Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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Neste Podcast:
- Um episódio de escândalos de má ciência,
- Ataques infundados…
Escute e passe adiante!!🙂
Saúde é importante!
OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br
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🙂
Ouça o Episódio De Hoje:
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Caso de Sucesso do Dia
Referências
Matéria no G1 Sobre Pesquisador De Harvard Acusado de Falsificar Documentos
Artigo no LA Times Escrito por Nina Teichzolhs
Artigo da APFRA
Tim Noakes
Dra. Annika Dahlqvist
Caryn Zinn
Jeniffer Elliott
Richard David Feinman
A Evolução das Diretrizes Dietéticas Baseadas em Vegetais
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá! Bom dia para você! Bem-vindo ao podcast número (meu Deus!) 139 aqui do podcast semanal da Tribo Forte, a sua dose, a sua pílula de saúde, de estilo de vida saudável baseado em evidências e não em achismos ou sensacionalismos, como você está acostumado. Se você nos escuta desde o episódio número 1, parabéns pela paciência e pelo comprometimento! É uma longa jornada que a gente está conversando toda semana, sem faltar nenhum episódio sequer. E hoje estamos aqui com mais um episódio, pra variar, falando um pouco sobre alguns escândalos de má ciência e também sobre alguns ataques infundados que aconteceram ultimamente. Vamos colocar vocês a par disso. Além disso, temos uma ótima notícia, que a gente vai falar logo depois, logo mais. Também temos uma pergunta da comunidade para a gente começar aquecendo a nossa conversa de hoje. Com isso vou dar as boas-vindas aos dr. Souto nesse podcast. Tudo bem, dr. Souto?
Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo? Bom dia e bom dia aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Bom dia a todo mundo! Vamos aquecer as nossas engrenagens com uma pergunta da comunidade um pouco diferente que eu vou passar para você já de cara dar o seu pitaco sobre isso. O Ricardo Fernandes pergunta: “Complicado é quando você não quer mais pão, mas a família toda quer. Como resistir com o pão quentinho na sua frente?” O que você vai dizer para o nosso amigo Ricardo?
Dr. Souto: Pois é, eu vou fazer algumas analogias… eu gosto disso, vocês já sabem. Imaginem o seguinte: uma pessoa resolve adotar um estilo de vida ativo, começar a fazer atividade física e tal. E essa pessoa pergunta: “Como eu vou resistir com tantos sofás no mundo? Com tantas camas? Com tantas redes?” Não é possível que nós tenhamos que depender de que acabem os sofás, acabem as camas, acabem as redes para que nós sejamos cercados apenas por aparelhos de ginástica e essa seja a única forma de que a gente consiga fazer uma atividade física. Vocês entendem a analogia? Quer dizer, não é porque a outra pessoa está deitada no sofá assistindo televisão, que isso torna o sofá absolutamente irresistível. Sim, eu entendo que o ambiente pode ser tóxico. Esse conceito de ambiente tóxico, eu não me lembro qual é o nome do autor, é um psicólogo americano que criou essa expressão. É aquilo: se nós estamos cercados por comidas altamente processadas, hiper palatáveis por todos os lados, claro que é mais difícil adotar um estilo de vida alimentar saudável, do que se nós estivéssemos cercados só por opções saudáveis. Mas isso nunca vai acontecer, pessoal. Sinto dizer que a única possibilidade é se você se mudar para a Ilha de Kitava, em que não existe supermercado, não existe fast food, não existe nem sequer pomar. Quer dizer, se eu quiser qualquer fruta, vou ter que entrar no mato para achar uma árvore, subir na árvore e pegar a fruta. E se eu quiser comer eu tenho que pescar, ou eu tenho que caçar, ou eu tenho que colher na natureza. Fora isso nós estaremos sim, cada vez mais, cercados por opções que podem não ser as ideais. Vocês nunca vão me ouvir dizer, ninguém nunca me ouviu dizer que pão quentinho não é gostoso ou não cheira bem. Veja bem, se eu dependesse de achar que pão quentinho tem cheiro ruim ou gosto ruim, eu estaria pesando uns 20 kg a mais (que eu perdi em 2011), provavelmente com juros… talvez 30 kg a mais. Eu acho que são opções. Eu entendo… eu tenho empatia com quem está fazendo essa pergunta. Claro, é difícil, é cheiroso e tal. Mas, uma grande vantagem da alimentação sobre outras situações é a seguinte: por exemplo, ar poluído todo mundo sabe que faz mal, mas você tem que respirar, não é uma alternativa. Você vive em uma cidade que tem ar poluído, no máximo o que você pode fazer é uma campanha, se juntar com ambientalistas para tentar mudar o ar da cidade no futuro. Mas você tem que respirar várias vezes por minuto, não tem solução. Mas comer é um ato de vontade. A gente que coloca a comida na boca. Ninguém está forçando a comida na sua boca. Então, cada vez que a gente coloca alguma coisa na boca envolve sim um ato de vontade e envolve uma escolha. A pessoa tem escolha. Ela pode estar colocando o pão, ou ela pode estar fazendo um omelete, ou ela pode ter feito um pãozinho low carb, ou comprado um pão low carb (como tem hoje tantas opções nas diferentes capitais do Brasil). Embora o pão não seja obrigatório, eu entendo que possa haver um componente afetivo. A pessoa lembra do pãozinho que comia no café da manhã que a mãe fazia. Então, talvez a pessoa precise, quem sabe em um primeiro momento de um substituto. Entra aí na Tribo Forte, tem incontáveis receitas de pão low carb disponíveis gratuitamente para quem é membro da Tribo Forte. É só ser membro. As opções existem. Claro que a zona máxima de conforto é aquela na qual a gente não tem que fazer opção nenhuma e seguir só pelo prazer. Mas isso só leva para coisas ruins. Imagine assim: essa é a postura de quem consome drogas, essa é a postura de quem é completamente sedentário, essa é a postura de quem não trabalha, essa é a postura de quem não produz. Tudo de bom na vida requer algum grau de esforço e algum grau de renúncia. Isso vale para a vida financeira do indivíduo, isso vale para a alimentação. Eu sei que estou fazendo uma pregação aqui, mas é a resposta que me ocorreu para essa pergunta. Porque o pão é cheiroso e sim, ele é gostoso. Mas tem um monte de outras coisas na vida que estimulam centros de prazer no cérebro, incluindo drogas com potencial de abuso, e que a gente não usa (embora a gente saiba que elas são interessantes e saiba que estimulam os centros do prazer). A gente não usa por um motivo de responsabilidade com os resultados que a gente sabe que vão ter, que serão negativos.
Rodrigo Polesso: Isso aí! E um adendo: é comprometimento, não é? É maturidade, é comprometimento com a sua causa. Você tem que tomar a decisão mesmo, ninguém vai passar a mão na sua cabeça. Você tem que fazer acontecer por você mesmo. Tentações sempre vão existir em qualquer área da vida. Como o dr. Souto bem falou, a gente tem que ter comprometimento e não usar isso como desculpa. Dito isso, é muito importante que você faça o esforço que for possível para se colocar em um ambiente onde essas tentações tendam a ser minimizadas. Porque o nosso estoque de boa vontade, o nosso estoque de força de vontade é limitado ao longo do dia, a gente sabe disso. Se você começa a usar o seu estoque de força de vontade negando-se a esse tipo de opção, você começa a drenar esse estoque ao longo do dia. E você não quer começar fazendo isso já no começo do dia. Se isso acontecer a noite, provavelmente com todas as decisões que você fez ao longo do dia, você vai chegar com um estoque de força de vontade mais fraco a noite e você vai tender a sucumbir a esse tipo de coisa. Acaba com a sua energia ao se recusar opções desse tipo. Então tem várias coisas importantes a se manter em mente, mas, com certeza, é possível transformar o seu ambiente, o seu environment, que a gente fala, para deixar mais positivo para a sua opção de estilo de vida.
Dr. Souto: Sabe o que eu lembrei, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: Diga!
Dr. Souto: Existe um experimento clássico, vocês encontram se botarem no Google “experimentos do marshmallow”. Esse experimento clássico foi feito com crianças, se não me engano na faixa de 5 ou 6 anos de idade, em que as crianças tinham a seguinte opção: elas podiam ganhar um marshmallow na hora, ou então elas podiam esperar 15 minutos. E se elas esperassem 15 minutos, elas ganhariam dois marshmallows. Algumas crianças comeram o mashmallow imediatamente e outras ficavam olhando aquele marshmallow por 15 minutos e se contendo, porque ali adiante elas teriam uma recompensa. Isso não é uma historinha, isso foi feito.
Rodrigo Polesso: É famoso.
Dr. Souto: É famoso. Décadas depois essas crianças já como adultos foram entrevistadas, foi-se verificar o que aconteceu. Aquelas que eram capazes de retardar uma recompensa imediata pensando em uma recompensa futura foram as que tiveram maior nível de escolaridade, maior nível de renda, empregos com maior prestígio, maior sucesso na vida, maior chance de permanecerem em uma relação estável, casados… enfim, uma série de benefícios, inclusive melhores marcadores de saúde e longevidade. De modo que é importante na vida saber recusar uma recompensa imediata e saber aguardar para colher uma recompensa maior ali adiante. Esse estudo dá a entender que isso é um traço de personalidade que começa muito cedo, já na infância. Mas isso não significa que não seja uma coisa que não pode ser mudada e trabalhada, uma vez que a gente entenda a importância da renúncia da recompensa imediata. Obviamente vocês entendem o que eu quero dizer. O pãozinho cheiroso dá a recompensa imediata do prazer imediato. A pessoa daqui a pouco pensa… “Mas eu não vou comer isso porque estou mudando minha alimentação.” Ela vai colher sua recompensa lá adiante, melhor saúde, em bem-estar, em estar usando uma roupa que não servia, em ficar bem no espelho, em melhorar seus marcadores, em reverter um diabetes, enfim. Tem tantas coisas. Mas é a mesma coisa. Na vida a gente às vezes tem que recusar uma recompensa imediata para poder colher uma recompensa maior lá adiante. Então, fica a dica.
Rodrigo Polesso: Ótimo. Bem lembrado. Esse estudo é bem clássico e muito importante. Eu também acredito piamente que isso acontece. Olha só. A gente vai falar sobre um escândalo bizarro na ciência. Mas antes de contar esses dois escândalos bizarros, para você ficar de queixo caído… Eu não fico surpreso, mas, enfim. São coisas bizarras. Antes disso, vamos dar uma notícia boa sobre a ABLC (Associação Brasileira Low Carb). É uma notícia nova. Dr. Souto, manda para a gente qual é essa notícia.
Dr. Souto: Olha só, então… Quem estava na Tribo Forte Ao Vivo já ouviu a gente anunciar que estava sendo fundada a Associação Brasileira Low carb. Quem já acompanha aqui os podcasts… A gente já falou que tem um Instagram onde nós estamos colocando dicas e notícias. E o que a gente está anunciando é que agora o site da associação já está no ar. Nós já estamos aceitando sócios. E você ser sócio da associação significa você estar favorecendo esse estilo de vida, você estar favorecendo um grupo crescente de profissionais que vão se congregar ali na associação para reescrever as diretrizes de saúde baseadas em evidência que vai possibilitar, por exemplo, quando surgirem notícias absurdas na imprensa. A associação pode se manifestar, pode fazer um pedido, pode fazer uma nota oficial. Em outras palavras, nós, a comunidade low carb do Brasil, podemos a partir daí ganhar força, ganhar personalidade jurídica, ganhar uma respeitabilidade. Nós pretendemos também fomentar cursos, fomentar eventos. Então, essa será a associação de todos nós. Então, quem tiver interesse, por favor, dê uma entrada no site em ABLC.org.br. O Instagram que sempre tem notícias, dicas e novidades é a mesma coisa@ablc.org.br. E para quem quiser se tornar sócio, que será um grande prazer para nós… Você vai estar ajudando a manter essa ideia vida, porque afinal, a ABLC, por estatuto não recebe dinheiro nem da indústria alimentícia e nem da indústria farmacêutica. Dependerá exclusivamente da doação dos seus afiliados, que é um preço simbólico. Menos de 20 reais por mês. É menos do que um Netflix. Menos que um Spotify. Com isso, você vai estar ajudando a causa. É uma associação sem fins lucrativos. Todo e qualquer valor arrecadado é reinvestido na própria associação, nas atividades educativas e em promover esse estilo de vida. E nós pretendemos também, na medida em que nós formos crescendo como uma associação, tem uma atuação política para tentar influenciar, quem sabe, ali adiante, a legislação, normas da ANVISA, normas do Ministério da Saúde. Por que não? É isso que as associações fazem à medida que elas ganham corpo e suporte dos associados como você. Qualquer um pode se associar. Não precisa ser médico, nutricionista. O importante é que você tenha interesse nisso. Os associados em breve passarão a receber uma newsletter por email sempre com as últimas notícias do mundo low carb. Então, eu acho que é uma coisa que vale a pena ser divulgada e obrigado, Rodrigo, por abrir espaço para divulgar.
Rodrigo Polesso: Com certeza. Com certeza. Seria uma iniciativa, em muitos aspectos, inédita até no mundo, pessoal. Muito além de low carb, acho que a causa principal é a medicina baseada em evidência, alimentação e nutrição baseada em evidência. É uma causa que todos nós temos que abraçar. Repetindo, é ALBC.org.br. Entre lá e se aconchegue nessa nova associação que é de todos nós como o Dr. Souto disse.
Dr. Souto: E façam como o Polesso que já é sócio. Ele é nosso sócio honorário.
Rodrigo Polesso: Tive o prazer e agradeço novamente pela homenagem. Sócio honorário com certeza. Defendo a causa. Olha só, pessoal. Se tem uma coisa que nós estamos falando aqui desde o comecinho isso é má ciência. A gente acabou de falar que a ABLC vai defender boa ciência. Um grande inimigo comum aqui é a má ciência. Particularmente no ramo da nutrição, a prática científica beira o ridículo de tão ruim que é. Se você escuta a gente há um bom tempo, você sabe disso. De tempos em tempos a gente vê estudos péssimos embasando novas recomendações ou notícias de fiascos científicos que viera à tona. Esses fiascos também acontecem com organizações supostamente de grande nome e reputáveis. A exemplo, o que que saiu ultimamente? Duas grandes notícias sobre esse tipo de coisa vieram à tona este mês. A primeira delas foi postada e fez manchete no G1, no Globo.com. O título é: “Pesquisador de Harvard é acusado de falsificar resultados com células-tronco por anos. Segundo declaração das instituições envolvidas, o médico Piero Anversa falsificou cerca de 30 artigos científicos. O pesquisador anunciou várias ‘descobertas’ sobre células-tronco cardíacas, ganhando notoriedade e também poder nesse campo, o que, por sua vez, teria permitido que ele recebesse 10 milhões de dólares de recursos públicos.” Lendo aqui de novo o que o artigo falou: “Mas há vários anos aumentaram as dúvidas sobre a veracidade de seu trabalho. Outros pesquisadores não puderam replicar seus resultados. Os artigos foram corrigidos e, em 2014, haviam feito uma retratação, na revista americana American Heart Association, Circulation. Depois vieram mais 30 retratações de artigos.” Não confiáveis, artigos falsificados… Desse pesquisador de onde? De Harvard. Então, é aquela falácia da autoridade, Dr. Souto. Só para complementar, esse não é o único caso. Esse último mês o Los Angeles Times publicou um artigo escrito pela Nina Teicholz, que a gente conhece muito bem. Ele fala o seguinte. Eu vou ler para vocês. “Um caso espetacular de má ciência veio à tona no último mês. O Professor Brian Wansink da Universidade de Cornell (que é uma das maiores universidades dos Estados Unidos), um cientista renomado (ou pelo menos ex-renomado) no mundo inteiro, que fez muitas manchetes com suas pesquisas sobre hábitos alimentares dos americanos teve vários dos seus artigos retratados e removidos e agora resignou na sua posição de professor. O caso de Wansink não é apenas um caso de um cientista que perdeu o rumo. Isso é, ao invés, um indicativo de um tipo inteiro de ciência nutricional que trouxe aos americanos diretrizes alimentares erradas por décadas.” Olha só! “De 2007 a 2010, esse Wansink serviu como diretor executivo das Diretrizes Alimentares do Governo dos Estados Unidos — organização essa que define o padrão da alimentação saudável para a nação inteira. Ainda pior, os dados dos estudos observacionais (ela menciona, como a gente já sabe) são particularmente não confiáveis, porque esses estudos dependem de respostas de questionários alimentares do tipo: Quantas gramas de macarrão você consumiu semanalmente nos últimos 6 meses e etc.? Estudos têm mostrado há muito tempo que as pessoas distorcem o que elas comem ou simplesmente não conseguem lembrar.” Então, vamos lá. Esses dois casos gigantecos vieram à tona, escândalos grandes de universidades como Harvard e Cornell sendo que o segundo caso a pessoa fazia parte da diretoria das Diretrizes Alimentares do Governo dos Estados Unidos, que acaba inspirando também outros governos ao redor no mundo. E saber que o trabalho todo dessa pessoa era corrompido é de preocupar. É de nos perguntarmos o que ainda não veio à tona. São coisas gigantescas e bastante preocupantes, Dr. Souto.
Dr. Souto: Isso aí é mais uma forma de chacoalhar um pouco as pessoas no que diz respeito a essa falácia da autoridade. Veja bem. Não é porque a pessoa está vinculada, afiliada a uma universidade grande como Harvard, que significa que ela é honesta, por exemplo. Obviamente, fraudar dados científicos… Uma coisa bastante grave… Isso pode ocorrer em qualquer lugar. Pode ocorrer em qualquer universidade aqui no Brasil, mas pode ocorrer em Harvard, pode acontecer em Stanford, pode acontecer na Cornell. Boas e más pessoas existem em todos os lugares. O que a gente quer salientar para vocês é que não é porque algo veio de Harvard, que algo está certo. E não é porque você não é de Harvard que você não tem o direito de questionar algo que foi dito por alguém que é de Harvard. Essa é a famosa falácia da autoridade. Quer dizer, o que dá autoridade a um argumento é se esse argumento é bastante baseado em evidências, se o argumento tem solidez científica, se ele é baseado em estudos como ensaios clínicos randomizados, que são experimentos. Claro, até um ensaio clínico desses pode ser fraudado se tiver um pesquisador de má índole por trás. Então, o interessante é o seguinte. Já existia evidências de que esse sujeito vinha fraudando coisas. O Rodrigo falou para vocês. Outros pesquisadores acharam incríveis os resultados e tentaram replicar. E ninguém conseguia. Uma das coisas básicas em ciência é justamente isso: a replicação. Alguém faz um experimento, tem um resultado interessante, outros cientistas vão tentar fazer para ver se conseguem ter o mesmo resultado. Aquilo que é replicado mais de uma vez e dá o mesmo resultado ajuda a corroborar. E se ninguém consegue replicar, bem, levanta suspeitas. Nem sempre o problema é fraude. Às vezes é simplesmente um estudo ao acaso achou alguma associação ali, mas depois as outras pessoas ao tentar replicar não conseguiram. Mas neste caso era fraude e fraude confessa. Coisas que foram avaliadas, por exemplo, era que nas imagens que ele usava no microscópio havia imagens copiadas de um estudo para outro. Quer dizer, eram para ser estudos originais e ele estava usando a mesma imagem. Então, com análise se via que a imagem era a mesma. Ou então manipulações grosseiras da imagem por Photoshop, que especialistas nisso aí conseguem mostrar que foi manipulado, que não era a imagem original, que os experimentos deles não estavam mostrando as células-tronco agindo daquela forma que ele dizia que estavam agindo. Já o nosso outro amigo lá da Cornell, este fazia um tipo de equívoco chamado p-hacking. É a busca do P. O P é aquele nível de significância estatística. O que acontece? A gente já falou mil vezes aqui, mas vamos dar o exemplo de novo para vocês. Uma coisa é eu levantar uma hipótese prévia… Digamos que o consumo do alimento X pode estar associado com a doença Y. Aí eu vou olhar num banco de dados observacional lá para ver se existe essa associação. Se existir, é interessante, eu publico e aí quem sabe alguém pode fazer um ensaio clínico randomizado depois para confirmar se essa minha hipótese é verdadeira ou não. Deveria ser assim que a ciência funciona. O p-hacking é diferente. Eu tenho um banco de dados com 150 tipos de alimentos diferentes e eu tenho nesse banco de dados 100 pessoas com todas as doenças possíveis e imagináveis que elas possam ter. Aí eu começo a fazer associações livres dos 150 alimentos com todas essas doenças aí. Aí eu descubro, por puro acaso, que existe uma associação do alimento X com a doença Y. Mas aí não vale, pessoa, porque eu não fiz uma hipótese prévia. Eu sai pescando até que algum peixe estatístico mordesse meu anzol. Eu vou dar um exemplo bem simples. Imagina que uma das variáveis desse banco de dados fosse um time de futebol. Pegar aqui no Rio Grande do Sul, quem é gremista, quem é colorado. E daqui a pouco eu descobrisse que quem é gremista tem uma chance maior nesse banco de dados de desenvolver esclerose múltipla. Alguém diria que ser gremista é a causa da esclerose múltipla? Ou que eu deveria então sugerir que as pessoas trocassem de time para evitar desenvolver a doença? Mas é muito possível sim. E se encontra esse tipo de associação porque se você tem um banco de dados suficientemente grande, você vai encontrar coisas ao acaso. E era isso que o cara de Cornell fazia. Ele buscava, buscava, buscava até que ele encontrava associações, mas na hora de publicar o estudo, ele não dizia que ele tinha feito buscar múltiplas no banco de dados. Ele dizia que ele tinha partido de uma hipótese, mas na realidade, ele formulava a hipótese só depois. Tem outras fraudes piores que ele fazia, mas o p-hacking era um dos grandes problemas dos estudos desse aí da Cornell. E esse cara, com essa ética, ou, por outra, com essa falta de ética de pesquisa, era um dos caras que coordenava o quê? O Comitê das Diretrizes Nutricionais dos Estados Unidos. Então, a gente tem que parar com a mania de achar que quem está lá em cima, quem está afiliado a uma instituição importante, quem usa o avental branco só por ser autoridade, sempre tem razão. A gente precisa ter condições de questionar autoridades, se não a falácia da autoridade vai nos fazer engolir só besteira.
Rodrigo Polesso: Só besteira. Realmente, a gente sempre fala da importância do ceticismo inteligente. Não é duvidar, é questionar de forma embasada, com curiosidade. E não assumir que o jaleco branco significa competência, como a gente já falou várias vezes aqui. Antes de partir para um outro também… Outro… Outra notícia bacana para contar para vocês… Uma pausa rápida para homenagear a Ana, que mandou o caso de sucesso de hoje. Ela falou: “Estou resgatando minha auto-estima novamente. Nada paga o gosto de se olhar no espelho e gostar do que se vê.” A gente sabe do valor disso. Após 30 dias do programa Código Emagrecer de Vez, ela já eliminou 6,2 quilos, 6,8 centímetros de cintura e 5,5 centímetros de abdômen, entre outras medidas. Ela mandou uma foto do antes e depois vestindo a mesma calça. Agora a calça dela sobra muito. Dá para colocar um cachorro junto dela na calça pelo o que ela mostra lá foto. Parabéns para a Ana. Obrigado por ter enviado isso aí. Se você tem interesse em emagrecer, o Código Emagrecer de Vez é focado em emagrecimento, então entra aí em CodigoEmagrecerDeVez.com.br. Falamos anteriormente nesse podcast sobre o caso do sulafricano e professor Tim Noakes, que foi processado e reprocessado por ter recomendado comida de verdade, basicamente, publicamente. Alguém pegou isso aí e acabou gerando um grande problema para ele. Depois da sua vitória final, que a gente já mencionou aqui no podcast, outros profissionais respeitados do mundo também continuam sofrendo essa espécie de bullying. Agora a gente teve o desfecho de outro caso que vinha acontecendo nos últimos 4 anos e meio, do australiano Gary Fettke. Recentemente, a AHPRA, que é a agência australiana que regula a prática de saúde lá. Ela cancelou todas as apelações contra o Gary depois de 4 anos e meio. De todos os nós na defesa insistindo que não tinha nada de errado com o que ele havia dito. Ele estava recomendando low carb e recomendando nutrição baseada em evidência. Além disso, formalmente, essa é a parte legal, a agência também pediu desculpas oficialmente para ele. “Desculpa por esses 4 anos e meio de tentar estragar sua reputação, Dr. Gary.” É uma vergonha. Isso não é uma coisa que aconteceu só com o Gary. Eu falei do Professor Tim Noakes. Teve a Anika Divequist também da Suécia. Teve a Karen Zinn da Nova Zelândia. Teve a Jennifer Elliott também da Austrália. Ela perdeu o registro dela… O registro profissional dela por ela defender low carb, acredite ou não. E também o Gary agora. Foram todos sujeitos a investigação dessas associações dietéticas. Na verdade, a gente já sabe que muitas delas são patrocinadas. É um ataque vem também da indústria do grão e do cereal, que tente empurrar para gente essa filosofia dessa alimentação baseada em plantas. Uma filosofia anti-carne, por exemplo, que vai de encontro, obviamente, com uma medicina baseada em evidência, com uma alimentação no estilo low carb também. Então, toda essa galera está sendo acuada. No Brasil também existem casos desses… De sofrerem bullying dessas associações, de você não poder exercer sua profissão por causa desse tipo de bullying, desse tipo de coisa… Por você defender uma coisa que é diferente da prática normal, mas que é embasado em evidência. Um ótimo caso vem do Tim Noakes, que já foi uma ótima notícia. E também agora do Gary Fettke que também foi uma ótima notícia. Ele acabou ganhando. A verdade acabou ganhando novamente. Eu acho que isso acaba motivando outras organizações do mundo a deixarem os profissionais fazerem um trabalho de competência.
Dr. Souto: A história do Gery Fettke foi especialmente bizarra. Todas são, mas essa dele foi especialmente bizarra. Relembrando… Ele era um cirurgião ortopédico. E ele começou a ficar extremamente angustiado porque uma das coisas que ele mais fazia era amputar pernas de diabéticos e pés de diabéticos. Então, ele começou a orientar os diabéticos a não comerem açúcar e amido. E com isso as pessoas começaram a melhorar. Ele sofreu uma denúncia anônima. É um troço kafkiano, essa história dele. Ele sofreu uma denúncia anônima para este órgão regulador da Austrália. E o órgão regulador da Austrália o comunicou… Não foi um processo. Ele não teve direito de defesa. Ele foi comunicado de que ele estava sendo sancionado com relação àquilo e de ele não deveria mais falar para pacientes diabéticos não comerem açúcar. É sério isso, pessoal, não estou inventando.
Rodrigo Polesso: Acredite se puder.
Dr. Souto: Ele foi orientado de que ele não poderia mais dizer para pacientes diabéticos não comerem açúcar, mesmo que no futuro as diretrizes mudassem nesse sentido. Para quem não entendeu o que eu disse, deixe eu eu explicar. Mesmo que futuro as diretrizes da Austrália viessem a contemplar o fato de que diabéticos na realidade não deveriam consumir açúcar… Mesmo se um dia isso acontecesse, ainda assim, o Dr. Fettke estaria proibido de dizer para seus pacientes não comerem açúcar. Porque afinal ele era um ortopedista e isso estaria fora do escopo dele. Como ortopedista, ele não teria competência para dizer para diabéticos não comerem açúcar. Agora saiu a reversão disso com um pedido oficial de desculpas por escrito para ele. Mas deixa eu dizer para vocês, isso não aconteceu na boa. Aconteceu porque a coisa foi tão absurda e o Fettke teve uma atuação tão forte nas redes sociais que ele acabou sendo chamado para depor no senado da Austrália. E lá os senadores chamaram esta associação de profissionais de saúde que eu não me lembro o nome…
Rodrigo Polesso: AHPRA.
Dr. Souto: AHPRA. Chamaram os representantes lá e disseram… Isso não existe. Como que vocês acusam uma pessoa com uma acusação anônima, sem dar direito de defesa. Isso daqui não é União Soviética. Então, graças a uma pressão política que aconteceu, AHPRA acabou voltando atrás. Então, é muito bizarro esse caso, porque ele foi condenado por dizer que diabéticos não deviam comer açúcar e na condenação constava que mesmo que um dia as diretrizes acabassem concordando que diabéticos não deveriam comer açúcar, ainda assim, ele, Gary Fettke, não poderia dizer isso para os pacientes. Para vocês verem a que ponto chega o nível de loucura que a gente está vivendo. A gente vive realmente tempos bizarros.
Rodrigo Polesso: Muito bizarros. Pois é. É isso aí. Dr. Souto, chegou a hora da gente falar de comida. Não sei se você já tomou café da manhã ou não. Se você não tomou café da manhã, você pode falar o que planeja comer no almoço ou o que você comeu ontem à noite para compartilhar com o pessoal.
Dr. Souto: De manhã eu normalmente faço assim… Depende do dia. Hoje eu tomei um café preto com uma colherzinha de chá de nata, que é como eu gosto. E comi umas duas fatias de queijo. “Queijo com o quê?” Queijo com nada! Queijo com queijo. Duas fatias de queijo. Na realidade, mata aquela leve fominha que eventualmente dá de manhã. Para mim, pelo menos, me basta. Torna prático. Eu tinha um monte de coisas para resolver hoje de manhã antes da gente começar a gravar. Eu como duas fatias de queijo, tomo um café e está resolvido o problema. Almoço eu ainda não sei. Ainda não sei o que vai ser. Mas algo me diz que vai ser algum tipo de carne, um ovinho e uma salada.
Rodrigo Polesso: A história te precede. Provavelmente um bifinho, uma saladinha…
Dr. Souto: Para que, né? Veja bem. Precisa cada vez ser um super prato sofisticado e tal? Não! A gente tem que tornar a vida simples. A gente tem que parar de viver para comer. A gente come para viver. Tem outras coisas mais importantes. De vem em quando a gente vai comer um prato super especial, numa situação muito especial. Mas salvo se você for casado com um Masterchef, o mais provável é que você tenha uma rotina. E outra… A gente sempre diz isso. Quando você comia tudo que era porcaria, não se preocupava com alimentação, não seguia os podcasts da Tribo Forte… Era um prato diferente e sofisticado a cada dia? Não! Todo dia era o quê? Arroz com feijão, uma saladinha e um bifinho. O outro dia era purê de batata, um franguinho e um arroz. E eram essas coisas. No fundo, as pessoas acabam tendo uma meia dúzia de opções que elas vão ciclando conforme o dia. Então, não é diferente. A gente simplesmente opta por uma meia dúzia de coisas que sejam favoráveis para o seu desenvolvimento em termos de saúde física e mental. Mas meia dúzia basta.
Rodrigo Polesso: Basta. É simplificar. Vamos deixar o arco-íris no céu e não no prato. Não precisa desse tipo de coisa. Hoje eu estou com fome já. Estou na casa dos meus pais em Curitiba por uns dias. Minha mãe vai fazer fígado acebolado, que é o prato favorito do Dr. Souto. Soon to be. É um prato de fígado acebolado com um chuchu. Adoro chuchu, na verdade. É basicamente água. Só que é um negócio gostoso. Eu gosto. Tem um tempero legal. No café da manhã eu só tomo um café preto. Está o suficiente. Enfim, é isso aí. Se você quer acompanhar as nossas peripécias alimentares, eu costumo postar também fotos no Instagram do que eu estou comendo e etc. Você pode entrar lá. É @rodrigopolesso. Dr. Souto é @jcsouto. Acompanha lá. Fica mais fácil quando você cria um ambiente positivo como a gente falou no começo desse podcast. Com isso, vamos fechando esse podcast. Dr. Souto, obrigado pelo seu tempo. A gente se fala na próxima semana com mais um podcast. Valeu, pessoal.
Dr. Souto: Valeu, pessoal. Obrigado. E não esqueçam: ablc.org.br. Nos dê o seu apoio. Grande abraço!
Rodrigo Polesso: Até mais!