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No Episódio De Hoje:

  • Como o mundo de hoje torna difícil a disseminação de verdades e a quebra de paradigmas alimentares vigentes. Um trecho muito bem escrito pelo Dr. David Ludwig de Harvard em uma carta aberta a mídia americana dá pistas de quão triste e difícil é expressar opiniões contrárias, mesmo quando elas são totalmente embasadas pela ciência.
  • Alimentação low carb e câncer, resultados de um estudo recente são muito promissores nesta questão tão importante.
  • Quadro “Alimento do dia” e “o que voce comeu no almoço passado”.
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Veja Estes Resultados REAIS Abaixo:

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Referências do episódio

Vídeo do Dr. Stephen Freedland sobre câncer de próstata e alimentação low carb

Carta aberta a mídia americana pelo Dr. David Ludwig

Transcrição Completa Do Episódio

Rodrigo Polesso: Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Bem-vindo à terça-feira – seu dia semanal da saúde. Temos mais um podcast oficial da Tribo Forte saindo do forno. No podcast de hoje temos dois temas principais para discutir e compartilhar com você. O primeiro deles é como mundo de hoje torna difícil a disseminação de verdades e a quebra de paradigmas alimentares vigentes. O Dr. David Ludwig da Universidade de Harvard nos Estados Unidos escreveu uma carta aberta para a mídia americana. Essa carta dá pistas de quão difícil a situação é até mesmo para médicos respeitados como ele para expressar opiniões contrárias às vigentes, mesmo elas sendo totalmente embasadas pela ciência. Falaremos sobre esse assunto tão importante aqui. Depois falaremos sobre a alimentação low-carb e o câncer de próstata. Mencionaremos os resultados de um estudo recente, que são muito promissores. Teremos também os quadros “Alimento do Dia” e “O Que Você Comeu no Almoço de Ontem?” Antes de começarmos, vou dar bom dia e boa tarde para o Dr. Souto antes de partirmos para a pergunta da comunidade.

Dr. Souto: Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde, ouvintes.

Rodrigo Polesso: Boa tarde, Dr. Souto. Temos uma pergunta da comunidade. Peguei essa pergunta na página do Facebook do Emagrecer de Vez hoje. Inclusive, eu já respondi ela lá. Vou fazer a pergunta e falarei o que eu respondi. Mas queria ouvir sua opinião sobre isso. A Nádia Eiras fez a seguinte pergunta: “Bom dia. Há algum prejuízo para minha saúde ou do bebê se eu fizer a dieta e engravidar?” O que eu respondi para ela foi o seguinte: “Por ‘dieta’ imagino que seja uma alimentação forte, low-carb ou paleo. Obviamente, antes de fazer qualquer alteração na sua maneira de comer, você precisa consultar um médico ou profissional qualificado que possa analisar a situação a dar o aval.” Dito isso, eu fiz uma pergunta: “Como essas filosofias que citamos no podcast são baseadas em alimentos reais (como a natureza nos fornece) teriam algum prejuízo para a saúde do bebê ou da própria mulher?” A alternativa seria continuar fazendo o que estamos fazendo hoje, que é algo que comprovadamente não faz bem, já que temos várias estatísticas de obesidade e doenças. Fiz essa pergunta para ela como resposta. Mas quero ouvir o take do Dr. Souto sobre isso.

Dr. Souto: Eu poderia fazer as suas palavras, minhas. Começando pelo fato de que é importante ouvir a opinião do profissional que acompanhará essa gestação. Eu também compartilho 100% da sua opinião. Não consigo imaginar como que uma pessoa que troca um pão branco por peixe poderia estar fazendo algo ruim para o bebê; alguém que troca biscoito recheado por um filé com salada vai prejudicar o bebê. Na minha cabeça é inconcebível e acho que nem precisa ser alguém que estuda nutrição para se dar conta de que substituir pipoca de micro-ondas por castanhas ou azeitonas é uma coisa que só pode fazer bem para o seu bebê. Esses exemplos que eu dei são o tipo de coisa que estamos propondo quando sugerimos uma alimentação forte ou paleo. Trocar alimentos processados por alimentos minimamente processados. Uma deita “very low-carb” talvez não seja o ideal nesse momento, durante a gestação. Eu vou explicar porque. Tudo aquilo que eu e o Rodrigo falamos aqui fazemos questão que seja baseado em evidência científica. Do ponto de vista lógico, eu tenho certeza que existem povos que têm toda sua gestação com uma dieta de baixo carboidrato. Por exemplo, os esquimós passam 9 meses do ano sem ter acesso a nenhum vegetal. E os masai na África que são caçadores/coletores que basicamente se alimentam de produtos animais. No entanto, nós não temos estudos comparativos para dizer se esse tipo de dieta tende a produzir resultados iguais, melhores ou piores no que diz respeito à gestação. Então, acho que seria irresponsável sugerir uma dieta de muito baixo carboidrato durante a gestação. Então, que se faça uma alimentação de estilo paleo (com comida de verdade, plantas e bichos e com o mínimo de alimentos processados e artificiais). Evite corantes e adoçantes. Essa dieta não precisa ser rica em açúcar, pães, bolos e massas. Eu realmente não acredito que nenhum obstetra vai dizer que comer bastante açúcar, pães, massas e bolos seja uma coisa boa para a gestação de qualquer mulher. Aquilo que tiramos da dieta são coisas que fazem mal e que a pessoa não deveria estar consumindo durante a gestação nem fora da gestação. Mas não precisa restringir todos os carboidratos. Frutas e raízes, durante a gestação podem e devem ser consumidas justamente o resto dos alimentos de origem natural. Mas discuta isso com seu obstetra.

Rodrigo Polesso: Esse caso específico seria o caso de redução extrema de carboidratos que não é o que a gente de fato propõe. A gente propõe um estilo de vida que adicione carboidratos que sejam saudáveis. Mas as pessoas tendem a entender isso como um extremo… “Se uma aspirina faz bem, se eu tomar 10 vai fazer muito melhor.” Não é bem assim! Não é bem assim na alimentação. Se eu falar que carne de gado de boa qualidade não relação com doença cardíaca, não significa que as pessoas devem comer 10 quilos de carne por dia. Uma dieta de baixo carboidrato não significa remover todos os carboidratos completamente também. Dr. Souto, esse tipo de pergunta seria mais um sintoma do medo que citamos no episódio passado?

Dr. Souto: Eu penso que sim. “Eu estou fazendo uma coisa que eu acho que faz mal. Minha mãe disse que faz mal, meu vizinho disse que faz mal, meu marido disse que faz mal. Então, se eu ficar grávida estarei fazendo algo que faz mal.” Isso está atraindo, no fundo, esse medo. Mas uma dieta de muito baixo carboidrato pode ser interessante para dar o ponta pé inicial na perda de peso de uma pessoa com sobrepeso ou obesidade. Pode ser interessante no controle do açúcar no sangue de um diabético ou de um pré-diabético. E pode não ser interessante na gestação. Pode não ser. Eu até acho que uma gestação pode ir muito bem com uma dieta de baixo carboidrato, mas a palavra-chave aqui é “acho”. É uma coisa muito séria quando falamos sobre gestação. Então, eu teria que ter evidências que ainda não existem na literatura publicada. Por esse motivo, concordamos que, pelo menos na gestação, não deve ser uma dieta de muito baixo carboidrato. Mas eu acho que toda pessoa de bom senso concorda que não deve ser uma dieta de muito alto carboidrato e com carboidratos ruins. Eu duvido que um obstetra seria contra a seguinte proposta: vamos comer uma alimentação rica em alimentos naturais, de origens animais e vegetais, mas que tenha uma redução de açúcar, de farináceos refinados, de alimentos artificiais, com corantes ou adoçantes. Eu duvido que um obstetra não iria considerar isso uma coisa boa. E isso é 80% do que propomos aqui.

Rodrigo Polesso: Acho que a mensagem é essa mesmo. Acho que ficou claro para o pessoal. Podemos ir para o primeiro tópico de hoje. Antes de falarmos sobre a dificuldade de discutir o que é vigente hoje, falaremos sobre os efeitos promissores de uma alimentação low-carb em pacientes com câncer de próstata. O Dr. Stephen Friedland postou um vídeo semana passada sumarizando o resultado de um ensaio clínico randomizado de 6 meses que ele conduziu. O exame foi feito em pacientes com câncer de próstata que estavam seguindo a terapia hormonal para cura. Essa é a normal de tratamento para esse tipo de condição. Segundo o Dr. Stephen, esse tratamento, enquanto é eficaz, gera alguns efeitos colaterais metabólicos conhecidos – principalmente diabetes. Ele sabendo que diabetes é um problema de muita insulina no sangue, que açúcar no sangue causa o aumento de insulina e sabendo que carboidratos são macronutrientes que mais aumentam o açúcar no sangue, tentaram uma intervenção de 6 meses com uma dieta estritamente low-carb (com 20 gramas de carboidratos totais) em metade dos pacientes. A outra metade seguiu uma alimentação normal. As pessoas estudadas eram homens com aproximadamente 60 anos de idade e acima do peso. No final desses 6 meses de estudo, o grupo que seguiu a alimentação low-carb perdeu mais de 10 quilos, bloqueou a osteoporose (que é tipicamente causada pelo tratamento) e teve uma queda de 4% na resistência à insulina. O outro grupo teve um aumento de 36% de resistência à insulina. O Dr. Stephen concluiu que uma dieta low-carb pode prevenir muitos dos efeitos colaterais do tratamento tradicional de câncer de próstata e menciona que essa alimentação tem tido um efeito retardador em tumores cancerígenos em animais. Ele agora está no processo de teste disso em humanos com um novo estudo. Então, Dr. Souto, a relação entre uma alimentação de baixo carboidrato e o tratamento de câncer… talvez não somente o o tratamento de câncer de próstata, mas de câncer em geral.

Dr. Souto: Para quem ainda não sabe, eu sou urologista. Eu estava acompanhando esse congresso americano de urologia que ocorreu recentemente. Eu não podia deixar de comentar esse estudo aqui com vocês. Na realidade, o tratamento hormonal do câncer de próstata não cura a doença, ele é utilizado em câncer avançado já metastático. Então, o tratamento hormonal é paliativo, mas muito eficiente. Esse tratamento hormonal traz como consequência um quadro de síndrome metabólica. Os pacientes tendem a ganhar peso especialmente na região abdominal, tendem a desenvolver resistência à insulina e/ou diabetes e aumentam significativamente seu risco cardiovascular. Existem estudos na área da oncologia urológica onde nós vemos que pacientes que têm a doença um pouco menos avançada (e que se propunham a fazer tratamento hormonal)… os que faziam tratamento hormonal acabavam tendo uma resposta melhor em relação ao câncer, mas acaba morrendo mais do que o outro grupo. Eles morriam mais do coração, ou seja, por causa de problemas produzidos pelo tratamento hormonal. Esse tratamento hormonal é um tratamento medicamentoso que se faz para induzir uma castração química. A gente retira a testosterona e o câncer de próstata regride por um período de vários meses ou até alguns anos. O Dr. Friedland teve a ideia de investigar isso. Já que a síndrome metabólica que ocorre com o tratamento hormonal é tão parecida com a síndrome metabólica que se desenvolve nas pessoas que comem carboidratos demais, vamos tentar um tratamento com uma dieta low-carb que funciona bem para síndrome metabólica. Vamos ver se uma dieta low-carb é capaz de prevenir essas consequências metabólicas ruins do tratamento hormonal. Ele conduziu um ensaio clínico randomizado (que é o nível mais elevado de evidência científica, onde as pessoas são sorteadas para fazer um tratamento) e teve efeitos incríveis. O grupo que só fez o tratamento hormonal e não fez low-carb aumentou de peso. Enquanto que o grupo que fez low-carb não aumentou de peso e, na verdade, perderam peso. Um tratamento hormonal, ou com corticoide (tratamentos que fazem os pacientes ganhar peso), se for acompanhado da dieta correta, o ganho de peso não ocorre e a pessoa pode até perder peso. Eu apresentei esse estudo numa reunião que tivemos no hospital onde eu trabalho. Foi muito interessante, porque até agora nós não tínhamos nenhum tratamento comprovado e que pudesse prevenir esses efeitos deletérios do tratamento hormonal em homens com câncer de próstata avançado. Outro resultado muito importante desse estudo é o que diz respeito à massa óssea. O tratamento hormonal do câncer de próstata leva à perda de massa óssea. Assim como a mulher, quando entra na menopausa, tende a perder massa óssea, o homem, quando é submetido a uma castração medicamentosa, também para a produção dos seus hormônios e também pode perder massa óssea e muscular. Esse estudo mostrou que o grupo que fez a dieta pobre em carboidratos aumentou sua massa óssea nesses 6 meses, enquanto o grupo controle perdeu massa óssea. Vocês que estão nos ouvindo vão frequentemente escutar de profissionais desatualizados que uma dieta baixa em carboidrato vai produzir osteoporose. Eu já ouvi isso mil vezes. Eu digo profissionais desatualizados porque existem vários ensaios clínicos randomizados que mostram que isso não é assim e esse é mais um. Ele mostra que não é verdade que a gente perde osso numa dieta de baixo carboidrato. Aliás, pelo contrário, o estudo mostra que houve um pequeno ganho de massa óssea no grupo que restringiu os carboidratos na dieta.

Rodrigo Polesso: Saindo desse estudo em questão, li muitas coisas motivadoras no sentido de uma dieta baixa em carboidrato ser beneficial para retardar o desenvolvimento do câncer. E já li coisas em relação à cura através da dieta, por causa da questão metabólica do tumor, que tem suas células quebradas em relação ao metabolismo. Elas não metabolizam outro combustível que não o açúcar. Quando a gente diminui o nível de glicose no sangue, essas células vão “morrer de fome”, porque não conseguem processar outro combustível como gordura ou corpos cetônicos de forma tão eficiente como processam o sangue. Tenho certeza que o Dr. Souto já tenha visto bastante estudos nesse sentido. A alimentação de bem baixo carboidrato traz benefícios para cânceres de vários tipos.

Dr. Souto: Sim. Podemos dividir isso em vários assuntos. O Dr. Friedland, o autor desse estudo que comentamos, eu o conheço pessoalmente. Eu conheci o Dr. Friedland em Porto Alegre. Ele esteve em Porto Alegre em 2011. Eu recém havia iniciado meus estudos e experimentos com dieta de baixo carboidrato. Ele esteve aqui num congresso sul-rio-grandense de urologia. Eu jantei fora com um grupo que incluía o Dr. Friedland. Nós percebemos que eu e ele estávamos comendo uma janta de baixo carboidrato. O assunto entre nós foi a dieta. Ele me disse que estava muito interessado. Ele também tinha lido Gary Taubes e estava fascinado pelo assunto. Já na época ele tinha interesse nisso que você falou… “Como que a restrição de carboidrato afetaria o desenvolvimento das células de câncer uma vez que elas utilizam glicose como fonte de energia e têm muita dificuldade de utilizar ácidos graxos ou corpos cetônicos como fonte de energia?” O Dr. Friedland tem 32 estudos publicados na literatura médica peer review sobre esse assunto. Então, ele estuda muito isso. Ele, pessoalmente, está convencido de que possa haver um benefício. No entanto, a maior parte dos estudos dele foi feita em roedores ou em cultura de células. Ainda não temos ensaios clínicos randomizados em seres humanos prontos sobre esse assunto. Então, é incorreto afirmarmos que uma dieta de baixo carboidrato vai produzir a melhora do câncer ou a cura do câncer em qualquer pessoa. Eu sei que na internet há relatos, mas na internet há relatos de todo tipo de bizarrices. Tem gente que acha que se tomar o chá de determinada planta, cura o câncer. Tem gente que acha que se fizer determinada terapia alternativa, cura o câncer. Muito disso é puro charlatanismo e uma parte é simplesmente ingenuidade. Pessoas que acham que estão curadas quando entraram numa remissão temporária… e existem alguns tumores que entram em remissão espontânea porque o sistema imunológico da pessoa combate o tumor e pessoa acha que a última coisa que ela fez foi o que curou seu câncer – quando, na realidade, o câncer se curou de forma espontânea. Dito isso, eu realmente acho que já existe uma base de estudos de ciência básica que justifica pelo menos a crença de que algum tempo nós vamos ter estudos que vão mostrar alguma vantagem de dieta cetogênica juntamente com o tratamento tradicional no tratamento de câncer. Existem alguns estudos “fase 1” (quando se testa a toxicidade e a factibilidade de um tratamento) para tumores de cérebro… low-carb associado com quimio e rádio mostrando um resultado melhor do que quimio e rádio isoladamente. Definitivamente não é uma coisa comprovada. Não é algo que se deva usar sem usar o tratamento convencional. Isso seria uma coisa irresponsável nesse momento. Mas não é uma coisa absurda. Existem muitas pessoas sérias que acreditam nisso. O Friedland é um deles. Eles estudam a ciência por trás disso. Se eu tivesse um câncer, com certeza eu faria uma dieta cetogênica juntamente com o tratamento convencional indicado pelo meu médico.

Rodrigo Polesso: Eu tenho a mesma opinião. Com certeza eu faria isso. Uma dieta de baixo carboidratos, com alimentos verdadeiros, removendo o açúcar, produtos processados, farinhas e etc… Isso é beneficial para o organismo de qualquer forma. Não teria custo em tentar fazer isso para enfraquecer um tumor enquanto você faz um tratamento adicional. Isso é uma tentativa muito válida de ser tentada. Recentemente, o irmão da minha namorada, de 32 anos, foi diagnosticado com linfoma. Ele está fazendo tratamento agora. Parece que as células sumiram, mas ele vai continuar fazendo o tratamento para se certificar. Eu falei para minha namorada para nós informa-lo sobre a questão da alimentação. Mal eu sei que provavelmente não vai fazer. Mas é como dar soco em pedra. Ele é uma pessoa bastante culta. Então, meu argumento foi mandar um estudo para ele dar uma olhada. Mas não deu certo. Para comemorar essa remissão do câncer ele comeu um hambúrguer com um monte de batata frita. Se isso é alimento para o câncer, não é uma boa ideia. Acho que é difícil de se introduzir esse tipo de filosofia para pessoas que estão precisando, apesar da gente estar convencido que é uma tentativa válida. Tem muita resistência disso para as pessoas que estão dentro da situação.

Dr. Souto: Quando eu apresentei o resultado desse ensaio clínico randomizado sobre o qual estamos falando agora, o colega oncologista do meu hospital retrucou. Naquele caso, não havia o que negar. É um ensaio clínico randomizado. Ele teve que aceitar que é bom fazer uma dieta de baixo carboidrato em quem está fazendo tratamento hormonal para câncer de próstata. Isso está provado nesse estudo. Mas ele disse que “ninguém consegue fazer isso.” “Quem vai conseguir ficar sem pão?” Eu respondi “nenhum de nós está numa situação desesperada, como alguém que está fazendo um tratamento desses, para saber se em um situação dessas não seria mais simples tomar uma decisão de ficar sem pão, caso meu médico dissesse que ficar sem pão limitaria meu risco de morrer do coração nos próximos meses.” Então, depende muito dos preconceitos do próprio médico. Se o médico já não acredita que é possível viver sem pão, dificilmente ele conseguirá convencer um paciente dele a seguir uma dieta sem carboidrato. Se o médico disser que tem uma excelente notícia e que existe uma alteração de dieta que faça com que o paciente não engorde e perca peso durante o tratamento hormonal, a maioria das pessoas vão fazer.

Rodrigo Polesso: Acho que existe uma boa pista sobre como as pessoas podem viver sem pão, porque a humanidade tem mais de 2 milhões de anos e só por volta de 10.000 anos atrás que a agricultura foi descoberta. Então, o pão não existia durante aproximadamente 90% da evolução da humanidade. Acho que a mãe natureza não acha que pão é uma coisa que deveríamos comer sempre. Caso contrário, teria árvore de pão por aí.

Dr. Souto: Com certeza.

Rodrigo Polesso: Vamos dar um break para o alimento do dia.

Dr. Souto: Antes do alimento do dia… Para o nosso ouvinte que lê em inglês, e que está interessado nesse assunto que você levantou sobre dieta e câncer, eu sugiro um livro chamado “Tripping Over the Truth”. Nós vamos botá-lo nas notas do podcast. Espetacular e sobre esse assunto.

Rodrigo Polesso: Falamos bastante coisas motivadoras sobre o câncer, que é o mal do século, sem dúvida. O alimento do dia de hoje é a canela. Realmente não tem nada parecido com a canela. A maioria das pessoas gostam e eu adoro. Ela tem propriedades anti-inflamatórias, bactericidas e poder de ativar alguns antioxidantes. Existem estudos (não conclusivos) que mostram benefícios para pacientes diabéticos. É muito fácil de se adicionar no dia a dia no café, no chá, no iogurte. Eu fiz um pão de linhaça no micro-ondas com manteiga, uma pitada de sal e canela. Fica muito gostoso e interessante. Outra dica curiosa é colocar canela no bacon. Já ouviu essa, Dr. Souto?

Dr. Souto: Já ouvi, mas nunca experimentei. Como comprei um bacon ontem, amanhã de manhã comerei bacon com canela em sua homenagem.

Rodrigo Polesso: Quando eu ouvi pela primeira vez, eu torci o nariz. O cheiro do bacon é muito bom, mas com uma canela por cima fica sensacional. Por incrível que pareça, combina muito bem. É um alimento que é benéfico à saúde. Esses alimentos do dia não são “superalimentos”. São coisas que você pode adicionar ao seu estilo de vida para deixa-lo mais interessante e mais criativo. Agora vamos partir para o segundo tópico que é bastante interessante. Vou fazer uma introdução antes de abrir nossa conversa. Recentemente o Dr. David Ludwig – um respeitado médico da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos – publicou um livro chamado “Always Hungry” que se alinha mais com os benefícios da filosofia low-carb e paleo do que com o conhecimento padrão sobre dietas nos moldes do que é recomendado pelos governos para a população geral. Ele é uma figura bastante respeitada e de bastante influência. Ele gerou muitas conversas a respeito disso quanto lançou o livro. Ele também sofreu ataques na mídia. O mais recente ataque veio do site de notícias Vox, dos Estados Unidos. Como o site não quis publicar a defesa completa dele, ele resolveu postar uma carta aberta sobre tudo isso. Você encontrará o link abaixo, aqui no podcast. Tem uma passagem dessa carta que eu fiz questão de traduzir e ler para vocês, para que a gente possa discutir o que está acontecendo hoje em dia e como estamos tratando nossa saúde. “Por 40 anos, a população tem ouvido que a melhor forma de se perder peso é contar as calorias e reduzir gorduras. Mas essa estratégia tem falhado miseravelmente na prática e ignorado o fato de que o peso corporal é mais regulado pela biologia do corpo do que força de vontade ao longo prazo. Com restrição calórica, a fome aumenta e o metabolismo desacelera. Isso é uma receita perfeita para o ganho de peso. Eu escrevi ‘Always Hungry’ para promover uma estratégia alternativa focada nos fatores biológicos do ganho de peso. Estratégia essa que é suportada por centenas de referências científicas. Seria justo se demandar que novas alternativas fossem sujeitas a padrões de evidência muito mais altos do que os padrões que foram aplicados para recomendações existentes? Ou seja, será que qualquer sugestão que vai contra a corrente hoje precisaria respeitar padrões de exigência muito mais altos dos que foram aceitos para as sugestões que existem hoje? Revisões sistemáticas reportam consistentemente menos perda de peso nas dietas convencionais de baixa gordura comparadas com as dietas de alta gordura, baixas em carboidrato ou dieta mediterrânea. Alimentos altos em gorduras naturais e densos em calorias, como nozes, castanhas, azeite de oliva e chocolate amargo, não são associados com o ganho de peso nos melhores estudos observacionais, onde os carboidratos processados ficam no topo dessa lista. Particularmente, o estudo Look Ahead, feito dos Estados Unidos foi terminado prematuramente quando sua dieta de baixa gordura não mostrou nenhum sinal promissor em se reduzir a incidência de doenças cardíacas. Compare esses resultados com os estudos PREDIMED que também foi terminado antes da hora. Nesse caso, ele foi terminado antes da hora porque as dietas de mais alta gordura demostraram uma ótima proteção contra doenças cardíacas. Mesmo com essas evidências, a maioria da população americana continua focada em reduzir as gorduras, tendo aprendido isso do governo, das organizações de nutrição e da indústria alimentícia. Alguns experts até recomendaram na década de 90 para se consumir açúcar para se diluir as calorias vindas das gorduras.” Dr. Souto essa carta foi muito bem escrita… A dificuldade que é ir contra a corrente aceita como verdade.

Dr. Souto: Essa carta foi um tapa de luva. Já escrevi sobre David Ludwig no meu blog. Esse livro é espetacular. Ele é muito importante porque o Dr. Ludwig é um pesquisador altamente respeitado. Tem muitos autores que escrevem sobre dieta que não são cientistas. Gary Taubes, que foi muito importante na minha formação nessa área é um jornalista. Nina Teicholz, que escreveu The Big Fat Surprise é uma jornalista. Não acho que todo mundo tem que ser cientista. Mas o Ludwig é. Ele tem mais de 100 artigos publicados na literatura peer review. Ele é o chefe do Ambulatório de Obesidade de Harvard. Não é pouca coisa. E o Ludwig se deu conta de que o problema fundamental é hormonal e não simplesmente calorias. A jornalista que o atacou disse que todos os livros de dieta são igualmente ruins. Mas o que ele está propondo é baseado no mais alto nível de evidência. O livro tem um monte de referências bibliográficas e cita dois ensaios clínicos randomizados. Vamos fazer uma promessa, Rodrigo: em cada podcast eu tenho que falar “ensaio clínico randomizado” pelo menos uma vez. As pessoas têm que entender que não é tudo igual. “O Rodrigo falou uma coisa, mas o Fulano que tem um podcast falou outra coisa”. Não importa se é o Rodrigo, se é o Souto ou se é o Fulano. Importa a força da evidência que está por trás. Ensaio clínico randomizado está acima dos outros níveis de evidência. Ele cita dois. O Look Ahead que foi encerrado por futilidade – ou seja, não adiantava continuar porque já tinha se visto que a dieta de baixa gordura não trazia nenhum benefício. E o PREDIMED, que também citei no meu blog, que é o ensaio clínico que comparou uma dieta de baixa gordura versus dieta mediterrânea com mais gordura; ele foi encerrado antes porque o grupo da baixa gordura estava morrendo 30% mais do que o grupo que comia mais gordura na forma de azeite de oliva e nozes. Hoje, 2016, não se discute mais isso. Os ensaios clínicos randomizados provaram isso. Dieta de baixa gordura é o pior tipo de dieta que você pode fazer. É um belo tapa de luva. Mas mudar a cabeça das pessoas é muito difícil. Hoje eu fiquei sabendo de uma colega nutricionista que recebeu uma carta do Conselho Regional de Nutrição falando que ela tem 1 semana para se explicar sobre coisas que ela falou na mídia e que vão na linha do que estamos falando agora. Agora ela tem que se defender perante uma acusação do Conselho Regional de Nutrição. Ela está sujeita a ações disciplinares. Eu conversei com ela e disse que acho que ela deve responder mostrando todos esses estudos. Contra esses estudos não há argumento. Se alguém quiser dizer que uma dieta de baixa gordura é melhor do que uma dieta com mais gordura, vai ter que ir lá nos autores do PREDIMED, no New England Journal of Medicine onde foi publicado esse estudo para falar que eles estão errados. Esse foi um estudo com milhares de pacientes, prospectivo e randomizado. Alguém aqui no Brasil fez um estudo com milhares de pacientes, prospectivo e randomizado provando o contrário? Claro que não! Chega uma hora que a simples cabeça dura não pode estar acima do que o que a ciência com o melhor nível de evidência nos diz. Fiquei sabendo disso logo antes de gravarmos o podcast. É uma coisa que me deixa louco. A pessoa não foi na televisão falar sobre uma pílula emagrecedora para perder 10 quilos. Ela não estava fazendo picaretagem. Ela não estava vendendo óleo de cobra. Ela não estava mentindo. Ela estava citando aquilo que é amparado pelo mais alto nível de evidência científica que nós temos hoje em dia, que é isso que você acabou de ler, Rodrigo, escrito por um professor de Harvard. Mas ela vai ter que responder a um processo disciplinar com o risco de ser punida pelo Conselho Regional de Nutrição. Isso diz muito respeito do baixo nível intelectual das pessoas que estão nesse conselho.

Rodrigo Polesso: É ridículo. Eu fico revoltado com isso. Ela podia pedir para eles provarem o ponto deles. Nunca na história da humanidade foi provado que a alternativa está correta. Hoje em dia tem tanta resistência para a gente mostrar fatos que comprovam que o que está sendo feito agora está errado… No “Good Calories, Bad Calories” do Gary Taubes ele mostra exatamente como aconteceu. As primeiras diretrizes americanas alimentares foram baseadas em politicagem e em estudos extremamente fracos. Não teve ensaio randomizado nenhum com relação causal entre gordura e alimentação nenhuma… nada! Isso tudo foi aceito. Quanto mais você repete uma mentira, ela tem mais força para se tornar uma verdade. Há 40 anos viemos escutando esse tipo de coisa e isso se tornou uma verdade na mente de todos. Mas a “verdadeira verdade” que está tentando voltar precisa respeitar um padrão muito mais alto de evidência do que foi usado na época.

Dr. Souto: Eu acho que essa pegada no David Ludwig foi sensacional. Estão nos exigindo um nível de evidência mais alto do que já temos para propor o tipo de dieta que estamos propondo. Estamos propondo algo baseado em ensaios clínicos randomizados com milhares de pacientes. Mas as diretrizes vigentes são baseadas em nada. São baseadas em opinião e politicagem dos anos 70. Nosso nível de evidência é infinitamente superior às evidências existentes nos anos 70. Mas nós temos que ter um nível de evidência mais alto ainda do que nós já temos. Qual é o nível de evidência que baseia as diretrizes atuais? É um castelo de cartas. Por isso, o Dr. Stephen Nissen, chefe de cardiologia da Cleveland Clinic falou que as diretrizes nutricionais são uma “zona livre de evidências”. O nosso entrevistado da semana passada, o Dr. Jason Fung, disse que é uma “zona livre de lógica”. A nutrição virou uma zona livre de lógica. Se eu quiser ter um pensamento impermeável à evidência científica, eu posso me abrigar debaixo desse guarda-chuva da irracionalidade que se chama “diretrizes nutricionais vigentes”. É uma zona livre de evidência e livre de lógica.

Rodrigo Polesso: Podem colocar entre aspas essa frase e publicar no Facebook. Estamos lidando “somente” com nossa saúde.

Dr. Souto: Um pequeno detalhe.

Rodrigo Polesso: “Só” é a coisa mais importante. Vamos falar sobre o que comemos no almoço de ontem, Dr. Souto. Eu vou falar o que eu comi primeiro. É uma coisa que eu tinha visto sempre fora, na internet, mas nunca tinha achado no Brasil e nem da Europa. É uma coisa que chamamos de “Spaghetti Squash”. É uma abobrinha do tipo espaguete. Você coloca ela no micro-ondas e passa o garfo… ela fica como se fosse realmente espaguetes. É incrível. Achei isso aqui no Canadá. Eu tentei e é sensacional como funciona. Não sei se tem no Brasil ou não. Em vez de usar o espaguete de massa, eu usei o espaguete vindo dessa abóbora com um molho bolonhesa. Achei um molho de tomate muito bom que tem somente tomates e temperos. Além disso, coloquei carne moída, cebola e ervilhas. Postei umas fotos na página do Emagrecer de Vez. Ficou até bonito. Eu não sinto falta nenhuma de um macarrão tendo essa alternativa. Tenho certeza que existem outras alternativas low-carb e paleo para se fazer “espaguete” com alimentos verdadeiros.

Dr. Souto: Tem sim. Inclusive, essa abobrinha cumprida que encontramos para vender no Brasil… existe um apetrecho que serve justamente para cortar o espaguete da abobrinha. Você gira a ferramenta e ele vai cortando o espaguete da abobrinha. Tem ferramentas que cortam a abobrinha em fios. É só botar no Google “espaguete de abobrinha” e vocês verão várias formas de fazer isso. Às vezes o mais difícil é acertar o ponto para ela não ficar muito mole. Você tem que testar quanto tempo botar no micro-ondas ou quanto tempo ferver. Mas é uma bela alternativa.

Rodrigo Polesso: E você?

Dr. Souto: Daqui a pouco eu vou começar a repetir as coisas. Eu não como uma comida diferente a cada dia. Tem coisas que eu gosto e repito. Hoje eu comi mais uma vez um guacamole. Aí na América do Norte, todos conhecem guacamole porque todo mundo come comida mexicana. Aqui no Brasil, nem todos os ouvintes conhecem. Pesquisem guacamole no YouTube. Eu descobri que o Brasil é o único país do mundo que come abacate doce. No resto do mundo só se come abacate como os mexicanos comem, ou seja, abacate salgado. O guacamole nada mais é do que o abacate salgado esmagado misturado com tomate, cebola e temperos. Fica maravilhoso com salada. Eu comi meu guacamole com salada e comi um bife. Um simples bife. Esse foi meu almoço.

Rodrigo Polesso: O abacate é uma fruta tão versátil. Alta em gordura. Quando eu passei um tempo em Bali, na Indonésia, o pessoal tomava no café da manhã o suco de abacate com tangerina. Ele vinha com canudo e você tinha que se exercitar para conseguir puxar aquele suco, porque o abacate é pastoso. É muito nutritivo, dá muita saciedade, é gostoso e diferente. Se o pessoal pode fazer no liquidificador, por exemplo, o abacate com alguma fruta cítrica.

Dr. Souto: Existe o hábito no Brasil de se fazer a batida com abacate. Vitamina de abacate seria abacate, leite e açúcar. Só que daí sai fora da alimentação que nós propomos. Se for tomar de sobremesa, é só botar mais leite para ficar mais líquido e beber no copo. Então, dá para esmagar o abacate com um garfo e botar um pouco de limão. Você pode colocar um pouco de adoçante (quem quer ficar mais natural, escolha a stevia). Essa é uma alternativa para se consumir o abacate doce, sem botar muito leite ou açúcar.

Rodrigo Polesso: Semana que vem falaremos sobre adoçantes. É um assunto bastante interessante. Quero fazer um comentário final antes de fecharmos. Muito tem se falado sobre jejum intermitente no Brasil. Tem muita gente entendendo isso de forma errada e sensacionalizando essa prática que já existe há milhares de anos. É importante entender o porquê dessa prática ser adequada para reverter um quadro de grande peso, resistência à insulina, diabetes e etc, para colocar o corpo de volta no rumo da boa saúde. No podcast anterior, de número 11, está disponível em vídeo com legendas. Fizemos esse podcast com o médico canadense Dr. Jason Fung. Na minha opinião, ele é um das maiores autoridades nesse assunto no mundo de hoje. Falamos bastante sobre jejum intermitente. Recomendo que você veja ou escute esse podcast para tirar as dúvidas e entender melhor para fugir desse sensacionalismo. Quando surge algo novo, as pessoas falam tudo quanto é tipo de coisas, e a verdade fica distorcida. Aos que querem aplicar tudo isso com o objetivo de perder peso, eu recomendo que você dê uma olhada no programa Código Emagrecer de Vez, onde tudo foi estruturado passo a passo com três fases para se atingir a perda de peso. As bases do Código são a alimentação forte (combinação dos melhores pontos das dietas paleo e low-carb), o jejum intermitente e a densidade nutricional. Para entender melhor os benefícios do Código e saber como ele funciona, eu lhe convido a ir em CodigoEmagrecerDeVez.com.br. Com isso vamos finalizando o episódio de hoje. Acho que foi bastante útil e legal. Se você quer se tornar um Membro VIP da Tribo Forte, veja as vantagens que você terá ao se tornar um em TriboForte.com.br. Junte-se a esse movimento de saúde e estilo de vida que está crescendo cada vez mais e mudando o Brasil ao poucos. Com isso eu deixo meu abraço ao Dr. Souto. Obrigado novamente pelo seu tempo e nos falamos no próximo episódio na terça-feira que vem, quando falaremos sobre adoçantes.

Dr. Souto: Obrigado a todos e até a semana que vem.

Rodrigo Polesso: Até lá.

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Fonte: https://emagrecerdevez.com
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