Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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No Episódio De Hoje:
Neste episódio:
- Novo estudo mostra como as pessoas são capazes de aplicar novos hábitos alimentares e reverterem doenças apenas com instruções do que fazer entregadas remotamente (internet).
- “Pessoas que comem mais queijo são mais magras”, diz estudo. Mas o ponto é diferente, mais evidências que questionam a relação entre gorduras saturadas, obesidade e saúde cardíaca.
- Laticínios são bons? Quais laticínios?
- Pergunta sobre jejum intermitente e infertilidade
Espero que aproveite este episódio 🙂
Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências
Estudo do Virta com 262 pessoas que obteram ótimos resultados com instruções alimentares via internet.
Estudo irlandês sobre laticínios
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá! Bem-vindo a mais um episódio do nosso podcast oficial da Tribo Forte. Como você sabe, é o podcast número um de saúde no Brasil. Hoje falaremos sobre dois assuntos principais. E faremos uma pergunta da comunidade… Faz um tempinho que não fazíamos. O primeiro assunto do qual trataremos hoje é sobre a possível reversão de diabetes com instrução via internet… Instruindo as pessoas que já eram diabéticas a fazer uma certa intervenção dietética que gerou resultados bastante legais. Vamos contar uma história por trás desse projeto que é bastante interessante. São resultados bastante bacanas. Falaremos também um pouco mais sobre laticínios. Um estudo observacional foi publicado sobre isso. Falaremos mais sobre a gordura dos laticínios, que o pessoal tem medo. A o que que o consumo de laticínios está associado? Falaremos um pouco também sobre essa questão. Vamos começar com a pergunta da comunidade. Mas antes disso, vou dar boa tarde ao Dr. Souto. Tudo bem por aí?
Dr. Souto: Tudo. Boa tarde, Rodrigo. E boa tarde aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Ótimo! Então, a pergunta é a seguinte. Falamos no podcast número 53 sobre infertilidade e os benefícios que a filosofia alimentar low carb tem em relação a isso. A Tatiane Campos postou uma pergunta. “Boa tarde. Fiquei muito preocupada essa semana pois uma amiga nutricionista participou de um curso esse final de semana em BH sobre low carb e jejum intermitente. A nutri que ministrou o curso disse que existem estudos que afirmam que o jejum causa infertilidade feminina. Ficamos todos intrigados, uma vez que todos nós fazemos jejum. Espero, sinceramente, que se esses estudos existirem mesmo, que não passem de má ciência, uma vez que só tenho tido benefícios com o jejum.” Falamos sobre low carb e infertilidade… Mas alguém passou a mensagem para ela de que o jejum causa infertilidade feminina. Vamos das uma discutida nesse assunto. Qual é seu take nisso?
Dr. Souto: O take é o seguinte. Existe de fato uma situação na qual a mulher para de menstruar ou passa a ter ciclos muito irregulares e para de ovular… Relacionado à restrição calórica severa. Isso foi primeiramente observado de forma sistemática nas atletas femininas; nas atletas olímpicas, por exemplo. Atletas que têm um percentual de gordura muito baixo no corpo. São específicos de modalidades como atletismo, nas quais o percentual de gordura fica muito baixo. Elas param de menstruar. A gente tem um nome para isso. Se chama amenorréia hipotalâmica. É um nome feio. “Amenorréia” significa não menstruar. Por que “hipotalâmica”? O hipotálamo, nossa glândula que regula as demais, faz com que a mulher tenha seu ciclo menstrual. O hipotálamo produz diferentes concentrações durante os ciclos, durante o mês… Dos hormônios LH e FSH… Vai fazer com que o ovário passe por todas as etapas do ciclo menstrual. Por que o hipotálamo de repente decide parar de estimular o ovário? Isso é uma coisa evolutiva. Vamos imaginar os nossos antepassados lá no paleolítico… Num período de vacas magras. Não tem comida… Então homens e mulheres estão emagrecendo. Se uma mulher nessa situação, na fase da seca… Na fase da ausência de chuva e da ausência de comida… Se uma mulher fica grávida, tem uma alta chance de que o filho morra e de que ela morra. Então, a seleção natural… A evolução… Fez com que nessas situações a mulher ficasse infértil de modo a não desperdiçar uma chance de gravidez e pior ainda, morrer e não ter a chance de passar os genes adiante. A forma mais correta de ver isso é: só passaram adiante os genes das mulheres que não menstruavam quando era melhor não menstruar mesmo. Vamos ver o que acontece numa situação de jejum super prolongado. Imagine uma pessoa fazendo um jejum de vários dias… Por várias semanas… A pessoa faz jejum de 24 horas, 48 horas mais de uma vez por semana, por várias semanas consecutivas. O hipotálamo dessa mulher pode chegar à conclusão deque ela está numa situação de vacas magras; parar de menstruar. Isso não é um privilégio de jejum. Essas atletas olímpicas das quais estamos falando não fazem jejum – pelo contrário, estão sempre comendo proteínas e suplementos. Mas é o estado de stress extremo, de restrição extrema. Esse stress pode ser exercício demais. Esse stress pode ser comida de menos. Pode ser caloria de menos. Vai poder gerar isso aí. Essa nutricionista… Ou quem ouviu não entendeu direito… Ou talvez a pessoa que ministrou a palestra não tenha compreendido. Não é o jejum intermitente… Esse que de vez em quando a gente pula uma refeição… De vez em quando fazemos uma refeição de 24 horas… Ou todos os dias pulam um café da manhã… Mas a gente come normalmente no almoço e na janta.
Rodrigo Polesso: Paralelo com uma alimentação boa.
Dr. Souto: Isso não vai causar problema algum. Se a pessoa tem infertilidade por causa de resistência à insulina e ovários policísticos, ela só vai melhorar com low carb e jejum intermitente. O que vai produzir amenorréia hipotalâmica… Alterações da fertilidade… Veja bem, são coisas diferentes. Uma coisa é a infertilidade do excesso, que são os ovários policísticos. É o excesso de calorias, o excesso de carboidratos, o excesso de insulina que gera infertilidade. A infertilidade do excesso é melhorada pela restrição. É melhorada quando a gente restringe carboidrato, perde peso… E o jejum intermitente pode muito bem entrar nisso. Outra coisa é a infertilidade da escassez. A infertilidade da escassez é explicada por isso que a gente já explicou. Falta de calorias, falta de comida, excesso de exercício. Nessas situações a intervenção tem que ser o contrário. Tem que ser comer mais, não fazer jejum… Aumentar, inclusive, os carboidratos. O pessoal ouve e repete muitas vezes a história dos carboidratos gentis da Lara Briden, que é uma blogueira. Na realidade, sim, se a pessoa está com alteração menstrual ou com alteração de infertilidade por causa de escassez, acrescentar um pouco de frutas, uma batata doce, um pouco de arroz, pode resolver o problema. Tudo depende da causa dessa infertilidade. Se ela for de excesso, se ela for de ovários policísticos, se ela for infertilidade associada à obesidade, à diabetes, à pré-diabetes… Vamos restringir carboidratos e calorias. Se for por escassez, vamos acrescentar.
Rodrigo Polesso: Perfeito. Acho brilhante a resposta. Pegou todos os ângulos. Mesmo que você não seja da área da ciência ou da medicina, é sempre bom passar por uma análise ancestral, que é justamente isso que o Dr. Souto falou… Pense evolutivamente porque que é assim. Se você está numa situação de stress muito alto na sua vida ou uma escassez de alimentação… Pobre em quantidade nutricional… Não é o terreno perfeito para se criar uma nova vida. Obviamente, a melhor ideia da natureza… Ela pensou, “Não vamos criar uma nova vida… Desperdiçar uma nova vida.” O ambiente tem que estar proveitoso para que seja gerado uma vida nova. Essa análise ancestral é sempre útil quando temos dúvida. É sempre uma boa ideia pensar nela primeiramente. Vamos começar com o primeiro estudo, que foi uma intervenção low carb… Uma dieta cetogênica. Foi um estudo publicado no dia 7 de março de 2017, feito com 262 pessoas com diabetes tipo 2. Foi por 10 semanas. Ele testou a efetividade de se ensinar essas pessoas a atingirem uma cetose nutricional… Ou seja, ensinar essas pessoas a praticarem uma dieta cetogênica por si só, afim de controlar a glicemia, reduzir medicação e atingir uma perda de peso clínica. Quem fez esse estudo foi um novo projeto chamado Virta. Quando eu estava na conferência na Flórida… O Stephen Fini está por trás e o Jeff Volek. Os dois estavam falando sobre isso o tempo inteiro. Eu estava junto com o André. Eles foram tentar entrevistar o Fini e o Volek, mas eles não quiseram dar entrevista porque esse estudo em questão não estava ainda publicado. Eles não queriam que essas ideias saíssem antes da publicação.
Dr. Souto: Uma outra autora conhecida desse estudo é a Sarah Hallberg. Quem não viu ainda, procure no YouTube uma palestra dela. É um TED Talk dela cujo o título já dá uma ideia. Ela diz, “Para reverter a diabetes, faça o contrário do que manda as diretrizes”. Ela é um das autoras do estudo junto com nossos ídolos Volek e Fini.
Rodrigo Polesso: A ideia deles é realmente aumentar isso em escala. Nesse estudo eles fizeram um teste ensinando as pessoas por meio digital… Internet… Como é feito como Código, com a Tribo… Eles estão fazendo com um programa de coaching deles… Pegar esses casos mais difíceis de diabetes e dar um coaching para essas pessoas para ajuda-las a obter os resultados que elas precisam. Eles querem isso em escala. É um projeto que está nascendo agora, bastante interessante. Acho que mais coisa vai sair a esse respeito. O primeiro, que acabou inaugurando publicamente esse projeto, é esse estudo que falaremos agora. A conclusão do estudo que eles fizeram foi a seguinte. “Os achados iniciais indicam que um programa individualizado entregue para as pessoas remotamente e que incorpore a dieta cetogênica, pode de forma altamente efetiva melhorar o controle glicêmico e perda de peso em adultos com diabetes tipo 2 enquanto diminuindo o uso da medicação.” Essa foi a conclusão genérica. Tenho alguns dados interessantes para eu te falar. Foram 262 pessoas com diabetes tipo 2 por 10 semanas. No começo da intervenção a hemoglobina glicada das pessoas estava na média de 7.6 porcento (ou seja, alta).
Dr. Souto: A hemoglobina glicada reflete a média da glicose nos últimos três meses deveria ser até 5,7. 7,6 é bastante.
Rodrigo Polesso: Eram pessoas já com diabetes tipo 2. Antes de começar, a média era 7,6. Depois de 10 semanas, a hemoglobina glicada reduziu em 1% e ficou em 6,6.
Dr. Souto: Redução absoluta. Às vezes a gente fala que reduziu em 1%… “Reduziu tão pouquinho, 1%”… Baixar de 7,6 para 6,6 significa sair da zona de diabetes para o pré-diabetes. É uma redução muito significativa.
Rodrigo Polesso: Colocar esse número de uma forma diferente talvez dê uma perspectiva melhor. No começo, 19.8% dos participantes tinham uma hemoglobina glicada abaixo de 6.5. Agora, depois de 2 meses e meio, a quantidade de pessoas passou de 19.8% para 56.1%… De pessoas que ficaram abaixo de 6.5 de hemoglobina glicada.
Dr. Souto: Ou seja, que saíram de uma zona de diabetes para uma zona de pré-diabetes. É uma intervenção que consiste em entrar num site.
Rodrigo Polesso: Elas fizeram por si só. Dois meses e meio pode transformar tanto assim. 89% das pessoas antes de começar estavam tomando pelo menos uma medicação para diabetes. No final dos dois meses e meio 56.8% das pessoas tiraram pelo menos um dos medicamentos ou eliminaram completamente o consumo de qualquer medicamento. 56.8% dos indivíduos. E ainda teve uma redução média de massa corpórea de 7.2% do peso total das pessoas. Também é uma perda de peso bastante considerável.
Dr. Souto: É muito considerável. A maioria dos remédios para a perda de peso não conseguem um percentual desse.
Rodrigo Polesso: É. Resumindo. Dois meses e meio praticando uma dieta low carb… Eles tentaram chegar na cetogênica. Não foi uma cetogênica severa. Eu vi que o número de corpos cetônicos era de 0.6. Tinha, mas não era uma cetogênica acentuada. Eles conseguiram fazer por si só em 2 meses e meio. Passaram de um quadro com uma tendência não muito otimista para um quadro de melhora bastante significativa só nesse tempo aí. É um resultado bacana de se passar.
Dr. Souto: É um resultado fascinante. É um resultado sensacional. São todos resultados muito superiores àquilo que as medicações isoladamente obtêm. Têm remédios muito caros para diabetes que não produzem uma redução absoluta de 1% da hemoglobina glicada. Muitos reduzem frações… Zero vírgula alguma coisa porcento, e custam uma fortuna. A pessoa poder fazer uma intervenção online… Imagine isso aplicado num país. A pessoa não precisa sair da sua cidade no interior do Pará. Ela acessa a internet, segue os passos que estão descritos ali e conseguem um resultado melhor do que a maioria das medicações num tempo relativamente curto e com comida de verdade. É fascinante. Esse estudo não é randomizado. Alguém poderia dizer, “Não é um estudo randomizado.” Há pouco tempo atrás nós mostramos aqui no podcast um outro estudo que também era uma ferramenta online e que era randomizado. De um lado as pessoas foram sorteadas para fazer uma dieta muito semelhante a essa aqui. E no outro braço elas foram sorteadas para fazerem a dieta proposta pela associação de diabetes. O grupo que fez a dieta low carb. Teve benefícios equivalentes a esses daqui e muito superiores aos da dieta da Associação para Diabetes. Um estudo é um estudo prospectivo randomizado para botar uma pá de cal e uma pedra sobre o assunto, mostrando que a intervenção é superior. E esse estudo que você está nos mostrando agora, Rodrigo, é um estudo chamado de vida real. Ele não é um estudo randomizado. É o que que acontece com um número de pessoas que se inscreveu e participou. Foi o desfecho e evolução delas. É um negócio impressionante. Eu desafio encontrar programas com resultados tão bons em tão pouco tempo apenas com comida de verdade.
Rodrigo Polesso: A pergunta é… Por que a Associação da Diabetes, que deveria ajudar as pessoas, ainda continua propagando o oposto do que está gerando os maiores resultados?
Dr. Souto: Eu só consigo entender isso à luz da dissonância cognitiva. É a única explicação. Para quem não conhece o conceito… É tentar abrigar no mesmo cérebro ideias incompatíveis. Isso gera um conflito mental. É quase uma dor psíquica. “Eu sei que carboidratos aumentam a glicose. Eu sei que reduzir os carboidratos melhora a glicemia dos diabéticos. Mas, por outro lado, sou contra dietas low carb, porque há 40 anos sou contra. Acho que carne faz mal. Acho que diminuir o glúten aumenta o diabetes. Eu tenho ideias inconsistentes e que se confrontam entre si.” A forma de resolver o problema é… Ou admito que estava errado durante todos esses anos e digo, “Pessoal, foi mal. Desculpe. Eu estava errado e agora vamos adotar uma dieta low carb para o bem dos diabéticos.” Isso seria uma forma de resolver o conflito. Mas a forma que normalmente se resolve a dissonância cognitiva é botando para debaixo do tapete. Eu ignoro todos os estudos, como esse que a gente acabou de ler, e digo que o certo é o que nós defendemos. E olha quantos especialistas importantes defendem isso… E olha quantas instituições oficiais de quantos países defendem isso. Vira uma câmara de eco onde as pessoas podem continuar repetindo e aliviando a dor da dissonância cognitiva.
Rodrigo Polesso: O que dificulta mais ainda quebrar isso é que essa dissonância cognitiva é compartilhada no meio dessas pessoas que continuam disseminando informações erradas. “Por que eu vou mudar? Meus amigos concordam comigo. Deixe assim.”
Dr. Souto: Cada vez que eles se reúnem num congresso e repetem aquilo que os outros querem ouvir… Isso alivia a dor coletiva. Imagine que a pessoa está na sua casa. Ela abre essa revista médica que estamos olhando nas nossas telas e diz, “Olha o resultado que o pessoal está tendo com essa intervenção low carb.” Aí o cara fica com dor… por causa da dissonância cognitiva. Começa a sofrer. Começa a ficar com torcicolo. A coisa começa a ter manifestações somáticas, inclusive. Aí ela vai num congresso médico e lá todo mundo só fala de remédio e recomendam dieta com alto carboidrato e baixa gordura. Alivia a dor! O conflito desaparece na medida em que… “Aquele dia eu vi aquilo, mas aquilo é uma bobagem. Não deve nem ser verdade.” É difícil porque, as pessoas, para mudarem… Eu passei por isso. Pessoalmente, há 6 anos atrás, quando eu li o livro do Taubes pela primeira vez… Eu tive a dissonância cognitiva. Foi aguda. Foi um final de semana no qual eu mal conseguia dormir. Eu não conseguia pensar em outra coisa. Eu não parava de ler o livro. “Pelo amor de Deus, será que é verdade? Não pode ser.” Eu resolvi minha dissonância cognitiva de forma diferente.
Rodrigo Polesso: Fatos e evidências.
Dr. Souto: Contra fatos não têm argumentos. Na realidade, sim, tudo no que eu acreditava nos últimos 20 anos era basicamente baseado em falácia. Eu comecei a mudar meu pensamento e minha conduta. Fui estudar. Fui aplicar em mim mesmo, e vi que funcionou. Têm formas saudáveis de resolver a dissonância cognitiva. Nenhuma delas é agradável. A gente sempre sofre. Mas têm formas saudáveis de resolver o conflito e têm formas patológicas de resolver o conflito. Infelizmente, o pessoal está num negócio patológico… Gritando na câmara de eco, ouvindo a própria voz… “Abaixo à gordura! Vocês estão certos. Isso é um bando de louco.” É uma forma de resolver seu conflito psíquico.
Rodrigo Polesso: O problema é que está ficando cada vez mais ridículo, a ponto de ficar engraçado.
Dr. Souto: Vai chegar um momento em que vai estar tão agudo isso… Eu espero, sou otimista… Vai ter uma nova geração de profissionais de saúde… Médicos, nutricionistas… Que vão estar antenados nos conceitos novos. O pessoal que ficar nisso aí vai virar uma espécie de uma seita. Vão ser vistos como a gente olha determinadas seitas religiosas, com comportamentos muito estranhos. É assim que eu acho que vai estar sendo visto o pessoal que vai continuar falando contra evidências no nível disso aqui. Vai falar o que? O troço funciona melhor do que praticamente todas as medicações aprovadas pelo FDA para o tratamento de diabete. O remédio baixa em 0,3% a hemoglobina glicada. Deixar de comer pão para comer salmão… Basicamente é isso… “Isso eu não vou fazer porque é uma coisa muito radical.” Entende o grau de conflito psíquico necessário para abrigar essas duas coisas na cabeça ao mesmo tempo?
Rodrigo Polesso: “O som do vinil é muito melhor do que as MP3 de hoje em dia.” Tem pessoas que não vão mudar isso nunca. Vão morrer assim.
Dr. Souto: E aí a pessoa busca a confirmação… Tem um detalhe, Rodrigo. Vai entrar um monte de gente te criticando por isso que você falou.
Rodrigo Polesso: Do vinil? Com certeza! Não é um público que faz parte do meu grupo social, então está tudo bem.
Dr. Souto: Se quiserem escutar vinil, nada contra, pessoal. Até porque ninguém adoece por causa disso. Nós ficamos indignados porque isso mata gente.
Rodrigo Polesso: Vinil é uma aventura de se escutar, porque você não sabe que tipo de ruído que vai surgir na sua música.
Dr. Souto: É aquele troço mais analógico. O som fica mais rico porque tem mais ruído… É uma questão de gosto.
Rodrigo Polesso: Eu estava brincando, pessoal.
Dr. Souto: Aqui é tipo… Seu time perdeu… E a pessoa diz, “Não. Ele não perdeu. Ele ganhou.” “Mas perdeu, está aqui o escore.” “Não, ele ganhou.” É esse o nível de negação. Em vez do cara falar, “Que droga, meu time perdeu” e fazer o luto por aquela derrota, ele diz que na realidade ele ganhou. Nós estamos lidando com esse tipo de negação. Chega a ser perigoso… Que algumas dessas pessoas se tornem violentas.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Vamos falar de laticínio. Vamos falar de queijo. Você é uma pessoa que não gosta muito de queijo que eu sei, Dr. Souto.
Dr. Souto: Eu gosto muito de queijo.
Rodrigo Polesso: O Dr. Souto adora queijo. É um estudo irlandês publicado no dia 13 de março no jornal Nature. Não é um ensaio clínico randomizado, mas têm alguns resultados interessantes que vale a pena mencionar para vocês. Eu gostei também que os autores desse estudo não são malucos. Eles fazem uma análise bastante sóbria da interpretação dos resultados – o que não é tão comum nesse tipo de estudo. O estudo me chamou atenção por causa do Dr. Assem Malhotra, que é o cardiologista britânico do qual gostamos tanto. Ele publicou no Twitter dele o seguinte: “Pessoas que comem mais queijo são mais magras. Yes! Gordura saturada não é o maior problema.” Daí ele postou o link do estudo embaixo. O estudo basicamente é o seguinte. Eles distribuíram questionários para quatro dias. Falamos daquele de Harvard que tinha questionários a cada dois ou quatro anos. Aqui eles deram um questionário para cada dia.
Dr. Souto: Esse aqui é muito melhor. O de Harvard era um questionário no qual ele tinha que dizer o que comeu no passado. Este é um “food diary”. Ele é um diário no qual a pessoa anota o que está comendo e a quantidade na hora em que está comendo. É graus de magnitude mais fidedigno esse aqui.
Rodrigo Polesso: Eles fizeram isso durante quatro dias… Anotando o que estavam consumindo e o tipo de bebida… Incluindo laticínios incluindo leite, queijo, iogurte, creme e manteiga… Em pessoas normais… Pessoas saudáveis lá na Irlanda… Entre 18 e 90 anos. Uma amostra da população geral, basicamente. A conclusão foi a seguinte. “Os resultados da análise sugerem que os laticínios no geral podem oferecer potencial para a manutenção de peso, particularmente o leite e o iogurte. Laticínios podem também ter um papel no controle da pressão sanguínea e, potencialmente, no gerenciamento da glicose. O consumo de queijo não foi associado a perfis lipídicos negativos.” Ou seja, não aumentou o colesterol. Por isso que o Dr. Assem Malhotra falou da gordura saturada. “Ainda que um maior consumo geral de laticínios vindos principalmente de leite e iogurte foi associado com um peso mais favorável, nenhum padrão isolado de alimento se sobressaiu como sendo mais saudável nessa população saudável quando os padrões alimentares gerais foram examinados.” Então, não teve alimento milagroso, em outras palavras. “Na verdade, leites baixos em gordura e iogurtes baixos em gordura foram associados com maior taxa de triglicerídeos. Como essa parte da população consumiu menos calorias de gordura e uma maior quantidade de grãos, isso sugere que o padrão alimentar associado com uma dieta mais baixa em gordura e alta em carboidratos possa ser menos saudável do que outras alternativas. Os resultados mostrados aqui demonstram a importância de se considerar não somente o consumo do alimento individual, mas também o contexto alimentar em que estes estão inseridos – particularmente em relação aos laticínios.” É uma interpretação muito sóbria, Dr. Souto. Não é verdade?
Dr. Souto: Bem se vê que eles não são a Escola de Saúde Pública de Harvard, porque não tem aquela empáfia de afirmar relações causais… Sugeri que algo causa… Que fazer isso produz aquilo em estudos observacionais.
Rodrigo Polesso: Ou sugerir enfaticamente hipóteses.
Dr. Souto: Na verdade, esse é mais um de uma pilha crescente de estudos mostrando que o consumo de laticínios com a gordura (não desnatados) está associado com bons desfechos, inclusive com menos peso – o que vai diametralmente contra àquilo que pensa a nutrição tradicional que se foca no fato dos laticínios com gordura terem mais calorias.
Rodrigo Polesso: É justamente aí que tem o valor desse estudo observacional.
Dr. Souto: Isso. A gente está sempre reinando aqui dizendo que estudos observacionais não estabelecem causa e efeito. E não estabelecem mesmo. Esse aqui é observacional. Alguém poderia dizer, “Bom, então porque vocês estão citando?” Vamos imaginar que o consumo de gordura… Porque a gordura tem muitas calorias… Faça a pessoa engordar. É isso que todos nós aprendemos até uns anos atrás. E é isso que os nutricionistas aprendem na faculdade até hoje. Vamos consumir a versão light, desnatada dos laticínios porque vai diminuir as calorias e a pessoa vai perder peso – é isso que eles aprendem. Se o consumo de gordura de queijo na dieta faz a pessoa ganhar peso, então a gente esperaria que num estudo observacional como esse o consumo de queijo estivesse associado com o ganho de peso. Algo não pode causar ganho de peso, mas estar associado com perda de peso. Não faz sentido. Cigarro causa câncer de pulmão. Eu não posso ter, ao mesmo tempo, um estudo observacional no qual eu vejo que pessoas que menos fumam são as que mais têm câncer de pulmão. Isso seria incompatível; não faz nenhum sentido. E de fato não é assim. Um estudo observacional não estabelece causa e efeito. Mas se existe uma relação de causa e efeito… Se o queijo, por ser gordo, faz as pessoas engordarem… Eu deveria ter uma associação num estudo observacional entre o consumo de queijo e obesidade. Mas não, o estudo observacional encontrou o contrário. E é o décimo estudo observacional mostrando a mesma coisa. Quando um estudo observacional mostra o contrário do que as diretrizes vigentes sugerem, isso é um motivo para desacreditar nessas diretrizes. Elas estão indo contra as evidências.
Rodrigo Polesso: E a gente sabe que os laticínios que vêm com as gorduras, que têm a cultura, que têm o leite… Que são sem ser processados… São alimentos muito nutritivos para quem tolera bem. Têm muita gente que não tolera bem lactose no geral. Mas quem não tolera lactose, às vezes tolera manteiga, ghee, ou queijos de qualidade. Tem todo esse problema de tolerabilidade de laticínios com muitas pessoas.
Dr. Souto: O grande equívoco da nutrição tradicional no que diz respeito ao peso… Além de ignorar a questão da insulina que a gente sempre conversa… É ignorar a saciedade. Eu poderia comer algo isento de calorias… Papel picado. Vou comer papel picado. O papel picado vai encher meu estômago até eu ficar sem fome. Eu não vou emagrecer com a dieta do papel picado, porque vou estar sempre com fome. O papel picado não é saciante. A saciedade não vem somente do espaço que a comida ocupa dentro do estômago… Mas vem também da produção de determinados hormônios como peptídeo YY, colecistoquinina, incretinas e outros… que são secretados pelo nosso trato gastro intestinal à medida que nossos intestinos detectam que tem proteína, tem gordura. O queijo que tem proteína e gordura gera um estado de saciedade muito grande. A pessoa que come queijo vai acabar comendo menos de outras coisas. E o pessoal simplesmente ignorou a saciedade por décadas. Basicamente era contar quantas calorias entram, quantas saem… Fazer um déficit calórico. O corpo não funciona assim. Ele funciona coordenado por esses hormônios que aumentam ou diminuem a fome. Então, alimentos saciantes são o segredo de uma dieta sustentável no longo prazo.
Rodrigo Polesso: Tem a ver com a densidade nutricional. Micronutrientes, vitaminas, minerais que o corpo precisa. Isso sinaliza saciedade.
Dr. Souto: Um corpo que é alimentado com uma quantidade de calorias abaixo do que precisa e com alimentos que são pobres em proteína e gordura… Vai estar sempre com fome. Alimentos que são nutricionalmente densos e que tem proteína e gordura são os mais saciantes. Por que eles são saciantes? Vamos pensar na coisa evolutiva. Não é útil para um animal comer de forma ilimitada, porque ele vai ficar com indigestão, com dor na barriga, vai ser capturado como presa por outro animal porque não vai conseguir correr direito… Porque está com a barriga estufada. Também não é tão útil para um animal comer tão pouco a ponto de não conseguir se nutrir. Então, a evolução, a seleção natural produziu mecanismos de controle. Quanto são poucas calorias, o bicho tem fome para comer mais. Quanto o animal come alimentos nutricionalmente densos… Aí vem a saciedade, que é o oposto. Chega, não precisa comer mais. A partir de agora, se continuar comendo, passa a ser uma desvantagem. Desde que a gente deixe a natureza agir da forma como ela foi planejada para agir… Comendo alimentos mais parecidos com os quais o ser humano evoluiu… O que não inclui pão, biscoito e sorvete… A gente consegue utilizando a fome e a saciedade… Chegar num equilíbrio adequado. É assim que funcionam a dieta de baixo carboidrato, por exemplo, que embora não restrinjam as calorias das pessoas, produzem bons resultados. Ela aposta que o corpo comendo aquilo que foi projetado para comer vai poder se basear na saciedade e na fome como mecanismos de controle. Da mesma forma que a temperatura do nosso corpo fica mantida estável se a gente se basear na sensação de frio e sensação de calor. Eu não preciso andar com um termômetro sempre para ver se eu preciso botar um casaco ou tirar.
Rodrigo Polesso: Exato. Tem uma observação que cabe aqui. Se a pessoa está com uma alimentação saudável, está comendo queijo, laticínio e etc., mas está com problema de ganho de peso… Não podemos nos esquecer de que os laticínios em geral têm sim um efeito insulínico considerável. Apesar de ser um alimento saudável, se você quer perder peso, está com dificuldade… Come queijo toda hora… Come de lanche, toma leite e etc… Talvez possa ser uma boa ideia retirar por um tempo para ver se não é isso que está causando a resistência na sua queima de gordura. Na primeira fase do Código Emagrecer de Vez, que é a fase do desafio, a gente tira essa questão para não correr o risco de ter um limitante, porque queremos os resultados o mais rápido possível.
Dr. Souto: Rodrigo, foi muito bem lembrado. Esse estudo que estamos discutindo aqui não é um estudo de perda de peso. Eles pegaram pessoas e avaliaram o que elas comem e correlacionaram se elas têm tendência a serem gordinhas ou não… E viram que o queijo está relacionado com menos peso e tal. Quando é uma pessoa que está com excesso de peso e tem como objetivo a perda de peso, vamos tentar maximizar a estratégia para que a pessoa perca peso com mais facilidade. Eu focaria mais em vegetais de baixo índice glicêmico – estou falando em saladas; em carnes, peixes, ovos. O famoso “plantas e bichos”. É, com certeza a estratégia melhor. O laticínio pode não interferir em nada para algumas pessoas, mas pode interferir em outras que têm mais dificuldade em perda de peso… Pessoas que têm uma genética para o ganho de peso. O queijo, entre os alimentos low carb, é um dos que mais aumentam a insulina, como você falou. Além do que ele é muito denso do ponto de vista calórico. Calorias não são o foco primário da intervenção. Mas se a pessoa comer 4 mil calorias por dia, mesmo que seja tudo low carb, daqui a pouco ela não vai perder peso. A ideia é que uma dieta low carb produza uma diminuição espontânea no apetite. Isso ocorre na maioria das pessoas, mas pode não acontecer da mesma forma em todo mundo. Além do que, o queijo é muito denso do ponto de vista calórico. Se eu comer 200 gramas de queijo, eu estaria consumindo uma quantidade de gordura e calorias que eu teria que consumir muito mais em 200 gramas de filé. Enfim, são nuances. Queijo é low carb. Queijo não é o motivo pelo qual a população engorda. Mas talvez quando a pessoa estiver lutando para perder peso o queijo não seja seu melhor aliado. Fique na sua carne, peixe, frango, salada. Você fica melhor.
Rodrigo Polesso: É isso mesmo. Maravilha. Vamos fechando por aqui, então. Se você ainda não é parte da Tribo Forte, você pode se tornar um membro hoje. Dê uma olhada no TriboForte.com.br e veja a que você pode ter acesso. Faça parte desse movimento, dessa família sensacional. Dr. Souto, obrigado por mais um podcast. A gente se fala na próxima semana.
Dr. Souto: Obrigado. Um abraço e até a próxima.