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No Episódio De Hoje:
Neste episódio recheado passamos por 3 assuntos principais:
- A novela do arroz para diabetes tem um novo capítulo (decepcionante).
- Gluten-free é realmente ruim e perigoso? E o que é melhor ainda que gluten-free?
- Resultados preliminares de um mega estudo global que coloca os pingos nos “i”s.
- O que comemos na última refeição.
Espero que aproveite este episódio 🙂
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Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências do Episódio
Novo capítulo na novela do arroz como ajuda para diabetes tipo 2
Artigo: Dieta gluten-free aumenta risco de doenças
Mesmo artigo acima, mas na Veja.
Video de apresentação de resultados preliminares do estudo PURE
Vídeo quebrando o mito do SAL
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá para você que nos acompanha semanalmente no podcast oficial da Tribo Forte. Oi para você que não nos acompanha semanalmente – quem sabe você pode começar a fazer isso. Hoje estamos atingindo o episódio número 50. Foram 50 episódios gravados religiosamente todas as semanas. Falei que eu tinha esquecido de comemorar um ano no episódio 48, mas agora estamos comemorando o episódio 50. Foi uma coisa que pensamos em começar a pouco tempo atrás. Faz um pouco mais de um ano que começamos esse projeto. É muito legal olhar para trás e ver a trajetória que esse projeto tem seguido e a audiência que ele tem atingido. Eu estava falando hoje com o Dr. Souto antes de começar a gravar… Nunca sabemos exatamente o alcance que essas informações estão tendo. Às vezes falamos com um amigo que passa a mensagem… “Tal pessoa acompanha vocês”… “Minha mãe e minha sogra mudaram de vida”… O Dr. Souto também mencionou colegas médicos que acompanham. Nunca sabemos até onde a mensagem chega. Mas o importante é que ela está chegando em quem precisa ouvir e somos muito gratos por isso. Hoje o podcast estará bastante cheio. Têm vários assuntos que queremos cobrir. Novamente vamos mencionar o evento ao vivo, que é p Tribo Forte 2017. Ele ainda não está aberto para inscrição. Estou trabalhando nisso ainda. Tem muitos aspectos relacionados à organização do evento. Estou fazendo meu papel aqui tentando fechar o quebra-cabeça. Assim que eu tiver informações, avisarei vocês. Será 21 e 22 de outubro em São Paulo capital. É claro que eu avisarei primeiramente o pessoal que é parte da Tribo Forte. Isso é uma promessa. Eles têm a prioridade de saber antes. O pessoal que é membro da Tribo Forte tem condições promocionais. Vamos tocar principalmente nos seguintes assuntos. Num episódio passado mencionamos o absurdo da campanha do arroz inclusive nos hospitais de Porto Alegre, onde tinha aquele panfleto dizendo que o arroz ajuda no tratamento do diabetes. As mídias sociais foram à loucura por isso. Existiu uma réplica da organização sobre o que estava acontecendo e falaremos mais sobre isso. Depois falaremos também do que pode ser ainda melhor do que o glúten free. Será que o glúten free é danoso? Saíram algumas coisas na mídia dizendo que ele é danoso. O que pode ser ainda melhor que o glúten free? Falaremos mais sobre isso. Também falaremos sobre uma coleção de resultados interessantes e impactantes recém publicados em um estudo global. Falaremos sobre isso na parte final do podcast. Antes de partirmos para a pergunta da comunidade, deixe-me dar as boas-vindas ao Dr. Souto nesse episódio. Tudo bem, Dr. Souto?
Dr. Souto: Tudo bem! Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde aos ouvintes. Parabéns para todos nós episódio número 50.
Rodrigo Polesso: Meio século de podcast já!
Dr. Souto: Quase.
Rodrigo Polesso: A pergunta da comunidade hoje vem da Michelle Paula. Ela pergunta o seguinte: “Olá Rodrigo/Souto. Meu nome é Michelle e tenho problemas sérios no estômago. Pangastrite, hérnia de hiato, Esôfago de Barrett em decorrência de anos de refluxo. A dieta low carb pode ser considerada ideal para mim mesmo tendo esses problemas? Eu sei que a gordura não é mais a vilã da história, mas para pessoas saudáveis. No meu caso, o que acontece? A primeira indicação é cortar as gorduras para este quadro não evoluir. Se puderem me dar uma luz, agradeço muito, pois quero evitar a qualquer custo a piora do meu quadro.” Resumindo, ela tem problemas sérios no estômago e está preocupada com a dieta low carb, uma vez que a norma diz que o corte de gordura seria indicado nesse caso. Vou passar para o Dr. Souto dar o pitaco dele para ajudar a Michelle.”
Dr. Souto: Michelle, a situação é assim. Muito do que se orienta na medicina como medidas gerais (aquilo que não inclui medicação), vem mais da tradição. Quando alguém diz que está com febre, se sentindo mal, as pessoas dizem para tomar uma sopa quente, um chá quente e etc.. Não tem um ensaio clínico randomizado que comparou chá ou sopa quente versus água com gás. Isso são tradições culturais e variam de país para país e de cultura para cultura. Não tem nenhum estudo que eu conheça que tenha mostrado que gordura na dieta faz mal para gastrite ou que retirar os carboidratos faça mal para gastrite. Na realidade, o que existe é o seguinte… Existe um espírito do tempo (zeitgeist) de que gordura faz mal e que temos que comer pão integral e tal. Então, sempre que um médico não sabe o que dizer, ele vai dizer para não comer gordura.
Rodrigo Polesso: É o caminho de menor resistência.
Dr. Souto: “Todo mundo” sabe que gordura faz mal, não é isso? Então, se você tem problema de estômago, não coma gordura. Tem colite ulcerativa, não coma gordura. Tem doença de Crohn, não coma gordura. Tem gordura no fígado, não coma gordura. Esse é o default (padrão). Não precisa pensar. É como espirrar… dizer que gordura faz mal. Agora vamos ver o que temos mais próximo de ciência para responder essa pergunta. Nós comentamos alguns podcasts atrás de um estudo com 170 e poucas mulheres com sobrepeso e que todas tinham doença de refluxo gastresofágico. Provavelmente a maioria tinha hérnia de hiato, porque é uma coisa que costuma acompanhar a doença de refluxo gastresofágico. Elas tinhas refluxo, tinham obesidade, e foram tratadas com uma dieta low carb. Você deve lembrar desse estudo, né, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: Sim.
Dr. Souto: Quantos porcento das mulheres melhoraram? 100%! Qual é o problema dessa estudo? Ele é um estudo não controlado, ou seja, não tem um grupo controle. Para ser um estudo melhor, metade dessas mulheres deveriam ter feito uma dieta low carb…
Rodrigo Polesso: Mas foi 100%…
Dr. Souto: Mas foi 100%! Normalmente, nos estudos, o efeito placebo é em torno de 30%. Ou seja, em torno de um terço das pessoas melhora com qualquer coisa. Um terço dessas pessoas teria uma melhora no refluxo se elas comessem só camarão. Um terço das pessoas melhoram com qualquer coisa. Mas 100%… É um negócio incomum. Como vemos na prática clínica, nos consultórios, que há uma melhora, e esse não é o único estudo… Quem colocar no Pubmed “refluxo gastroesofágico” em inglês e low carbohydrate diet vai encontrar outros estudos-piloto mostrando a mesma coisa. O peso da literatura é justamente no sentido de que uma dieta low carb ajuda a eliminar o problema. Essa história de que seu médico falou que tem que tirar gordura… Isso não veio de um estudo. Ele falou isso porque essa é a posição default do seu médico para qualquer coisa. Se você perguntar, “O que devo comer para dor de cabeça?” Ele vai dizer, “Coma algo mais leve, nada de gordura.” Ele não leu isso em algum lugar. 100% do que você perguntar sobre dieta, ele vai dizer que tem que tirar a gordura. Esse é o padrão, é o default.
Rodrigo Polesso: Minha visão holística… Sempre gosto de olhar as coisas como um todo… Problemas no estômago não são algo normal. O corpo não quer ter esses problemas todos. É um problema de digestão provavelmente causado pela toxicidade da sua alimentação até então, quem sabe. Talvez sejam os alimentos processados, refinados, óleos vegetais, açúcares e etc.. Talvez tudo isso tenha colaborado para o desenvolvimento desse tipo de distúrbio. Por isso que a dieta low carb é associada a melhoras nesse sentido, já que você vai retirar todos esses alimentos que são tóxicos ao corpo. Eu prestaria bastante atenção à essa questão, porque você está com um problema digestivo, mas não aconteceu por espontânea vontade do estômago. Pode ser uma coisa que está agredindo o estômago há bastante tempo e talvez por isso você tenha desenvolvido tudo isso. Vale a pena olhar para seus hábitos até então. O primeiro tópico é a parte 2 da questão do arroz. Tivemos uma campanha de marketing do arroz que aconteceu bem recentemente em Porto Alegre. Colocaram nas mesas do refeitório do hospital uma mensagem bastante clara dizendo que o arroz ajuda na diabetes tipo 2. A gente falou que era um absurdo. Nada contra marketing, mas quando marketing é baseado em besteira e essa besteira acaba causando danos nas pessoas em longo prazo e curto prazo, isso é um perigo. Aí a questão é mais séria. Dr. Souto, o que aconteceu depois dessa publicação e depois da nossa reação, reação das mídias sociais. Qual é a continuação da história?
Dr. Souto: A gente acaba tendo um impacto maior do que imaginamos. Como você falou no início do podcast de hoje, volta e mia vimos alguém que fala que nos escuta. O blog, atualmente, graças a vocês que estão nos ouvindo, tem cerca de 1 milhão de visitas por mês. É muita coisa. Então, a notícia chegou ao IRGA (Instituo Rio-grandense do Arroz). E eles publicaram uma resposta. Essa resposta contém algumas pérolas. Eles disseram, “A partir de citações recentemente divulgadas em redes sociais que apontam o arroz como alimento não adequado para diabéticos, vimos por meio desta apresentar com base de estudo e artigos científicos que este cereal possui moderado índice glicêmico entre outras qualidades. Sempre que consumido em quantidades orientadas não agrava a condição do diabético.” Quando eu li isso, a primeira coisa que fui procurar foram os artigos científicos. Não tem! Nenhum! Eles colocaram “baseado em artigos científicos”, mas não tem nenhum. Aí eles colocaram, “O índice glicêmico é moderado.” Na realidade, não. Eu pergunto para você se determinada atriz é bonita e você diz que acha bonita. Eu digo que não acho. Isso é subjetivo. Mas o índice glicêmico do arroz não é subjetivo! Eu vou aceitar que existem diferentes estudos… Alguns mostram ele mais alto e outros mostram ele alto, porém não tão alto. Claro que se pegarmos espécies específicas de arroz pouco consumidas como arroz preto, o índice glicêmico pode ser um pouco menor, embora a quantidade de açúcar (glicose) continue grande. Mas vamos analisar essa frase: “Sempre que consumido em quantidades orientadas não agrava a condição do diabético.” Agora vou relembrar o que dizia a campanha do IRGA: “Arroz é saúde. Auxilia no tratamento do diabético.” Vamos tentar conciliar essas duas frases. Quando eu digo que algo consumido em quantidade não muito grande não agrava o problema, não estou dizendo que aquilo ajuda no problema. Estou dizendo que se eu não usar muito, não pioro o problema. A emenda ficou pior que o soneto.
Rodrigo Polesso: Eles estavam claramente promovendo o aumento do consumo com o marketing, o que não é o que eles disseram.
Dr. Souto: Exatamente. Na réplica viram que pisaram na bola, então quiseram mudar um pouco a linguagem: “Em quantidades apropriadas, de acordo com o que seu nutricionista diz, não vai agravar a condição.”
Rodrigo Polesso: O que é discutível também.
Dr. Souto: O que é discutível também. Mas se for uma colher de chá de arroz não vai agravar… Aí tem outro trecho que diz assim, “A ingestão dietética de carboidratos para pessoas com diabetes segue recomendações semelhantes às definidas para a população em geral.” Ou seja, o diabético deveria estar comendo a mesma coisa que os outros. “Respeitando concentrações entre 45 e 60% do requerimento energético.” Vamos traduzir para vocês. O que eles estão dizendo que é o diabético poderia consumir 60% da sua dieta em glicose. “Embora o carboidrato seja um importante preditor da glicemia pós-prandial…” Vou para nesse pedaço.
Rodrigo Polesso: Eles estão com desconexão cognitiva!
Dr. Souto: Completamente… Fuga de ideias. “Embora o carboidrato seja um importante preditor da glicemia pós-prandial…” Depois disso deveria vir que se carboidrato é o principal preditor da glicemia pós-prandial, devemos reduzir o carboidrato no diabético, porque ele tem um problema que se chama hiperglicemia pós-prandial.
Rodrigo Polesso: Pós-prandial é o movimento da glicose depois que você come.
Dr. Souto: Exato. “Os alimentos que contêm esse nutriente são também fontes importantes de energia, fibra, vitaminas e minerais, contribuindo ainda com a palatabilidade da dieta.” Rodrigo, me diz uma coisa… Tem algum outro elemento na dieta rico em energia mas que não piore a glicemia dos diabéticos? Você pode imaginar algum?
Rodrigo Polesso: Mais do que arroz branco? Acho que só 99,9% dos outros alimentos.
Dr. Souto: Quer energia? Por que não comer um frango, um pedaço de queijo, um ovo? Se o sujeito é diabético, essas coisas não vão elevar a glicose dele. Não vai faltar energia. Fibra… Rodrigo, tem algum alimento que tem mais fibra que o arroz e menos glicose do que o arroz?
Rodrigo Polesso: Começa com “vege”…
Dr. Souto: Vegetais? Quem sabe um aspargo…
Rodrigo Polesso: Estamos brincando… Mas a resposta desse pessoal, na minha opinião, foi uma piada, mas escrita de um jeito mais polido. Mas foi uma piada embasada em nada, na verdade.
Dr. Souto: Vitaminas e minerais… Rodrigo, quando você pensa em um alimento rico em vitaminas você pensa em arroz? Porque o arroz é muito nutritivo!
Rodrigo Polesso: Pessoal sabe que é praticamente só amido que tem lá dentro.
Dr. Souto: É praticamente só amido. O integral é um pouco melhor, mas continua estando muito longe na escala de densidade nutricional. Se eu quiser vitaminas e minerais, quem sabe vegetais? Quem sabe frutas de baixo índice glicêmico com as berries (morango, mirtilo, framboesa, amora)? São coisas que não vão aumentar muito a glicemia do diabético e têm vitaminas e minerais. E minerais têm na salada. “E contribuindo ainda com a palatabilidade da dieta.” Palatabilidade, ou seja, para a dieta ficar gostosa. Está bem, tem gente que gosta, tem gente que não gosta. Normalmente, as pessoas pensam no arroz como uma coisa de suporte. O arroz vai ser o veículo do molho, da carne, do estrogonofe. Vamos admitir que a pessoa adore arroz. Vamos admitir que a pessoa seja alérgica a camarão e adore camarão. Então eu devo dar camarão para ela? Não! Mas não contribuiria com a palatabilidade da dieta dela? Afinal, ela adora camarão.
Rodrigo Polesso: Nas quantidades orientadas não seria prejudicial?
Dr. Souto: Esse é um argumento canalha. Estamos falando de diabéticos. Por esse argumento, eu poderia dizer para eles comerem açúcar também. Vai elevar a glicose deles também (embora não tanto quanto arroz). Deixe eu repetir essa frase: O açúcar de mesa aumenta menos e menos rapidamente a glicemia de um diabético do que o arroz. O arroz é glicose pura. É amido puro. Enquanto que o açúcar de mesa (sacarose) tem 50% de frutose. Não que faça bem para a saúde, mas o efeito na glicemia não é tão grande. O índice glicêmico da sacarose é menor do que o índice glicêmico do que do arroz branco. Não precisa acreditar, é só conferir nas tabelas. Se eu posso dar arroz para as pessoas para melhorar a palatabilidade da dieta, sendo elas diabéticas, isso justificaria eu dar açúcar para os diabéticos para melhorar a palatabilidade da dieta. É um argumento canalha.
Rodrigo Polesso: Isso fecha a novela por enquanto. Não sei se terá continuação dessa novela, mas se tiver te manteremos atualizados. Acho que diferentes lados de uma coisa são sempre proveitosos para uma discussão. Mas que tenha pelo menos um resquício de embasamento científico para podermos falar em fatos e não somente em opinião.
Dr. Souto: Eu penso o seguinte… Bastaria eles dizerem, “Na realidade estamos tirando essa propaganda porque ela gerou polêmica. Ainda assim lembramos que o arroz é um alimento saudável, gostoso, combina bem com feijão.” Usar argumentos que possam ser usados para vender. É obviamente uma entidade que promove um determinado produto e está ali para vender o produto. Eu não tenho nada contra. Só não diga que é bom para o tratamento do diabético. Eles não disseram que “arroz em pequenas quantidades pode ser usado até por diabéticos.” Não, eles disseram que ajuda no tratamento do diabético.
Rodrigo Polesso: Por que eles vão querer comprar e promover para um grupo de pessoas que são diabéticos? Será que isso vai faze toda a diferença no resultado dessa campanha? Para que ter todo esse problema de ir no hospital e colocar essa informação na mesa? Será que é realmente necessário comprar essa briga? É uma coisa que eles têm que pensar na mesa deles. Dr. Souto, o segundo assunto também é polêmico. Vamos falar um pouco sobre a questão do glúten free. Saiu na mídia há dois dias atrás no Medical News Today e na Veja. Vou colocar todos os links para vocês no artigo do podcast.
Dr. Souto: Saiu no UOL, saiu no Terra…
Rodrigo Polesso: Em um monte de lugar. Vou ler o que a Veja colocou. O título é o seguinte: “Dieta sem glúten pode aumentar risco de doenças”. Se segurem na cadeira o pessoal que está acostumado a ouvir o oposto. Daí eles continuam. “De acordo com um novo estudo, quem segue o regime ‘gluten free‘ fica mais exposto a metais tóxicos, aumentando assim o risco de várias doenças, desde cardíacas a distúrbios no sistema nervoso. Concentrações duas vezes mais altas de arsênio nos exames de sangue e urina em relação aos que não seguiam a dieta. Já os níveis de mercúrio eram 70% maiores nas pessoas que estavam seguindo a dieta gluten free.” Tem várias coisas que podemos falar sobre esse assunto, Dr. Souto. Eu sei que você está explodindo de réplicas e quero começar ouvindo o que você tem para dizer sobre esse assunto.
Dr. Souto: Eu acho que falta um pouco de pensamento lógico nos jornalistas. Existe uma falácia lógica chamada falsa dicotomia. A falsa dicotomia é o seguinte. Se eu não vou comer pão… Estou evitando glúten e não vou comer pão… Então, quer dizer que vou comer muito arroz. Vou tentar aplicar essa lógica em algumas coisas parecidas para ver como que fica. Não vamos tirar o refrigerante da dieta das pessoas, porque senão elas beberão mais cachaça. Isso geraria a seguinte manchete: “Uma dieta livre de refrigerantes é ruim para sua saúde, pode levar ao alcoolismo e cirrose.”
Rodrigo Polesso: Mas explica o porquê do arroz, acho que o pessoal que não tem contato com o artigo não sabe.
Dr. Souto: O mesmo arroz que está sendo promovido como a oitava maravilha do mundo. Ele tende a concentrar níveis de alguns metais pesados presentes no solo. Ele é uma cultura altamente irrigada, então ele acaba acumulando um pouco de arsênio e mercúrio. Para pessoas que têm um consumo elevado de arroz, isso pode produzir um aumento dessas substâncias. O que esse estudo mostrou foi isso. Foi detectado a mais na urina… Arsênio e mercúrio. Qual é o problema? O problema é que quem faz uma dieta low carb ou paleo não come arroz. Essas pessoas estão evitando glúten, mas isso não vai aumentar o nível de arsênio no sangue. Quando deixamos de comer pão, isso não significa que tenhamos que comer arroz. Mas a pessoa que escreve é tão limitada que ela não se dá conta de que isso é uma falsa dicotomia. Então, o que eles estão querendo dizer, na realidade, é o seguinte. As pessoas que substituem o pão de verdade por pão sem glúten aumentam muito o consumo de arroz porque esses pães são feitos com farinha de arroz. Ninguém que está nos ouvindo aqui vai comer pão sem glúten feito com farinha de arroz. A manchete poderia ter sido feita assim: “Cuidado! Substituir glúten por arroz pode não ser a melhor opção. Prefira peixes, aves, carnes, ovos e vegetais.” “Cuidado! Não pense que você está livre de problemas se você tirar o glúten mas colocar no seu lugar alimentos altamente processados feitos com arroz.” Essa seria a manchete real. Mas a manchete que saiu no UOL foi a melhor de todas: “Dieta sem glúten favorece contaminação por arsênio e eleva risco de doenças.” Esse seria o primeiro ponto de lógica elementar. Como tirar algo da dieta acrescenta algo no seu corpo? Em função de deixar de comer algo, arsênio vai se acumular no meu corpo. “E eleva o risco de doenças.” O que eles estão argumentando é que comer arroz demais eleva o risco de doenças. Essa é a manchete. Eu fui atrás do estudo original.
Rodrigo Polesso: Qual é o tamanho do estudo que causou todo esse rebuliço?
Dr. Souto: É um estudo com 7471 indivíduos…
Rodrigo Polesso: Esse não, continua…
Dr. Souto: Não vou um estudo prospectivo randomizado, nada disso. Eles pegaram de um banco de dados de questionários de dietas que eles aplicam nos Estados Unidos. Eles pegaram 7471 indivíduos e perguntaram quantos deles não comiam glúten. 73 foi a resposta. Agora tem um detalhe interessante. A Veja diz que cerca de 30% das pessoas hoje em dia não está comendo glúten. Mas 73 de 7400 não é 1%? A Veja diz que um terço das pessoas está evitando glúten e que isso significa que um monte de gente estará contaminada com arsênio. Mas, na verdade, o estudo mostra que 1% das pessoas está evitando glúten. Nessas 73 tinham níveis de mercúrio maiores no sangue e com o dobro de níveis de arsênio na urina. É um estudo baseado em questionários, baseado em 73 pessoas… Que mostra que comer muito arroz talvez não seja o ideal. Isso não tem lhufas a ver com glúten. Se comer menos arroz é o ideal, vamos comer menos arroz.
Rodrigo Polesso: Outro ponto a se considerar é o nível de toxicidade do sangue. Eu não cheguei a olhar se o nível que as pessoas têm no sangue são comprovadamente tóxicos.
Dr. Souto: Não cheguei a olhar. Mas com certeza são níveis aceitáveis. Temos populações mundo afora (no Japão) que comem muito arroz e não estão sofrendo com intoxicações de arsênio e mercúrio.
Rodrigo Polesso: Em muitas regiões do mundo na própria água do solo tem concentrações de arsênio também. Não é só no arroz.
Dr. Souto: O fascinante dessa história é o seguinte. Se não tivesse glúten envolvido no assunto, isso não teria virado notícia nunca. Seria um pequeno estudo observacional de 73 pessoas sugerindo que o consumo excessivo de arroz possa estar associado com o aumento de arsênio. Isso é um negócio sabido, diga-se de passagem. Eu já li isso umas 10 vezes nos últimos 4 anos… Que comer arroz demais possa estar associado com arsênio. Quem acompanha o site do cara do Perfect Health Diet… Ele sugere que as pessoas devem comer um pouco mais de amido, mas amidos seguros… E que um dos amidos seguros é o arroz. E o pessoal está sempre debatendo com ele na internet falando que o arroz não é seguro por causa do arsênio. Então, isso aqui não é nenhuma novidade. Para quem estuda dieta e alimentação, isso já é sabido há anos. Mas como enfiaram glúten no título do artigo, o troço virou um sucesso internacional de manchetes ridículas nas quais se diz que retirar o glúten da dieta vai lhe causar doenças. Não! O estudo está dizendo que, talvez, comer muito arroz (ou coisas derivadas de arroz) vai aumentar seus níveis de arsênio. No estudo original eles não tiveram condições de ver se isso causará doenças ou não. Eles só queriam ver se aumentaria o arsênio. O pessoal está atento com qualquer coisa que mostre que a retirada de glúten seja uma coisa ruim para colocar como manchete. No entanto, a mesma imprensa foi extremamente rápida em publicar a campanha dizendo que o arroz era maravilhoso. Então, eu pergunto para o jornal aqui da cidade: afinal, ele é bom ou ruim? Depende da semana. Na outra semana ele era bom e maravilhoso. Vou ler as quatro placas. “Arroz é saúde. Não contém glúten.” Essa é a primeira placa. Essa placa mostra que realmente tem gente comendo arroz porque ele não tem glúten e o estudo está mostrando que comer arroz pode ser ainda pior. Será que tem alguma opção do tipo não comer nenhum dos dois?
Rodrigo Polesso: Existe.
Dr. Souto: Se chama low carb. Alimentação forte.
Rodrigo Polesso: Leia as outras placas para nós.
Dr. Souto: “Previne doenças do coração.” Falaremos sobre isso no próximo tópico. “Auxilia no tratamento da diabetes.” Esse aí fez meu sangue ferver, não aguentei, tive que escrever. “Livre de gordura trans.” Livre de gordura trans assim como tudo na natureza. Gordura trans só existe em alimentos processados. Existem gorduras trans naturalmente nos laticínios, mas são saudáveis, que é o acido linoleico conjugado (CLA). Mas as gorduras trans artificiais, que fazem mal… São artificiais e não existem no arroz, mas também não existem no feijão, na abóbora, na carne, no bife, na salada. Essa campanha tem quatro placas e todas elas são péssimas. Uma fala uma coisa ridícula… É a mesma coisa que pegar uma garrafa de água mineral e dizer que não tem gordura trans. A outra diz que ajuda no tratamento de diabetes, o que é um insulto. A outra diz que previne doenças do coração, mas vamos tratar no próximo tópico sobre como os carboidratos afetam o risco de doenças cardíacas. Por fim, não contém glúten – ou seja, é um estimulo para que as pessoas consomam mais arroz no lugar do glúten. O próprio jornal que noticiou a campanha do arroz agora noticia que não se deve comer arroz no lugar do glúten por causa do arsênio.
Rodrigo Polesso: Tem muita coisa errada. O problema é que o glúten hoje é uma buzzword. A indústria do glúten nos Estados Unidos já passa de 16 bilhões de dólares por ano. Você começa a ver bastante coisa glúten free no mercado. Mas é claro que o pessoal que produz alimentos com glúten não vai ficar quieto sentado esperando. Tem esse lado também. Mas o lado do glúten free também tem força de briga. Se você usar glúten free numa manchete, vai chamar mais atenção. Não estamos falando de low carb, paleo, nem alimentação forte. Estamos falando de pessoas que decidem retirar o glúten. Hoje as pessoas acham que o glúten é a raiz de todos os males do universo. Aí tudo o que não tem glúten acaba sendo saudável, o que sabemos que é longe de ser verdade. A indústria segue essa tendência. A indústria entrega o que o pessoal procura. Então, você acha muitas versões de alimentos que contêm glúten, mas sem glúten – porém, igualmente processado e refinado. É o caso do arroz para fazer pães, biscoitos e etc.. É tão refinado quanto o bendito do trigo. As pessoas acabam refinando um produto processado, refinado e feito de glúten por outro refinado e processado, mas sem glúten. O que pode ser melhor do que o glúten free? É o “processados e refinados free”. É o que falamos aqui desde sempre!
Dr. Souto: Para aquelas pessoas que não são celíacas e para aquelas pessoas que não tem intolerância não celíaca ao glúten, tanto faz tirar o glúten ou não. O que acontece é que quando a pessoa tira alimentos altamente processados e tira os carboidratos refinados, ela automaticamente está tirando o glúten também. Eu concordo plenamente, Rodrigo. Falar em glúten virou uma coisa da moda. É preferível, para quem quiser ser levado a sério nesse nosso campo, não ficar enfatizando o glúten. Até porque o glúten cai fora naturalmente das opções alimentares que estamos fazendo. Se falarmos somente no glúten, isso acaba levando a esse tipo de equívoco. Esses dias eu entrei numa farmácia aqui em Porto Alegre, que é única onde eu encontro fitas de medir cetose. Eu fui lá para comprar as fitas porque de vez em quando eu gosto de testar e fazer umas experiências. Como ela é uma farmácia especializada em diabetes, ela tem uma série de produtos light e diet horrorosos cheio de maltodextrina e coisas que viram açúcar no sangue. E também toda uma parede dela é de coisas glúten free. É inacreditável. É biscoito recheado, cream cracker, bolacha Maria… Aquilo sem glúten. Essas pessoas que comem esse tipo de coisa podem realmente estar aumentando a quantidade de arsênio ou mercúrio, mas isso não tem absolutamente nada a ver com eu, você e as pessoas que estão nos ouvindo. O pessoal foi lá no blog e começou a me mandar essa manchete. Acho que o pessoal lê a manchete e já fica com medo. Ou então os “amigos” começam a mandar para a pessoa no Facebook: “Essa sua dieta louca vai te deixar com câncer, arsênio e insuficiência renal.” O estudo não é sobre glúten. O estudo é sobre o efeito dos alimentos altamente processados utilizados por pessoas que estão evitando glúten, mas não têm noção. O estudo sugere que não comamos alimentos altamente processados feitos a partir de farinha de arroz. É só isso.
Rodrigo Polesso: Nós compartilhamos muita informação, pois realmente queremos dar às pessoas o poder de elas avaliarem isso por si só. Se um amigo seu te falar que você vai morrer do coração por isso, você não precisa que outra pessoa venha dar benção sobre o que você está fazendo. Você terá desenvolvido uma noção cética e inteligente. Você saberá analisar além daquela manchete para poder rebater também. É para isso que passamos essas informações para você. É claro que se você não tiver tempo de fazer tudo isso, você pode vir aqui nos ouvir todas as semanas. Faremos esse trabalho por você. É por isso que é importante informações e não somente tirar conclusões e mudar decisões se baseando-se em manchete de revistas. Cada vemos que esse tipo de coisa não tem base.
Dr. Souto: Eu acho que o podcast não vai terminar nunca. Se depender de manchetes absurdas e notícias relatadas sem senso crítico, sempre terá assunto.
Rodrigo Polesso: Isso é uma notícia boa. Antes de partirmos para o terceiro assunto, sobre resultados bastante notórios publicamos por uma pessoa bastante notória também, mas vamos falar sobre o que comemos no almoço. Eu vou falar o que eu comi no almoço e o Dr. Souto fala em seguida. Eu tive que comer fora ontem, então procurei um restaurante que fosse um grill. Eu peguei um bife. Eu pedi para o garçom substituir purê de batatas e batata frita por uma porção dupla de legumes. Na verdade, ele perguntou “você não quer batata mesmo?” Eu falei que não. No evento em São Paulo eu mencionei que eu pedi um café sem açúcar e a mulher estranhou: “Você é fumante que tem mania de tomar café sem açúcar?” Eu disse, “Mania tem você de tomar café com açúcar.” É muito fácil substituir alimentos no restaurante hoje em dia. Comi uma carne bem feita com uma porção dupla de legumes. Estava feito meu almoço, sem risco, tranquilo.
Dr. Souto: Hoje eu almocei de novo no hospital que tem um restaurante bom. Eu comi bastante salada mista. Depois me servi de uns lombinhos de porco. Tinha um molho com gosto de laranja. Mas não chegava ser doce. Estava muito gostoso. Eu comi mais pedaço. Depois comi um pedaço de frango. Almocei bem. Estou até agora com aquela comida no estômago. Já são umas 5 e tantas da tarde. Isso caracteriza o tipo de alimentação que te mantém sem fome. Se eu tivesse comido um arroz com um pouco de arsênio, provavelmente eu não estaria com saciedade que estou agora. Então hoje foi lombo de porco.
Rodrigo Polesso: Quem trouxe o nosso terceiro assunto foi o Dr. Salim Yusuf. O Dr. Souto pode falar um pouco mais sobre porque ele é uma pessoa mundialmente notória na área da saúde. Ele fez isso numa reunião de atualização de cardiologistas na Suíça. Ele foi no pódio mostrar isso tudo. Tem um vídeo no YouTube. Dr. Souto disse que tem alguém que vai traduzir e colocar a legenda. Vamos colocar o link para vocês com legenda. Vamos falar alguns highlights do que aconteceu. Ele foi uma pessoa bastante enfática ao apresentar esses resultados. Eles são basicamente frutos de um estudo chamado PURE. É um estudo global feito com 17 países. Até agora teve 150 mil participantes para essa amostragem preliminar. Aparentemente eles estão seguindo mais de 850 mil participantes, o que é um número abismal. Basicamente, a mensagem dele foi o seguinte. É um estudo prospectivo, não podemos nos esquecer disto. Mas têm alguns resultados interessantes de serem notados por causa do tamanho e também por causa das posições geográficas diferentes. Ele foi bastante enfático na relação entre carboidratos (principalmente) e doenças cardiovasculares. Ele mostrou claramente uma tendência basicamente linear entre quantidade de carboidratos na dieta e aumento de doenças cardiovasculares. E também uma relação inversa entre o total de gordura ingerida na dieta e a quantidade de doenças cardiovasculares. Ou seja, mais gordura, menos doença. Mais carboidrato, mais doença… Em uma tendência basicamente linear, o que é muito difícil de ser ver acontecendo de forma natural nesses estudos. O tipo de gordura que ele mencionou… Ele mostrou claramente que a associação entre gorduras saturadas e problemas cardiovasculares… Problemas cardiovasculares é um desfecho duro… Não estamos falando em colesterol necessariamente, mas sim em problemas cardíacos. Então, todas as associações até agora são a respeito disso. A associação de gorduras saturadas foi na área de benefício de saúde cardíaca. As monoinsaturadas, que todo mundo fala que faz bem, foram benéficas também. Os PUFAs (poliinsaturados) apareceu como neutro nesses dados preliminares até agora. Dr. Souto, vamos falar sobre essa questão do cardiovascular com o consumo de carboidratos e gorduras. Por que isso é importante? E por que essa pessoal especificamente é importante da gente mencionar? Qual é o impacto que essa pessoa tem ao mostrar esse tipo de informação?
Dr. Souto: Quando eu assisti esse vídeo, eu quase caí da cadeira. Não é o Souto falando numa palestra para fãs de low carb. Não é um simpósio de low carb nos Estados Unidos ou Europa. Não, é um simpósio importante em Davos, na Suíça, de cardiologistas. Esse Dr. Salim Yusuf é um cardiologista da McMaster University, do Canadá. Ele é o líder desse grande estudo epidemiológico. Um estudo com 150 mil participantes de 17 países. Eles tiveram o cuidado de distribuir entre países de renda baixa, média e alta – para não ser só a Europa e Estados Unidos. É um estudo epidemiológico muito bem feito. Vamos deixar claro bem do início, porque a gente sempre fala dos outros estudos. Ele é um estudo epidemiológico. Ele não é um estudo prospectivo randomizado.
Rodrigo Polesso: Só que é muito grande.
Dr. Souto: É muito grande. Eu já falei isso algumas vezes aqui, mas não custa reforçar. Quando um estudo epidemiológico mostra que existe uma associação entre duas variáveis… Por exemplo, estudos da Harvard dizem que gordura saturada está associada com doença cardíaca… Isso não prova que gordura saturada está associada com doença cardíaca porque estudo epidemiológicos não podem estabelecer causa e efeito. Mas quando um estudo epidemiológico mostra não haver associação ou haver uma associação inversa, isso é muito significativo no sentido de dizer que, provavelmente, não exista a relação de causa e efeito. Vou dar um exemplo. No momento em que o estudo mostra que quanto mais gordura na dieta se consome, menos doença cardíaca se tem (que é o que esse estudo mostrou), isso não prova que a gordura vai evitar que você tenha doença cardíaca. Mas isso prova, de certa forma, que a gordura não causa doença cardíaca. Deu para entender? Algo não pode causar alguma coisa e ao mesmo tempo não estar associado a esta coisa. Se uma coisa é causa de outra, ela também tem que estar associada a esta outra coisa. Então, o estudo epidemiológico ele é realmente não quando mostra uma associação. Ele é importante quando ele mostra que uma associação não é válida – que é o que esse estudo mostrou! Vou recapitular o que o Rodrigo falou. É muito importante e tem que sedimentar. Quanto mais carboidratos se consome nessas 150 mil pessoas acompanhadas de forma prospectiva já por 9 anos, mais doença cardiovascular tem. Quanto mais gordura em geral se consome, menos doença cardiovascular tem.
Rodrigo Polesso: Porque normalmente é um pouco menos carboidrato também, as coisas são meio interligadas.
Dr. Souto: Exatamente. A impressão que eu tenho vendo os dados é você tem toda razão, Rodrigo. A gordura é neutra. Não é que a gordura vai te salvar da doença cardíaca. É que as pessoas que comem mais gordura na dieta são as que comem menos carboidrato. Carboidrato não é neutro. O carboidrato realmente está associado com o desenvolvimento de síndrome metabólica e diabetes. Outra coisa muito interessante que o estudo mostrou é aquilo que nós já abordamos aqui… É que quanto menos sal melhor é uma coisa que não se sustenta. Existe uma faixa de sal adequada que seria em torno de 5 gramas de sódio. Gramas de sódio dá mais do que sal.
Rodrigo Polesso: É praticamente o dobro.
Dr. Souto: Exato. Então, aquele valor que a Organização Mundial da Saúde diz para ser menos de 2,3 gramas… Ou que a Associação Americana de Cardiologia diz que é menos de 1,5 grama (que é uma coisa ridícula e bisonha)… Isso está associado com o aumento da mortalidade. Não é neutro. É pior.
Rodrigo Polesso: É um aumento grande. O gráfico significante.
Dr. Souto: O Rodrigo conversou comigo antes sobre isso. O fascinante é a ênfase com a qual o Dr. Yusuf apresentou esses dados. Ele chegava e dizia, “Nós temos basicamente um gráfico que mostra que quando começa a aumentar acima de 40% a quantidade de carboidratos na dieta das pessoas, aumenta de forma acelerada a mortalidade. As orientações da Organização Mundial da Saúde e da Associação Americana de Cardiologia falam para as pessoas consumirem até 70% de carboidratos. E isto está completamente errado!” Ele fala as palavras nestes termos. A mesma coisa no sal… Ele diz assim, “A orientação de restringir abaixo de 3 ou abaixo de 1,5 grama de sódio está completamente errada.” Ele ainda comenta o seguinte… Nas pessoas que são hipertensas, a restrição de sódio, em algumas delas, pode realmente produzir melhora e redução da pressão. Já nas pessoas que não são hipertensas, a restrição do sódio pode produzir inclusive piora dos parâmetros de saúde. Então, qual é o sentido de orientar toda a população a restringir o sódio? Já que isso beneficia uma pequena porção dos hipertensos e prejudica os não hipertensos (que é um grupo muito maior).
Rodrigo Polesso: Eles viram que o sal aumenta a pressão sanguínea… Isso é fato, de fato aumenta. Mas não estamos interessados somente nisso. Estamos interessados em problemas cardíacos e risco de morte por causa disso. O pessoal deu esse pulo em nível global… “Aumenta a pressão sanguínea, logo, não coma sal porque irá causar problemas cardíacos.”
Dr. Souto: Agora vou fazer uma pergunta para todo mundo ficar pensando. Já que o pessoal gosta tanto de partir de hipóteses para estabelecer diretrizes… Já que comer sal aumenta um pouco a pressão… Então, vamos diminuir o sal. Já que comer arroz aumenta a glicemia… por que a diretriz não recomenda tirar o arroz do diabético?
Rodrigo Polesso: Pois é! Nem nisso eles são consistentes. Nem em erros eles são consistentes.
Dr. Souto: Basicamente, o que acontece é o seguinte: eles não se baseiam em ciência, em desfecho concreto, em ensaio clínico randomizado. O pessoal se baseia o que em inglês nós chamamos de gut feeling (ou hunches). O sujeito pensa assim, “Eu sei que gordura faz mal. Tem que fazer. Todo mundo sabe que faz mal. É obrigatório que faça mal.” Comer arroz e carboidratos refinados aumenta a glicemia. Mas se a pessoa for tirar essas coisas da dieta, ela vai comer mais gordura. Como eu “sei” que gordura faz mal, eu ignoro todos os estudos, todos os ensaios clínicos e simplesmente escrevo, “Não comam gordura. Comam arroz e tomem insulina.” É a única forma de conciliar essas coisas que estamos falando. A história de retirar a gordura da dieta é porque os estudos mostram que comer mais gordura tende a aumentar o colesterol. Aí as pessoas imaginam que aumentar o colesterol vai aumentar a doença cardíaca. Esse é o enésimo estudo que mostra que não tem relação entre gordura na dieta e doença cardiovascular. Então, vem a pergunta… Não precisa de estudo… Qualquer pessoa que estiver nos ouvindo pode comprar um glucosímetro por 50 ou 60 reais numa farmácia… Coma um prato de arroz… Meça a glicose antes e depois e veja o que acontece. Aumenta, não aumenta? Então, numa doença como o diabetes que se caracteriza pela glicose alta, não bastaria tirar esses alimentos? Como pessoas inteligentes, que vão para uma universidade… Estudam… Fizeram um vestibular difícil… Como elas não se dão conta disso? É demais para mim, Rodrigo. Daqui há pouco precisarei tomar um chá.
Rodrigo Polesso: Ainda sobre a questão do sal… Na semana passada eu postei um vídeo no YouTube… Se você digitar no YouTube “o mito do sal emagrecer de vez”, você vai achar. Inclusive, fui ver as diretrizes brasileiras de recomendação de consumo de sal e elas estão, infelizmente, alinhadas com as da Organização Mundial da Saúde, que é um consumo extremamente baixo. Os estudos que eu mostrei lá eram ensaios clínicos randomizados sobre essa questão. Esse epidemiológico é basicamente um espelho do que eu mostrei lá. Imagine um “V” no gráfico… Mas a perna esquerda do V é um pouco mais alta do que a da direita – ou seja, comer menos sal do que você deveria está associado a mais problemas cardíacos e mortalidade do que o excesso de sal. O ponto do meio desse V seria o ponto ótimo, de 3 a 5 gramas de sódio. Mas o pessoal está recomendando menos de 2. Isso seria muito baixo. Vemos que isso ficaria na perna do V que está para cima, o dano maior do que um consumo excessivo de sódio. Então, é muito problemático. E isso está sendo disseminado para toda a população. Por que eu acho que o excesso de sal, nas pessoas normais (não hipertensas) pode estar relacionado a problema de saúde? Primeiramente, é muito difícil comer sal demais. Teríamos que nos forçar a comer. É muito difícil você no dia a dia, ao longo de anos e anos, comer sal demais para seu corpo. Mas como isso pode acontecer de forma mais fácil?
Dr. Souto: Alimentos processados.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Você não nota que tem sal ali no meio. Por isso que acho que o consumo excessivo… Nesses casos… As pessoas acabam facilitando o consumo excessivo por não perceberem o consumo de sal. Talvez nem seja o sal que esteja causando o problema, mas sim o que está dentro do sal, como os produtos processados, refinados, óleos vegetais e etc.
Dr. Souto: Acho que você acertou na mosca, Rodrigo. Os estudos mais modernos (e é o caso desse estudo do qual estamos comentando). Esse estudo PURE significa Prospective Urban and Rural Epidemiological Study (Estudo Epidemiológico Prospectivo Urbano e Rural). Eles tomaram o cuidado de irem em países ricos, países médios e países pobres. Eles também acompanharam pessoas que vivem nas cidades e em meio rural. Eles não querem que esses estudo tenha os vieses dos estudos epidemiológicos antigos. Esse estudo aferiu o sódio por amostras urinárias de sódio. Em vez de perguntar para as pessoas se elas comem muito sal ou pouco sal (o que é ridículo, já que ninguém sabe direito), eles aferiram na urina. Se a pessoa come muito sal, terá mais sal na urina. Acontece que muitas das pessoas que têm mais sódio na urina serão justamente as pessoas que comem mais batata frita, mais alimentos processados… Que tem um monte de sal para realçar o sabor. Imagine isso que o Rodrigo falou… Imagine se esse sódio a mais detectado na urina seja um marcador de um consumo excessivo de alimentos processados. Aí essas pessoas têm mais doenças talvez não pelo sódio e sim pelo consumo aumentado de alimentos processados. Vamos pegar um outro exemplo. É famoso… Todo mundo cita. Nessa palestra a qual nós estamos nos referindo o Dr. Yusuf cita o fato de que os índios Yanomami do Brasil têm uma das incidências mais baixas de hipertensão do mundo, mas eles também tem um consumo baixíssimo de sal. Eles têm um consumo baixíssimo de sal, mas também não consomem nada processado! Então, epidemiologia é sempre uma caixinha de surpresas cheia de armadilhas. Sempre uma coisa que acharmos ser causa de outra na realidade pode ser só um marcador de determinado outro hábito.
Rodrigo Polesso: Sim. A diretrizes fazem um controle racional de coisas que não deveriam ser feitas dessa forma, tal como o consumo de calorias. Não fomos feitos para controlar a quantidade energética dessa forma, nem o consumo de sal. Temos sensores nos nossos corpos que desde sempre dizem para a gente se precisamos de sal ou não. O pessoal que cria gado costuma pendurar um bloco de sal para a vaca dar uma lambida quanto eles precisam desses minerais. É a mesma coisa de dizer para a vaca que ela só pode dar uma lambida só. A vaca vai lamber quanto ela achar que o corpo dela precisa. Ela não vai exagerar, ficar lambendo e ter um problema cardíaco. Por que nas vacas não temos que controlar, mas nós, nos seres humanos, temos que controlar? Às vezes nossa intelectualidade… O senso comum… vai contra nós mesmos, o que é triste.
Dr. Souto: Enfim… Eu achei esse vídeo um grande progresso. Como isso é falado por um cardiologista de nível importante mundial… Como ele foi falado dentro de um simpósio de cardiologistas, eu estou copiando e mandando por WhatsApp para alguns colegas cardiologistas. Sugiro que os médicos que estão nos ouvindo mandem para os seus colegas médicos. Eu entendo, é falácia da autoridade. Mas quando está nos favorecendo, temos que usá-la. A falácia da autoridade é acreditar porque alguém famoso está falando. Não, temos que acreditar na força das evidências e do nível do estudo científico que está sendo usado. Mas se para convencer o colega cardiologista for mais fácil mostrar um vídeo de um outro colega cardiologista mais famoso do que ele… Está bem, vamos usar isso. Se for para a boa mudança, acho que temos que usar.
Rodrigo Polesso: Outra coisa que dá força para esse argumento também é que, apesar de ser um estudo prospectivo, sabemos que existem ensaios clínicos randomizados que corroboram a mensagem. Então, as duas coisas juntas acabam fortalecendo a nossa certeza de que estamos na direção certa. Dr. Souto, vamos fechar esse podcast de hoje. Ficou recheado. Espero que o pessoal ache útil. Por favor, passe adiante a palavra da Tribo Forte. Vejo o pessoal nas mídias sociais falando para escutarem o podcast. Já está no 50. Quem começar a ouvir hoje, tem 50 episódios pela frente. Nos ajude a disseminar isso. Ficamos bastante feliz com essa sua ajuda. Muito obrigado a todo mundo, pessoal. A gente se vê no próximo episódio, o 51. Dr. Souto, obrigado. A gente se vê na próxima semana.
Dr. Souto: Obrigado. Obrigado a todos. Até a próxima.