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No Episódio De Hoje:

Neste episódio recheado, vamos discutir estes principais pontos abaixo:

  • Chimarrão quebra jejum?“, e outros alimentos, bebidas? Como colocar isso em perspectiva de uma vez por todas.
  • Seria o açúcar um dos maiores vilões alimentares do mundo moderno? Estudos e um novo livro de Gary Taubes apontam nesta direção.
  • O consumo exagerado de estatinas para pessoas com risco de problemas cardíacos. Quando isso é bom e quando é ruim/danoso?
  • O que comemos na última refeição, etc 🙂

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Referências do Episódio

Artigo do Dr Aseem Malhotra no jornal Daily Mail sobre estatinas

Artigo sobre açúcar com Gary Taubes no The Economist

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Se biscoitos recheados estivessem dando sopa em uma caverna, você pode apostar que um neandertal iria comê-los. Logo, biscoitos são paleo! Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Bom dia pessoal, você está ouvindo o episódio 42 do podcast oficial da Tribo Forte. É muito bom estar aqui novamente com você. Nossa audiência só cresce todos os dias. Hoje falaremos sobre assuntos interessantes como sempre. Falaremos sobre chimarrão, açúcar, estatinas (remédio de saúde cardíaca) e um lembrete geral sobre qualquer medicação. Dr. Souto, tudo bem por aí?

Dr. Souto: Tudo bom. Boa tarde. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Boa tarde a todos. Como sempre, começaremos com uma pergunta da comunidade. É uma pergunta interessante, sobre chimarrão. Eu e o Dr. Souto somos gaúchos. É interessante falar sobre o chimarrão. A pergunta é um tanto quanto inusitada. Mas se uma pessoa perguntou, muitas outras devem ter uma dúvida semelhante: “Chimarrão quebra jejum? Eu li em algum lugar que sim.” Eu respondi: “Não, chimarrão, assim como qualquer outro chá ou café não quebra jejum.” Daí ela respondeu o seguinte: “Bom, eu vi uma tabela nutricional informando que 5 colheres de erva mate sem açúcar contêm 101 calorias e 3 gramas de carboidrato.” Daí eu respondi para ela de volta: “Ao menos que você tenha o hábito de comer a erva mate, o chimarrão não vai tender a quebrar o jejum.” Acho legal a gente matar essa, Dr. Souto… O que você tem a dizer sobre isso?

Dr. Souto: Eu acho que você tem razão. Têm outras pessoas com a mesma dúvida ou dúvidas semelhantes. Por casualidade, eu acho que ontem eu respondi uma pergunta na mesma linha, mas referente a outro chá. Era um determinado chá que a pessoa leu que tinha não sei quantos gramas de carboidrato. A confusão acontece no ponto em que você corretamente apontou para essa leitora. Quando o fabricante faz um rótulo, ele coloca os carboidratos contidos nos ingredientes do produto. Quando ele coloca o chimarrão, é a quantidade de carboidrato em cada X colheres de sopa de chimarrão. Mas essa é a quantidade contida no pó, na erva mate moída. Ninguém vai comer aquele monte de colheres.

Rodrigo Polesso: Eu nunca vi um gaúcho tão gaúcho assim…

Dr. Souto: Tem que ser macho, né? É o mesmo raciocínio que vale para o iogurte. Nas tabelas nutricionais, consta que tem uma quantidade razoável de carboidratos no iogurte porque é a quantidade de carboidrato contida nos ingredientes e um dos ingredientes é leite. Se eu pegar 200 ml de leite, tem mais ou menos 10 ou 11 gramas de carboidrato na forma de lactose. Uma vez que o iogurte sofra o processo de fermentação, a maior parte dessa lactose terá sido convertida em ácido lático – aquele carboidrato não estará mais lá, ele só estava presente nos ingredientes (no leite). Quando eu pego o chimarrão em pó, coloco na cuia, coloco água quente… O que eu vou beber é um chá produzido pela infusão da água quente misturada com a erva mate. Tanto que no final a gente bota fora no lixo aquele monte de coisa verde que sobra do chimarrão – ali que estão os carboidratos. Mesmo que a pessoa comesse tudo aquilo, eu duvido que isso iria alterar qualquer coisa na sua dieta.

Rodrigo Polesso: Basicamente fibra.

Dr. Souto: É basicamente fibra. É a mesma coisa que comer um monte de brócolis. Vamos aproveitar essa deixa para colocar o seguinte: infusão se qualquer planta será sempre low carb. Seria como comparar comer laranjas com fazer uma água saborizada onde eu coloco laranjas cortadas boiando junto com gelo dentro daquela água. Veja bem, um suco de laranja é um negócio cheio de açúcar. Mas uma água saborizada com pedaços de laranja boiando, na qual eu não exprimi as laranjas… Na qual o aroma e o sabor da laranja foi transferido pelo contato da água… Isso é absolutamente low carb e não quebra jejum. As perguntas estão se multiplicando nesse negócio do “quebra jejum ou não”. Estou me dando conta de que está aparecendo um certo misticismo e pensamento mágico nisso. Jejum não é uma coisa sagrada e possa ser quebrada ou não com regras religiosas do tipo sharia ou kosher…

Rodrigo Polesso: Não é um dogma.

Dr. Souto: Essas perguntas estão assumindo um tom semelhante ao judeu que vai ao rabino e pergunta se determinada receita quebra aquilo que está na Torá. Qual é o objetivo desse jejum? É ser um jejum puro de acordo com leis escritas por sábios do Himalaia? Ou o objetivo é perder peso? Se o objetivo for perder peso, e se algum chá tiver alguns gramas de carboidrato… que diferença faz? Se a pessoa normalmente come 2500 calorias num dia e for fazer jejum de 24 horas… e dentro desse dia tiver alguma coisa que ela consumir (chimarrão) que acrescentasse 50 calorias… muda alguma coisa em relação a quem comia 2500 calorias e agora comeu 50? Esses 50 quebrou o jejum? Esse “cristal filosófico”? “Será que agora não vou perder peso e vou ganhar”? É meio bizarro isso. Vamos entender o seguinte: é um contínuo. Quanto mais eu comer, menos jejum eu estarei fazendo. A gente acaba definindo, por motivos de praticidade, o que é jejum e o que deixa de ser. “Se eu comer uma banana de manhã, quebra o jejum?” Sim, jejum na língua portuguesa significa o “não comer”. “Mas e se for uma fatia de 5 milímetros de espessura de banana?” Provavelmente não… mas que diferença isso vai fazer? Vou dar para vocês uma definição mais útil e interessante. É uma coisa que eu tenho estudado e acho legal. Já falamos aqui no podcast sobre o Valter Longo. Ele é um pesquisador nascido na Itália, mas é americano. Ele trabalha na Universidade da Califórnia há muitos anos. Ele é uma das pessoas que mais estudou jejum. Ele é um acadêmico, um cara que publica na literatura peer-reviewed. Eu gosto de experimentar no jejum comigo e com alguns pacientes. O Jason Fung, que escreveu aquele livro fantástico, tem muita experiência com jejum terapêutico na clínica dele. Mas o Jason Fung não é um cara que estuda jejum. Ele é um clínico que aplica o jejum na prática. Já o Valter Longo é um pesquisador de jejum. Ele é um cara que pesquisa jejum há décadas. Ele começou pesquisando com leveduras, animais como pequenos vermes, depois roedores e por fim seres humanos em ensaios clínicos. Ele publica isso. Ele é um dos maiores pesquisadores sobre jejum que tem. O Valter Longo diz o seguinte, que embora ele esteja convencido das várias aplicações terapêuticas do jejum – inclusive no que diz respeito no tratamento de diabetes, dislipidemia, excesso de peso, efeitos da autofagia – é muito difícil aplicar na prática nos pacientes doentes. As pessoas só de ouvirem falar em jejum se assustam muito. Vamos pegar um paciente com câncer. O Valter Longo queria estudar o efeito do jejum como adjuvante à quimio e radio terapia. Ele já sabia de estudos em animais que o jejum aumenta a sensibilidade das células cancerosas ao efeito da quimioterapia. Ou seja, ele deixa a célula de câncer mais frágil, de modo que essa célula vai morrer com mais facilidade quando exposta à quimio terapia. O mesmo jejum deixa as células normais mais resistentes aos efeitos da quimioterapia. Então, a quimioterapia seria menos tóxicas para as células normais e mais tóxica para as células de câncer na vigência do jejum. Isso foi bem demonstrado em estudos em animais. O Valter Longo queria estudar isso em humanos. E ele levou anos para conseguir recrutar uma meia dúzia de pacientes para fazer os testes em ser humano com jejum em câncer porque os oncologistas não aceitavam. Os oncologistas não queriam que seus pacientes que já estavam enjoados, com dificuldade de comer (porque a quimioterapia diminui a fome e provoca náusea). Eles falavam “estamos tentando forçar que o sujeito coma para não ficar fraco e vem esse louco do Valter Longo querendo que o cara faça jejum.” O Longo resolveu pesquisar o seguinte: qual é a quantidade mínima de calorias que eu posso consumir em 24 horas e ainda ter modificações metabólicas e hormonais características do jejum? Essa é uma ideia genial. Em vez de ficarmos discutindo quantos fragmentos de banana quebra o jejum ou não, podemos efetivamente pesquisar como funciona. O Valter Longo chegou a um resultado surpreendente. Cerca de 500 calorias para mulheres e 600 calorias para homens… Se a pessoa consumir uma dieta relativamente low carb, contendo no máximo 500 calorias, isso é hormonalmente e fisiologicamente análogo ao jejum. O Valter Longo chamou isso de “Fast Mimicking Diet” (dieta que mimetiza o jejum). Ele acabou formulando isso numa espécie de shake que ele dá para os pacientes. Ele diz que fica muito mais prático para incluir os pacientes nos estudos clínicos… Ele dá uma caixinha com todas as refeições que o paciente deverá fazer em 24 horas… Esse pó no café da manhã, esse shake no almoço. É claro que isso é diferente do que proporíamos, já que proporíamos fazer isso com alguma comida de verdade. Quando me perguntam em consultório, eu tenho dito para as pessoas que jejum verdadeiro é não comer. Jejum é beber líquidos não calóricos… Um chá… Um caldo… Um chimarrão… Mas se a pessoa quiser tentar fazer um “Fast Mimicking Diet”, comendo uns ovos no almoço e uns ovos na janta… Cada ovo tem 70 calorias, então 500 calorias de ovo seriam 7 ovos… A pessoa pode fazer se isso for facilitar um “pseudojejum” que dure alguns dias. Para algumas pessoas ajuda. Algumas conseguem destravar uma perda de peso que estava travada. Às vezes a pessoa perdeu 15 quilos, travou e quer perder mais um pouco. Infelizmente, não está nos livros sagrados das diversas religiões monoteístas o que é um jejum. Na prática é pequenas quantidades de qualquer coisa. Não vamos mudar o jejum no ponto de vista fisiológico, ou seja, aquele aumento do GH que é característico, as reduções de glicose que são características, a autofagia. Podem ser também quantidades não tão pequenas de coisas que são low carb. Cada um tem que experimentar e ver o que faz e o que funciona. Toda essa conversa é para chegar na seguinte conclusão: definitivamente chimarrão não quebra o jejum.

Rodrigo Polesso: Deu para entender, pessoal? Resumindo… Bom senso, como sempre. Eu particularmente não cairia nessa de contar caloria na esperança de não quebrar jejum… Essa é a opinião pessoal minha. Estamos falando do Valter Longo, uma proposta terapêutica para aplicar em pessoas que estavam doentes – então, é uma diferente aplicação. Eu costumo defender a aplicação como estilo de vida. Eu focaria primeiramente em colocar uma alimentação correta e forte, na qual você não sinta vontade de comer a cada 3 horas, estabilizar seus hormônios, seu metabolismo… E depois disso implementar um jejum intermitente como estilo de vida, não uma intervenção de curto prazo – com um propósito de uma vida longa e saudável. O chimarrão não quebra, chá não quebra. Obviamente, estamos falando sem a adição de açúcar, porque açúcar é caloria pura – vai circular a insulina, circular a glicose no sangue e etc. Recentemente eu vi uma pessoa falando que estava tomando bastante kombucha, que é um chá fermentado (probiótico), e depois de muito tempo essa pessoa teve cárie. Aqui na América do Norte a kombucha é bastante comum. Mas se ela for meio doce, significa que a fermentação não foi completa. O açúcar do que você está fermentando serve de alimento para a bactéria que gera o ácido lático, que dá aquele sabor azedo aos fermentados. Então, se sua kombucha está menos azeda e mais doce, está sobrando açúcar, a fermentação não foi completa. Tem que tomar cuidado com isso também. A própria palavra “quebrar” o jejum é meio drástica. Aplique isso como estilo de vida. Pare de se intoxicar – esses são os elefantes grandes no meio da sala… São os alimentos e o que você pode fazer com sua alimentação. Essas especificidades do jejum não deveriam tomar tanto do seu tempo assim, mas sim os 30% dos elefantes grandes que geram 80% dos resultados. Dr. Souto, agora vamos falar sobre estatina. Já falamos sobre isso no passado. Tem um artigo bastante legal postado pelo Dr. Aseem Malhotra, que a gente gosta bastante. Ele é um cardiologista britânico. O artigo foi postado nesse ano no Daily Mail, um jornal britânico, sobre estatinas – remédios comumente usados em pessoas que têm risco de problemas cardíacos. Não usados em somente pessoas que estão com risco, e isso que é parte triste. O Dr. Aseem Malhotra participou como fonte para esse artigo. Ele fala o seguinte: “Os benefícios das estatinas têm sido exagerados e seus efeitos colaterais subestimados. O expert Aseem Malhotra diz que pacientes saudáveis estão sendo medicados em excesso devido a estudos patrocinados pela indústria farmacêutica. Um artigo recentemente publicado no JAMA concluiu que quase 43% das pessoas que tomam o atorvastatina por mais de 10 semanas sofreram efeitos colaterais comparado com 26% de pessoas que tiveram efeitos colaterais que estavam tomando uma pílula placebo. Ou seja, as pessoas que estavam tomando essa estatina tiveram um aumento de risco de 61% nesses efeitos colaterais. O aumento mediano da expectativa de vida naqueles com alto risco cardíaco ao tomaram diariamente esse pílula por 5 anos é de 4 dias.” O Dr. Aseem Malhotra fala o seguinte: “Eu tenho um profundo descontentamento com o fato de que a Clinical Trial Service Unit da Universidade de Oxford, que recebeu milhões em patrocínio para a pesquisa de empresas farmacêuticas que fabricam essa droga, se recusou a liberar os dados crus sobre esses estudos sobre as estatinas para que possam ser avaliados de forma independente. São esses estudos patrocinados pela indústria que resultaram na prescrição de estatina para dezenas de milhões de pessoas saudáveis ao redor do mundo, alimentando uma indústria multibilionária.” Para fechar o artigo, o antigo presidente do Royal College of Physicians (que foi médico da rainha do Reino Unido por 21 anos), Richard Thompson, falou o seguinte: “A minha conclusão é que uma revisão realmente independente da base científica para o uso de estatinas é realmente necessária agora.” Quem acompanha esse tipo de coisa sabe que isso não é novidade. Tem o lado positivo delas… Talvez o Dr. Souto passa falar com a visão clínica também. Mas queria abranger um pouco mais a questão dos medicamentos. A gente não presta atenção nos efeitos colaterais dos medicamentos. É uma reflexão sobre a maneira através da qual pensamentos sobre medicamentos.

Dr. Souto: A gente precisa primeiramente diferenciar para as pessoas o que é prevenção primária e o que é prevenção secundária. Prevenção secundária é tentar prevenir um novo evento cardiovascular em alguém que já tem doença – alguém que já teve um infarto, alguém que já colocou um stent na coronária, alguém que já fez uma ponde de safena, alguém que já é cardiopata. Nessas pessoas, as estatinas são drogas úteis para reduzir o risco de um segundo evento. É importante a gente deixar isso claro, se não as pessoas podem ler essa manchete e parar de tomar os remédios.

Rodrigo Polesso: O lado positivo precisa ser dito também.

Dr. Souto: Exato. Existe uma ideia dentro da medicina alternativa… “Estatina é um veneno que ninguém deveria usar.” Eu já escrevi isso no meu blog e vou falar minha opinião novamente: não existe medicina alternativa… Assim como não existe engenharia alternativa… Assim como eu não entraria num avião que tivesse sido consertado por mecânicos aeronáuticos alternativos. Existe boa medicina e má medicina. Boa medicina é baseada em evidência, em ensaios clínicos randomizados. Os mesmos ensaios clínicos randomizados que mostram que pacientes que já tiveram um evento cardiovascular prévio (que têm elevado risco) podem se beneficiar com o uso dessas drogas, também mostram que pessoas que têm risco cardiovascular menor, mesmo que seu colesterol esteja alto (total acima de 200 ou LDL acima de 130), isso por si só não é indicação para tomar remédios. Mais de 80% das pessoas que usam estatinas hoje em dia estão nesse grupo que, na realidade, está usando só porque o colesterol está acima de 200, ou só porque o LDL está acima de 130. Do ponto de vista de risco global, essas pessoas são de baixo risco. Aí elas entram nessa situação que você falou. A maioria jamais vai se beneficiar de estar usando aquela droga, mas muitos terão efeitos colaterais. Além disso, o eventual pequenino benefício que existe é uma coisa que, se as pessoas soubessem, jamais aceitariam tomar o remédio (para prolongar a vida em meia dúzia de dias).

Rodrigo Polesso: Eu ouvi falar numa coisa, Dr. Souto, não sei se é verdade ou não… Eles estavam deixando mais abrangentes a necessidade das estatinas… Até mesmo crianças poderiam estar tomando para “prevenir” doenças cardíacas no futuro… Não lembro onde vi isso, mas se for verdade, é uma catástrofe.

Dr. Souto: São opiniões pessoais de gente doida. Está aberto aqui na minha frente uma coisa que acho muito interessante a gente comentar. Existe um serviço de medicina preventiva… Uma força-tarefa de medicina preventiva dos Estados Unidos – US Preventive Services Task Force. Quem quiser, bota no Google. Esse pessoal estabelece recomendações baseadas em evidência para tudo o que for de medicina preventiva. Isso é bastante levado a sério nos Estados Unidos. Inclusive, os convênios médicos e os seguros de saúde de lá só são obrigados a cobrir tratamentos, cirurgias e etc. que são contidas nas recomendações dessa força-tarefa de medicina preventiva – é uma coisa muito importante. Em novembro de 2016, a força-tarefa emitiu a atualização das suas recomendações para o uso de estatina para prevenção primária. “Adultos entre 40 e 75 anos de idade que não tenham história de doença cardiovascular, mas que tenham algum dos seguintes fatores de risco: dislipidemia, diabetes, hipertensão ou tabagismo e um risco cardiovascular calculado de pelo menos 10% nos próximos 10 anos, então e só então, eles terão indicação de uso de estatinas.” Isso é uma coisa oficial, não é o Rodrigo nem o Souto que estão dizendo. Estou lendo para vocês a recomendação oficial da força-tarefa de medicina preventiva. Para fins de vocês verem o que isso significa, eu criei um paciente fictício e coloquei na calculadora de risco. Então, coloquem assim AHA (American Heart Association) Calculator no Google. Vocês vão cair no site. Eu botei idade 60 anos. Gênero masculino. Raça branca. Colesterol 300 (vamos chutar o balde). HDL 65 (ele faz exercício e low carb). Pressão 120 por 80. Não está usando remédios, não diabético e não fuma. Vocês acham que ele precisa tomar estatina? De acordo com a Associação Americana de Cardiologia, a resposta é não. Ou, melhor dizendo, de acordo com a Associação Americana de Cardiologia a resposta é sim porque se o risco for maior de 7,5% eles já dão remédios. Mas essas são as recomendações de 2013 da Associação Americana de Cardiologia. As mais atuais, da força-tarefa de medicina preventiva (que são agora de novembro) mudaram para 10%.

Rodrigo Polesso: Quanto que deu?

Dr. Souto: Deu 9,2.

Rodrigo Polesso: Quase.

Dr. Souto: Quase. O que eu quero dizer é o seguinte… Não é loucura com um paciente que tenha 300 de colesterol, mas que tenha um HDL alto, não seja diabético, não fume e não seja hipertenso não trata-lo com estatina. É importante conhecer esse tipo de coisa para poder preencher essa tabelinha, imprimir, ver seu risco pessoal e poder discutir com base nisso com seu cardiologista se você tem indicação de se tratar ou não. Não é fato do colesterol estar acima de 200 que indica o tratamento. Esse paciente está com 300 e não tem indicação de tratar. Então, caiu desde 2013 essa indicação de dar o tratamento só baseado no colesterol acima de 200 ou só baseado no LDL acima de 130. Tem que considerar o resto do risco como um todo. Um risco baixo, segundo a força-tarefa de medicina preventiva, é menor do que 10% em 10 anos. Coloque AHA Calculator no Google e calcule o seu risco. Se seu risco é baixo, a estatina – embora vá reduzir seu colesterol no papel – não vai fazer você viver mais, não vai diminuir seu risco de morrer do coração significativamente nos próximos anos. Isso é fato. Isso é baseado em evidência. Isso não é opinião. Estou com a página aberta na minha frente lendo para vocês. Esse é o consenso de uma organização extremamente tradicional e conservadora que é a Associação Americana de Cardiologia. Mas eles estão fazendo medicina baseada em evidência, ou seja, estão baseando essa conduta nos ensaios clínicos randomizados. Os ensaios clínicos randomizados mostram o que o Dr. Aseem Malhotra disse nesse artigo que o Rodrigo acabou de resumir: a maioria das pessoas está tomando remédios sem necessidade e que a evidência não mostra a necessidade de medicar a grande maioria das pessoas.

Rodrigo Polesso: É bom que a American Heart Association, pelo menos em algumas áreas, se baseie em evidência.

Dr. Souto: As coisas estão mudando. Devagar, mas estão.

Rodrigo Polesso: Têm outros que falam que o ponto positivo das estatinas é devido ao caráter anti-inflamatório que ela tem. A pessoa que vive com inflamação crônica no corpo tem esse colesterol no sangue causando vários problemas. Mas eu duvido que as estatinas tenham um efeito melhor do que uma intervenção dietética séria. Mas é muito mais fácil eu recomendar uma estatina do que colocar a pessoa numa dieta restritiva.

Dr. Souto: A dificuldade seria um comitê de ética atualmente pegar pacientes já enfartados e randomizá-los para um braço com estatina versus um outro braço só com estilo de vida… Sendo que já existem estudos comprovando que nessa circunstância de gente já revascularizadas a estatina salva vidas. Eu estaria submetendo um dos braços a um nível de risco que talvez o comitê de ética vetasse. Mas eu concordo com você, Rodrigo. Se esse estudo fosse feito, ele mostraria que o estilo de vida é, se não igual, provavelmente superior.

Rodrigo Polesso: Tem que mandar para a Índia para fazer esse estudo, já que lá eles não têm medo de fazer essas coisas.

Dr. Souto: O pessoal é mais flexível. O resumo da ópera é que a grande maioria das pessoas que estão usando estatinas não tem indicação real. Elas estão tratando apenas um número no papel. A indicação é feita pelo risco. Cada um deve fazer a conta na sua calculadora “AHA Calculator” e discutir com seu cardiologista sua real necessidade. Leve em conta que os riscos devem ser impressos em riscos absolutos e não relativos. Então, se a pessoa tinha 1% de risco sem tomar o remédio e tomando o remédio passa a ter 0,5% de risco… Isso em risco relativo é uma redução de 50%, em risco absoluto é uma redução de 0,5%. As pessoas são enganadas pela estatística. Temos que ter em mente essas coisas.

Rodrigo Polesso: Como eu não tenho um jaleco branco, posso ser mais direto na minha opinião particular. Se a pessoa coloca na calculadora e dá um risco maior de 10%… E você escuta assiduamente o podcast da Tribo Forte, você não está fazendo seu dever de casa. Olhe o 20% das coisas que você pode mudar que são responsáveis por 80% dos resultados. Veja se no seu estilo de vida as coisas óbvias já estão reguladas. Veja na sua alimentação, na maneira com a qual você vive, se você tem um hábito tóxico… Antes de começar a pensar nessas especificidades. O que você menos quer na vida é usar medicação. Meus pais têm 62 anos e não tomam nenhum medicamento – hoje em dia, isso não é comum. Hoje em dia, depois dos 40 anos é normal tomar medicação, se você não toma você é uma aberração. Todo remédio que você toma tem um efeito colateral. O efeito colateral dos remédios deveria ser chamado de “efeito”. Ele causa aquilo, não é um efeito “colateral”. Ele pode ajudar um pouco, mas causa um monte de problemas. São vários efeitos. Talvez você encontre um positivo no meio deles, mas são todos efeitos. As pessoas tendem a disfarçar os outros efeitos como efeitos colaterais e muitas vezes eles são maiores do que o efeito positivo. É um negócio meio bizarro de se pensar.

Dr. Souto: Isso que você falou faz sentido… Essa questão da modificação dos fatores de risco. Na calculadora de risco tem algumas poucas coisas que não temos como mudar: Idade, gênero e raça. O resto são coisas que podem ser mudadas. O colesterol total pode mudar. Se o sujeito tem uma dislipidemia, podemos focar mais em gordura insaturadas, mais em peixes, nozes, castanhas, azeite de oliva, abacate e não tanto em carne gorda, manteiga e torresmo. Com isso a gente já consegue essa modificação. Simplesmente fazer uma dieta de baixo carboidrato já aumenta o HDL. Exercício aumenta o HDL. No momento que começamos a perder gordura abdominal e fazer exercício, tem alta chance da pressão arterial melhorar. Salvo o diabetes tipo 1 e salvo o diabetes tipo 2 que já esteja há muitos anos, a maior parte dos casos de diabetes tipo 2, apostando em estilo de vida, é possível reverter isso. Fumar nem se fala. Boa parte desses fatores que calculam seu risco são modificáveis.

Rodrigo Polesso: Como já sabemos, todas essas coisas que podem ser melhoradas melhoram com alterações nas mesmas coisas. Então, se sabemos que isso causa tantos benefícios… Em vez de focar em cada coisa que queremos melhorar individualmente, podemos focar na raiz da coisa para que todos os galhos dessa árvore floresçam ao mesmo tempo. Antes de partir para nosso segundo ponto, vamos dar um break e falar dos nossos almoços. Tem em mente o que você comeu na última refeição?

Dr. Souto: Na última refeição eu estava lendo enquanto comia e nem me lembro direito. É o contrário do mindful eating. Eu só engoli alguma coisa que estava na minha frente. Lembrei. Era um refogado de uma seleta de vegetais com carnes desfiadas temperado com um pouco de shoyu. As pessoas vão dizer: “Shoyu? Shoyu é soja!” Sim, é soja fermentada. É um shoyu melhor, que procurando a gente encontra – não é aquele shoyu cheio de açúcar. Às vezes, numa mistura dessa, fica bom.

Rodrigo Polesso: Fica sim. Até glúten podemos achar no shoyu.

Dr. Souto: Como eu disse, vamos escolher o melhor. Em vez de comprar aquele que custa 1 real, compre aquele que custa 15.

Rodrigo Polesso: Eu comi um baita de um steak com avocado. É um abacate menor chamado avocado. Eu vi que no Brasil também se chama avocado.

Dr. Souto: É que esse negócio não existia no Brasil até um tempo atrás. Era só aquele grande. Como o mundo saudável começou a falar muito do avocado, subitamente pintou avocado em tudo quando é lugar.

Rodrigo Polesso: Eu falava sempre abacate até eu ver “avocado” no Brasil.

Dr. Souto: É um abacate pequeno meio feio.

Rodrigo Polesso: É uma porção só. Você corta e come ele inteiro. Não precisa guardar metade dele para depois. Ele prático também nesse sentido. Comi uma salada para acompanhar também. Esses dias eu postei uma foto no @emagrecerdevezoficial no Instagram. Eu normalmente tiro foto dos pratos que como. Tinha um bife, o avocado e um kimchi. Algumas pessoas falaram “comer pouco assim não me satisfaria”. Não dá para ver na foto, mas o bife era de 350 gramas. Era um bife grande. Com a salada do lado… é muita comida. A foto às vezes não faz jus ao que era o prato. O pessoal que me acompanha sabe que eu não como pouco. O Dr. Souto também não come pouco. Quando fomos jantar depois do evento, eu vi que ele se satisfez muito bem da oferta de carne que estava lá. Não acreditamos em comer pouco.

Dr. Souto: Quando é um filé maravilhoso desses, a gente come bastante. Quando é a comida do dia a dia, comendo low carb, ficamos com menos fome. A gente se satisfaz com menos. Todo mundo que fizer esse estilo de vida se não perceber na primeira semana percebe no primeiro mês.

Rodrigo Polesso: Eu não comi pouco voluntariamente. A gente come pouco como consequência.

Dr. Souto: Mas é claro que quando a comida é excepcional, num bom restaurante, esse conceito de “pouco” já fica meio relativo.

Rodrigo Polesso: Na segunda parte falaremos do açúcar. Hoje tem um artigo que foi postado no The Economist. O interessante é que no artigo a data de postagem é de amanhã. É um artigo do futuro. O Gary Taubes vai lançar um livro novo ele já está disponível para pre-order na Amazon, caso você queira pegar no Kindle. O nome do livro é “The Case Against Sugar” ( O Caso Contra o Açúcar). Quando o Gary Taubes lança um livro, tem que ler. Já comprei o meu no pre-order e assim que ficar disponível vou ter no meu Kindle. Esse artigo é muito legal e fala sobre a questão do açúcar. “O autor fala que por causa dos seus efeitos metabólicos, fisiológicos e hormonais o açúcar é o novo tabaco. É ruim para a saúde, porém ainda é defendido por lobbies muito poderosos. A mudança mais significativa nas dietas das populações que se tornaram modernas, urbanizadas e afluentes foi a quantidade de açúcar consumida e não de gordura. Culturas com dietas que contém uma quantidade considerável de gordura (como os inuítas, massai) começaram a ter obesidade, hipertensão e doenças coronárias somente quando começaram a comer maiores quantidades de açúcar. De forma semelhante, diabetes era uma coisa quase desconhecida na China na virada do século XX. Agora é uma epidemia com praticamente 11,6% população sofrendo do mal. Isso são mais de 110 milhões de chineses.” Ele tem uma parte interessante que fala sobre o consumo de açúcar no mundo. É um ranking de quem mais consome açúcar no mundo. Vou falar os primeiros países aqui. O Chile, nosso vizinho, é o que mais consome açúcar por dia no mundo – são quase 150 gramas de açúcar refinado por dia. Depois vem a Holanda, a Hungria, a Bélgica, Israel, Alemanha, Estados Unidos, Eslováquia e o nosso querido Brasil em nono lugar, logo na frente da Arábia Saudita. Nosso consumo de açúcar é um pouco mais de 15 gramas por dia. O Taubes fala o seguinte… Ele conta a história de John Yudkin, um nutricionista da Universidade de Londres. “Na década de 60, Yudkin propôs que a obesidade, diabetes e doenças cardíacas estavam relacionadas ao consumo de açúcar. No entanto, ele entrou numa disputa com o Ancel Keys. O Ancel Keys sempre defendeu a ideia de que a gordura ingerida na dieta é a causa primária de doenças cardíacas. Ele foi sempre apoiado pela Sugar Association (Associação de Produtores de Açúcar dos Estados Unidos). Então, ele ridicularizou o Yudkin, dizendo que as evidências dele eram um monte de coisas sem sentido.” Essa briga referida pelo Robert Lustig (que é pediatra endocrinologista da Universidade da Califórnia em São Francisco) como uma longa e sórdida história de profissionais de nutrição nos Estados Unidos que têm sido pagos pela indústria. Quando o Yudkin se aposentou como chefe do departamento dele em 1971, a Universidade de Oxford substituiu ele por outro profissional que concordava com a teoria da gordura. Que história triste. Muito legal o Gary Taubes trazer à luz essa questão do açúcar. Falamos tanto do glúten e da gordura como um mal… Agora ele vem trazer o caso do açúcar. Tem uma história obscura por trás desse alimento que muita gente acredita ser a raiz de todos os males que vemos hoje em dia. O que você acha que esse livro vem trazer para a gente de informação nova?

Dr. Souto: Tem uma expressão que se usa no Rio Grande do Sul que não sei se usa no resto do Brasil: “Estou que nem pinto no lixo.” Estou muito feliz aguardando esse livro. Estou aguardando esse livro há quase um ano. O Taubes anunciou no Twitter há quase um ano atrás que ele iria fazer esse livro novo. Eu lembro que ele tuitou como seria a capa do livro. Essa data para a liberação do livro já está estabelecida há muito tempo, é dia 27 de dezembro. Vai ser meu presente de Natal. Eu já sei que não vai ter nada de muito novo ali que eu já não saiba. Mas ele escreve muito bem. Ler algo escrito pelo Taubes é um prazer. É uma prosa quase literária. É uma experiência muito boa. Ele é um jornalista investigativo. Não há dúvida de que terão novidades levantadas através de entrevistas com pessoas que estavam diretamente envolvidas com isso… Executivos da indústria do açúcar… Pessoas envolvidas nas pesquisas. Deve ser um livro sensacional. Todo mundo já pode entrar na Amazon e deixar a pré-encomenda. É agora para logo depois do Natal. Ali no feriadão entre o Natal e ano novo já dá para ler, para entrar em 2017 com esse livro lido.

Rodrigo Polesso: A forma com a qual ele liga os pontos na história é impressionante. Ele vai ligar a história que aconteceu nos bastidores da nutrição… Como o açúcar hoje em dia ainda não é aceiro como um grande mal… O que aconteceu para influenciar esse tipo de coisa ao longo da história. Como ele é um jornalista investigativo, ele conecta todos esses pontos. Ninguém faz igual.

Dr. Souto: Eu li única e exclusivamente um livro do Taubes e mudei de opinião em 2011, tempos depois comecei a escrever um blog e em 2016 nós estamos sentados falando sobre isso. Este autor foi o sujeito que fez com que eu largasse o pão e o leite de soja diet. Em um fim de semana eu mudei do opinião porque eu li o Taubes.

Rodrigo Polesso: Não tem como discordar.

Dr. Souto: É o nível de importância que eu atribuo a este autor. Os outros que me desculpem, mas o Taubes é o responsável por toda essa revolução que estamos vendo nos dias de hoje. Hoje em dia a mídia popular já relata coisas. Esse próprio artigo do Assem Malhotra, saindo na primeira página de um jornal britânico… Acho que o Taubes é o responsável por estarmos vendo isso hoje. Acho que o Malhotra só mudou de opinião porque leu o Taubes.

Rodrigo Polesso: Eu acho também. É impossível ler o livro do Taubes, o “Good Calories, Bad Calories” e continuar com a opinião que você tem. Ele não dá a opinião dele. É um livro inteiro de 700 páginas documentando de forma inequívoca como tudo está interligado. É tudo baseado em fato. Não é nem interpretação, são fatos conectados. É muito difícil você ler um negócio desse e ainda ficar do outro lado da cerca.

Dr. Souto: Tive a oportunidade de trocar alguns emails com a Nina Teicholz do “Big Fat Surprise” – que é um livro espetacular. Ela me perguntou quando eu comecei a me interessar por isso. Eu falei que era por causa do Taubes. Ela me respondeu falando que “é impressionante como ele tocou as vidas de todos nós.” Ela disse que quando leu o Taubes, ela enlouqueceu e produziu aquela obra-prima. As pessoas podem não admitir isso abertamente, mas privadamente eu sei que ele está por trás da conversão da esmagadora maioria das pessoas.

Rodrigo Polesso: As pessoas estão sendo mais gratas mais abertamente, mas acho que ele merece todo o afeto que podemos dar para ele. Ele é um cara que sofreu e ainda sofre muito. Eu vi uma entrevista dele… A cara de cansado… Falando que o estresse estava difícil… Sendo ameaçado e tudo mais pelo trabalho que ele fez. Ele foi o primeiro, que abriu a porta, e é claro que o pessoal do outro lado não vai aceitar isso de braços abertos.

Dr. Souto: Hoje é mais fácil. Como diz o ditado, hoje estamos de pé sobre o ombro de gigantes. Quem assistiu minha palestra no evento da Tribo Forte sabe que eu tentei fazer justiça a esse autor naquela palestra.

Rodrigo Polesso: Falando nisso, todas as palestras do evento da Tribo Forte estão disponíveis dentro do portal da Tribo Forte para todos os assinantes. É só entrar em TriboForte.com.br se você ainda não é assinante e fazer parte. Continuando essa parte de açúcar… a Organização Mundial da Saúde agora em outubro chamou todos os países… Eles estão sugerindo que os países coloquem impostos sobre o consumo de bebidas açucaradas. Tem países que já fazem isso. O México aplicou isso em 2013. É legal ver que a atenção pelo açúcar está vindo à tona. Mas como as pessoas ainda não têm esse conhecimento, eu não sei se o imposto vai fazer com que diminua o consumo, ou será uma formação para que as pessoas parem de consumir isso com tanta frequência… Enfim, não sei se é positivo ou negativo. Mas a atenção ao tema pelo menos é positiva.

Dr. Souto: Assim como o Taubes conseguiu começar a absolvição da gordura, no início do século 21 com seu livro, eu acho que esse livro conseguirá estabelecer o açúcar no seu devido lugar – de uma toxina ou no máximo um tempero perigoso para a gente usar em pequeníssima quantidades em situações muito esporádicas.

Rodrigo Polesso: Esse foco no açúcar, em sua maioria, é sobre o açúcar refinado (o pó branco ou o marrom). Todo os tipos de açúcar que você encontra naqueles cristais são refinados. Não estamos falando necessariamente do consumo de açúcares naturais como o mel orgânico cru sem ser pasteurizado – ele é cheio de probiótico, tem pólem. O maple syrup tem os efeitos metabólicos do açúcar, mas não é refinado. Estamos falando do açúcar refinado adicionado que está praticamente em todo lugar: molho de tomate, tempero para salada, até em produtos de beleza. Mas isso não é uma bandeira verde para os outros, porque o açúcar, em sua essência, tem os mesmos efeitos metabólicos e hormonais no nosso organismo. É bom entender o foco que esse novo livro do Taubes terá. Tanto é que na capa do livro tem um monte de açúcar refinado.

Dr. Souto: Essa distinção é interessante. Tem alguns estudos que mostram que o mel é uma coisa que não seria tão problemática para a saúde – em pessoas magras, sem diabetes, sem síndrome metabólica que querem adoçar seu iogurte ou bolinho com mel em vez de açúcar refinado. Para quem está precisando perder peso com low carb… mel não é low carb. É importante fazer essa distinção. Eu falei da Nina Teicholz e me lembrei de um detalhe que ela fala no livro dela. O Taubes deve falar disso nesse livro também. Há uns anos atrás a Organização Mundial da Saúde ameaçou baixar o limite de açúcar aceitável. Eles acabaram baixando, mas na época eles não baixaram porque o lobby da indústria do açúcar nos Estados Unidos conseguiu convencer os Estados Unidos a ameaçar a Organização Mundial da Saúde. Se eles realmente impusessem uma diminuição na quantidade de açúcar, os Estados Unidos deixariam de pagar os milhões de dólares que eles pagam para manter a Organização Mundial da Saúde todos os anos. A barganha foi nesse nível. Todos os países membros pagam um valor anual e é com esse valor que a Organização Mundial da Saúde sobrevive. Como isso é proporcional ao PIB dos países, os Estados Unidos é o país que dá o valor mais significativo para a OMS. Então eles disseram “se vocês insistirem com esse negócio de limitar o açúcar, nós não vamos pagar”. Isso é real e está documentado. Quando eu vi sobre isso, fui procurar na internet. Tinha uma cópia do documento do governo americano para a Organização Mundial da Saúde. Isso não é uma teoria da conspiração, é real.

Rodrigo Polesso: A coisa está feia. Isso vai pior quando começarmos a ler o livro do Taubes, tenho certeza.

Dr. Souto: Esperem surpresas geniais como essa.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Vamos fechando lembrando que quem quiser ver as palestras do evento Tribo Forte Ao Vivo é só ir em TriboForte.com.br. Além disso, você conta com uma infinidade de receitas. Temos cardápios lá dentro agora também. Têm várias bacanas lá dentro que crescem todos os dias. Se você não é um Membro VIP da Tribo Forte, é só entrar em TriboForte.com.br e fazer parte dessa família incrível. Dr. Souto, obrigado por esse episódio, foi sensacional. A gente se fala na próxima terça-feira no próximo episódio.

Dr. Souto: Isso aí. Obrigado. Um abraço e até a próxima.

Rodrigo Polesso: Até lá.

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Fonte: https://emagrecerdevez.com
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