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No Episódio De Hoje:
Neste episódio falaremos de um assunto que ganhou grande atenção da mídia recentemente:
- Seguir uma dieta gluten free realmente aumenta o risco de diabetes tipo 2? Vamos ao fatos!
- Estudo mostra porque devemos duvidar de quase tudo que lemos por aí sobre estudos científicos e “novas descobertas”.
- O que comemos na última refeição.
Espero que aproveite este episódio 🙂
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Referências do Episódio
Gluten-free e diabetes na revista Exame
Gluten-free e diabetes na revista Veja
Estudo de Harvard sobre gluten-free e diabetes
Estudo mostrando reação autoimune mesmo em pessoas sem doença celíaca
Artigo no TheWeek sobre ceticismo em relação a mídia e estudos científicos
Estudo da Universidade de Bordeaux na França sobre ceticismo e estudo científicos na mídia
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olha, olha… Vou te dizer… Não sei quantas vezes alguém veio me falar do bendito novo estudo falando que tirar glúten da dieta aumenta o risco de diabetes tipo 2. Souto, para você também deve ter chovido esse link
Dr. Souto: Incrível. Não parou. Entra no meu email pessoal… Entra no meu WhatsApp e entra no blog a cada 5 minutos.
Rodrigo Polesso: Está chovendo esse aí. Todo mundo está passando para frente e agente vai cobrir isso hoje, pessoal. Muita gente estava esperando e mandando como sugestão. É claro que a gente tinha que cobrir isso aí – ainda mais porque ganhou tanta atenção na mídia. Então vamos chutar de novo esse cachorro morto. Muita gente que acompanha a gente já sabe. Você vai entender melhor porque esse cachorro já está morto. Além disso a gente vai ver outro estudo bastante bacana que foi publicado aqui. Veremos porque devemos ser um pouco mais céticos a respeito do que a gente lê nos jornais e revistas por aí, principalmente em relação a estudos científicos que eles reportam. É um assunto que casa exatamente com a ideia desse primeiro estudo sobre glúten e diabetes. Antes da gente começar direto, atenção! As portas estão abertas para os ingressos pro evento Tribo Forte Ao Vivo 2017, que acontecerá no final de semana dos dias 21 e 22 de outubro (sábado e domingo). Dois dias inteiros de palestras, painéis, perguntas e respostas, networking e etc. em São Paulo. Se o evento do ano passado foi um marco, esse evento será o dobro melhor. Ele terá o dobro do tamanho. O evento dobrou de tamanho. Reservei um auditório bastante bacana. Acho que vai colocar um novo marco na saúde brasileira. Como o lugar será bem grande, a gente está disponibilizando, pela primeira vez, um número limitado de ingressos VIP. Eles dão acesso a uma área privilegiada perto do palco. O evento do ano passado lotou rapidamente e muita gente, infelizmente, teve que ficar de fora. Se você quer nos encontrar lá durante esses dois dias de palestra, painéis, networking e etc., e ter acesso ao estado da arte sobre emagrecimento, alimentação, saúde e bem-estar, eu sugiro que você já garanta seu ingresso. Você ficará de mente tranquila sabendo que seu assento está lá, reservado. A gente se vê lá em outubro de novo. Tenho certeza que será sensacional. Para saber mais informações, ingressos e tudo mais, acesse TriboForte.com.br/AoVivo. Dr. Souto, tudo pronto e aquecido?
Dr. Souto: Tudo. Já estou babando para dissecar esse estudo. Vou confessar uma coisa para vocês. Eu tenho um prazer mórbido nisso. Eu não chego a ficar com raiva. Eu quase fico feliz. É uma oportunidade de a gente expor. No processo de expor o absurdo, quem sabe ensinar as pessoas a pensar de forma mais crítica. Eu acho que não deixa de ser uma ferramenta educacional.
Rodrigo Polesso: Exato. O desafio é equilibrar a felicidade e a raiva para tentar tirar uma coisa proveitosa disso tudo. Eu estava lendo o estudo. As manchetes e os artigos publicados na mídia não muito mais irritantes do que o próprio artigo original. A gente vai lutando contra a própria raiva, mas tentando lembrar sempre que estamos fazendo aquilo por um bem maior. Deixe-me te perguntar sobre o evento, Dr. Souto. Quais são suas expectativas para esse ano? Acha que vai aumentar mais essa bola de neve?
Dr. Souto: Eu acho que o evento só tem a crescer. Logo que terminou o evento no ano passado eu comentei, “O próximo ano vai ser no mínimo o dobro.” Havia muita gente querendo participar que não teve a oportunidade. Afinal, foi o primeiro que a gente realizou. A gente nem tinha como mensurar o tamanho da procura. Então, tenho altas expectativas.
Rodrigo Polesso: Legal. Esse ano quero ver se seu convido um pessoal para expor fora da sala também algumas coisas. Estou vendo bastante microempresas surgindo agora proporcionando facilidades do ramo de alimentos verdadeiramente naturais. Eu sempre falo, vote com seu real quando você for comprar um orgânico, uma carne de procedência. Por que não também apoiar essas microempresas que estão começando a surgir também. Você acaba provando algumas coisas interessantes que são naturais e realmente saudáveis. A ideia é ter esse encontro anualmente. É uma conferência para profissionais de saúde se atualizarem e se conectarem, fazendo networking. Também entusiastas de saúde. Pessoas que querem viver melhor, tendo acesso às melhores informações que temos do mundo da nutrição para implementar um estilo de vida saudável. Realmente se encontrar todos os anos para se atualizar e ter essa energia boa aí. Esse é o grande objetivo audacioso. Espero que a gente consiga. É um bom sinal que teremos o segundo evento esse ano. Estou bastante animado. Você terá sua paz mental de ter seu assento garantido. Acesse TriboForte.com.br/AoVivo. Primeiro tópico de hoje: o bendito estudo do glúten e da diabetes. Vou começar com uma introdução para abrir as portas para a nossa discussão. Daí a gente manda bala. Vou ler a manchete que saiu na Exame.
Dr. Souto: Depois vou ler a da Veja, porque está muito boa também.
Rodrigo Polesso: Vou ler as duas.
Dr. Souto: Estou com dificuldade me conter. Vou te ouvir.
Rodrigo Polesso: Essas duas manchetes acho que foram as melhores. A primeira da Exame diz o seguinte: “Estudo mostra que baixo consumo de glúten pode levar à diabetes. Na esperança de emagrecer, muitos entram na moda da dieta glúten free e diminuem o consumo dessa proteína. Um estudo, no entanto, mostra que as pessoas não deveriam parar de comer glúten se não são alérgicas a ele. Isso porque a proteína pode proteger o corpo de uma doença que afeta mais de 300 milhões de indivíduos no mundo: a diabetes tipo 2.” Aí a Veja vem com uma manchete que levanta mais a barra ainda: “O perigoso efeito colateral da dieta sem glúten: diabetes. O diabetes tipo 2 ocorre quando o organismo de uma pessoa torna-se resistente à insulina, o hormônio que controla os níveis de glicose no sangue e é uma das principais doenças da atualidade.” Ótimo, mas se formos pensar, o índice glicêmico do açúcar puro é de 65. No pão branco é 71. O pão integral, em média, é 71 também. O espaguete é 50 em média. Consideramos que nós não tomamos glúten em pó, concentrado, como suplemento, mas sim através de alimentos como pães e massas… A pergunta é… Independentemente de qualquer outra coisa… Comer glúten vai ajudar ou vai dificultar a luta contra diabetes se ele aumenta o exato problema que causa a doença? Vamos ver o que deu origem à informação toda. O estudo que deu origem, para variar… Esse monte de asneira surgiu porque, novamente, Harvard contra-atacou novamente. Dr. Souto, eles estão superando as nossas expectativas de frequência vindo asneiras mais seguidas.
Dr. Souto: Cada 6 meses é gordura saturada ou carne vermelha que vai te matar. Agora estou achando outras coisas entre esses 6 meses, como glúten, o arroz.
Rodrigo Polesso: Esse estudo foi publicado no dia 7 de março no jornal Circulation. Harvard resolveu novamente brincar com os números dos mesmos três estudos de coortes que eles têm, que é o Nurses’ Health Study 1 e 2 e o Health Professionals Follow-Up. São as mesmas bases de dados que eles têm há muito tempo. Eles sempre acabam aparecendo com um resultado novo dependendo da massagem que fazem com os dados lá. A conclusão do estudo eu vou traduzir simultaneamente aqui: “Os nossos achados sugerem que o consumo de glúten talvez não exerça um efeito adverso significante na incidência de diabetes tipo 2 ou no excesso de peso. Limitar o glúten da dieta é, portanto, improvável que irá facilitar a prevenção do diabetes tipo 2 e pode levar à redução do consumo de fibras cereais ou grãos integrais que, por sua vez, reduzem o diabetes.” No começo eles falam o seguinte: “Nós estimamos o consumo de glúten para fazer o estudo usando um questionário de frequência de alimentação coletado a cada 2 a 4 anos.” Se a NASA fosse gerenciada pela incrível precisão técnica de Harvard nesses estudos nós estaríamos tentando lançar um foguete para baixo com expectativa de chegar na Lua. Dr. Souto, manda bala.
Dr. Souto: Por onde começar? Vamos começar pelo mesmo lugar de sempre. Vamos estudar a linguagem da manchete, “O perigoso efeito colateral da dieta sem glúten: diabetes”. A manchete implica certeza. “Está definido que o grande e perigo efeito colateral de uma dieta sem glúten é diabetes.” Certamente o estudo para chegar nessa conclusão deve ter sido um experimento… No qual, ao retirar o glúten de voluntários, essas pessoas foram acompanhadas e desenvolveram diabetes. Não! Isso não foi feito. Olhe a linguagem da sub-manchete: “Estudo de Harvard mostrou que o consumo de mais de 12 gramas da proteína por dia reduz o risco da doença.” Sujeito “o consumo de mais de 12 gramas”… Reduz o risco da doença… Ou seja, a causa da redução na incidência de diabetes… É o fato de consumir mais… Se é causa e efeito, a única forma dessa manchete poder ter sido escrita é se eu tivesse 10 mil pessoas, 5 mil pessoas sorteadas para um grupo no qual eu reduzi o glúten da dieta, as outras foram orientadas a continuarem comendo seu pãozinho e ao final de vários anos de seguimento eu vi que aqueles que reduziram o glúten tiveram mais diabetes. Aí eu poderia dizer que Harvard mostrou que o consumo de mais de 12 gramas de glúten reduz o risco da doença. Mas esse estudo não foi feito! Ninguém foi orientado a comer mais ou menos glúten.
Rodrigo Polesso: E se alguém está começando a ouvir agora o podcast e não nos conhece vai se perguntar, “Então você pode explicar porque esse estudo de agora não mostra uma relação de causa e efeito?”
Dr. Souto: Perfeito. Ele é um estudo observacional. Ele não é um experimento. Ele não é um ensaio clínico randomizado. Estudos observacionais jamais podem implicar causa e efeito. Estudos observacionais sempre terão o problema das variáveis de confusão. Será que é o glúten que realmente está associado com uma redução do diabetes? Ou será que as pessoas que estão reduzindo o glúten são diferentes das demais e outros aspectos? Agora vou fazer aquela coisa socrática aqui. Vou extrair a informação do Rodrigo com perguntas. Rodrigo, quem é a típica pessoa que decide, depois de ler as revistas, tirar o glúten da dieta? Essa pessoa está fazendo isso por que, em geral? Não estou falando de celíacos. Estou falando de alguém que leu nas revistas, nas redes sociais… Por que ela quer fazer isso?
Rodrigo Polesso: Acho que ela quer dar um passo adiante na sua saúde. Ou reduzir o peso.
Dr. Souto: Reduzir o peso. Então, a maioria das pessoas que retiram o glúten da dieta estão buscando a redução de peso porque elas sabem que a Gwyneth Paltrow fez isso e é magrinha. Elas sabem que a Kim Kardashian fez isso e é magra. Então, elas ouviram falar sobre uma notícia de que uma dieta sem glúten emagrecer. E diga-se de passagem… Isso não procede. Na realidade, uma dieta de baixo carboidrato, com restrição dos carboidratos (especialmente dos refinados) produz perda de peso. Mas isso não tem a ver com o glúten. O glúten acaba saindo de uma dieta de baixo carboidrato porque como o Rodrigo falou, nós não comemos glúten puro em pó.
Rodrigo Polesso: Que nem Whey Protein.
Dr. Souto: Então, quando reduzimos o carboidratos, estamos automaticamente tirando o glúten também. Uma dieta baixo carboidrato não tem pão, não tem produtos de trigo.
Rodrigo Polesso: Então, uma pessoa que tira o glúten, na expectativa de perder peso provavelmente vai cair em contos de vigários, tomar shakes… E talvez se torne diabética mais fácil que outras.
Dr. Souto: Exatamente. O meu raciocínio é até mais simples. Se a pessoa está querendo perder peso, é provavelmente porque ela tem peso para perder. Evidentemente, quando eu separo uma população de 27 mil pessoas, naquelas que estão tentando retirar o glúten da dieta e nas que não estão, é evidente que eu estou separando as pessoas entre aquelas que têm problemas de peso e as que tendem a não ter tanto problema de peso. Então, pessoas que estão reduzindo o glúten na dieta… É um grupo de pessoas que, só por estarem acima do peso, elas já têm uma chance maior de desenvolver diabetes. É um marcador. É realmente isso que aconteceu nesse estudo? Eu não sei. O que eu estou dizendo também pode não estar certo. Ninguém sabe, porque é um estudo observacional. Rodrigo, estudos observacionais…
Rodrigo Polesso: Só podem levantar hipóteses.
Dr. Souto: Só podem levantar hipóteses. Não estabelece relação de causa e efeito. Primeiro, vou fazer mais uma observação. Esse estudo ainda não foi publicado na literatura peer review, que é a literatura médica revisada pelos pares. Ele foi apresentado como tema livre num congresso.
Rodrigo Polesso: Só que é Harvard.
Dr. Souto: É. Quando Harvard apresenta um tema livre num congresso, vira manchete no mundo. Especialmente se for algo que corrobora a visão vigente. Quem não é da área da ciência não tem noção do que eu estou dizendo. Um estudo só passa a fazer parte do arcabouço científico mundial…
Rodrigo Polesso: Arcabouço científico? Você poderia falar de novo essa expressão?
Dr. Souto: Ficou bonito, não é? Um estudo só passa a fazer parte do grande arcabouço científico mundial quando ele é publicado em um periódico médico; uma revista médica peer review. Uma revista na qual os pares daqueles cientistas revisaram para ver se não tem furos, se é aceitável para publicação. Esse estudo não passou por esse crivo. Ele foi apresentado como um tema livre. Normalmente, é o cara menos graduado do laboratório… Um pós-doutor… Não é um professor de Harvard. É o sujeito que eles designaram para cruzar esses dados no computador. O cara carregou o piano. Fez as contas, montou o estudo e ganha o privilégio de apresentar o tema livre numa das várias sessões de tema livre de um congresso. Mas como é Harvard… Como ele estava ali representando Harvard… Sempre tem um jornalista científico cuja função é pegar novidades que vão gerar cliques. O que poderia gerar mais cliques do que uma notícia como essa? “Uma dieta sem glúten vai te deixar diabético.” Eu gostaria muito de pegar as tabelas originais desse estudo e analisar e mostrar o óbvio. As pessoas que estão tentando reduzir o glúten devem ter um índice de massa corporal maior e etc. Mas eu não tenho acesso a isso. O estudo na sua íntegra não foi publicado. É um resumo que foi apresentado como um tema livre num congresso. Um estudo observacional, não é um ensaio clínico. Ele não pode estabelecer causa e efeito. E a manchete é, “Estudo Harvard mostrou que o consumo de mais de 12 gramas de proteína (glúten) por dia reduz o risco da doença.” Mas não mostrou nada disso. Mostrou a associação. Imagine que eu faça o seguinte estudo. Vou fazer um levantamento das pessoas que frequentam lojas que se especializam em tamanhos grandes. Vou pegar 10 mil pessoas que frequentam lojas que se especializam em tamanhos grandes e 10 mil pessoas que frequentam magazines normais, que não são especializadas em tamanhos grandes. Aí eu concluo que frequentar lojas especializadas em tamanhos grandes aumenta seu risco de diabetes. Se eu usar essa explicação causal… “Aumenta seu risco”… Alguém poderia concluir que para reduzir o diabete no Brasil é só fechar todas as lojas de tamanhos grandes.
Rodrigo Polesso: Se for seguir o raciocínio da Veja, você diria… Se você quer perder peso, frequente mais magazines não especializados em roupas de tamanho maior.
Dr. Souto: É importante entender isso. Algo pode ser apenas o marcador de uma coisa, e não sua causa. Pessoas que estão tentando perder peso é porque elas têm peso em excesso para perder. Isso é um fator de risco para diabetes… Ter peso a mais. Isso nós vemos nos estudos observacionais de refrigerantes dietéticos. As pessoas que consomem mais refrigerante dietético tendem a ser mais obesas. Isso não significa que o refrigerante dietético as deixou obesas. Isso significa que quem é bem magro normalmente não pensa nisso e toma com açúcar mesmo. É impressionante que alguém que escreve como jornalista de ciência… O cara tem que ter o mínimo de insight. Esse é o dia a dia dele.
Rodrigo Polesso: Exato. Muito mais gente lerá a manchete do que o artigo original. A mídia tem uma responsabilidade muito grande, ainda mais se você inferir causa e efeito como a Veja fez. Ela continua com outros erros: “A proteína de fato pode ser prejudicial ao organismo – mas, comprovadamente, apenas entre aqueles que sofrem de doença celíaca.” Interessante, a gente sabe que quem tem doença celíaca tem que tirar o glúten. Também sabemos da sensibilidade ao glúten que é não celíaca. Tem um estudo publicado em julho de 2016 no jornal Gut, que é parte do British Medical Journal. Ele conclui claramente o seguinte: “Esses achados revelam um estado de ativação sistêmica imunológica em conjunto com um tecido epitelial do intestino comprometido em indivíduos que tinham sensibilidade ao trigo e não eram celíacos ao mesmo tempo.” Então, as pessoas não eram celíacas, mas tinham basicamente os mesmos efeitos colaterais… Uma reação autoimune e um comprometimento da saúde epitelial do intestino por causa do consumo de trigo. Eu vi isso em vários artigos, Dr. Souto: “Se você não é celíaco, é ridículo eliminar glúten.” Não é bem assim. Celíaco precisa. Mas existe muita evidência por aí de que muita gente pode estar sofrendo sem saber… Não sendo celíaco. É irresponsável a Veja dizer que somente celíacos têm que pensar nisso.
Dr. Souto: Uma outra coisa que me preocupa é o seguinte. Quando Cabral e Pero Vaz de Caminha chegaram ao Brasil, eles devem ter encontrado um monte de diabéticos, não é? Afinal, nenhum índio no Brasil jamais tinha consumido glúten até a chegada dos europeus.
Rodrigo Polesso: A ausência de glúten causa a diabetes, segundo a revista.
Dr. Souto: Na realidade, é o contrário. Esses índios não tinham diabetes. Eles passaram a ter diabetes quando passaram a consumir a dieta do colonizador. Então, não entendo mais nada, Rodrigo. É muito ridículo em tantos aspectos… É tão grotesco, é tão bizarro.
Rodrigo Polesso: O mais bizarro é, no caso da Veja, se referir ao glúten como proteína e excluir todo o fato de que o glúten é uma pequena parte do todo, que é um carboidrato processado e refinado. Então, as pessoas falam, “É uma proteína, então não é tão mal. Proteína faz bem.” Não, você está comendo um monte de pão e está comendo um pouco de glúten, no caso. Como isso poderia te proteger contra diabetes? Aumenta o hormônio que causa a bendita da diabetes.
Dr. Souto: Outro detalhe interessante… Para aqueles que são da área da saúde… Para os médicos que estão nos ouvindo… Deem uma estudada nos Critérios de Bradford Hill. É o sujeito que estabeleceu uma série de critérios que a gente precisa usar para ver se existe alguma possibilidade de ter causa e efeito num estudo observacional. Um dos critérios de Bradford Hill é que o tamanho da associação… A magnitude do efeito observado tem que ser grande. Por exemplo, quando os estudos observacionais estabeleceram que o cigarro é causa de câncer de pulmão, um dos motivos para isso é que a magnitude do efeito é um aumento de 20 a 30 vezes na chance de ter câncer de pulmão entre quem fuma versus quem não fuma. Seria um aumento de 3 mil porcento… Enquanto que o tamanho da associação encontrada aqui foi 13%. Nenhum bioestatístico que se prese… Num estudo observacional com tanta possibilidade de variáveis de confusão levaria a sério essa magnitude de aumento como realmente algo que pudesse ter uma implicação causal, sabendo que existem variáveis de confusão gigantes, como a que eu acabei de citar. Outra coisa é que os autores dão a explicação deles para a coisa. Eles dizem que, “Se você para de comer glúten, você vai parar de comer fibras.” Afinal, a única fonte de fibra da dieta das pessoas é pão. “Então, é por causa da falta de fibra que as pessoas estão ficando diabéticas.” A primeira coisa que nossos ouvintes têm que entender é que isso é chute. Essa é, simplesmente, uma das infinitas hipóteses que podem explicar a associação. Tem tanta probabilidade de ser verdadeira como a que eu dei relativo às pessoas que tem peso a perder. Ninguém sabe porque não é um experimento. É observacional. Qualquer um pode dar opinião aqui e tem a mesma chance de estar errado. Segundo… Vamos realmente imaginar que seja isso. Por um momento eu vou dar um voto de confiança e dizer que as pessoas neste estudo – que largaram o glúten – só comiam macarrão, arroz, coisas processadas (doces) e que a única fibra que tinha era o pão, e agora não tem mais. Que interessa isso para quem está nos ouvindo e segue uma alimentação forte e low carb, e come um monte de vegetais? Mesmo que fosse verdade o que estão dizendo nesse artigo, isso não interessa para nós. Nós não somos pessoas que retiramos o pão da dieta e passamos a comprar pão sem glúten de farinha de arroz ou proteína isolada de soja. Na realidade, eu desafio as pessoas que comem a dieta tradicional padrão normal do brasileiro a comparar a quantidade de fibra da dieta dessas pessoas com a quantidade de fibra da dieta que nós estamos propondo. Se realmente a diferença é a fibra, então nós (eu, você, Rodrigo e a quase totalidade de quem nos escuta e segue o a que a gente prega aqui) estamos protegidíssimas contra diabetes, porque consumimos muito mais fibra. O que tem mais fibra? Brócolis, couve-flor, espinafre, couve… ou pão?
Rodrigo Polesso: Não precisa nem sem muito inteligente para deduzir.
Dr. Souto: Sim. A coisa está errada em tantos níveis, em tantas esferas. Ela é bizarra em tantos aspectos… No fundo eu tenho um certo prazer mórbido em ficar falando sobre isso. A gente fica com raiva, então fica com vontade de fazer o podcast. Mas ao mesmo é tão gostoso bater no estudo fraco.
Rodrigo Polesso: Pior do que uma pessoa errada é a pessoa errada e confiante no erro, que é o caso desses artigos. Eles acabam saindo na mídia porque eles não falam “eu acho, pode ser, talvez”. Eles falam “vai acontecer, é isso”. O segundo assunto entra de mãos dadas com esse assunto de balelas. É o ceticismo que a gente tem que ter quando está vendo esse tipo de coisa. É um estudo bastante bacana. Tem um artigo que foi postado no TheWeek.com, mas ele se refere a um estudo feito pela Universidade de Bordeaux na França. O título desse artigo que referenciou o estudo é o seguinte: “Porque você deve ser cético a respeito do que você lê sobre estudos científicos no jornal.” Nesse estudo eles avaliaram 4723 estudos e 306 metanálises. Eles também analisaram uma base de dados de revistas e jornais para avaliar a publicação… O eco da mídia desses artigos científicos. Eles falaram o seguinte: “Os jornalistas preferem cobrir os achados iniciais. Mas, normalmente, esses achados são contraditos pelas metanálises subsequentes. Raramente esses jornalistas que publicaram esses achados iniciais publicam a nulificação ou os achados subsequentes daquele mesmo estudo. Somente 48,7% dos 156 estudos reportados pelos jornais foram confirmados por metanálises correspondentes.” Ou seja, metade dos reportes da mídia sobre esses estudos estavam sumariamente errados. No evento Metabolic Therapeutics que eu fui na Flórida eu lembro do Richard Feinman. Ele falou o seguinte na palestra dele. Metade dos estudos estão errados. E 50% não podem ser replicados. Essa é a opinião dele. Não estamos falando nem da mídia. Estamos falando da qualidade dos estudos. Na opinião dele 50% estão errados e 50% não podem ser replicados. O artigo sobre estudo continua falando seguinte: “Se você publica um estudo num jornal de prestígio, isso aumenta consideravelmente as chances desse artigo ser coberto por um jornal, independentemente do tipo de associação ou quão novo ele é.” Foi exatamente o que aconteceu com Harvard. É Harvard, então não importa o tipo de associação. Não importa quão novo o assunto é. Se é Harvard eles têm uma chance bem maior de ser ecoados pela mídia. É interessante que esse estudo venha dizer isso. “A mídia propaga, em média, 13% dos estudos que acham uma associação positiva de algo, mas publica 0% dos estudos não acham nada, ou análises subsequentes que nulificam essas observações.” Tem um fenômeno que eles citaram como exemplo aqui. “Em 2013 um estudo que saiu na Science chamado ‘Como o estresse e a genética estão ligados à depressão’. Ele acabou gerando 50 manchetes em jornais ao redor do mundo e outros 9 artigos sobre dois estudos subsequentes daqueles que confirmaram os achados. Mas os jornais nunca cobriram os outros 11 estudos subsequentes que falharam ao replicar aquela mesma associação achada no estudo anterior.” Então, basicamente, 50 estudos foram disseminados pelo mundo. Um monte de pessoas absorveu aquilo achando que o estresse está geneticamente ligado com a depressão. Onze estudos depois de terem saído esse primeiro não conseguiram replicar a associação e ninguém disse para essas pessoas que aquilo que elas haviam aprendido antes estava errado. Então, novamente a importância do ceticismo inteligente. Coloque uma pulga atrás da orelha toda as vezes em que você ler qualquer coisa, seja direto um estudo científico… Que aí tem o problema da qualidade do estudo… Ou quando você lê na mídia por todas essas questões. Estamos num campo minado, praticamente.
Dr. Souto: Estávamos discutindo pelo WhatsApp esse artigo que o Rodrigo acabou de resumir quando saiu esse de Harvard. É o exemplo perfeito do que eles estão falando aqui. É o jornalista que tem uma ejaculação precoce e relata sem nenhuma crítica e instantaneamente o achado mais preliminar possível. Veja bem, pessoal. Nada pode ser tão preliminar como gerar manchetes internacionais a partir de um tema livre apresentado num congresso. Por que eles fazem isso? Porque tem o valor de ser o primeiro. Saiu primeiro na Associated Press, saiu na Time… A pressa e a necessidade de ser o primeiro faz com que o pessoal relate preferencialmente estudos positivos. “Positivos” no sentido de mostrar, por exemplo… Imagine que o estudo de Harvard mostrasse que comer ou não comer glúten parece ter nenhuma relação com ter ou não ter diabetes. Isso é um estudo negativo. Ele não encontrou nada. Isso não é manchete. “A pessoa saiu, não foi assaltada e voltou para casa”. Isso não é manchete. Se ela saiu e foi assassinada, é manchete. O jornalismo científico deveria enfatizar tantos os achados positivos quanto os negativos. Mas o positivo gera manchetes ridículas. Daqui um tempo, quando sair outras análises em outros bancos de dados e mostrarem que o glúten não tem nenhuma relação com diabetes, vocês não verão manchetes disso. Aí é um achado negativo. E achado negativo tende a não gerar manchetes. E o que eles estão chamando atenção também é o seguinte. Frequentemente o estudo positivo é preliminar, tem um tamanho de efeito maior do que é o efeito real. Depois, à media em que outros pesquisadores começam a se debruçar no assunto, eles descobrem que aquilo na realidade não existe. Então, as coisas tendem a ser revertidas. Se, em vez de ter essa ejaculação precoce jornalística o sujeito esperasse… “Olha, que interessante. Eles viram essa associação. Anote no caderno.” Daqui um ano, quando sair publicado na literatura peer review, no arcabouço científico, aí dá para se debruçar sobre os números, sobre as tabelas… E ver se realmente tem algum conteúdo… Se é que alguma revista peer review vai aceitar essa porcaria aqui.
Rodrigo Polesso: Espero que não.
Dr. Souto: Espero que não. Mas como é de Harvard, eu não duvido. Se Harvard publicar que cachorros vermelhos têm uma cor diferente do que cachorros de cores azuis, a revista publica. Mas quando sair publicado na literatura peer review, aí o sujeito pega, analisa aquilo e poderia fazer um negócio… “Um grande estudo observacional sugeriu que haja uma associação entre a redução do consumo de glúten na dieta e o aumento de incidência de diabetes.” Aí vai atrás de bioestatísticos, vai atrás de pessoas que pensem diferente para o pessoal fazer a crítica. Daqui há pouco alguém dirá o que eu disse, “Isso não estabelece causa e efeito. Isso poderia muito bem ser o fato de que pessoas que querem perder peso…” Faz um artigo decente! Mas se o cara fizer isso, outro com ejaculação mais precoce ainda goza antes.
Rodrigo Polesso: Que coisa obscena.
Dr. Souto: Mas é. Sou urologista, faz parte da minha especialidade. É uma competição de quem dispara a notícia antes do outro. Isso só pode gerar desatinos. Basicamente é isso. A gente pode sair do mundo da ciência. Isso acontece também, infelizmente, nas difamações que a imprensa faz sobre pessoas públicas. Quando eles publicam alguma coisa difamatória, relacionada a um ator ou político… Aí saem manchetes incríveis. Quando depois é provado que aquilo não era verdade, ninguém ouve falar. Ou sai uma notícia, mas é bem pequena. Em ciência a gente não pode ter essa coisa precoce. Tem que se devagar. Fica a dica.
Rodrigo Polesso: Como você falou… As pessoas que procuram o glúten free normalmente estão acima do peso e querem perder peso… É um marcador de pessoas. Como a própria Veja disse… Ela chamou o glúten free de moda. Uma pessoa que pula de moda em moda para tentar perder peso é um tipo de pessoa que está sofrendo com o ganho de peso e não está conseguindo perder peso. Provavelmente é uma pessoa que tem vício com açúcar, vício com pão, sobremesas e etc.
Dr. Souto: E inverte o raciocínio. Vamos pensar num grupo de 100 diabéticos. E vamos pegar um grupo de 100 pessoas não diabéticas. Não é evidente que é mais provável que naquele grupo de 100 diabéticos haja mais pessoas tentando cortar o glúten? É evidente que quem procurar essa associação vai achar, mesmo que ela não tenha nenhuma relação de causa e efeito. Obviamente, entre os diabéticos, terá um número maior de pessoas com excesso de peso, que vão estar tentando todo tipo de dieta para perder peso. Entre todos os tipos de dieta, está proeminente em 2017 e 2016 tentar seguir os passos das celebridades que alegam emagrecer depois de tirar o glúten. Como tudo na vida… Praticar um esporte… Tocar um instrumento… A gente vai melhorando com a prática. Quanto mais a gente estuda estudos científicos e procura furos, mais vai ficando óbvio. Quem viu Matrix sabe que tem aquelas letras indecifráveis verdes caindo no monitor. Daqui há pouco o cara entende, começa a ver, aquilo se torna óbvio para ele.
Rodrigo Polesso: Só você mesmo, Dr. Souto, que é nerd de Matrix.
Dr. Souto: E aqui estou sendo nerd de estudos observacionais. Eu boto o olho no negócio e para mim salta aos olhos as variáveis de confusão. Para mim elas são tão evidentes… Não digo que seja única, porque todos os estudos observacionais têm incontáveis variáveis de confusão. Mas essa aí é muito evidente e ela já destrói completamente o argumento.
Rodrigo Polesso: Está aí, pessoal. Está nossa análise. Completando com outro artigo para trazer mais uma pulga atrás da orelha sobre ceticismo inteligente. Para finalizarmos com o ânimo elevado, você lembra do que você degustou na última refeição, Doutor?
Dr. Souto: Estrogonofe de frango.
Rodrigo Polesso: Bueno. Só?
Dr. Souto: Uma salada e tal. Foi sem arroz, viu, Rodrigo? O arsênio… Eu costumo comer low carb. Para quem faz muita questão arroz, procure no YouTube por “arroz de couve-flor”. Grande pedida.
Rodrigo Polesso: Com certeza. Arroz de couve-flor é uma ótima pedida. Eu fiz talvez o prato indiano mais famoso do mundo chamado chicken tikka masala. Tem bastante nos Estados Unidos e Canadá. É saudável. O pessoal costuma comer com arroz. Ou com nam, que parece uma panqueca indiana. Não comi com isso. Comi só o molho de fato. Foi muito bom e uma salada do lado também.
Dr. Souto: Cuidado com o diabetes. Está evitando o glúten.
Rodrigo Polesso: Tenho que me preocupar. Uma vez eu fiz com o arroz de couve-flor que você falou. Você desembala a couve-flor, joga dentro do liquidificador e bate. Aquilo vira arroz. Faça com um pouco de manteiga para ficar um pouco mais mole… Você terá um substituto para arroz que é low carb e com um gosto muito bom. Tem opções de sobra. Só tome cuidado ao evitar o glúten para não ficar diabético. É isso aí, pessoal. Espero que tenha sido útil para vocês. Lembrando que se você quer ir no Evento Tribo Forte 2017… É em outubro, em São Paulo. Um fim de semana inteiro de palestras comigo, Dr. Souto e vários outros palestrantes. Entre em TriboForte.com.br/AoVivo. Garanta seu assento lá para não correr o risco de ficar de fora. Obrigado, Dr. Souto. Obrigado a todo mundo. A gente se vê no próximo episódio.
Dr. Souto: Obrigado. Até semana que vem.