Mesmo após tantos anos, há um fenômeno que segue por me chamar atenção (eufemismo para “apavorar”). É um tipo específico de questionamento sobre a necessidade de comprovação do óbvio. São questões do tipo:
“onde estão os estudos sobre comer apenas com fome?”
“quais artigos científicos falam sobre comer até ficar satisfeito?”
ou
“existe evidência científica afirmando que deveríamos preferir alimentos naturais?”
Entendo que com a enxurrada de informações as quais somos diariamente expostos exista um enorme sentimento de confusão que acaba por dar lugar a questionamentos, no entanto vale lembrar a máxima 👉 “afirmações EXTRAORDINÁRIAS, requerem evidências extraordinárias” 👈 propagada por Carl Sagan, brilhante cientista (e dono do meu coração).
Sob tal afirmação é possível entender que a verdadeira necessidade de “provas” existe quando uma sugestão extrapola o lógico, de forma que não há necessidade de se conduzir um ensaio clínico para avaliar se o mais indicado a seres humanos é que se durma na chamada natural do sono ou em um horário aleatoriamente estipulado, por exemplo. É quando algo foge ao natural, ou seja, quando se faz uma alegação extraordinária que existe a necessidade de evidências também extraordinárias.
Levando em conta os exemplos de questionamento acima, é ao afirmar que se deve ignorar completamente as sinalizações naturais do corpo que precisamos apresentar o corpo de evidências.
É quando oriento um paciente a comer o que está na prescrição independente de sua saciedade a fim de gerar hipertrofia que preciso estar embasada. Ao sugerir uma estratégia não natural de restrição de carboidratos ou calorias para um determinado fim que existe tal necessidade, para o óbvio não.
O hábito do ceticismo é dos melhores que se pode conservar, desde que junto com ele não falte o de raciocinar.