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No Episódio De Hoje:

JN Pisa Na Bola e Quem Sofre é a População

Interpretações e extrapolações mal feitas e perigosas podem levar as pessoas a modificarem erroneamente seu estilo de vida e piorarem sua condição.

Em meio a tanta informação errada e lorotas, é bom manter em mente os FATOS.

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🙂

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Referências

Matéria no G1 Sobre o Estudo da Unicamp

Estudo da Unicamp

Estudo Sobre Diabetes Tipo 2 em Pessoas Obesas

 

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, boa tarde! Ou bom dia para você, ou boa noite, também. Vai saber quando você está escutando esse podcast, não é verdade? Eu sou o Rodrigo Polesso, você está escutando agora o podcast oficial da Tribo Forte. O podcast número 1 do Brasil em saúde, onde compartilhamos as verdades para te proteger, para te ajudar a viver o melhor estilo de vida saudável que você pode viver, na sua melhor forma e com a sua melhor saúde. Bom, o objetivo do podcast de hoje, que é o podcast número 91, é proteger você das balelas que são disseminadas aí como sendo verdades. Uma das coisas mais frustrantes e perigosas de se ver são pessoas mudando seus hábitos alimentares ao verem informações aparentemente corretas sendo divulgadas em massa em canais grandes de mídia. E essa semana foi especialmente um exemplo disso. Hoje a gente vai discutir o que o Jornal Nacional passou nessa semana agora e também outra matéria sobre diabetes que saiu. Então, isso tudo repercutiu bastante. A gente recebeu incontáveis mensagens de pessoas perguntando o que a gente achava do que tinha sido dito. E o Jornal Nacional, um dos grandes canais de mídia que todo mundo tende a respeitar e tende a ver também. Então, é um grande impacto o alcance que essas informações têm no Brasil e até fora do Brasil. Dr. Souto, tudo bem por aí?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo. Boa tarde! Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Maravilha! Já falei com o dr. Souto antes da gente entrar no ar. Falei: vamos entrar sem papas na língua. Acho que à medida em que os podcasts vão evoluindo, a gente está no 91, já, a gente vai criando uma casca grossa e vai soltando a língua cada vez mais por causa também que a gente cansa cada vez mais também de ver os mesmos erros sendo cometidos e as pessoas cada vez mais sendo enganadas pelas mesmas coisas. É uma coisa que meio que irrita com o tempo. Então a gente acaba soltando o verbo aí. E, enfim, é o que é. Esse assunto do Jornal Nacional, que foi tema do Jornal Nacional também, a gente já falou dele no podcast número 82, então o Jornal Nacional está atrasado nesse quesito. A gente já falou há várias semanas atrás no podcast 82. Então, você pode dar uma olhadinha se você quiser ver mais em detalhes. Mas como saiu nesse grande canal de mídia a gente resolveu falar de novo aqui, pelos motivos que eu mencionei antes. Então, uma matéria no Jornal Nacional sobre uma pesquisa da Unicamp sobre gordura saturada. Saiu essa matéria no G1 também. E é o seguinte, o Jornal Nacional diz o seguinte: “o excesso de gordura saturada encontrado nas carnes acaba provocando a morte de neurônios responsáveis pela saciedade. É como se os sensores de limite parassem de funcionar.” E o Jornal Nacional continua mostrando uma figura do ser humano na reportagem, no caso. “Uma pesquisa da Unicamp concluiu que o consumo de gordura saturada provoca inflamação do hipotálamo.” E daí eles continuam: “esses são os neurônios Ponc, responsáveis pela saciedade. A morte deles pelo excesso de gordura saturada é um processo irreversível.” Aí o Jornal Nacional continua: “são células tronco provenientes da pele humana.” No caso a pesquisadora está dizendo. Ela fala assim: “nós pegamos essas células-tronco, transformamos em neurônios do tipo que controlam fome e gasto energético. Tratamentos esses neurônios com gorduras, com ácidos graxos e aí analisamos os efeitos que essas gorduras têm em neurônios humanos.” Só que essa informação, ela não foi publicada ainda. O estudo a que eles estão se referindo, que é a base da matéria do Jornal Nacional, é um estudo da Unicamp que a gente mencionou no podcast 32 que foi feito em camundongos. Agora, sobre essa questão de eles irem além, como ela disse, pegaram células tronco, transformaram em neurônios do tipo que controlam a fome e gasto energético, trataram esses neurônios com gordura e analisaram que tipo de efeito tinha. A pergunta acho que é quantas pessoas que você conhece, que abrem o cérebro rotineiramente e lambuzam ele com gordura? Até onde eu sei, ingerir gorduras através de alimentos que passam por todo um sistema digestivo complexo é bem diferente de isolar alguns neurônios e tratá-los com gorduras. Bom, dr. Souto, acho que só essa introdução tem muito a se questionar a respeito dessa matéria.

Dr. Souto: É. Então, como você disse é repetitivo. Mas, enfim, cada vez que sai uma notícia e quando sai a notícia numa coisa como o Jornal Nacional, as pessoas entram em pânicos. Aquele dia foram incontáveis mensagens no blog, nas mídias sociais, o pessoal perguntando: e agora, o que vamos fazer? Então, eu vou pedir que o nosso ouvinte me perdoe por ser repetitivo, mas acho que não custa porque a gente vai falando e a coisa vai sedimentando.

Rodrigo Polesso: Pelo menos a gente repete o que faz sentido, não é?

Dr. Souto: Exatamente. Então, a primeira frase que eu quero que o nosso ouvinte lembre é o seguinte: a realidade tem primazia sobre os mecanismos. O que significa isso? Isso significa o seguinte, dieta Atkins engorda ou emagrece?

Rodrigo Polesso: Emagrece, não é?

Dr. Souto: Emagrece, certo? A gente passa muitos podcasts, muitas postagens lá no meu blog para explicar que, ao contrário do que a gente imaginava, uma dieta Atkins, uma dieta rica em gordura saturada, não faz mal pra saúde, não piora os marcadores. Mas se há uma coisa que nunca ninguém questionou é que emagrece.

Rodrigo Polesso: Dr. Souto, deixa eu só te falar uma coisa. Posso adicionar… Vou adicionar um textinho que eu preparei porque ele vai encaixar direito como um prefácio disso que você está falando aqui agora. É o seguinte, antes de a gente discutir tecnicamente o que a gente está falando aqui, vamos fazer uma análise básica, sóbria e baseada na realidade, justamente o que o dr. Souto falou. A primeira pergunta bastante científica que eu tenho é a seguinte: quão estúpido é achar que gordura saturada mata neurônios e provoca o descontrole da fome? Bom, eu digo isso porque em todos os ensaios clínicos randomizados que compararam low fat com low carb, ou seja, com quantidades maiores de gordura ou cetogênicas, com 70%, 80% de gordura, se notam duas coisas. Primeiro: controle da fome. As pessoas espontaneamente comem menos e se saciam mais. Segundo: perda de peso. E ainda, em estudos em cetogênica e corpos cetônicos  se nota também uma melhora cognitiva que é o oposto de morte de neurônios. Agora, deixa eu só lembrar que gordura saturada está inclusa em todo alimento que contém gordura. Azeite de oliva contém gordura saturada, peixes contém gordura saturada, carnes de todos os tipos e, adivinhem, leite materno também. Agora, sabe que eu estava vendo nessa matéria lá no G1, aí eu abaixei e vi o primeiro comentário que uma pessoa deixou e eu vou ler esse comentário e soltar a bola para você, dr. Souto, que eu achei excepcional. Quem manda o comentário é o Fábio Fernandes ele fala o seguinte: “Desde que comecei a me alimentar com gorduras saturadas, eliminar e reduzir carboidratos, gorduras trans e óleos industrializados, eu emagreci e meu apetite diminuiu muito. Hoje eu almocei uns pedações de gordura de fraldinha e cupim e estou até agora sem lanchar, sem jantar e sem fome (são 24:50 h). Acho que esses pesquisadores aí deveriam rever a metodologia. Todas as pessoas que eu conheço que se alimentam regularmente de gordura saturada relatam diminuição do apetite.”

Dr. Souto: A sua inserção foi perfeita. É isso que eu quero dizer, pessoal, como a realidade… a realidade tem primazia sobre os mecanismos. Não importa o quão sofisticada seja minha pesquisa com neurônios. Não importa quão sofisticados sejam os mecanismos moleculares que eu imagino que estão atuando. Como que é o nome do nosso leitor do G1?

Rodrigo Polesso: É o nosso amigo chamado Fábio Fernandes.

Dr. Souto: O Fábio Fernandes emagreceu. Isso é a realidade. Se os neurônios dele que controlam a saciedade estivessem morrendo, ele estaria louco de fome, só pensando em comida o tempo todo. Ele estaria engordando. Ele não conseguiria parar de pensar em comida.

Rodrigo Polesso: O pessoal que vai em churrascaria… o pessoal que vai em churrascaria sente fome em seguida, ou não?

Dr. Souto: Vamos combinar, então eu vou ser repetitivo de propósito, eu quero que isso entre na cabeça de todo mundo que nos escuta. A realidade tem primazia sobre os mecanismos. No momento em que é um fato indiscutível da vida, que dietas de baixo carboidrato com teor maior de gordura produzem perda de peso e a gente sabe que é assim, ninguém discute isso hoje em dia. O pessoal do campo oposto está brigando no sentido de dizer se isso é uma estratégia saudável ou não. E nós temos todos os argumentos, mas o nosso assunto hoje não é esse. O nosso assunto é: uma dieta de baixo carboidrato e, portanto, com mais gordura produz perda de peso em seres humanos? A resposta é inequivocamente sim. Todo mundo concorda com isso. E quem não concorda com isso precisa de tratamento psiquiátrico.

Rodrigo Polesso: Exatamente!

Dr. Souto: Porque é uma pessoa que está fora da realidade. Então, a realidade tem primazia. Vamos lá. O que que pode ajudar a explicar essa discordância? Rodrigo, será que se eu pegar uma pessoa e alimentar ela com feno ela engorda ou emagrece?

Rodrigo Polesso: Exatamente o que eu disse. É como se fosse pegar uma dieta rica em grama para humanos e verificar que causou inflamação no cérebro.

Dr. Souto: Exato! Então, quer dizer assim, uma pessoa que se alimentar com feno, com pasto, com grama, ela vai emagrecer, vai ficar desnutrida porque o ser humano não consegue digerir esse tipo de coisa. Não digere celulose. Mas eu consigo sim engordar uma vaca, um boi com feno, com grama e o nosso amigo que estava comendo fraldinha com gordura, estava comendo cupim, comeu aquela gordura lá que foi produzida a partir de pasto ou grama. Ou seja, talvez se eu der muito pasto, muita grama, confinar o bicho para ele não poder se mexer e alimentá-lo com bastante disso, o animal fique até um pouco pré-diabético e fique até com inflamação no hipotálamo (a vaca). Então, na realidade, o que os autores não estão se dando conta, é que diferentes espécies de animais engordam com diferentes tipos de dietas. E, sim, uma vez que o animal engorde, fique obeso, pré-diabético, terá inflamação em várias partes, inclusive no hipotálamo. Então, se nós quisermos estudar o hipotálamo de um herbívoro, a gente pode dar bastante folha para ele e ele vai engordar e aí talvez o hipotálamo fique inflamado. Se nós quiséssemos… nós não podemos fazer isso, porque não dá, mas se a gente pudesse estudar o ser humano, abrir a cabeça para ver o hipotálamo e a gente quisesse que esse hipotálamo estivesse inflamado, a gente teria que dar para esse ser humano aquilo que engorda humanos que é açúcar. Porque se nós tentarmos engordar seres humanos com uma dieta de baixo carboidrato e alta gordura, eu só tenho uma mensagem: boa sorte tentando. Pode tentar, não vai ser fácil.

Rodrigo Polesso: O dr. Souto está falando isso porque, para revisar, esse estudo que foi base de toda a matéria do Jornal Nacional, da Unicamp, é um estudo feito em camundongos. Animal esse, que não tem gordura saturada como parte da sua dieta natural. Então, eles entupiram os coitados de gordura saturada e viram que causou essa inflamação no cérebro, no hipotálamo. É isso que o estudo mostrou. Que uma dieta rica em gorduras saturadas, em camundongos, faz mal para eles. Então fica a dica, se você tem camundongos, favor não entupa eles de gordura saturada. E, como eu falei, é como se fosse dar grama para o ser humano e verificar que inflamou o cérebro. Óbvio. Claro, grama não é dieta do ser humano. Mas aí a gente pode extrapolar de forma semelhante como eles fizeram e concluir que a gente tem que alimentar as vacas com grão ou com nutella porque grama faz mal para elas. Porque faz mal para o ser humano também.

Dr. Souto: Rodrigo, é uma pena que esses pesquisadores estejam conduzindo as entrevistas e suas manifestações dessa forma. Porque o estudo deles não é um estudo ruim e inútil. Se eles se ativessem ao que realmente o que o estudo deles mostra, que é que existe realmente no momento que a gente induz obesidade em um animal, isso pode provocar alterações inflamatórias no hipotálamo, nestes neurônios responsáveis pelo controle da saciedade e que esses neurônios, inclusive, podem morrer com o tempo. O que é uma das coisas que talvez explique porque da dificuldade muito grande de trazer depois um animal (e poderia ser um ser humano) a um peso adequado, uma vez que esse ser humano tenha permanecido num estado de doença e obesidade por muitos anos. Então, o único equívoco deles, mas é um equívoco absolutamente fundamental e eu esperava mais de gente que pesquisa, é entender que a forma de engordar camundongos é diferente da forma de engordar seres humanos. Então, vamos dizer assim: eu preciso engordar o camundongo porque ele é o meu modelo experimental. Só para quem não é da área, é assim, para estudar realmente a inflamação do hipotálamo, hoje em dia a tecnologia ainda não nos permite outra forma que não seja sacrificar o animal, remover o hipotálamo e estudar ele entre lâmina e lamínula no microscópio. Então, nós não temos como estudar isso diretamente no ser humano, obviamente. Então a gente precisa de um modelo animal. Infelizmente o camundongo por ter uma linhagem evolutiva diferente da nossa, ele engorda com alimentos diferentes que o ser humano. Mas veja bem, uma vez que o animal tenha ficado obeso, com resistência à insulina, com gordura no fígado, com inflamação sistêmica, este animal poderá ter alterações em seu hipotálamo que, provavelmente, são semelhantes às alterações que ocorrem no hipotálamo humano. A diferença é que o humano fica obeso com alimentos diferentes do que o camundongo. E o sujeito vai na televisão e fala que aquilo que ele usou para engordar o camundongo deve ser evitado ser humano. Quando até as pedras sabem que seres humanos não engordam com gordura. Que uma dieta rica em gordura é a dieta que se usa para emagrecer seres humanos. Então, é uma desconexão muito grande. Então, a minha grande dúvida é se isso é desconhecimento ou se na realidade ele está utilizando isso porque isso está alinhado com as diretrizes incorretas que estão por aí e isso favorece o que? Facilita para ele conseguir a aprovação dos financiamentos em FAPESP, CNPQ, etc. Porque é mais fácil conseguir financiamentos nesses órgãos se aquilo que você está pregando está dentro da ortodoxia nutricional. Eu não sei, então, se é por interesse ou por desconhecimento. Porque são as duas únicas explicações.

Rodrigo Polesso: Concordo plenamente. E outra coisa, o que que no corpo não está inflamado em um estado de obesidade? Se eles forem estudar qualquer outro órgão do corpo, provavelmente eles iam ver inflamação nesse órgão também e podiam concluir coisas semelhantes. Só deu aí de eles terem que focar no bendito do hipotálamo, nesse caso. Mas um corpo obeso, um corpo doente, é um corpo inflamado. A gente sabe disso. Então, poderiam dar origem a outras dezenas de pesquisas, cada um com a sua filosofia, de alguma coisa que está inflamando um órgão específico.

Dr. Souto: É. Desde a primeira metade do século XX se sabe que lesões no hipotálamo provocam uma obesidade incontrolável, seja em animais, seja em seres humanos. É muito interessante. Quem quiser ler a fundo sobre isso pode comprar o primeiro livro sobre o assunto do Gary Taubes que é o Good Calories, Bad Calories. Ele cita vários desses estudos da primeira metade do século XX e também da segunda metade do século XX, mas mais antigos. Então, o que se vê é o seguinte, alguns casos de obesidade mórbida onde a pessoa, no caso (não em animais, no ser humano mesmo), veio a falecer e em necropsia se descobriu que ele tinha uma lesão, tinha um infarto, tinha um tumor no hipotálamo. Em animais se você quer produzir um animal obeso que não para de engordar, basta fazer uma lesão nessa região específica do hipotálamo. Então, o que esses pesquisadores estão estudando, como eu disse, não é uma coisa absurda ou inútil a ideia de que a inflamação produzida no hipotálamo, que a gente já sabe, viu Rodrigo, que ocorre mesmo na situação de obesidade, resistência à insulina, que essa inflamação possa acabar induzindo, inclusive, à morte destes neurônios. E, poxa vida, isso tem implicações. No entanto, eu vou, de novo, usar a minha analogia preferida. Vamos dizer que ao invés de camundongos eles estivessem usando bodes nessa pesquisa. Então, eles precisam engordar os bodes. E para engordar o bode eles vão dar um monte de alface, couve, grama, feno, numa quantidade bem maior que a habitual. Vão superalimentar esse animal e deixar ele confinado para ele não fazer exercício, de modo que o bode vai ficando gordinho e daqui a pouco inflama o hipotálamo. Aí eu vou dar uma entrevista e eu digo para as pessoas: olha, uma vez que bodes obesos ficam com o hipotálamo inflamado e daqui a pouco tem a morte de algumas células responsáveis pelo controle do apetite, este é um motivo para que as pessoas não comam couve, espinafre ou vegetais. É claro que não. Porque a gente não consegue engordar pessoas com a mesma coisa que engorda bodes. Então o que eu quero dizer, em suma, é o seguinte: eles poderiam ter colocado um soro na veia do camundongo e engordado esse camundongo intravenoso, sem que o bicho comesse nada. Mas uma vez que o bicho foi engordado com uma solução hipercalórica de gorduras e proteínas direto na veia, ele vai apresentar inflamação no hipotálamo. Bom, aí a gente nem tem como comentar, Rodrigo, direito essa parte que foi comentada no Jornal Nacional sobre as células… porque eles pegaram células da pele humana e transformaram em neurônios, hoje em dia é possível fazer isso com células tronco. Se bem que há toda uma discussão se esses neurônios produzidos dessa forma são realmente iguais aos neurônios originais ou se eles só têm o aspecto microscópico que emula o neurônio. Mas nem vou entrar nessa discussão. Vamos supor que seja o mesmo. Aí o estudo não foi publicado, como você falou. Nós não temos como fazer análise crítica desse estudo porque, até onde a gente pode pesquisar, não foi publicado na literatura peer review. Mas o que foi dito na reportagem é que esses neurônios foram tratados com gordura saturada.

Rodrigo Polesso: Seja lá o que significa isso, não é?

Dr. Souto: Seja lá o que significa. Ora, se o que fez, e agora eu estou especulando porque a coisa não foi publicada… e aí eu digo, Rodrigo, se não foi publicada não devia ser comentada em rede nacional também. Porque a gente não dá um grande destaque para uma coisa preliminar que sequer. Porque senão, o que? Os cientistas, os outros estudantes do assunto e tal, não tem nem como saber, como fazer uma crítica, como ver se aquilo tem fundamento ou não. Então, já que eles falaram em rede nacional eu também tenho o direito de falar. E aí assim, o que foi dito é que esses neurônios foram tratados com gordura saturada. Se foi colocado, pingado no meio de cultura desses neurônios, numa placa de petri, isso é análogo ao que você falou no início do nosso podcast. Quer dizer, a gente abrir a cabeça da pessoa e colocar lá dentro. Pessoal, não é assim que funciona. Eu vou dar um exemplo para vocês. Por que que o ser humano é tão hábil em fabricar corpos cetônicos no momento do jejum prolongado ou de uma dieta muito pobre em carboidratos? Porque o cérebro não é capaz ou, digamos assim, é capaz de usar muito pouco, em quantidade muito limitada ácidos graxos, gordura como fonte de energia. O cérebro usa glicose como fonte de energia, mas ele consegue usar bem os corpos cetônicos. Um dos motivos é que existe uma coisa chamada barreira hematoencefálica. Nós temos as meninges, as membranas que envolvem o cérebro. Nosso cérebro é muito protegido, de modo que moléculas estranhas, bactérias, vírus tenham dificuldade de entrar no cérebro. Então, existe essa barreira hematoencefálica que separa o sangue do cérebro. Não é qualquer substância que consegue entrar. Moléculas grandes como é o caso dos ácidos graxos, como é o caso da gordura saturada não entram no cérebro. Então, por isso que o nosso corpo usa tanto esse subterfúgio dos corpos cetônicos. Quando a gente come gordura (se a gente come uma dieta rica em gordura e pobre em carboidrato), essa gordura, parte dela é convertida pelo fígado em corpos cetônicos e são os corpos cetônicos que entram no cérebro. E os corpos cetônicos não são tóxicos para os neurônios. Eles são benéficos para os neurônios. Os neurônios funcionam muito bem, obrigado, com corpos cetônicos. Então, assim, mais uma vez eu não sei se é ignorância da fisiologia ou o que, a gente infelizmente não tem como comentar sobre um estudo que não foi publicado. Mas eu repito: um estudo que não foi publicado também não deveria ser comentado em rede nacional. Mas o certo é o seguinte: se os neurônios humanos, esses, foram tratados com gordura dentro de um meio de cultura, isso não tem nenhuma semelhança com o que aconteceria numa pessoa que come gordura. Ou então a pessoa acha que quando ela come beterraba uma coisa roxa invade o interior do seu cérebro? Entendeu? É assim que funciona? Não. Rodrigo, você falou tudo. O sistema digestivo é super complexo, ocorrem um monte de transformações. O que chega lá dentro do cérebro não é a gordura saturada, está certo? Então, é tanto erro, é tanto absurdo que a gente não sabe por onde começar… é constrangedor e angustiante.

Rodrigo Polesso: O que me revolta é que esse sensacionalismo é posto de forma diferente na matéria. Porque a matéria começa, quem assistiu sabe, com o repórter sentado em uma mesa de churrascaria, aí o garçom vem com um espeto e corta um pedaço de picanha à medida em que ele vai falando de gordura saturada matando neurônios. É isso que acontece. Então, o pessoal vincula essa informação e vai começar a ter mais medo ainda, se já não bastasse a quantidade de medo que já existe de gordura saturada, tudo de forma infundada cientificamente. O final da matéria no Jornal Nacional diz o seguinte: “Com a descoberta do mecanismo da obesidade no cérebro…” O que é um absurdo completo dizer isso, para começar, mas isso é outra história. Eles falam: “Com a descoberta do mecanismo da obesidade no cérebro, novas pesquisas podem apontar o caminho para repopular o hipotálamo com neurônios da saciedade através de medicamentos ou de células tronco. Enquanto isso, a luta contra a balança continua.” Está aí, quem faz então alimentação forte, low carb, cetogênica, está repopulando o cérebro desses neurônios. Que beleza, não é? E sem células tronco e sem medicamentos. Seria isso mágica?

Dr. Souto: E voltando ao início do nosso podcast: a realidade tem primazia sobre os mecanismos. Ou seja, quando você come um churrasco na churrascaria, aquele ali que eles mostraram na televisão, a pessoa fica com menos fome. Todo mundo sabe disso. Então, porque… é básico, tem uma expressão para isso. Eu já falei aqui no podcast uma vez: chama-se ciência da fada do dente.

Rodrigo Polesso: É sim.

Dr. Souto: Ciência da fada do dente é o seguinte: imagina que você resolvesse fazer um estudo, um estudo estatístico bem minucioso, bem sistemático de quanto dinheiro cada dente recebe, se o dinheiro é maior ou menor se o dente é pequeno ou se o dente é grande, ou se o dente for bem lavadinho e cuidado. Aquele dente que a criança perde e bota debaixo do travesseiro e a fada do dente vai lá e troca por um dinheirinho. E daqui a pouco você apresenta uma tabela com níveis de significância estatística: olha, realmente molares tendem a receber uma quantidade de dinheiro maior do que pré-molares, que por sua vez são melhores do que incisivos. E, no entanto, ninguém para pra perguntar se a fada do dente existe ou não. Por mais complexa que seja a minha explicação, eu posso estar dando uma explicação complexa para um fenômeno fictício. Que é exatamente o que aconteceu nessa situação. O fenômeno é fictício, todo mundo sabe. Até as pedras sabem que uma dieta pobre em carboidrato e com mais gordura produz emagrecimento em seres humanos. Portanto, discutir a forma pela qual a gordura produz ganho de peso é a mesma coisa que discutir a ciência da fada do dente.

Rodrigo Polesso: É, exatamente! Justamente! Então, acho que a mensagem que fica é a realidade tem supremacia sobre os mecanismos. O problema é que os mecanismos são muito atrativos e até interessantes a cientistas. E tudo bem, desde que eles entendam que eles são justamente isso: mecanismos. Bom, tem outro assunto para a gente comentar, mas antes disso, eu recebi um testemunho bastante legal no Instagram ontem e, um pouco longo, na verdade, mas acho legal ler porque eu acho que é interessante e porque eu acho que ele pode refletir a situação e resultados de muitas pessoas. Eu achei bastante legal, então acho que vale a pena ler. Ele vem de uma pessoa chamada Sadir. Ele fala o seguinte: “Rodrigo, boa tarde. Vou enviar meu testemunho aqui, tá? Me chamo Sadir, tenho 42 anos, sou representante comercial, atendo óticas em quatro estados e luto contra a balança há muito tempo. Tenho 1,75 m de altura e meu peso ideal fica aí na casa dos 80. Eu passo tanto tempo na estrada que passei a achar que poderia aproveitar melhor o tempo. Ouvir músicas não me acrescenta muito, não tenho tido paciência para ler livros, então resolver baixar podcasts. Eu confesso que foi sem querer que eu baixei todos os podcasts da Tribo Forte. Comecei a ouvir faz uns 3 meses, muitas vezes ouvia comendo um skinny, outras comendo salgado e tomando coca cola como substituição do almoço, para aproveitar o horário e me deslocar para outras cidades. Ouvi todos os podcasts disponíveis e acreditei em cada linha de tudo que você e o dr. Souto pregam. Tudo que a ciência prega, não é? Tudo baseado em ciência eu sou cético. Muitas vezes ouvi e depois fui pesquisar os estudos, os temas, etc. no dia 4/11, 26 dias atrás, eu cheguei de Rondônia pesando 88 quilos. Conversei com a minha mãe, contei tudo que vinha estudando, falei de vocês, falei do programa Código Emagrecer de Vez, entrei no site e assinei. Convenci ela a começar junto. Começamos no domingo, dia 5/11. A primeira semana é punk. Irritado, saí de 4 grupos de Whatsapp. O corpo age realmente como uma criança mimada que não lhe dão o brinquedo. Conseguimos seguir 100%. Baixei 3,8 Kg e minha mãe, aos 67 anos de idade, com diabetes e hipertensão baixou 3 kg. Eu perdi 5 cm de cintura, de circunferência abdominal e ela perdeu 4 cm. Desinchamos, paramos de reter líquido.” Aí que fica interessante: “Depois da primeira semana EU NÃO SINTO MAIS FOME. Não tenho mais necessidade de comer o tempo todo. Estou seguindo 100% a tabela verde.” Que é dentro do Código lá.

Dr. Souto: Mas como que pode isso se os neurônios responsáveis pela saciedade já estão morrendo? Como é possível?

Rodrigo Polesso: Ele deve ser um mutante, deve ser uma exceção da natureza.

Dr. Souto: Deve ser um mutante.

Rodrigo Polesso: Ele continua: “Faltam dois dias para terminar o primeiro mês.” Que é a primeira fase do Código, Desafio 30 dias que eu chamo. “Pesei hoje cedo, estou com 80,1 kg.” Perdeu 8,5 kg. “E o mais importante de tudo, não estou de dieta! Eu adotei um novo estilo de vida. Cara, você não inventou nada, eu sei disso, você compilou, descompilou e descomplicou tudo aquilo que já existe. Eu sou muito grato pelo bem que me fez e está me fazendo. Parabéns pelo trabalho.” Ah, ele falou: “Meu nome é Sadir, moro em Cuiabá, Mato Grosso, e quero ouvir a minha história, pelo menos parte desse longo texto em algum podcast! Estou parecendo aquelas pessoas recém convertidas a uma religião, ou que entram numa empresa de marketing multinível. Estou tentando convencer todo mundo ao meu redor a mudar de vida e comerem comida de verdade. Um grande abraço, Rodrigo.” Está aí! Que testemunho fantástico! Obrigado, Sadir por ter mandado. E como você pediu, está aí no podcast par ao Brasil inteiro ver o teu caso de sucesso, para inspirar mais gente. E, dr. Souto, como você já falou, ele deve ser um X-man, ele deve mutante, não é?

Dr. Souto: Fantástico, porque ele ilustrou aquilo que nós estávamos falando. Quer dizer, a primeira coisa é ver se aquilo que nós estamos especulando, se os neurônios ponc morrem ou não morrem, se a gordura tem a ver. Bom, tá, pessoas emagrecem ou engordam? Ah, elas emagrecem. Bom, então não é esse mecanismo. Vamos estudar outro mecanismo. É simples assim. A realidade é o supremo juiz das nossas teorias científicas. Assim, a teoria não existe em si pela sua beleza estética no universo. Assim, a teoria é uma forma da gente tentar se aproximar da realidade. Se eu faço uma teoria que diz que o sol não vai nascer amanhã, e ele nasce amanhã, eu não começo a dizer: não, o sol não nasceu, vocês estão errados, está escuro, ele não nasceu. A gente vai fazer o que? Vai internar essa pessoa. Ela está negando a realidade, ela está desconectada da realidade. E o que foi visto no Jornal Nacional foi uma desconexão da realidade deste nível.

Rodrigo Polesso: E falando em desconexão da realidade, vamos falar o último assunto aqui, rapidamente. Também publicado no G1, o título é: “Estudo mostra como a diabetes tipo 2 ocorre em pessoas obesas.” Descobriram também alguma coisa muito importante, não é? Aí o subtítulo é o seguinte: “Um clássico exemplo…” Ah, não! Eu que escrevi, na verdade para lembrar de falar! Esse é um clássico exemplo de se colocar a carroça na frente dos burros, e mais um exemplo de se perder no mecanismo e perder perspectiva da realidade. A pesquisa foi realizada pela Universidade de Genebra, na Suíça. “Coppari e equipe demonstraram em cobaias que a obesidade faz aumentar os níveis da proteína PTPR-γ. Essa substância inibe a ação de receptores de insulina localizados na superfície do fígado.” Eu estou lendo o artigo. “Para chegar aos resultados, cientistas primeiro fizeram vários testes em indivíduos portadores da condição (diabetes tipo 2) e observaram que eles apresentaram níveis aumentados da proteína (acredita-se que a inflamação causada pela obesidade eleve os níveis do composto). Depois, fizeram diversos experimentos em ratos que modificava a expressão da substância; na presença da proteína, a resistência à insulina ocorria; já na ausência, as cobaias não desenvolviam a condição. Em uma segunda fase do experimento, cientistas modificaram a presença da proteína somente no fígado e observaram os mesmos resultados descritos anteriormente. Isso demonstrou, assim, o papel fundamental do órgão no processo (o fígado). O achado abre caminho para novas terapias que visem ao bloqueio da proteína no organismo; combatendo, dessa maneira, o desenvolvimento da diabetes tipo 2. Os cientistas salientam, ainda, que a proteína está presente na membrana celular, o que faz com que o acesso de drogas a essa substância seja mais fácil. Pesquisadores agora vão testar drogas capazes de bloquear o composto.” Vamos lá! Primeiro a gente já sabe que a obesidade não é a causa da resistência à insulina. É simplesmente um efeito colateral da mesma. Obesidade, como altos triglicerídeos, como baixo HDL, etc., são todos efeitos colaterais de um mal central, a resistência à insulina que é a raiz da síndrome metabólica. Ou seja, não é essa proteína que é maligna, que está causando problemas. Essa proteína sempre existiu no organismo da gente. Será que ela agora resolveu nos sacanear, dr. Souto?

Dr. Souto: É, assim, mais uma vez… nada contra. Acho que pesquisa não precisa ter um objetivo específico. A gente pesquisa para aprender e daqui a pouco sai um tratamento dali. Eu fiquei pensando até que talvez isso ajude a explicar porque que algumas pessoas desenvolvem síndrome metabólica e diabetes com tanta facilidade e outras pessoas não. Algumas pessoas realmente ficam obesas, mas você olha a insulina em jejum não é alta, os triglicerídeos são baixos, HDL está bem. Quer dizer, aquela pessoa tem aquela obesidade sem a disfunção metabólica toda, e talvez seja polimorfismo, variações em proteínas.

Rodrigo Polesso: Temporária

Dr. Souto: Sim, é uma coisa temporária. É aquela coisa: chega uma hora que o sistema quebra. Mas, talvez tenha a ver com coisas como esta proteína. Não estou dizendo que seja essa. Mas, eu vou aproveitar o link dessa notícia para explicar novamente para quem está nos ouvindo. Vamos supor o seguinte, que eu quisesse estudar o que altera o funcionamento dessa proteína em camundongos. Eu teria que dar para os camundongos uma dieta de alta gordura. Porque dieta de alta gordura é a forma de engordar camundongos. Mas, na hora que eu quero estudar essa proteína em humanos diabéticos, eles ficaram diabéticos por comerem muito açúcar e muito carboidrato refinado. São mecanismos distintos que provocam alteração essa. Para mim o mais interessante desse artigo é o fato de que uma proteína presente no fígado esteja tão relacionada assim com desenvolvimento de diabetes. Porque o dr. Tim Noakes é um que sempre fala isso e eu acho que ele tem razão. A síndrome metabólica, a diabetes tipo 2 e a doença cardiovascular começam no fígado.

Rodrigo Polesso: O fígado não é um dos primeiros que se tornam resistentes à insulina? Que é a raiz desses problemas?

Dr. Souto: É. Então, na realidade, vamos dizer assim, é a resistência à insulina no fígado. E essa proteína que você descreveu aí, ela lida justamente com isso. Com a presença ou a ausência de receptores de insulina na superfície do hepatócito. Então, quer dizer, o fígado é absolutamente central na patogenia tanto da diabetes tipo 2, quanto da síndrome metabólica, como da doença cardiovascular.

Rodrigo Polesso: Ele não é um dos primeiros órgãos também que melhora até a questão da esteatose hepática, que melhora quando a pessoa começa a fazer uma alimentação mais otimizada em carboidratos também?

Dr. Souto: Hoje de tarde, antes da gente gravar, eu atendi dois… eu só atendi dois pacientes hoje de tarde. E os dois reverteram a sua esteatose com low carb rapidinho. Então quer dizer…

Rodrigo Polesso: Eles atacaram a causa do problema, não é? Que não era essa proteína.

Dr. Souto: Sim. Na realidade a proteína não é a causa. É como você disse, essa proteína sempre existiu. É o fato de a gente estar colocando o que não deve na boca que faz com que ela se comporte como não deve. Então, vamos dizer, as peças do automóvel são as mesmas, quando a gente coloca um combustível inadequado e o carro estraga a culpa não é da peça.

Rodrigo Polesso: Exato. O problema é que as pessoas leem um artigo como esse e elas podem cair na armadilha de achar que, digamos, a culpa não é do estilo de vida delas, a culpa é dessa proteína, talvez do fígado delas, que não está deixando elas emagrecerem. Esse que é o perigo, eu acho. Se essa interpretação do artigo fosse correta… que, como você falou acho que o estudo é útil de se entender os mecanismos. É legal entender os mecanismos, é útil. Só que eles começam a falar em drogas para tentar suprimir essa proteína. Então, as pessoas podem começar apensar que isso está fora do alcance delas, ao mesmo tempo que a gente sabe que alterações no estilo de vida tem um impacto direto na causa do problema e podem solucionar ou ajudar as pessoas a solucionarem esse problema cortando o mal pela raiz.

Dr. Souto: É. Eu fico espantado como cada vez que sai um artigo sobre alguma descoberta sobre mecanismo, a primeira coisa que o jornalista fala é assim: isso poderá permitir o desenvolvimento de novas drogas.

Rodrigo Polesso: Exato. Como se a gente precisasse.

Dr. Souto: O foco é sempre nisso. Então, quer dizer, o que que isso significa para mim? Significa que a gente focar na melhora das condições de funcionamento do fígado através de estilo de vida é uma coisa importante. Por que eu tenho que pensar em drogas? Eu tenho que pensar assim: olha, mais um estudo mostrando como o fígado é crucial nessa inter-relação, nessa convergência de resistência à insulina, de diabetes tipo 2, doença cardiovascular, gordura no fígado. Então, é mais um estudo mostrando isso, mais um motivo para que eu foque nessa métrica, para que eu veja as enzimas hepáticas, para acompanhar como estão evoluindo as enzimas hepáticas a medida em que a pessoa vai fazendo low carb, perdendo peso. Agora, a primeira coisa que o pessoal pensa é em medicação. Mas isso diz muito a respeito de como que é o nosso modelo de medicina.

Rodrigo Polesso: Muito.

Dr. Souto: Acho que medicamentos são importantes. Se surgir um medicamento novo, eficaz para diabetes, que bom. Tem situações onde o sujeito já está com o pâncreas baleado por muitos anos de um estilo de vida ruim, nos quais ter uma nova medicação para diabetes tipo 2 vai ser interessante juntamente com o estilo de vida. Agora, vamos dizer, definitivamente quando eu leio uma coisa dessas, remédio não é a primeira coisa que pula na minha cabeça.

Rodrigo Polesso: Não. É como é dito já há muito séculos. Deixa a alimentação ter o seu remédio. Essa é a verdadeira solução: a mudança de estilo de vida. Parando de atrapalhar a gente começa a ajudar. Acho que essa é a máxima: parando de atrapalhar o nosso corpo, a gente começa a ajudar ele a se reconstruir.

Dr. Souto: Exato.

Rodrigo Polesso: Bom, dr. Souto, vamos fechar esse podcast então, contando o que você felizmente degustou aí na sua última refeição.

Dr. Souto: Então, eu ganhei em um evento recente umas linguiças defumadas muito gostosas. Lá em Vitória – ES. E então essas linguiças defumadas foram feitas refogadas junto com repolho e vagem. Então, essa misturinha de linguiça com repolho e vagem refogada numa banhazinha, porque, afinal, porco combina com porco. Assim, Rodrigo, ficou um negócio tão bom, mas tão bom! Olha, linguiça sensacional! Olha e deve ser por isso que eu estou com tanta fome agora, porque essa gordura saturada cm certeza matou muitos neurônios do meu hipotálamo.

Rodrigo Polesso: É! Notei que você não está tão esperto como de costume. Devem ter morrido alguns neurônios aí também, viu!

Dr. Souto: É, exatamente. Então, na realidade eu não estou com fome, são 4 e tanto da tarde e obviamente eu não estou nem pensando em comer. Porque é um absurdo essa ideia de comer uma refeição dessas vá aumentar a minha fome.

Rodrigo Polesso: Pessoal, quem vive isso sabe. É um verdadeiro superpoder você não depender, não virar refém da sua fome. Você ter controle sobre a sua fome. É um dia-a-dia muito mais legal de se viver, é muito mais tranquilo de se viver sem essa pressão da comida o tempo inteiro. Hoje, por exemplo, acordei cedo, 7 e meia, aí antes de gravar o podcast fui para a academia. Então, faz um tempo que fui para a academia, agora são 13:10 h aqui e eu não tenho nem almoço em casa, não estou com fome, eu vou comer por causa que… sei lá, hábito, porque é bom. Sei lá, vou ver um tutorial enquanto eu como. Eu vou ao mercado, vou comprar um frango, aquele frangão inteiro que a gente vê de vez em quando em TV de cachorro, que a gente fala, girando no grill. Vou comprar um daqueles e vou degustar ele aqui com abacate, alguma coisa assim. Mas essa questão do domínio da fome é uma liberdade muito grande que só quem vive sabe como é bom. É por isso que a gente fala de forma tão intensa e sugere tanto que as pessoas tentem melhorar o estilo de vida delas para poderem também ganhar essa liberdade. E, claro, uma forma de você pegar um atalho para isso é se rodeando de pessoas que já fazem isso. Por isso que eu sempre sugiro que você se torne um membro da Tribo Forte. Entre lá TriboForte.com.br. Se junte à família, se torne um membro desse círculo do bem e vamos cada vez viver melhor, tudo baseado em evidências. Dr. Souto, é isso aí! A gente fecha por hoje. Obrigado pela tua participação e a gente se fala no próximo episódio.

Dr. Souto: Obrigado, Rodrigo. Um abraço para os ouvintes. Até a próxima!

Fonte: https://emagrecerdevez.com
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