente diminuir o
grau de processamento dos alimentos já vai ter um efeito, fazer as pessoas
comerem mais e tal. Mas isso era uma suposição. Por incrível que pareça essa é
a primeira vez que isso foi provado.
Rodrigo Polesso: Pois é!
Dr. Souto: E é assim que se prova uma
coisa. É fazendo um ensaio clínico randomizado. E outra coisa, este estudo
prova que é possível pesquisar esse tipo de coisa de uma forma rigorosa. Então,
qual é o problema, pessoal? Se eu faço um estudo de epidemiologia nutricional
no qual eu observo que pessoas que vivem a base de miojo e biscoito têm mais
problemas de obesidade do que pessoas que vivem a base de salada e salmão, eu consigo
dizer que a culpa é do miojo e do biscoito? Não, eu não consigo. Porque as
pessoas que vivem a base de miojo e biscoito são muito diferentes das que comem
salmão e salada, inclusive naquilo que a gente sempre fala: renda, atividade
física, nível socioeconômico, cuidados gerais com a própria saúde, etc.
Rodrigo Polesso: Mas vai ver, o ovo
deve ter sido culpado do miojo… Vai saber!
Dr. Souto: Exato! Quem sabe? Então esse
estudo que foi um ensaio clínico que randomizou as pessoas para esse aspecto do
grau de processamento dos alimentos, ele acabou com a dúvida. Porque era
randomizado. Lembrando, como é randomizado, eu sorteei os indivíduos para dois
grupos. O nível socioeconômico, por tanto, é igual, porque é por sorteio. O
nível educacional, a quantidade de atividade física, tudo isso a randomização
assegura que vai ser aproximadamente a mesma nos dois grupos. E a única
variável que foi trocada foi o grau de processamento da dieta.
Rodrigo Polesso: E foram controlados
também, né? Dentro da clínica.
Dr. Souto: E as pessoas comeram 500
calorias a mais. Então, se é porque é hiper-palatável, se é porque inibe menos
os hormônios da fome, bom, aí são outras discussões. Mas nós podemos dizer que
o consumo de alimentos ultraprocessados causa (aqui eu posso usar a palavra,
aqui eu tenho o direito, eu ganhei o direito de falar isso) um aumento no
consumo calórico e aumento de peso. É isso. Então, isso informa… Esse estudo
sozinho, com quantos voluntários que tinha? Nem eram muitos.
Rodrigo Polesso: Foram 20.
Dr. Souto: Vinte. Esse estudo com 20
voluntários tem mais valor para informar a política nutricional no que diz
respeito a esse assunto, do que esses incontáveis estudos com 20 mil pessoas
baseados em questionários. Ok? Não importa quantos milhares ou milhões de pessoas
eu inclua em um estudo de metodologia ruim, essa metodologia não fica boa,
porque o número de pessoas incluídas é grande. Da mesma forma, se eu tiver um
estudo com 20 participantes, mas eu tiver um cálculo estatístico de tamanho de
amostra que mostrar que a diferença observada teve uma chance menor do que 5%
de se dever ao acaso, tanto faz se foram 20 pessoas. Então, quem tem algum
treinamento em estatística entende isso que eu estou dizendo. Se eu fizer um
cálculo de tamanho de amostra para calcular o meu erro beta e eu tiver uma
diferença que for menor do que o meu erro alfa, não importa que tenha só 20
pessoas. Agora, se eu tiver um estudo com 50 mil pessoas, ele for baseado em
questionários chutados onde a pessoa tenta sem sucesso lembrar o que comeu nos
últimos 6 meses, depois não faz mais nenhuma pergunta para essas pessoas e 17
anos depois vem querer achar que uma diferença de 1,06% de risco relativo pode
ter alguma inferência de risco causal… O analfabetismo estatístico necessário
para acreditar em um tipo de coisa como essa é tão grande que eu sou obrigado a
concluir que gente nesse nível acadêmico que estão as pessoas que fazem esses
estudos e aquelas que os publicam nas revistas só pode ser por má-fé. Porque eu
não consigo imaginar que dê para alegar a simples ignorância nesse nível
acadêmico dessas pessoas que nós estamos falando.
Rodrigo Polesso: É não dá para
conceber. É verdade. É feia a coisa. E dá vergonha alheia. Parece um estudo
sério, está publicado, isso é que é o pior.
Dr. Souto: Eu li ontem no Twitter, eu
não sei se é verdade ou não. Mas que o presidente teria dito que as pessoas que
recebem Bolsa Família, as crianças de famílias que recebem o Bolsa Família têm
um nível intelectual mais baixo, isso está demonstrado em pesquisas científicas.
Então, o que ele queria dizer é o seguinte: que o Bolsa Família estava piorando
o nível intelectual das crianças. Bom, se ele disse essa bobagem, qualquer
pessoa com meio neurônio vai dizer assim: “É óbvio que ele está invertendo as
coisas. Pessoas que têm um nível socioeconômico muito baixo, que tiveram uma
alimentação nutricionalmente deficiente nos primeiros meses e anos de vida
obviamente vão ter uma dificuldade intelectual maior em média do que aquelas
que receberam todos os cuidados, proteínas, minerais, alimentação, aleitamento
materno no início. Na realidade, o que nós estamos vendo é que receber ou não
receber o Bolsa Família como sendo um marcador de um status socioeconômico mais
alto ou mais baixo. E esse status socioeconômico é que impacta o desempenho
escolar dessas crianças depois. Mas se eu estivesse falando, ao invés disso, em
carne vermelha e câncer, aí as pessoas pulariam para dizer: “Viu, carne
vermelha causa câncer.” Bom, então vou dizer: Bolsa Família causa mau
desempenho. É o mesmo raciocínio!
Rodrigo Polesso: O mesmo.
Dr. Souto: Então, me espanta que as
pessoas consigam compartimentalizar o pensamento crítico dentro da sua cabeça.
Na hora que o assunto é política e sociologia, todo mundo é extremamente
crítico. Na hora que o assunto é ovo e doença cardíaca, na hora que o assunto é
carne vermelha e câncer, todo mundo cai que nem um patinho, todo mundo é tão
primário no seu pensamento como achar que o Bolsa Família causa mau desempenho.
Rodrigo Polesso: Muito bem dito. Essa
foi boa.
Dr. Souto: Vamos usar a cabecinha,
pessoal!
Rodrigo Polesso: Exatamente!
Dr. Souto: Não serve só para botar
boné!
Rodrigo Polesso: É verdade. E falando
em comida, a gente está gravando de manhã, mas por que você não compartilha o
que você degustou na última refeição? Seja ontem ou o que comeu no café da
manhã também.
Dr. Souto: Ontem eu consumi um
estrogonofe de camarão com palmitos.
Rodrigo Polesso: Opa! Que também é rico
em colesterol, hein!
Dr. Souto: Ah, Rodrigo, bem lembrado!
Nesse estudo aí, embora eles tenham dito que quanto mais colesterol a pessoa
come na dieta, maior q mortalidade, eles encontraram uma relação inversa com
peixe e frutos do mar. Agora, me explica!
Rodrigo Polesso: É o colesterol
diferente, né?
Dr. Souto: É que nem o TMAO e o TBOM
que a gente falou uma vez.
Rodrigo Polesso: Exatamente!
Dr. Souto: Assim, é que o camarão vai
ver que tem um colesterol bom. Entendeu? E o ovo tem um colesterol ruim.
Rodrigo Polesso: Maligno.
Dr. Souto: Então, o mesmo colesterol,
se ele vier de um ou de outro… A pergunta é: se for uma coisa duplo-cega, se eu
consumir o camarão… Vamos fazer um experimento mental, pessoal. Vou pegar dois
liquidificadores, em um deles eu vou liquidificar ovos e no outro eu vou
liquidificar camarão. Eu vou botar dentro de pílulas para a pessoa engolir e
nem pelo gosto saber se está comendo um ou outro. Aí como é que as células do
corpo dela vão saber se é para morrer ou para viver?
Rodrigo Polesso: Exatamente!
Dr. Souto: Porque a molécula colesterol
é a mesma!
Rodrigo Polesso: É a mesma!
Dr. Souto: Não existe um tipo ou outro
tipo de colesterol. É importante que você saiba: quando o pessoal fala assim
LDL ou HDL, HDL é o colesterol bom, isso é ignorância. Colesterol só existe um.
LDL, HDL são as lipoproteínas no sangue que estão conduzindo colesterol,
triglicerídeos e tal. Colesterol só existe um. Então, como o colesterol, se ele
é o problema, como o colesterol pode aumentar o risco se ele for consumido como
ovo ou ele pode diminuir o risco se ele for consumido como frutos do mar? Ele
não pode ser bom e mau ao mesmo tempo.
Rodrigo Polesso: Exato! Você já mostra
a falha.
Dr. Souto: É o colesterol de
Schrodinger, que nem o Gato de Schrodinger, aquele que a gente já comentou em
outro episódio. Ele é ao mesmo tempo bom e mau, mas a gente só vai descobrir
depois que a gente souber se a gente comeu ovo ou camarão.
Rodrigo Polesso: Essa foi boa! Então,
estrogonofe de camarão, que coisa boa! Chique!
Dr. Souto: Antes que alguém se pergunte
ou, pior, pergunte, não tinha arroz.
Rodrigo Polesso: Não tinha arroz com
certeza!
Dr. Souto: Quem quiser entra lá na
Tribo Forte, onde tem as receitas e procura como faz arroz de couve flor.
Rodrigo Polesso: Com certeza! É um bom
veículo para o molho, que é o único propósito do arroz.
Dr. Souto: Isso! Esse é o propósito,
né? Aumentar a superfície para o molho grudar!
Rodrigo Polesso: Exatamente! Falando
em… Presunto, cara! Eu vivi a minha vida até agora sem nunca ter explorado
muito presuntos do mundo de verdade. E eu descobri que uma vez que você come
presunto como ele foi criado na época medieval, enfim, como ele originalmente
foi criado. Aquele perfil do porco, que foi conservado e você fatia o pernil do
porco. Se você come esse presunto, você nunca mais vai querer voltar atrás. Até
agora eu vivi… eu era cego e não sabia! Nossa, aquele presunto…
Dr. Souto: A mesma coisa aconteceu
comigo na Itália, Rodrigo. Porque pela primeira vez eu comi, eu descobri, eu
entendi o que era o presunto.
Rodrigo Polesso: Abriu os olhos, né?
Dr. Souto: Abri os olhos! Eu era um
cego e abrira, os meus olhos.
Rodrigo Polesso: E agora eu vejo,
exatamente. Depois que você experimenta, você olha para aquelas coisas que a
gente vê no supermercado no Brasil e em qualquer lugar, aquele presunto cozido,
apresuntado, aquelas porcarias que ninguém sabe o que é. Aquilo não tem nenhuma
similaridade com o verdadeiro presunto. Então fica o meu convite. Eu vivi 30 e
poucos anos da minha vida sem saber o que é. E agora eu descobri, agora estou
vendo. Nossa, que coisa deliciosa! Que coisa natural, que coisa gostosa para se
degustar de vez em quando!
Dr. Souto: E é um negócio interessante,
porque no Brasil você até encontra isso aí, mas é um preço muito caro. Em delicatessen
e coisas assim. Na Itália eu fui em um… Aquilo que no Brasil a gente chamaria
de um boteco, de um armazém. Aí eu pedi… Porque eu queria comprar uns frios
para ter no hotel. A gente faz assim, viu, pessoal! Quando a gente viaja, ah,
vamos comer o que e tal? Deixa de mimimi, passa no supermercado e compra uns
frios. E aí fui ali para comprar uns frios para ter no hotel, para acompanhar
um vinhozinho e tal. E aí eu pedi para o cara uns 150 gramas de presunto, ele
pegou aquilo que obviamente era a perna de um animal. Ele pegou um pedaço de um
animal e fatiou aquilo ali. Era o presunto. Então, assim… e aquilo custou
baratíssimo.
Rodrigo Polesso: É. É bem mais comum
para cá. Eu imagino que o pessoal não deve nem consumir muito dos outros.
Porque, na boa, não tem porquê.
Dr. Souto: E aí que a epidemiologia
nutricional se perde. Porque vão aqueles estudos todos mostrando uma relação
entre o consumo de carnes processadas e câncer de colo retal, etc. Ok, mas as
carnes processadas não foram criadas todas iguais, meus amiguinhos. Então
assim, essa apresuntada que a gente come aqui é diferente desse negócio que o
Rodrigo está comendo em Portugal.
Rodrigo Polesso: Totalmente diferente,
né, pessoal? O pepperoni lá cheio de coisas, compostos químicos… É diferente.
Dr. Souto: Eu ouso dizer que o problema
principal da carne processada, mesmo essa que é um agregado de coisas com
hidroxi metil celulose, proteína de soja…
Rodrigo Polesso: É o que você come ela
com, né?
Dr. Souto: Exatamente, Rodrigo! Nem é
tanto esse o problema. Eu acho que é o que você come ela com. Porque as pessoas
não costumam comer salsicha, hot dog, isoladamente.
Rodrigo Polesso: E pepperoni sem pizza.
Dr. Souto: E pepperoni sem pizza!
Então, quando o estudo observacional vê uma associação entre o consumo dessas
carnes processadas e doenças, até que ponto essas carnes processadas não são
apenas… Vamos dizer, o pepperoni não é o marcador da pizza, a salsicha não é o
marcador do cachorro quente e o hambúrguer não é o marcador do pão, do
milkshake e da Coca Cola? E aí a culpa é do hambúrguer? Da carne? Da única
coisa “comestível” que tem ali dentro?
Rodrigo Polesso: Perfeito. Exato!
Dr. Souto: Leva a culpa. Eu lembro a
analogia que o Malhotra faz em um artigo dele, que ele diz: isso aí é assim,
sempre que tem um incêndio os bombeiros estão lá. Então, a presença de bombeiros
está associada a incêndios. Logo a culpa é dos bombeiros.
Rodrigo Polesso: Dos bombeiros! É o
mesmo racional!
Dr. Souto: Procure bombeiros e você vai
encontrar desastres. Então, os bombeiros são responsáveis pelos desastres.
Rodrigo Polesso: Exatamente! Então fica
aí, pessoal, o convite. Se vice não conhece esse presunto, vá em um lugar, nem
que tenha que pagar um pouquinho mais caro para experimentar. Porque isso vai
abrir os seus olhos! Não viva cego como eu vivi até agora. Então, imagine a
cena ontem à noite: eu peguei esse queijo que eu falei que ganhei aqui em
Portugal, de ovelha, cru, cremosinho, com esse presunto junto, um copo de
vinho. O que mais você quer? Que difícil que é, né, pessoal? E onde no mundo
você não encontra frios, por exemplo? Em todo lugar! O pessoal da Itália, dr.
Souto, você comentou da Itália, eu estou de saco cheio de vir gente falar: “Ah,
mas você não entende, Rodrigo. Aqui na Itália só tem massa e pizza.” Eu falei:
“É, exatamente, a polícia vai colocando massa e pizza goela abaixo em todo
mundo. Não tem mercado, não tem opção. É só massa e pizza.” Pessoal, vamos
crescer, né? Vamos amadurecer. Pelo amor de Deus. Enfim, esse foi o nosso
podcast de hoje, recheado de coisas que eu espero que sejam úteis para você. A
gente com certeza vai se falar na semana que vem. Antes disso, se você quer
fazer parte da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br, veja as receitas lá
dentro, as palestras, você pode ver, rever. Faça parte de tudo lá:
TriboForte.com.br. Siga a gente também no Instagram. Siga lá @rodrigopolesso,
@jcsouto e também a @ablc.org.br para você não ter desculpa nenhuma de ficar de
fora desse movimento bom em prol da boa ciência nutricional. Dr. Souto,
obrigado pela tua participação e a gente se fala na semana que vem como sempre! Dr. Souto: Obrigado! Um abraço e até a próxima.