Tempos atrás escrevi em um post, que por um tratamento estético dentário, havia reduzido o consumo de duas de minhas oito paixões da vida, vinho tinto e café!
Naquele dia, inúmeros comentários foram sobre o post, mas vários foram sobre o detalhe: “quais são as outras seis paixões?”
Então decidi falar sobre elas!
Tenho certeza de que muitos se identificarão com algumas, ou passarão considerar outras, antes não imaginadas!
Se tem uma coisa que gosto é poder dividir de tudo um pouco, de nutrição, de vida, de riso, de choro… então agora, vou dividir de paixões, que viraram amores e que hoje me guiam para ser quem sou em busca de ser melhor!
VIAJAR
Eu tinha mais ou menos dez aninhos, quando sentada ao colo da minha avó, via as fotos da viagem de uma tia à Itália.
Ela contava com tanta emoção! Essa tia, mulher batalhadora e organizada, tinha condições financeiras para viajar, condições estas que eu, mesmo tão nova, tinha muito claro que nunca teria.
Venho de família que nunca teve mais do que o suficiente, e muitas vezes o suficiente faltou.
Pequenininha que era, em meu pensamento pessimista calculei: “nunca poderei ir à estes lugares, então vou aproveitar o máximo possível deste momento! Olhar essas fotos com cuidado! Será como ter estado lá!”
Ah, a vida que dá voltas! Eu estava errada!
O tempo me proporcionou uma oportunidade de me esforçar ao máximo e com isso alcançar tão mais do que eu sonhava!
Em minha primeira viagem da vida (aos vinte e tantos anos), quando pisei pela primeira vez em solo estrangeiro, chorei!
E achei que aquela seria a última vez a me emocionar com isso. Ledo engano! No ano passado, em minha segunda grande viagem (NY é um lugar incomparável), sentava no meio-fio, olhava aqueles prédios enquanto debulhava em lágrimas de felicidade e incredulidade!
Foi o mesmo diante do Big Ben (Londres) e da Pont Des Arts (Paris)!
Viajar é talvez a única forma de enriquecer enquanto o dinheiro sai em vez de entrar! É surreal! Desde então, prioridade pra mim!
Junto cada moedinha pensando em pra onde ir! Gosto de ir sozinha, mas ter companhia também vale muito!
Gosto de fotografar tudo, de andar e pedalar pelo lugar, de tentar falar a língua (na França e na Argentina isso foi tão difícil! Rs).
Lembro-me de um amigo querido que certa vez vendeu um carro para fazer um mochilão.
Meses depois, já de volta, ele passou com o carro do pai em minha casa para um “oi”, quando perguntei se arrependia-se de ter vendido seu próprio carro pra viajar, ele me disse: “Se meu pai bobear, eu vendo esse!”
CAFÉ
Nunca gostei! Nunca tomei!
Até mudar completamente minha alimentação há alguns anos.
Por algum motivo, comum a muitos, no momento em que diminui consideravelmente a referência doce da minha vida (antes trocava qualquer refeição por algo doce, até os ovos eu adoçava e colocava bananas!), o amargo e o azedo, ocuparam lugar!
Temos receptores na língua para quatro sabores, mas muitas vezes exploramos apenas dois (doce e salgado), o que nos leva à adoçar chás, frutas, iogurtes, cacau e café! Um desperdício!
Se a língua é um emaranhado de sensações com oportunidade para a diversidade, porque não usar?
Tomei café adoçado no começo, até que me sugeriram que passasse cinco dias sem adoçar, e voltasse a adoçar no sexto, caso precisasse.
Não aconteceu!
Com o paladar agora treinado à outra realidade, passei a entender a diferença entre um café bom e um ruim. Passei a convidar as pessoas para um café, o que sempre achei tão fino! Rs.
Passei a usá-lo ao final de um almoço, e não é que ele me tira completamente a vontade de um doce nesse momento? É como se “encerrasse o assunto”.
Expresso, de coador (meu favorito), saborizado, Chemex, torra média, experiência no Coffe Lab da Villa Madalena, tudo isso é tão bacana!
Como qualquer coisa na vida, há que se ter parcimônia, nada em excesso pode fazer bem.
Hoje tento ficar entre dois ou no máximo três ao dia, mas tem dias que nem tomo, só pra valorizar mais ainda no dia seguinte!
LER
Paulu’s. Esse era o nome daquela livraria.
Passei por lá meses atrás, onde antes havia uma imensa prateleira de livros, agora há um balcão expondo imagens religiosas feitas de gesso.
A Paulu’s fechou, era a livraria em que D. Natalia, minha avó, me levava toda semana.
Ler um livreto de segunda a domingo era uma tarefa a ser cumprida.
Tomei gosto por ler de tanto ver minha avó, meu pai, lendo.
Na escola, quarta série, lembro que a professora colocou vários livros apoiados no suporte de giz, abaixo da lousa, e cada aluno, em sua vez, levantava-se para escolher o livro que deveria ser lido e resumido naquela semana.
Eu via as crianças escolhendo os livros olhando-os pela lateral, não pra ver o título, mas pra ver o tamanho!
Quando a minha vez chegou, não tive a mínima dúvida, peguei o maior.
Lembro de ter meu pobre ego inflado pela reação da sala (essa competitividade… um dia me livro dessa bobeira).
Foi assim que li “A Serra dos Dois Meninos”, e “O Mistério do Quarto Amarelo”, e “Meu Pé de Laranja Lima”, livros que marcaram minha infância!
Na fase adulta li tantas coisas que guardo com carinho!
Gabriel Garcia Marques, Kant, Dostoievski, Dante Alighieri, Fernando Sabino, Saramago!
Estar sempre lendo algo é de suma importância pra mim. Há dois anos que só lia livros técnicos, quando ganhei em Vitória “A Elegância do Ouriço”, estou no fim, e gostando muito!
Como regras de ouro sobre esse assunto, tenho quatro:
Evito autoajuda
Grifo frases que me chamam atenção pela construção ou pelo teor
Só leio a versão impressa
Não empresto!
Quando o assunto é emprestar livros há normalmente dois erros: o de quem empresta e o de quem devolve! Rs
DOMÍNIO DO CORPO
Não foi fácil e DEFINITIVAMENTE não foi rápido! Por muitos anos senti meu corpo desgovernado! Não importava quantas vezes me propusesse à algo, era como se ele tivesse vontade própria!
“Não vou comer doces” – comia doces.
“Vou correr as 6h” – dormia.
“Vou dormir cedo hoje!” – só as 2h!
A compulsão, a bulimia, as crises de ódio, o me esconder embaixo de um monte de roupa no verão, o chorar me sentindo tão diferente, tão inferior, não por ser ou não ser, mas por sentir que não tinha escolha!
Quando conto sobre como hoje o corpo não me sabota mais (a mente está no comando), há quem pergunte “qual o segredo?”.
Mas não foi uma coisa só! Foram anos de MUITA tentativa e erro, terapia e Nuno Cobra! Demorou… mas cheguei a um lugar onde o corpo obedece.
Se eu quiser que ele responda, sei qual estímulo dar. Esse estímulo, no entanto, vem do pensamento! Você não precisa ser o melhor, só precisa acreditar que é! Se cruzar esse pensamento com disciplina, vai estar lá!
E disciplina é ter amor pelo processo, porque é fácil querer ser bom, querer o resultado.
Todo mundo quer isso! Mas pra ter é preciso que nessa mesma intensidade você queira se preparar! Os músculos, o sistema cardiovascular e cognitivo recebem ordens, mas cabe a você dar!
VINHO
Tinto. Mas simpatizo com outros. Com tanino bem marcado. Natural. Se possível, biodinâmico.
Não sou fã de vinho acrescido de sulfito e economia.
Não me nego, mas não aprecio com tanto carinho.
Déboucher, sentir le bouchon, verser lentement, le plaisir de la bouche, du nez, des yeux… L’appréciation.
Faz parte de tantos momentos bons, sendo o melhor aquele em que estamos eu, ele e silêncio.
Domaine de Pierredon… que dia!
MOVIMENTO
A frequência cardíaca dispara, na ausência temporária de oxigênio, a fermentação gera quantidades de ácido lático suficientes para que você note músculos que nem sabia que estavam lá! Todas as fibras estão recrutadas, você inteiro naquilo. Não há distração, não há hora, não há outro lugar para estar.
O suor vem na tentativa de resfriar um corpo em chamas, a requisição dos estoques começa.
Tudo está trabalhando em sintonia para que sinta-se extremamente VIVO.
Não, você não foi milimetricamente projetado para estar sentado na maior parte do tempo. Saltar, correr, empurrar, puxar… tudo isso é possível não apenas de executar, mas de ser melhorado.
Você vai olhar para a marca só até chegar nela, depois disso, você evoluiu, e passa a mirar a próxima!
Falamos de comer parecido com o que comiam nossos ancestrais, mas nos esquecemos de que o “fator movimento” deles incluía andar muito, correr quando preciso, abater uma presa, carrega-la, levar horas para dilacera-la.
Tudo isso demandava esforço DIÁRIO.
Então não passa pela minha cabeça “me mexer” em esforço duas ou três vezes por semana.
O movimento me é paixão sem fim porque entendo que FUI FEITA pra isso! Não há desculpa!
Quando estudava das 8h-12h e trabalhava das 13h-22h, o movimento também estava lá!
É uma questão de gratidão à vida não desperdiçar tanto potencial!
Movimento traz consciência, disciplina. Tem que existir!
Se não estou pronta pra morrer, sigo vivendo forte, empurrando a barra do limite, SEMPRE em movimento!
AMAR ALGUÉM
Quantas vezes Vinicius se casou? Não que seja da minha conta… É só que me pergunto (enquanto invejo) sobre o desprendimento e a resiliência.
Sim porque amar é tão incrível quanto trabalhoso, então quando o amor se vai… mas por algum motivo ele sempre voltou a amar. Sempre se abriu de novo. Deve ser porque amar alguém é uma das dádivas mais lindas da qual um homem pode desfrutar.
Amar alguém, pra mim é “full time job”.
Enquanto meu padrasto era vivo, vi minha e ele mãe brigarem várias vezes sobre um prato em que havia uma salsicha só, mas a briga era: “coma você!” – “não, coma você!”.
Ninguém nunca gritou com o outro pra indagar porque tudo que tínhamos naquele momento era uma salsicha só.
Tinha parceria.
Amor pra mim não acontece automaticamente, é uma escolha.
Escolho me negar mais, para pensar mais em você, mas como você também age assim, a conta fecha e ninguém sai perdendo.
A parceria desanda quando um dos dois deixa isso para trás.
A frase “siga seu coração” não me parece atrativa, porque o coração se engana.
Vejo o amor mais como caso pensado do que emoção esvaída.
Ah, amar alguém.
Amar é bom se é altruísta! Se é exagerado! Se tem abraço que parece beijo! Se é daqueles bem grudados!
Duas pessoas que se amam sempre me fazem chorar! Manteiga que sou, derreto de ver o jeitinho que ele olha pra ela, que sorte esse menino tem!
Acho que amar é escola eterna, que triste que somos dos que aprendem com erros, tanto pouparia que ouvíssemos mais nossos pais.
Eles não descartavam o outro por preguiça de tentar.
Só erraram por não nos explicar que amor dá trabalho! “Mas é um trabalho bom, filha… é um trabalho bom” – consigo ouvir meu pai, falar.
Pra amar, e ter coragem de amar, a dúvida que Vinicius pois não tem como negar: “quem pagará pelo enterro e as flores se eu morrer de amores?”
INTENSIDADE
Deixei minha melhor por último. Minha maior! Não há Lara sem exagero! Sem a passagem comprada só de ida! Não tem muita dúvida, eu vou!
Enquanto me pedirem o que tenho, tenho meu melhor pra dar!
Não sei ser um pouco, ser médio, ser morna! Não sei pegar leve, passar despercebida, fazer muito silêncio.
Não se engane, não é qualidade, é característica, passível de ser moldada, tomara, ou não há peito que aguente!
Sou filha do carnaval, nasci em novembro, e em novembro não tem muito espaço pra ser pouco, a gente só sabe ser!
Se ninguém quer minha cabeça naquele lugar, questiono-me estar errando em algo!
Se nunca houver uma lágrima de gratidão em um suspiro de amor, então errei! In.. in.. INTENSIDADE!
É um flerte certo com a delícia de arriscar! Os voos altos são interrupções de dias de vale!
Ah, os vales… no auge de meu cargo de intensa, acredito que só sai do fundo do poço quem chega nele, então quando é preciso, eu cavo!
Faço uma conta e encontro que sentir mais forte é mais saboroso, e se é mais, eu mordo!
Ninguém se cria escolhendo bem o que quer ser, comigo não foi diferente.
Quando me vi já era assim, exagerada… cabelos loirinhos, perninhas curtinhas, risada fácil, sonhando com a chance de ponderar.