Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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Neste Podcast:
- Falamos de CERVEJAS, remoção de amígdalas, exercícios e low carb e mais!
Escute e passe a frente! 🙂
Viver bem e em forma está na moda! 🙂
OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br
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🙂
Ouça o Episódio De Hoje:
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Casos de Sucesso do Dia
Referências
Estudo Epidemiológico Que Analisou Quase 1.2 Milhões de Crianças Publicado no Jama
Estudo Sobre Cerveja do Dr. Peter Foley Para o Site Dietdoctor.com
Estudo 1 Analisando os Efeitos de Uma Dieta Bem Baixa em Carboidratos, Cetogênica na Performance Atlética
Estudo 2 Analisando os Efeitos de Uma Dieta Bem Baixa em Carboidratos, Cetogênica na Performance Atlética
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá, olá para você! Bem-vindo a mais um episódio aqui do podcast oficial da Tribo Forte, claro, a sua dose semanal de saúde, estilo de vida saudável, ciência do emagrecimento e nutrição! E hoje mais um show de variedades, com vários assuntos diversos para a gente comentar aqui, para atualizar você também e cobrir vários aspectos do estilo de vida saudável. Hoje a gente vai tocar em assuntos como amígdala, cerveja… muita gente tem dúvida em cerveja e low carb. Será que as duas coisas combinam? Um pouco de exercício físico e performance, de acordo com a dieta. E, enfim, mais coisas nesse sentido. Acho que vai ser um episódio variado e bastante bacana como foi o anterior também. Deixa eu dar as boas-vindas aqui para o dr. Souto. Tudo bem, doutor?
Dr. Souto: Tudo! Bom dia, Rodrigo. Bom dia aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: É isso aí, pessoal! Agora, nesse momento estão abertas as vendas para mais ingressos disponíveis para o evento Tribo Forte ao vivo 2018. Então se você entrar agora lá, enquanto tiver ingressos disponíveis… Nesse momento tem. Então entre em TriboForte.com.br/aovivo. Você vai ter acesso lá, vai ver a página inteira, todos os palestrantes, vai ver os ingressos disponíveis. Enfim, você pode garantir o seu e vir fazer parte desse show em setembro, encontrar todos nós e fazer parte desse movimento, estilo de vida, ciência, vitalidade, todas essas coisas. A gente já está na terceira edição do evento, vai ser maior do que nunca! Maior do que o do ano passado. Sem dúvida o maior evento de estilo de vida da América Latina. Vai ter uma mini feirinha de produtos saudáveis também para você curtir. Dois dias inteiros, um fim de semana sensacional, com pessoas sensacionais! Doze palestrantes sobre vários assuntos. Você precisa estar lá. Então, novamente: é só você entrar em TriboForte.com.br/aovivo. Ou entre em TriboForte.com.br e clique no link “evento” que você vai direto para a página e garante o seu o quanto antes. Os ingressos vão ficar disponíveis somente enquanto durarem os estoques, porque, afinal as salas cabem um número x de gente. Não tem como colocar mais gente. Não dá para ficar de pé. Então entre lá e faça parte disso aí. Venha encontrar a gente em setembro em São Paulo! Vamos lá, primeiro assunto aqui do dia. Para quem já estava acompanhando a nossa conversa aqui há muito tempo, deve ter escutado a gente falar já (e talvez tenha acompanhado pela internet) sobre o processo judicial que envolveu o professor Tim Noakes, lá da África do Sul. Ele teve muitos problemas por causa da maneira pela qual ele começou a disseminar low carb. Enfim, toda aquela confusão. E acabou se tornando um caso muito famoso. Ele foi julgado inocente novamente, pela segunda vez. Olha só, para quem não sabe, o Tim Noakes mudou completamente a sua visão ao longo do tempo à medida em que ele se deparou com a ciência low carb e passou a falar mais a respeito, ao passo que sempre ele tinha defendido o oposto disso, na verdade. Aquela coisa tradicional… e ele virou a casaca positivamente. Então ele foi processado pela Associação Médica Sul Africana e desde então o mundo inteiro meio que passou a defende-lo de uma forma. Todo mundo está olhando para esse caso. Então ele foi absolvido de tudo novamente agora bem recentemente. Dr. Souto, vamos colocar o pessoal a par disso. Mais uma vitória, como se fosse necessário, não é?
Dr. Souto: É uma vitória retórica importante. Para situar bem o pessoal sobre o que aconteceu. Acho que foi em 2016 ou 2017 que surgiu essa situação em que o Noakes foi acusado na África do Sul pela, na época, diretora da Associação de Nutrição da África do Sul. Isso aconteceu porque ele, num tweet, respondeu para uma mãe que estava perguntando sobre desmame. Ele respondeu que quando desmamar, o ideal era desmamar para comida de verdade e colocou entre parênteses LCHF, low carb e high fat. E aí essa nutricionista fez uma denúncia. O interessante da história é o seguinte: o Noakes é médico, mas ele é cientista. E o que ele já vinha fazendo há muitos anos era basicamente trabalhar com pesquisa e ensino. Ele já não praticava medicina, ele não tinha consultório. Então ele tinha uma licença médica, mas ele não praticava. Então, para ele, Noakes, não faria diferença se ele desistisse, não atuasse, perdesse a sua licença. Então o Noakes decidiu levar adiante esse processo, se defender, gastou um dinheiro muito grande na sua defesa (foi um processo longo) porque ele queria dar um exemplo para o mundo. Ele queria mostrar que ele tinha razão, que o que ele tinha falado era baseado em evidência, era baseado em ciência e que ele ia se defender. E, inclusive, isso está registrado em um livro. Quem lê em inglês, pessoal, se antenem, comprem aí. O livro se chama The Lore of Nutrition. É um livro grosso, é um livro com centenas e centenas de referências bibliográficas. Na realidade, toda a história do julgamento, mas principalmente os argumentos que ele usou para se defender e toda a ciência por trás disso está nesse livro. Então o livro acaba sendo uma espécie de uma bíblia de consulta sobre literatura low carb. Resultou no seguinte: ele levou adiante o julgamento e em tudo aquilo que ele foi acusado ele foi inocentado. Porque ele demonstrou que dos pontos de vista científico, ético, profissional não havia nada de errado. Naquele tweet ele não estava respondendo no contexto de uma relação médico-paciente, afinal, não era uma paciente dele. Ele fez um comentário genérico que serviria para qualquer pessoa. E aquilo que ele comentou era baseado em evidências conforme ele provou por A + B com os estudos. O que aconteceu? Na África do Sul existe uma associação (essa associação que o processou). É uma associação de profissionais da saúde. Lá não tem uma associação médica, uma associação de nutrição, uma associação de educação física… É uma coisa só. Então a Associação inconformada com o veredito entrou com um recurso. Então o que saiu essa semana foi o resultado do recurso. E nesse recurso ele foi julgado novamente inocente por 13 a 0.
Rodrigo Polesso: Treze a zero! Muito bom!
Dr. Souto: Então, quer dizer que foi absolutamente unânime. Inclusive, ele tem nas mãos agora a oportunidade de processar de volta por frivolidade. Ou seja (existe um termo para isso em português que é litigância de má fé), quando uma parte processa outra sabendo que não tem razão, mas só para fazer o outro gastar, só para intimidar. Aquilo que o Noakes quase fez. Ele disse que poderia simplesmente ter dito que admitia estar errado, pedir desculpas e receber uma censura pública. Mas ele resolveu que não, que ele ia lutar, que ele ia brigar e ganhou pela segunda vez. E agora ele ainda está pensando se vai ou não entrar com o processo de litigância de má fé para, entre outras coisas, pedir de volta as centenas de milhares de dólares que ele gastou na sua defesa. Então eu acho que é uma grande vitória para o Noakes, mas é uma vitória para a ciência. É uma vitória para todos nós que ele não se deixou intimidar e a verdade venceu inclusive nos tribunais.
Rodrigo Polesso: Sensacional! E isso só mostra como é difícil ser profissional da saúde, um profissional que preza pela ciência e não, digamos, pela tradição. Um profissional que se atualiza, que está de acordo com a ciência e não necessariamente com a tradição da sua área, ou de acordo com as diretrizes da sua organização, da sua associação. A gente sabe que esse é um problema comum também no Brasil, onde nutricionistas e médicos podem enfrentar problemas semelhantes ao começar a recomendar aos pacientes hábitos que aderem, como eu falei, à nova ciência, mas que não necessariamente se aderem ao que as associações querem que eles sugiram. Então é complicado. Eu acho que é uma vitória para o mundo inteiro. Porque é um caso piloto que acabou vencendo e pode servir como modelo para outros que venham a ocorrer em qualquer parte do mundo.
Dr. Souto: Exatamente. E eu acho que ali ele deixou bem claro que o importante é que a conduta seja baseada em evidência. Quer dizer, ninguém aqui está defendendo que as pessoas tenham liberdade para praticar picaretagem. Então acho que o picareta tem que realmente ter a sua licença revogada. Não era o caso. O Noakes é talvez o cientista biomédico mais conhecido de toda a África do Sul e estava sendo colocado em julgamento porque defendeu algo que a literatura científica de mais alto nível contempla. Que é uma abordagem de comida de verdade low carb.
Rodrigo Polesso: Uma ótima notícia para começar. E falando em evidência, um assunto randômico aleatório aqui. Tem um estudo, um enorme estudo, na verdade. Epidemiológico, então considere como um estudo epidemiológico, que analisou quase 1.2 milhões de crianças que nasceram na Dinamarca e depois analisou, olha que interessante, os dados de saúde dessas crianças nos primeiros 30 anos de vida delas. Verificaram que as crianças que removeram as amígdalas tiveram um risco aumentado de quase 3 vezes do desenvolvimento de doenças respiratórias ao longo da vida. Ou seja, as mesmas doenças que a mesma cirurgia visa prevenir. Eu mesmo tive as minhas amígdalas removidas quando criança porque eu sofria muito com infecções na garganta e também no ouvido. Então o médico sugere: vamos tirar fora a amígdala. No entanto, hoje eu tenho a opinião que ao invés de a gente pensar em mutilação como primeiro tratamento (seja no emagrecimento com a bariátrica, ou na saúde respiratória com a remoção cirúrgica das amígdalas), a gente deve pensar primeiro em mudança da alimentação, intervenção de estilo de vida que a gente pode implantar para turbinar nosso sistema imunológico e talvez evitar todos esses problemas. Mas eu não sabia disso, nunca tinha lido sobre esse assunto, então achei interessante. Apesar de ser um estudo epidemiológico, foi um aumento de risco de 3 vezes no desenvolvimento de doenças respiratórias nas crianças que removeram as amígdalas. E na minha opinião faz sentido, porque o sistema imunológico delas acaba ficando um pouco danificado. Dr. Souto, o que você acha desse assunto?
Dr. Souto: Eu acho que tem duas leituras. Uma leitura é essa que você está fazendo, que me passou pela cabeça também. Do ponto de vista evolutivo, por que o corpo colocaria algo ali que não tenha função, que é desnecessário? Por que a seleção natural, a evolução teria mantido elas ali se elas não fossem vantajosas? Então, na realidade, o que acontece, a orofaringe é uma das portas de entrada no nosso corpo para bactérias, para germes, para vírus. Então, como ali é uma porta de entrada para o sistema respiratório, me parece natural que haja uma concentração de tecido linfoide, quer dizer, de glóbulos brancos, de células de defesa guardando a porta de entrada. Vamos pensar em uma fortaleza, em um castelo. A porta não é guarnecida? No corpo é assim que funciona também. Por exemplo, 80% do nosso sistema imunológico, dos nossos glóbulos brancos estão concentrados no intestino. Por quê? Porque o intestino é a nossa maior área de contato com o meio externo. E um meio externo bastante complicado, porque pensa no conteúdo intestinal, na quantidade de bactérias que tem ali, aquilo tem que ser guarnecido. Então faria sentido, do ponto de vista evolutivo, que se você remover um tecido que está colocado ali como uma guarnição do sistema imunológico, que isso vá aumentar o risco de infecções. É uma forma de ver a coisa.
Rodrigo Polesso: A outra forma é que as pessoas que removeram são pessoas que provavelmente já tendem a ter esse problema mais seguido, não é?
Dr. Souto: Exatamente! É muito importante isso que você falou e eu quero salientar para aqueles que estão nos ouvindo. Sempre em estudo epidemiológico a gente tem que tentar pensar ao contrário, tentar pensar nas variáveis ocultas. Tentar pensar nisso que o Rodrigo falou agora, que tem um nome. Chama-se causalidade reversa. É o seguinte: não é a retirada da amígdala que está causando as infecções. Talvez seja que pessoas que são propensas a infecções tinham uma chance maior a ter suas amígdalas retiradas. Elas eram propensas a infecções por outros motivos. Talvez porque tenham uma imunidade fraca desde pequenos.
Rodrigo Polesso: E só continuaram a ter problemas ao longo dos anos.
Dr. Souto: Claro. Olhando 30 anos depois, aqueles que tiraram as amígdalas… O ter retirado as amígdalas pode ser um marcador de uma tendência a ter infecções respiratórias. Tendência essa que não foi modificada por ter retirado as amígdalas. O que é verdade? A primeira hipótese que a gente levantou ou a segunda? A gente não sabe. Por quê? Porque estudos observacionais epidemiológicos não estabelecem causa e efeito. Então não custa repetir isso a cada episódio, porque isso é o grande problema da nutrição. É aquela coisa assim: pessoas que comem carnes processadas tem um risco maior de câncer. Será que a carne processada aumenta o risco de câncer ou é o que vem junto com a salsicha, que é o pão, o ketchup e a mostarda, a Coca-Cola e o milk-shake? Porque a salsicha não é consumida sozinha. A salsicha pode ser um marcador de outros hábitos. Então estudos observacionais não estabelecem causa e efeito. A única forma seria fazer um ensaio clínico randomizado. Claro, nem sempre dá para fazer. No caso das amígdalas é evidente que não dá para fazer. Eu faria o que? Pegar milhares de crianças e sortear metade delas para ter suas amígdalas removidas? Não dá. Então a gente só pode especular. Mas é importante que a gente desenvolva o pensamento crítico e sempre, sempre, sempre, a cada situação tente pensar o contrário e ver de que forma a conclusão que eu estou tirando de um estudo observacional pode estar errada por uma variável na qual eu não pensei.
Rodrigo Polesso: Exato!
Dr. Souto: Então esse estudo vale mais para fazer um exercício de pensamento crítico.
Rodrigo Polesso: Exato! Eu coloquei esse estudo pelo seguinte: a gente vê a intervenção cirúrgica como um fim, como uma solução definitiva. Eu queria enfatizar a questão da mudança do estilo de vida, principalmente em crianças que tem problemas com infecções, tem problemas no ouvido, na via respiratória. A gente sabe que pode muitas vezes ser relacionado à própria alimentação que a criança está tendo. Alguma reação alérgica, algum problema, alguma intolerância que a criança tenha. Uma vez que você tira o que está agredindo essa criança, você pode talvez reverter também esses problemas, ou, pelo menos, diminuir bastante a incidência desses problemas a ponto de você não precisar passar por uma intervenção cirúrgica. Digo isso tanto para pessoas obesas que são adultas e estão pensando em bariátrica, como em crianças no caso de cirurgias nas amígdalas, como em qualquer problema desse tipo. Pensar sempre na intervenção mais natural que você pode ter a sua disposição. Porque geralmente esse tipo de intervenção também tem o risco baixíssimo e quem sabe dá certo.
Dr. Souto: Anedoticamente falando, agora não estou falando baseado em nenhum estudo maior, mas se eu tivesse uma moedinha para cada paciente que apareceu no consultório e começou a fazer low carb e sua sinusite crônica, suas infecções crônicas desapareceram completamente, eu já teria um pote cheio de dinheiro. E isso inclui este que está aqui falando para vocês. Todos os anos no inverno era um inferno. Eu tinha uma sinusite crônica, nariz entupido… E assim, eu sou cirurgião, então quando o nariz está correndo e eu estou de máscara operando, não dá para parar no meio, tirar a máscara e assoar o nariz. É um inferno operar de máscara com sinusite. E isso acabou na minha vida desde 2011. Imagina assim, toda a minha vida, da infância até os 40 anos de idade eu tive esse problema. E aí, subitamente, de 2011 para cá não tem mais, não existe. Eu passo os meus invernos… Estamos em junho, está 9° ali fora e eu vou fazer uma respiração para vocês ouvirem aqui. Uma respiração nasal. Esse é o barulho do ar fluindo bem pelo ouvido, sem ter que pingar gotinha, sem Afrin, sem descongestionante. Isso até 2011 não existia na minha vida. E o que mudou de lá par acá? A alimentação. Tem ensaio clínico randomizado? Não, não tem. Mas assim, a quantidade de relatos é avassaladora. E quando a gente vive na própria vida é difícil não se influenciar pela coisa.
Rodrigo Polesso: Com certeza. E uma transição natural, saindo de amígdalas a gente ai passar a falar de cerveja. Olha só!
Dr. Souto: Tudo a ver!
Rodrigo Polesso: Tudo a ver uma coisa com a outra! Muita gente pergunta sobre cerveja e low carb, se vai ter que parar de tomar cerveja para sempre, se cerveja quebra o jejum, se cerveja é boa no low carb. O que é, afinal? Não existe nenhum ensaio clínico randomizado que testou isso também. Mas a gente pode usar o bom senso e estudos de caso. E foi isso que aconteceu. Será que cerveja aumenta a glicose no sangue? Será que a cerveja tira você do jejum? O dr. Peter Foley fez um experimento para o site dietdoctor.com onde ele testou nele mesmo (em nome da ciência, como ele disse) 5 cervejas comuns e mediu o que aconteceu tanto nos seus níveis de glicose no sangue, glicemia, quanto em seus níveis de corpos cetônicos. O dr. Foley tende a seguir um estilo de vida low carb mais generoso para os nossos padrões de carboidrato. Mais ou menos uns 100 gramas de carboidratos por dia. Então ele consome provavelmente alguns tubérculos. Mas ele ainda assim entra em uma cetose. Ele mostrava 0,5 de corpos cetônicos no sangue, que é uma cetose leve que está acontecendo. Então ele testou tudo isso. E também a glicemia dele, para ter uma ideia de como ela é em sua vida normal. Ele testou cervejas low carb, como a Bud Light, a Coors Light que tem muito nos Estados Unidos, mas aí você imagina uma equivalente no Brasil que seja tão ruim quanto. Cerveja sem álcool, que eu não sei nem porque leva o nome de cerveja. E também “cerveja normal”, como a Budweiser, que na minha opinião não tem nada de normal. Na verdade, não tem nada de cerveja… Um parêntese, até nessa questão de cerveja, de você fermentar um bendito de um grão com água, isso já se distanciou. Eles colocam milho, colocam não sei mais o que para fazer as suas cervejas de mainstream, cervejas para a massa. Então até isso a gente conseguiu distorcer ao longo do tempo. Mas ele testou todas as cervejas que são comumente consumidas por aí. E o teste (foi um teste intensivo) consistiu em ele tomar 4 latas grandes, de 440 ml de cerveja de cada uma delas a cada meia hora (uma de cada uma). Então ele pegou a Budweiser e tomou uma lata, esperou meia hora, tomou outra lata e assim por diante quatro vezes. E a cada meia hora ele ia medindo, ia fazendo o furo no dedo e medindo tanto a glicose quanto os níveis de corpos cetônicos que indica a cetose no sangue. Conclusão: em todos os casos a glicemia aumentou depois de tomar a cerveja. Então a glicemia aumentou depois de tomar a cerveja em todos os casos e isso impactou também na produção dos corpos cetônicos. Já no primeiro teste os corpos cetônicos que estavam em 0,5 ou 0,3, não lembro, foram a 0 e ficaram em 0 até pelos próximos testes, já que a gente sabe que demora um pouco para os corpos cetônicos voltarem. Em suma, a cerveja sem álcool, a cerveja low carb e a cerveja normal (leve como a Budweiser), todas elas aumentaram a glicemia do sangue e derrubaram a produção dos corpos cetônicos. Então fica aí a moral da história para você, se você quiser incluir diariamente na sua rotina, tenha em mente que isso vai acontecer. E lembrando que o pico de glicose no sangue não foi tão alto nele nesses casos, mas também precisa considerar que ele é uma pessoa que está adaptada, provavelmente bem sensível à insulina. No caso de uma pessoa obesa, com resistência à insulina, poderia jogar essa glicose bem mais pra cima, demorar bem mais tempo para cair e nem vamos falar em corpos cetônicos aqui, porque uma pessoa que está com resistência à insulina não vê muitos deles, não é verdade? Eu sei que o dr. Souto não é uma pessoa que curte cerveja, de qualquer forma. Eu já curto. Curto cervejas artesanais, não essas coisas que ele testou. Mas claro, em momentos esporádicos, aqui e ali. Mas fica uma informação interessante, eu acho, para muita gente.
Dr. Souto: Então, Rodrigo, eu gostei desse artigo porque, como você disse, eu não gosto de cerveja. Eu nunca gostei. Mesmo antes de eu adotar um estilo de vida low carb eu já não bebia cerveja. Gosto de um vinho, gosto de um espumante, eventualmente até de um destilado. Mas cerveja eu não gosto. Além do que, como eu tenho dermatite herpetiforme, eu realmente não posso consumir glúten. Então, mesmo que eu quisesse para o bem da ciência beber um negócio que eu não gosto para testar a minha glicemia, especificamente cerveja eu não iria beber. Então é bom que alguém tenha feito esse teste. Vou citar algumas coisas interessantes que ele comenta no artigo e mostrou. Primeiro: cerveja sem álcool é a que tem mais carboidrato. Então a maioria das vezes que aparece lá uma cerveja zero, cerveja sem álcool e tal, eles estão se referindo à quantidade de álcool e não à quantidade de carboidrato. O que para pessoas que querem poder beber uma cerveja, mas não querem ter problema para dirigir, ok. Mas para fins de low carb, cerveja sem álcool é pior que as outras.
Rodrigo Polesso: Alguma semelhança com glúten free alternativas, não é?
Dr. Souto: E o motivo é simples, pessoal. Vamos entender como funciona. Uma bebida alcoólica é produzida por fermentação. E o que é a fermentação? Tem a levedura que converte a glicose, converte o açúcar em álcool. Então, obviamente uma bebida que não teve fermentação suficiente para atingir 0,5% de álcool é porque vai ter muito mais carboidrato. Porque o carboidrato desaparece à medida em que o álcool aumenta. O inverso é verdadeiro. Bebidas com teor alcóolico maior, como o vinho (que tem 3 vezes mais álcool do que uma cerveja, em média) vai ter uma quantidade muito menor de carboidrato. E aí eu posso falar, porque eu testei. Em um período em que eu estava com um monitor contínuo de glicose implantado eu bebi vinho várias vezes. E todas as vezes, sem nenhuma exceção, a glicose diminuiu e não aumentou. Então, efetivamente o vinho, no que diz respeito à glicemia, em mim não afeta. Agora, existe um ensaio clínico randomizado em diabéticos comparando vinho branco, vinho tinto e água. E no ensaio clínico randomizado em diabéticos os dois tipos de vinhos foram superiores à água no que diz respeito ao controle…
Rodrigo Polesso: Fale com cautela!
Dr. Souto: Vou explicar agora. Era no máximo dois cálices. E quando nós estamos falando “cálices”, não é aquele aquário com peixe. Nós estamos falando em cálices standard de 125 ml. O consumo de até 2 cálices de vinho seco – obviamente, não pode ser vinho doce – em pacientes diabéticos está associado com melhor controle glicêmico e melhores níveis de triglicérides quando comparado com água. O estudo deixa claro – esse que eu citei – que pessoas que não bebem não deveriam começar a beber só por causa disso. Não é remédio. O que eles estão colocando ali é que, realmente, em pessoas que bebem, o vinho pode ser uma boa opção se você for um diabético tipo 2. Então, para salientar o seguinte. Isso o que esse autor do Diet Doctor viu… Que todos os tipos de cerveja aumentaram a glicemia… Eu estou aqui dizendo para vocês que no teste que eu fiz todos os tipos de vinho e espumante reduziram a glicemia. Então, realmente, a cerveja tem mais glicose por ml do que o vinho – embora tenha menos álcool. E uma outra coisa que eu acho que precisa salientar são os hábitos de consumo das diferentes bebidas. É tranquilo beber dois cálices de vinho. Mas as pessoas não bebem dois copinhos de 125 ml de cerveja.
Rodrigo Polesso: Ele tomou 4 latas de 440 gramas para o teste… Mls…
Dr. Souto: Que é uma coisa que está um pouco mais de acordo com os hábitos de consumo de quem bebe cerveja. Não raro, quem bebe cerveja, bebe até mais. Então… E a quantidade de carboidrato variou muito nas diferentes cervejas que ele testou. Então, cervejas mais comuns têm uma quantidade bem significativa de carboidrato. E tomado nessa quantidade que ele tomou equivale… Como eu costumo dizer para os pacientes de consultório… Calcula que cada cerveja é um pão. É um pãozinho. Esse pãozinho francês. Então, a pessoa, na realidade, está tomando quatro cervejas… Está comendo 4 pães. É possível… Resumo da ópera. É possível incluir uma cerveja dentro de uma dieta low carb? Bom, ela é uma escapada dentro de uma dieta low carb. Se você beber pouco e se você escolher a cerveja, de preferência pela quantidade de carboidratos que tem lá no rótulo… Escolhe a que tiver menos… É possível. Eu acho que é possível, se você não tem nenhum problema com glúten e gosta muito. E tem outra. Tem coisas que a pessoa consome dentro de uma refeição livre. Aquilo não faz parte, mas a pessoa quer consumir. Acho que está bem. Mas eu achei interessante o estudo dele. E muito interessante comparando com essa minha experiência com o vinho e com os espumantes, que mostrou não apenas um não aumento, mas uma redução da glicose. E só para quem está nos ouvindo e perguntando… “Uma redução a troco do quê?” O álcool interfere com a produção de glicose pelo fígado. Então, como o vinho seco e o espumante brut tem uma quantidade irrisória de carboidratos, não chega a aumentar a glicose no sangue pelo pouco carboidrato que tem na bebida. Mas a glicose que o fígado produz é temporariamente reduzida pelo álcool presente no vinho. Esse deve ser provavelmente o mecanismo. Já a cerveja tem pouco álcool, então não tem esse efeito tão forte no fígado, mas tem mais carboidrato, então aí acaba subindo a glicose.
Rodrigo Polesso: O corolário disso… Muita gente deve ter notado já… Independente de ser vinho ou cerveja, quando você toma álcool… Não sei se até por causa desse mecanismo do fígado você tende a sentir vontade de comer mais carboidratos. Acho que tomo mundo que toma sabe disso. Não sei se você já notou com o vinho… Não sei se é por causa dessa queda na glicemia ou porque… Mas é bem comum as pessoas sentirem mais fome por carboidratos quando elas estão tomando álcool.
Dr. Souto: E o contrário é verdade. Uma dieta bem low carb… A tolerância ao álcool diminui. Acho que muita gente que está nos ouvindo já teve essa experiência – o que pode ser considerado até como uma coisa boa, porque o cara tem aquela sensação gostosinha bebendo menos.
Rodrigo Polesso: É. A minha dica para quem gosta de cerveja… Muita gente vem me falar… “Rodrigo, sou que nem você. Gosto de cervejas artesanais e etc.” É o seguinte. Isso que ele testou… Vamos conversar. A gente não chama nem de cerveja. São substâncias bebíveis. Não é aquela cerveja artesanal que é feita com malte, com a fermentação e tudo mais. O benefício de você tomar uma cerveja artesanal de qualidade… Uma IPA, uma stout, Russian stout da vida… É que essas cervejas têm, tipicamente… São bem mais alcoólicas do que essas outras. Então, se você toma uma IPA boa… Uma IPA dupla, tripla… Tem lá 8%… Pelo menos 6%… 8% é normal de álcool… Você tende automaticamente a tomar bem menos. Até porque tem bem mais gosto. É bem mais saborosa. Você degusta mais. Você não toma rápido. Você degusta como se fosse um vinho. Então, você toma uma garrafinha… Uma long neck… Você já está ok. Então, você diminui automaticamente a quantidade de carboidratos por tabela por não ter que tomar um monte para ter o mesmo efeito, digamos.
Dr. Souto: Obviamente, se ela é fermentada a ponto de ter esse teor alcoólico, é evidente que a quantidade de carboidrato vai ser menor. Então, agora, nós aqui… Eu e todos os outros ouvintes estamos desafiando o Rodrigo Polesso a tomar essas cervejas que ele gosta e medir sua glicemia.
Rodrigo Polesso: É. Quando eu comprar meu medidor… Eu tenho terror de furar dedo. Uma das coisas que o Peter Foley falou nesse estudo… Uma das coisas que ele aprendeu durante o estudo é que ele tem bastante compaixão e empatia com o pessoal que precisa furar o dedo todo dia porque o negócio começa a doer e encher o saco depois de um tempo.
Dr. Souto: Isso aí é porque ele tem pouca prática. Eu já furei muito o dedo nesses últimos sete anos. Não sou diabético, mas eu gosto de experimentar. Aquela canetinha que a gente usa para fazer o furinho tem uma regulagem. Para quem está nos ouvindo, seja diabético ou não, e quiser fazer o teste, a gente regula a canetinha no mínimo e dispara no dedo. No mínimo, o que que acontece? A lanceta nem perfura o dedo. Então, a gente não sente. Aí avança meio pontinho dessa de novo. A gente tem que descobrir a regulagem que dá uma picadinha mínima para sair uma gota. Aí não dói. É quase nada. Então, primeiro tem que saber fazer. A segunda coisa é… Realmente, o monitor contínuo, tudo bem… Custa mais caro. Mas é um espetáculo. Bota aquele negócio no braço… Ele tem uma bateria… Ele fica medindo a glicemia a cada cinco minutos… Você acordado, dormindo, tomando banho… Ele está medindo a glicemia. Através da própria roupa ele faz a leitura. Faz o download das últimas horas de medição. Dá para ver gráfico, botar no computador. É fora de sério.
Rodrigo Polesso: Esse é aquele que pica ou aquele que nem pica? Parece que tem um que nem pica.
Dr. Souto: Esse é assim… A gente aplica na face posterior do braço. A coisa parece uma agulhinha, mas não é. É um cateter plástico extremamente fino. Nas duas vezes que eu coloquei, mesmo prestando atenção, eu efetivamente não consegui sentir a penetração daquele cateter. É impossível perceber, na minha opinião. Não dói. Não dói mesmo. Mesmo se doesse, seria…
Rodrigo Polesso: Uma vez só.
Dr. Souto: Mas não dói, Rodrigo. Estou te dizendo. A gente não sente. Aquilo ali gruda… E gruda de um jeito que dá para tomar banho, dá para entrar no mar… Fazer atividade física… É bem legal. O aparelho no Brasil se chama FreeStyle Libre. Não é barato, infelizmente. Mas acho que vai baratear com o tempo quando tiver mais competição. Já existem outras marcas. O FreeStyle é o mais fácil de comprar. Quem botar no Google “FreeStyle Libre” cai no site do fabricante, que é a Abbott, que faz a venda via Sedex.
Rodrigo Polesso: Que maravilha. Legal. Para quem é geek como a gente, obviamente precisa. Pode ser uma boa opção.
Dr. Souto: Para quem é geek como a gente já é legal. Para quem é diabético é absolutamente essencial e vai mudar a sua vida. Ao invés de acreditar no que o Souto diz, no que o Polesso diz… Daqui a pouco outra pessoa diz o contrário no Instagram… “Não, batata doce não tem problema para o diabético.” Você bota o Libre, come batata doce e vê quem tem razão. É como você estar num quarto escuro tropeçando nas coisas e de repente acender a luz. Essa é a diferença para um diabético usar o Libre ou não. É acender a luz. Subitamente tudo fica claro e cristalino na sua frente. Você sabe o que aumenta sua glicose e o que não aumenta. Simples assim. A propósito, batata doce aumenta loucamente.
Rodrigo Polesso: Sim.
Dr. Souto: Porque é amido, né, pessoal?
Rodrigo Polesso: É amido puro. Maravilha. Antes de dar uma palavrinha sobre exercícios e low carb, cetogênica… O caso de sucesso de hoje que vem da Aline, que perdeu 17,6 quilos… Não ponto 5, não ponto 7. 17,6 quilos. Ela falou, “Não é sem sacrifício. Não é fácil. Mas está longe de ser sofrido.” Isso é importante. “Sem falar que meu marido está firme comigo também. Isso não tem preço.” Ela perdeu 17,6 quilos. 17 centímetros de cintura. 12 de abdômen. E 12 centímetros de perna também. Ela está seguindo o programa Código Emagrecer de Vez e aplicando a alimentação forte, que ajustada no programa para turbinar emagrecimento com saúde e forma natural. Como sempre, para você conhecer o programa, você entra em CodigoEmagrecerDeVez.com.br. Veja o vídeo de apresentação lá. Veja se conecta com você. E se junte a mais um caso de sucesso construindo um estilo de vida natural, emagrecedor, que dura para sempre.
Dr. Souto: Sensacional.
Rodrigo Polesso: Trouxe artigos… Dois estudos novos, na verdade… Sobre exercícios… Que não são inéditos… Mas são interessantes de mencionar aqui por dois aspectos. Dois estudos que foram publicados bem recentemente agora… Analisando uma dieta bem baixa em carboidrato… Cetogênica… Na performance atlética tanto na modalidade de longa duração e esforço, como triátlon, por exemplo, quanto em exercício curto e de alta intensidade como cross-fit. Em se tratando dos exercícios de longa duração e baixa intensidade como triátlon, a dieta cetogênica, depois das pessoas terem se adaptado a ela, mostrou vantagens sobre a dieta padrão alta em carboidratos que normalmente é usada nesse tipo de modalidade, com os participantes se tornando mais eficientes no gasto energético. É isso que os números, pelo menos, indicam. No caso do exercício de alta intensidade e curta duração, verificou-se que, ao contrário do que é acreditado por aí… Que é dito por aí… A dieta cetogênica não causou nenhuma diminuição na performance dessas pessoas nessa modalidade também. Como eu falei, não são os primeiros estudos a virem sobre esse assunto, mas eles também vêm para corroborar um corpo de evidência que já existe apontando mais ou menos nessa direção. Mas eu acho que o ponto mais controverso aqui é da questão dos exercícios de alta intensidade e curta duração, como cross-fit, que as pessoas acham que o carboidrato dá um benefício de performance nesse caso. Esse estudo vem para dizer o contrário, mas não quer dizer que é uma conclusão escrita em pedra.
Dr. Souto: Como você disse, é mais um. Agora estão se acumulando os estudos nesse sentido. O equívoco que surge na parte da nutrição esportiva repete os equívocos do resto da nutrição que é se basear em mecanismos e não na realidade. Então, o mecanismo é muito bonito. A ideia é assim. Você precisa do carboidrato… O exercício de alta intensidade é um exercício anaeróbio, e como ele é anaeróbio ele precisa de glicose. Só a glicose pode fornecer energia em anaerobiose. O exercício é de uma intensidade tão grande, tão explosiva, que não dá tempo do pulmão e do coração responderem e levarem oxigênio lá… E o exercício já está acontecendo. Então, o corpo precisa de glicose. Gordura só pode ser usada como fonte de energia na presença de oxigênio na célula. O raciocínio é… Você precisa de glicose para esse exercício explosivo. Agora, ao invés de fazer todo esse raciocínio, por que simplesmente as pessoas não pegam pessoas, botam um grupo em low carb, deixam o outro grupo comendo carboidrato e vê como é o desempenho? Foi o que esses autores fizeram.
Rodrigo Polesso: Depois de um tempo.
Dr. Souto: Leva um tempo para adaptar. Isso é muito importante. O fato é. Depois de 4, 6 semanas, o desempenho não piora. O desempenho é equivalente na maioria dos estudos. E o que acontece? Os grupos low carb perdem gordura, melhoram a composição corporal. Então, se os educadores físicos, se os nutricionistas tivessem na cabeça o que eu acabei de dizer que é… A realidade tem precedência sobre os mecanismos. Ao invés de partir do mecanismo e dizer o que deve e não deve ser feito, parte da realidade. Vê assim… Existem atletas que fazem low carb e têm bom desempenho? Sim, existem. Então, vamos entender qual mecanismo bioquímico que explica. E não assim… O mecanismo bioquímico diz que é impossível. Aí o sujeito faz low carb, faz cross-fit, emagrece e o desempenho é o mesmo. Aí você diz, “Não, ele é um ET. Ele não existe.” Nega a realidade para manter o mecanismo. Isso não faz sentido. Para quem é geek e quer saber, o que que acontece? São dois fenômenos. Primeiro o glicogênio do músculo… Glicogênio, a forma que a glicose está armazenada no músculo… Não é usado para fornecer glicose para o resto do corpo quando a pessoa está em low carb ou em jejum, porque o músculo simplesmente não tem a glicose 6-fosfatase… A enzima que permitiria essa glicose do glicogênio sair do músculo para ir para o sangue… De modo que quem faz esse efeito de fornecer glicose para o sangue em jejum ou em low carb é o fígado, não é o músculo. Então, o glicogênio continua lá no músculo. E segundo… O glicogênio do músculo acaba sendo reposto, mesmo em low carb e mesmo em jejum.
Rodrigo Polesso: Isso é importante. Isso é crucial.
Dr. Souto: Isso é crucial. Como? Bem, tanto pela glicose que está no sangue e que veio do fígado por gliconeogênese… Como por… Enfim, outros mecanismos que talvez a gente nem saiba… Pela gliconeogênese a partir do lactato e coisas desse tipo. O fato, a realidade é… Biópsias musculares em atletas cetogênicos comparados com biópsia musculares em atletas em high carb mostram a mesma quantidade de glicogênio antes e depois da atividade física.
Rodrigo Polesso: Isso é muito impactante.
Dr. Souto: Mas toda essa confusão, todos esses 40 anos de confusão teriam sido evitados se ao invés de partir do mecanismo, as pessoas partissem da realidade.
Rodrigo Polesso: Sim. Exatamente.
Dr. Souto: Imagina que eu faça uma teoria cosmológica aqui que diz que o sol não irá nascer amanhã. Aí, mesmo ele nascendo, eu digo: “Não, ele não nasceu.” “Estou vendo o sol ali há dias.” “Não, ele não nasceu, porque o mecanismo que eu postulei diz que é impossível que ele nasça amanhã.” É assim que funciona, infelizmente, boa parte da nutrição. Ela parte de mecanismos ao invés de partir da realidade.
Rodrigo Polesso: Outro ponto, pensando também em performance atlética… Se a gente for pensar em outro raciocínio simples… Ao ponto que você diminui a quantidade de carboidratos… Param de consumir essa quantidade extrema de carboidratos que as pessoas acreditam ser boa… À medida que você faz isso, meio que automaticamente, numa dieta low carb, cetogênica, você aumenta a densidade nutricional da alimentação. E o corpo é movimentado por nutrientes, vitaminas, não só por energia vazia. Então, você provém mais nutrientes como uma consequência de uma alimentação mais low carb. Isso com certeza vai impactar na performance.
Dr. Souto: Sabe, Rodrigo, eu atendi um paciente ontem que era um educador físico… Primeira consulta… Sujeito alto… 1,85, mas bastante obeso. Uns 140 quilos, mais ou menos. Educador físico. A vida inteira praticou esporte. Pratica uma hora de atividade física pelo menos 5 vezes por semana. Pratica também artes marciais. E, no entanto, ele está obeso e diabético. Então, qual é o problema? Ele, na realidade, estava seguindo as diretrizes de que tinha que consumir um monte de carboidrato para fazer atividade física e veio ganhando peso gradativamente nesses últimos anos. Então, nossa conversa foi muito interessante. Depois de eu conversar sobre esses detalhes técnicos e explicar que olha… Basicamente quando a gente tira carboidrato a gente permite que o corpo use a gordura ao invés de armazenar… Então o senhor vai ter esse benefício tanto de perda de peso quanto de melhora da glicose. Interessante que ele disse, “Na prática eu já observo que essa quantidade de carboidrato não é necessária nos meus clientes. No entanto, quando a gente estuda é o que a gente aprende… Que precisa de uma grande quantidade de carboidrato para fazer atividade física.” E mais uma vez eu repito… Essa ideia saiu da onde? De teoria baseada em mecanismo, ao invés de se focar na realidade. Como diz o Tim Noakes, vamos falar dele de novo… Esse mesmo que nós falamos no início do podcast… Que foi absolvido pela segunda vez… O Tim Noakes é um fisiologista do exercício… Médico do exercício… Pesquisador de exercício… E ele tem uma frase maravilhosa que é assim: “A atividade física traz incontáveis benefícios, mas se você precisa da atividade física para manter o peso, significa que sua dieta está errada.
Rodrigo Polesso: Exato. Esse é o pulo do gato. O próprio Peter Attia falou… Ele conta a história dele… Ele se exercitava de 3 a 4 horas por dia e mesmo assim ele chegou… Ele estava diabético e com síndrome metabólica. Não adianta, você pode se exercitar a vida inteira. Você nunca vai compensar hábitos errados alimentares.
Dr. Souto: Exatamente. Porque há um certo limite de exercício que o ser humano é capaz de aguentar. Agora, não há limite na quantidade de lixo que a gente é capaz de comer. Uma coisa é difícil. A outra é fácil. É uma competição desigual. O exercício não tem como compensar o lixo. Agora, reduzir o lixo… Aí os problemas de saúde se resolvem e o exercício passa a cumprir a função que ele originalmente deveria ter, que é lhe dar prazer, condicionamento físico, uma composição corporal legal, massa magra, prevenir doenças, aumentar a longevidade… É para isso que exercício serve. Exercício não serve para emagrecer.
Rodrigo Polesso: Exatamente. É uma pílula difícil de se engolir, mas depois que você engole, traz uma liberdade. Um entendimento adicional. Bom, vamos fechar esse podcast e falar o que a gente degustou na última refeição. Quer começar contando o que você comeu no café?
Dr. Souto: No café eu só tomei um café.
Rodrigo Polesso: Só um café preto mesmo.
Dr. Souto: É. Mas ontem de noite fui num restaurante e comi bem para caramba. Foi um salmão com alcaparras, com cogumelos… Um negócio assim… E com camarões. Foi algo de comer de joelhos. Tinha um purê de batatas também… Aí o que que acontece? Se eu fosse um diabético, eu não comeria o purê de batatas. Se eu tivesse que perder peso, eu não comeria o purê de batatas. Como eu não tenho que perder peso, não sou diabético, eu comi o purê de batatas para aproveitar e recolher o molhinho. É muito melhor comer um purê de batatas do que comer pão, por exemplo ou massa. É muito melhor comer um peixe com camarão e purê de batatas do que uma pizza. Batata não é exatamente um carboidrato ruim do ponto de vista de saúde. Ele é ruim para uma dieta low carb cetogênica e ele é ruim para um diabético. Como eu não estou precisando perder peso, eu de vez em quando me dou o direito de comer uma batata, mas é uma coisa esporádica na minha vida. É porque assim… Estava muito bom. Agora, eu não saio de casa para comer batata frita, entendeu?
Rodrigo Polesso: Exatamente.
Dr. Souto: Era um purê de batatas que ele precisava ser usado para recolher um molho que merecia ser comido.
Rodrigo Polesso: Dá para entender. Eu tive uma sessão também semana passada. O dono do apartamento chegou aqui no meio da semana. Eu não como carboidrato… Basicamente zero durante a semana. Daí chegou o dono aqui com uma marmitinha… “A minha mãe fez esses rice cakes para você provar.” Aí caramba… O que que é isso? É um arroz meio grudento, diferente do que usam aqui… Eles fazem aquilo sem açúcar, sem sal, sem nada. Basicamente um tolete de arroz que tem uma textura muito legal. Uma textura macia. Então, eles gostam de tomar com café porque tem aquela textura macia e um gosto muito suave. Só que é 100% carboidrato e basicamente 0% nutrientes. Eu até me sinto mal em não comer ou jogar fora porque isso dura um dia só… É muito fresco… E jogar fora dá dó. Então, eu vou comer. É estilo de vida. Eu não estou com síndrome metabólica. Eu não preciso emagrecer agora. Eu vou aproveitar um momento especial desse. O arroz é um dos meus carboidratos inúteis favoritos. Eu prefiro arroz do que batata… Do que pão, com certeza. Então, peguei e comi.
Dr. Souto: Mas vamos usar o exemplo para ressaltar uma coisa para os nossos ouvintes: a diferença do carboidrato refinado e do carboidrato in natura. Eu sempre digo isso, mas não custa ressaltar. Em 100 gramas de batata tem mais ou menos 20 gramas de carboidrato. Então para eu comer 100 gramas de carboidrato, eu precisaria comer 500 gramas de batata, meio quilo de batata. Veja bem: eu comi ontem talvez 150 gramas de purê. Então não é uma quantidade absurda de carboidrato. É diferente de comer churros com doce de leite. É diferente de comer donuts com glacê. Ali você come 200, 300 gramas de carboidrato facilmente. É o carboidrato do pior tipo: é açúcar refinado. É um negócio que vai ser absorvido na primeira parte do seu intestino delgado e isso tem implicações em hormônios como GLP, grelina e tal. Vamos dizer que não são só gramas de carboidrato que importam, o tipo importa. Pega arroz. Quem cozinha sabe. Pega uma meia xícara de arroz e aquilo rende um monte de arroz, porque o arroz hidrata. O arroz se hidrata, então quando o arroz está preparado, quando o arroz está feito, você está comendo um negócio que é mais água do que qualquer outra coisa. Então é diferente comer um arroz preparado, é diferente comer uma batata cozida, do que você comer carboidrato processado. Então para aqueles que não são diabéticos, para aqueles que não estão precisando perder um monte de peso e fazer uma low carb mais restrita, para aquelas pessoas que só querem manter o peso, ser saudáveis, eu não vejo muito problema em comer batata, comer batata doce, comer arroz. Aliás, quem já esteve comigo em consultório, eu sempre mostro um papelzinho e digo que o pior é açúcar e farináceos. Isso aqui vale para a saúde de qualquer pessoa, seja ela magra ou gorda, saudável ou não. Farináceo e açúcar não é bom para ninguém. Agora, quando a gente entra num mundo de batata, batata doce, aipim, frutas… Aí, se a pessoa não tem nenhum problema metabólico, não é diabética, não é obesa, pratica atividade física. Pode comer essas coisas. E mais, comendo umas frutas, umas batatas e uns aipins, a maioria das vezes a pessoa ainda vai estar low carb dentro daquela definição de até 130 gramas de carboidrato por dia. Como eu falei, se for de batata, 100 gramas de carboidrato é meio quilo de batata. Meio quilo de batata na minha opinião é bastante batata.
Rodrigo Polesso: Sim, é muita coisa. A mesma quando as pessoas pensam: comi 100 gramas de peito de frango, só proteína. Não, 30% é proteína e o resto é água. As pessoas tem uma perspectiva errada sobre isso. No mais, comi um baita de um bife aqui com umas poucas nozes macadâmias, uma fatia de queijo brie gordo e uma fatia de queijo camembert gordo. Hoje foi a noite do queijo. E basicamente isso. E bacon também, porque ninguém é de ferro! Foi basicamente isso. Com isso a gente fecha em alta esse episódio aqui. Fecha com sabor de bacon esse episódio. E a gente se fala com certeza na próxima semana. Se você está ouvindo ainda lembre-se: garanta o seu ingresso para o evento Tribo Forte ao vivo 2018 entrando em TriboForte.com.br/aovivo para a gente se ver lá em setembro, ver todo mundo lá, todos os palestrantes e participar dessa energia positiva toda. Um grande abraço para todo mundo, para o dr. Souto também. Muito obrigado e a gente se vê na próxima semana.
Dr. Souto: Um grande abraço e até a próxima.