Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!
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Neste podcast:
- Uma grande falácia que é compartilhada pela maioria da população geral,
- Artigo inescrupuloso que saiu na Folha,
- Benefícios da Cetogênica,
Escute e passe adiante!!🙂
Saúde é importante!
OBS: O podcast está disponível no iTunes, no Spotify e também no emagrecerdevez.com e triboforte.com.br
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🙂
Ouça o Episódio De Hoje:
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Caso de Sucesso do Dia
Referências
Suplemento Novasource Proline
Artigo Inescrupuloso da Folha Sobre Junk Food
Ensaio Clínico Estudou os Efeitos de Uma Dieta Cetogênica em 20 Pessoas Obesas ao Longo de 4 Meses
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá, olá! Bem-vindo a esse episódio especial porque é o número 150! Episódio número 150 do podcast da Tribo Forte, a sua dose semanal de estilo de vida saudável, saúde, nutrição, boa forma. Enfim, esse guarda-chuva de ciência, de sobriedade no meio dessa chuva de balelas que a gente enfrenta todos os dias vivendo nesse mundo moderno onde os interesses têm mais prioridade do que realmente a boa fé. Infelizmente em muitos casos é assim. Então, bem-vindo a esse podcast. Eu sou o Rodrigo Polesso e nesse podcast de hoje a gente vai falar sobre falcatruas da indústria. Que é um assunto que não é desconhecido pela gente aqui no podcast, a gente fala bastante porque tem muito disso. E você precisa ser alertado sobre isso, porque você pode estar sendo enganado através dessas balelas. Também vamos falar um pouco de um ensaio clínico que foi publicado recentemente falando dos benefícios interessantes de uma dieta bem baixa em carboidratos em pessoas obesas. Uma dieta mais do tipo cetogênica. A gente vai falar um pouco mais sobre isso. Porque a perda de peso é somente a ponta do iceberg. Tem coisas mais importantes que isso que podem acontecer quando você começa a melhorar a sua alimentação. É isso aí! Seja bem-vindo e seja bem-vindo também, dr. Souto a esse podcast. Tudo bem, dr. Souto?
Dr. Souto: Tudo bem! Boa tarde, Rodrigo, boa tarde aos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Vamos aquecer então com esse primeiro assunto. Tem uma grande falácia que é compartilhada pela maioria da população, infelizmente. E é uma falácia bastante infeliz que não deveria existir, porém existe. É a falácia de se acreditar que a indústria da saúde tem sempre o nosso bem-estar em mente como prioridade antes de qualquer coisa. E isso é ainda pior se tratando da indústria farmacêutica, que na minha opinião, em mais casos do que deveria tem conduta que beira a criminalidade na formulação de medicamentos e na elaboração de um marketing dos mesmos para a população. Existem vários exemplos disso, mas hoje eu quero falar de um exemplo em particular que veio à tona em uma discussão em um grupo que a gente tem de palestrantes da Tribo Forte, onde o nosso amigo Erick Neves postou no grupo e eu falei que isso tinha que entrar no podcast. É um absurdo, é um ótimo exemplo de outras coisas que podem estar acontecendo de forma similar em outras áreas, outras empresas. O produto em questão é o tal do NovaSource Proline 200 ml. Você vê que o nome é um nome mais médico, não é Ki-Suco de morango o nome, nem Turbo Saúde. É NovaSource Proline. Então, só pelo nome você já imagina que é uma coisa que vai te ajudar a ser mais saudável, que é uma coisa séria, medicamentosa. O problema começa… não necessariamente começa, mas por estudo do que acontece tipicamente quando a indústria acaba colocando o pé na saúde, você vai entender. O produto é feito pela Nestlé. A Nestlé, como você sabe, talvez você conheça alguns dos bilhões de produtos que ela tem, eles tipicamente não te ajudam a ser mais saudável. Esse produto, a NovaSource Proline, é basicamente um produto vinculado à nutrição de pessoas que estão em situação crítica e em recuperação. Você já vai entender um pouco melhor. Olha o que eles dizem que é esse produto: O NovaSource Proline é um suplemento nutricional hiperprotéico acrescido de arginina e prolina, com alto teor de zinco, selênio e vitaminas A, C e E, favorecendo o processo de cicatrização. É um suplemento para nutrição enteral e oral sem adição de açúcares. Nutrição enteral, para quem não sabe, é quando a pessoa não consegue se alimentar por si só, a gente pode injetar como um soro esse suplemento nutricional nessa pessoa. Lembrando que eles falam aqui que é sem adição de açúcar. Então as promessas são: ajuda na cicatrização, não tem glúten… Maravilha! Pelo menos não tem glúten! E ele é hiperprotéico. Agora, sabe qual é a pegada criminal, na minha opinião? Você vai entender porque eu chamo de criminal. É que na página dessa bebida, desse suplemento, eles falam o seguinte, bem grande em destaque: Por possuir apenas açúcares já presentes nas matérias-primas de sua composição e nenhuma outra adição de açúcar e sacarose, o NovaSource Proline pode ser consumido por diabéticos. E é um cartoon de um médico falando isso em destaque. Para você entender o que é isso aí, vamos olhar a composição nutricional. A composição nutricional do NovaSource Proline, ele é formado de 45% das suas calorias de carboidratos. Que sim, se você escuta a gente é isso mesmo que o diabético é intolerante, à carboidratos. E metade do bendito desse líquido é carboidrato. 29% são proteínas e 24% são de gordura. Uma caixinha de 200 ml, que é a embalagem normal do NovaSource Proline (adoro esse nome) tem 32 g de carboidrato. 200 ml desse negócio tem 32 g de carboidrato! Para você ter uma ideia, 200 ml de Coca-Cola tem 22 g de carboidrato. Ou seja, esse 12 g a mais de açúcar/carboidratos do que Coca-Cola pura. E isso só piora quando a gente vai ver os ingredientes. Lembrando que isso é um alimento que pode ser via oral ou enteral, ou seja, em pessoas que precisam se cicatrizar, pessoas que precisam se recuperar e pessoas que provavelmente não conseguem nem abrir a boca para tomar alguma coisa. Os ingredientes são: água (o primeiro), o segundo é o que? Maltodextrina! Ou seja, açúcar. É açúcar, aquilo que o diabético é alérgico, é intolerante. O terceiro o que é, dr. Souto? Amido de tapioca. Que é o que? Outro nome para açúcar. E o terceiro é o que? Eles falam que não tem adição de açúcar, agora me explique isso. É xarope de glicose. O que diabos é xarope de glicose se não adição de açúcar? E depois tem outras porcarias, inclusive proteína de soja, que a gente sabe que é proteína de má qualidade. Óleo de canola com baixo teor erúcico. E depois, se não bastasse, dois ingredientes depois tem óleo de soja, para melhorar a composição adiposa do nosso suplemento nutricional. E outro monte, um monte de outras baboseiras aqui, pessoal. Para vocês entenderem, os quatro primeiros ingredientes são: água, açúcar, açúcar e açúcar. E eles dizem que pode ser tomado por diabéticos, que não tem adição de açúcar. Na verdade, eles deveriam estar na cadeira, porque xarope de glicose é um adoçante adicionado, não é um ingrediente… não é um açúcar presente em um alimento. É um xarope, é um adoçante. Inclusive, a maltodextrina e também o amido de tapioca. Mas, dr. Souto, pode falar um pouco para a gente, você sendo presidente da ABLC, essa é a causa que nós estamos lutando contra, não é verdade? E isso é uma coisa criminal que está publicada por aí e pessoas podem acreditar, ser enganadas pelo marketing, pelo cartoon do doutor e pelo nome bonitinho desse produto da Nestlé achando que é um suplemento nutricional que pode ajudar pessoas enfermas a se recuperarem.
Dr. Souto: Por onde começar, Rodrigo? Veja bem, só para a gente deixar bem claro, porque afinal, daqui a pouco muita gente escuta o podcast. Quando você diz que é criminoso, na realidade é criminoso do ponto de vista moral, mas não é criminoso do ponto de vista penal.
Rodrigo Polesso: Exato! Esse é o problema.
Dr. Souto: Esse é o problema! Sim, deveria ser ilegal, deveria ser contra a lei esse tipo de coisa. Mas nenhuma lei está sendo quebrada. É antiético, é imoral, mas não é ilegal. Por quê? Porque a legislação permite isso e por isso tem esse cartoon. E esse cartoon é chocante, quando eu vi esse cartoon eu enlouqueci. Para descrever para quem está nos ouvindo, é uma figurinha, um cartoon, um desenho de um médico com o estetoscópio pendurado no pescoço, um jaleco branco e óculos, dizendo assim: Por possuir apenas açúcares já presentes nas matérias-primas de sua composição e nenhuma outra adição de açúcares e sacarose, o NovaSource Proline pode ser consumido por diabéticos. Eu gostaria de fazer o seguinte exercício mental: imagina o seguinte, entra na corrente sanguínea um monte de glicose, a pessoa tomou uma caixinha de 200 ml, quantos gramas, Rodrigo? 32?
Rodrigo Polesso: 32 gramas de glicose.
Dr. Souto: Lembrando, pessoal, que se eu pegar uma pessoa que tem uma glicose de 100 no sangue, 100 mg/dl, e seja um adulto com 5 l de sangue (que é o que um adulto médio contém circulando), eu vou ter 5 g de glicose em todo o sangue do indivíduo. Então 32 g de glicose para um diabético que já metaboliza mal a glicose é bastante coisa. E aí, ok, a pessoa tomou a caixinha, entra aquele monte de glicose no sangue e o pâncreas começa a dizer assim: ô, glicose, você veio de um ingrediente ou você foi acrescentada?
Rodrigo Polesso: Pouco importa.
Dr. Souto: Pouco importa! É a mesma glicose, é a mesma molécula, 6 carbonos e tal. A fórmula química da glicose que foi refinada da cana-de-açúcar, ou a fórmula química da glicose que está presente na tapioca, ou a fórmula química da glicose que está presente na maltodextrina é a mesma, porque só existe uma glicose. Se a pessoa não sabe isso, volta lá para a química do colégio. A fórmula da glicose é uma só. A glicose foi inventada muito cedo na evolução da vida na Terra, acho que há mais de 3 bilhões de anos, e desde então a glicose não mudou, é a mesma, não importa a fonte. Então, essa frase é extremamente capciosa. É uma frase escrita sem dúvida em um conluio de advogados, nutricionistas e pessoal de marketing no sentido de dizer… Eu primeiro vou ler o que está escrito e depois eu vou ler o que está por trás na minha interpretação. “Por possuir apenas açúcares já presentes nas matérias-primas de sua composição e nenhuma adição de açúcares, o produto tal pode ser consumido por diabéticos.” O que ele está dizendo na realidade? Este produto é cheio de glicose. Esse produto contém maus glicose do que qualquer outra coisa, embora ele seja dito como um produto rico em proteínas, ele na realidade é um produto rico em glicose. Então, o que nós estamos dizendo? Tudo bem, mas essa glicose é dos ingredientes, como se o corpo, o pâncreas ou qualquer outra coisa dentro do nosso organismo soubesse ler e diferenciar a origem dessa glicose.
Rodrigo Polesso: Tá, mas pensa, do que qualquer produto é feito? É feito de ingredientes. Então é ridículo você dizer… como você adiciona uma coisa a um produto que não é um ingrediente? Obviamente todo açúcar vai ser dos ingredientes. Eles acham que a gente é burro?
Dr. Souto: É lógico! E mais, o açúcar se fosse adicionado… pegar um pó, aquele pó que a gente compra no supermercado, o açúcar branco puro, refinado. Aquilo veio da onde? Veio de um acelerador de partículas? Foi feito no núcleo de uma supernova?
Rodrigo Polesso: É um ingrediente!
Dr. Souto: É um ingrediente! Veio de onde? Veio da cana, mas poderia ter vindo do milho, poderia ter vindo da beterraba. Tanto faz, é a mesma molécula, não faz diferença. Então por que isso está escrito aqui? Porque a legislação diferencia. O pâncreas não diferencia. A retina que está sendo lesada lá no diabético, o diabético que vai ficar cego, ele vai ficar cego não importa se o açúcar veio da cana ou da tapioca. Então, sim, isso é capcioso. E a forma que essa frase está posta: por possuir apenas açúcares dos ingredientes pode ser consumido por diabéticos. Ou seja, se tivesse os mesmos açúcares, mas eles fossem refinados e acrescentados, aí não podia. Agora, como ele veio… como que é o ingrediente? Como ele veio do amido da tapioca, da maltodextrina, do xarope de glicose, aí pode.
Rodrigo Polesso: Ou seja, refinados e processados.
Dr. Souto: Assim, eles realmente acham que se a pessoa consumir maltodextrina essa glicose vai passar pelo sangue e ir direto para a urina, mas se ela consumiu açúcar da cana esse vai aumentar o açúcar no sangue e o outro não? Eu não consigo entender. É muito revoltante. Muito revoltante! Sim, eu entendo que a indústria faz isso porque a legislação permite. Mas continua sendo revoltante. Tanto porque algo pode ser ao mesmo tempo imoral e legal, algo pode estar dentro da lei, ser legal, mas ser imoral, ser incorreto. Como pelo fato de que a lei é imoral. Nós podemos passar discutindo o sexo dos anjos, se é só por ignorância ou se é por interesse que a legislação tenha esse nível de imoralidade e desinformação. Mas o pâncreas do diabético não vai reagir diferente independentemente dessa discussão. 30 g de glicose vindos da maltodextrina, ou vindos do milho, ou vindos da tapioca, ou vindos da cana, são 30 gramas de glicose.
Rodrigo Polesso: Ainda mais de forma líquida, que acelera ainda mais a absorção. O problema é que imoralidade e ética deveria ser acima de qualquer trâmite legal. Mas, infelizmente, nem todo mundo pensa da mesma forma, mas você com a informação pode fazer o que quiser depois.
Dr. Souto: Nessa tabelinha nutricional que nós estamos lendo, lá em baixo o último item diz assim: “Comentários: para pacientes portadores de diabetes tipo 1 e 2.” Ou seja, isso realmente… Desculpa, pessoal, vou ser repetitivo. Os primeiros ingredientes são maltodextrina, amido de tapioca e xarope de glicose, e este produto é indicado pela fábrica para pacientes diabéticos tipo 1 e tipo 2. Tipo 1, pessoal, aquele que a glicose sobe loucamente só de olhar para um negócio desse. Então, assim, é criminoso não no sentido legal do termo. É criminoso no sentido ético e moral do termo. É criminoso no sentido de que nós estamos sim piorando a saúde das pessoas, de que nós estamos sim aumentando a glicose e produzindo tudo o que o aumento da glicose produz em um diabético. E nós estamos fazendo isso dizendo que isso é bom para ele.
Rodrigo Polesso: Exatamente. E quiçá isso se torne criminal também no âmbito legal no futuro. Continuando a falar de sujeira, de má-fé, de má índole e interesses financeiros inescrupulosos, vamos a mais uma! Saiu na Folha um artigo que originalmente foi publicado no New York Times. O título, a machete é a seguinte: Como fabricantes de junk food influenciam a política nutricional na China. Organização bancada por empresas como Cola-Cola prega exercício e esquece a alimentação saudável contra diabetes. Eu vou ler alguns trechos que eu peguei desse artigo para você entender, porque é melhor eu ler do que explicar. Olha só: “A campanha 10 minutos felizes criada pelo governo chinês para encorajar estudantes a fazerem 10 minutos de exercício por dia pode parecer um passo elogiável rumo à melhora da saúde pública em um país que vem enfrentando níveis alarmantes de obesidade infantil, mas essa iniciativa, como outros esforços chineses que enfatizam o exercício como melhor maneira de perder peso, são notáveis pelo que não mencionam: a importância de cortar o consumo de junk food altamente calórico e de bebidas açucaradas que se tornaram onipresentes na segunda maior economia do planeta. A mensagem chinesa de que a boa forma é o que importa foi formulada em boa parte pela Coca-Cola e outros gigantes ocidentais dos alimentos e bebidas, de acordo com um par de novos estudos que documentam de que maneiras essas empresas ajudaram a dar forma a décadas de esforços científicos chineses e às políticas públicas do país quanto às doenças relacionadas a dieta e obesidade (por exemplo, diabetes tipo 2 e hipertensão).”
Dr. Souto: Posso te interromper, Rodrigo?
Rodrigo Polesso: Diga!
Dr. Souto: Vamos pensar, ouvintes. A Coca-Cola fabrica halteres?
Rodrigo Polesso: Exato! Fabrica academia?
Dr. Souto: Fabrica academia? Fabrica tênis de corrida? Então, por que a Coca-Cola está sugerindo isso? Vai pensando enquanto o Rodrigo lê.
Rodrigo Polesso: O artigo até já deu a dica colocando atenção no exercício e tirando da alimentação. As constatações publicadas na quarta-feira pelas revistas acadêmicas BMJ, etc, mostram a Coca-Cola e outras multinacionais operando por intermédio de uma organização chamada International Life Sciences Institute. Parece sério. Cultivaram importantes autoridades chinesas em um esforço para conter o crescente movimento pela regulamentação dos alimentos e refrigerantes, que vêm avançando vigorosamente no ocidente. O ILSI, que é essa organização, é uma organização internacional sediada em Washington e financiada por muitos dos maiores nome entre fabricantes de alimentos, entre os quais a Nestlé, o McDonald’s, Pepsi, Yum! Brands, além da própria Coca-Cola. O instituto, pessoal, tem 17 filiais, a maioria das quais em países de mercado emergente, como o México, Índia, África do Sul e Brasil. E se define como uma ponte entre cientistas, autoridades governamentais e as empresas multinacionais alimentícias. Mas na China, essa organização bancada por esses lobos, a ILSI está tão bem posicionada que dirige as suas operações dentro do próprio Centro de Controle e Prevenção de Doenças Chinês, uma organização governamental em Pequim. A Coca-Cola tentou táticas semelhantes nos Estados Unidos formando parcerias com cientistas influentes e criando uma organização sem fins lucrativos chamada Global Energy Balance Network, da qual a gente já falou aqui no podcast, inclusive, a fim de promover a mensagem de que o exercício, e não dietas, era a solução para a crise de obesidade no país. Mas em 2015, depois de um artigo do New York Times também sobre essa campanha e de protestos subsequentes dos ativistas da saúde pública, a empresa dissolveu a organização. Vejam só, pessoal, em se tratando da questão da Coca-Cola, como dito no próprio artigo, quando confrontadas essas empresas simplesmente podem dizer que a Coca-Cola ou outra bebida açucarada são somente um produto e que ninguém é obrigado a comprá-las. E esse é um bom ponto, na minha opinião, assim como lojas de donuts, sorveterias, pizzarias, McDonald’s, etc, ninguém come isso achando que é saudável e a compra é completamente voluntária. O grande problema é quando através do marketing essas empresas passam a ideia falsa de que o consumo desses alimentos é irrelevante em questão de saúde, ou quando diminuem artificialmente a impressão dos danos do consumo frequente deles colocando o foco em outras coisas. Então, a solução para todos esses problemas no mundo inteiro, na minha opinião, novamente, é fazer o que a gente está fazendo aqui: educar e capacitar as pessoas intelectualmente sobre o que são alimentos que constroem saúde e boa forma e o que são substâncias comestíveis que destroem ambos. Uma vez que uma pessoa tem esse conhecimento, ela não vai ficar à mercê das garras inescrupulosas da mídia e vai poder, por si só, tomar as melhores decisões. E aí a gente não pode contar com o conto de fadas que essas grandes, gigantes empresas irão da noite para o dia começar a nos ajudar a ser mais saudáveis; que a Coca-Cola irá começar a vender alimentação forte e hambúrguer com folha de alface em vez de pão. A responsabilidade de cuidar da sua saúde é sua e não dessas empresas. Não está certo o que eles estão fazendo, mas não dá também para a gente se vitimizar demais, porque a compra é voluntária e a decisão é nossa. Essa é a minha pitada nesse assunto. Dr. Souto o que você tem a dizer? Esse assunto que não é novo, mas essa perspectiva da China eu também não conhecia.
Dr. Souto: É um assunto que não é novo, mas é interessante para mostrar… E é curioso, porque a China é um país que originalmente era um país comunista fechado, depois abriu a sua economia, segue politicamente fechado. Mas a Coca-Cola, que é, vamos dizer… Quer maior exemplo do capitalismo selvagem do que a Coca-Cola? Eles colocaram a Coca-Cola através dessa instituição (não só a Coca-Cola, mas várias outras empresas, mas a Coca-Cola é uma das principais) em um escritório dentro do governo chinês ditando esse tipo de bobagem. Tem uma coisa que esse artigo não citou, mas imediatamente eu me lembrei quando vi essa sigla. Quem leu o livro do Tim Noakes, The Lore of Nutrition, é o livro onde ele descreve todo esse processo que ele foi vítima na África do Sul por parte do establishment nutricional. No livro ele descreve que descobriu que quem estava patrocinando, inclusive, os advogados da outra parte que estavam brigando contra ele era esta mesma instituição. Esse pessoal tem tentáculos pelo mundo afora e as táticas vão variando. Nos Estados Unidos eles fizeram esse Energy Balance Consortium, que depois que o New York Times expôs, o troço foi fechado, mas eles vão utilizar outras coisas. Este mesmo grupo estava por trás, nós comentamos isso aqui no podcast, quando a Michelle Obama propôs originalmente combater a obesidade infantil nos Estados Unidos. Num primeiro momento ela pretendia mexer na dieta e subitamente mudou para o let’s move, vamos nos movimentar. E a ênfase saiu completamente da comida e foi só para o exercício. Nada contra o exercício, é ótimo, muito bom para a saúde. Mas o exercício tem papel absolutamente secundário no emagrecimento, está certo? Por quê? Porque salvo para atletas, gente realmente em um patamar de nível de atividade física que não é comum, o gasto calórico simplesmente não costuma ser suficiente para produzir efeitos de emagrecimento significativo se não houver uma mudança concomitante na dieta. Já uma dieta adequada é capaz de produzir perda de gordura mesmo que uma pessoa não esteja se exercitando. Então uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Exercício é para a saúde e para massa magra, perda de gordura se faz por dieta. E aí, o que a Coca-Cola e os outros patrocinadores desta instituição fazem? Vamos tentar disseminar que o importante é a atividade física. Eu recentemente revisei dados do Brasil do VIGITEL, que são dados colhidos por entrevistas telefônicas com um número grande, dezenas de milhares de pessoas. E ali no VIGITEL o que a gente observa é o seguinte: a obesidade aumentou nos últimos 10 anos, o diabetes aumentou, as doenças crônicas aumentaram, tudo isso aumentou. E o que aumentou também nos últimos 10 anos? A prática de atividades físicas e o consumo de vegetais. Então, veja bem, está errado dizer que as pessoas estão engordando porque elas estão cada vez mais sedentária, porque tem controle remoto e não precisa mais levantar para trocar o canal da televisão. Pessoal, primeiro isso é bullshit, segundo é que existem dados científicos. Essas coisas não precisam ser chutadas, a gente pode avaliar e as pessoas estão sim fazendo mais atividade física hoje do que elas faziam há 10 anos atrás no Brasil, inclusive. O problema é: elas estão comendo mais junk food, elas estão comendo mais açúcar, elas estão comendo mais farinha, por isso elas estão engordando. Uma interpretação minha sobre esses dados do VIGITEL é a seguinte: ao olhar esses dados nós temos que ver que as pessoas estão fazendo ou estão tentando fazer aquilo que as autoridades recomendam. Então, repito, elas estão comendo mais frutas e vegetais, elas estão fazendo mais exercício físico. Por que elas estão engordando mais e ficando mais diabéticas? Porque elas estão comendo da forma que estão dizendo para elas comerem: 60% de carboidratos. Ou seja, as pessoas estão adoecendo não é porque elas não seguem as recomendações, elas estão adoecendo porque elas seguem as recomendações.
Rodrigo Polesso: E muitas pessoas já estão ficando cientes disso, inclusive, nos Estados Unidos, como a gente acabou de ver, essa organização da Coca-Cola foi ladeira abaixo porque as pessoas estão ficando mais conscientes. O lucro dessas empresas nesses países está começando a cair, porque as pessoas estão preferindo outras coisas ao invés de Coca-Cola e bebidas adoçadas. Por isso que eles estão investindo bastante em tentar entrar de espiões nesses países em desenvolvimento, que inclui o Brasil, para tentar com isso voltar a sustentar o lucro dessas empresas. A melhor arma contra isso aí, para se proteger é a informação e é isso que você está absorvendo aqui com a gente.
Dr. Souto: Então não pensem vocês que é só na China. Está acontecendo aqui no Brasil também, que por sinal tem uma sede dessa mesma organização.
Rodrigo Polesso: Bom, chega de falcatrua! Deixa eu falar para vocês do caso de sucesso de hoje aqui, notícia boa! Quem mandou foi a Mônica, ela mandou foto do antes e depois com a mesma camiseta, inclusive. Bem legal! Ela falou: “O mais importante foi a regularização da minha glicose, eu estava pré-diabética, e da minha pressão arterial que está controlada.” O que ela fez? Não foi exercício. Ela seguiu o programa Código Emagrecer de Vez, que é focado em alimentação, em aplicar os hábitos alimentares para você regularizar o seu metabolismo e regularizar também o seu peso. Ela postou que perdeu 13,8 kg, bastante peso em pouco tempo, transformou a vida. Ela resolveu contar no testemunho e focar nessa parte da glicose que realmente foi estabilizada. Veja, não foi com aquele produto da Nestlé que ela regularizou a glicose nem a pressão arterial. Foi com a alimentação forte feita corretamente. Parabéns para a Mônica! E obrigado por ter enviado o teu testemunho. Último assunto aqui. Um ensaio clínico publicado em setembro de 2018 no jornal New Trends estudou os efeitos de uma dieta cetogênica em 20 pessoas obesas ao longo de 4 meses. Cada pessoa foi o seu próprio controle. Ou seja, eles acompanharam cada pessoa e depois viram as diferenças que aquela pessoa teve em alguns pontos ao longo do processo de 4 meses. O objetivo era avaliar mudanças significativas em peso, qualidade de vida, qualidade do sono, vontade de tomar álcool, gula por comida e também atividade física e sexual. Depois de 4 meses seguindo a dieta cetogênica, o estudo verificou que as pessoas perderam em média 18 kg de massa gorda e tiveram mudanças positivas estatisticamente significantes em relação aos outros fatores. Ou seja, as pessoas melhoraram no controle da gula, não ficam mais reféns da gula como antes; elas melhoraram em questão da atividade física, da disposição; a qualidade do sono melhorou e também na função sexual no caso das mulheres. O estudo aponta que houve um aumento geral de qualidade de vida ao se perder peso dessa forma. Como eu sempre falo aqui, a perda de peso é a ponta do iceberg. É o efeito colateral positivo de uma intervenção alimentar que reduz toxinas e aumenta nutrição, que eu acho que deve ter sido o caso dessa dieta cetogênica nesses 4 meses. É interessante esse estudo, foram 20 pessoas seguidas ao longo de 4 meses, onde se comparou o ponto A de cada pessoa com o ponto B no final do processo de cada pessoa, se coletou essas informações e viu-se que a qualidade de vida das pessoas aumentou, inclusive o controle sobre a fome, atividade física, qualidade do sono, função sexual também. Isso não é novidade, quem já seguiu intervenções parecidas sabe que esses tipos de benefícios são reais, mas é legal ver mais uma evidência, ainda que, digamos, pequena a respeito desse benefício.
Dr. Souto: Eu acho que vem principalmente em um bom momento, porque volta e meia alguém comenta alguma coisa do tipo: o problema da restrição de carboidrato é que o carboidrato, a glicose é importante para a serotonina, então a pessoa vai ficar sem prazer na vida, vai ficar deprimida porque não está comendo carboidrato.
Rodrigo Polesso: É por isso que o corpo fabrica, não é? De tão importante que é!
Dr. Souto: Isso! E quando se faz um ensaio clínico randomizado a gente vê que na realidade é o contrário. Uma frase que eu gosto e acho que vale repetir (se não me engano é do Vinay Prasad), ele diz assim: o caminho para o inferno é pavimentado por bioplausibilidade. Muitas coisas são plausíveis, a gente pode dar mecanismos… porque a glicose é importante para a síntese de determinado neurotransmissor, que se não estiver presente vai deixar a pessoa triste. Não, a pessoa está triste porque ela é viciada em açúcar e agora ela está sem o vício. Não tem nada a ver com esse mecanismo bioquímico ridículo. Faz um ensaio clínico randomizado e vê o que acontece. Aí o Rodrigo acabou de ler para vocês: melhorou as coisas. Sinto muito.
Rodrigo Polesso: E de vez em quando a gente lê aqui esses estudos mecanísticos de MRT ou enzima do caramba a quatro. Tá, mas a pessoa está sorrindo mais quando levanta da cama ou não? Esse é o ponto!
Dr. Souto: A realidade tem primazia, não é?
Rodrigo Polesso: Sempre! Fatos não estão nem aí para a sua opinião. Fatos não estão nem aí para as suas emoções. É basicamente isso, não importa o que você pensa, fato é fato, evidência é evidência. A prova está no pudim, de preferência um low carb. Hora da gente compartilhar o que a gente comeu no almoço. Almoço, você também almoçou… não jantou ainda, mas você deve ter almoçado já. Então, compartilha aí o que você degustou.
Dr. Souto: Olha só que interessante, eu normalmente não almoço no hospital, mas hoje eu almocei no hospital. Claro, porque o hospital tem que ser saudável, a comida tem baixa gordura. Então, eu comi um peito de frango, comi salada. Hoje de tarde, era umas 4:30 h, eu estava com fome, atendendo no consultório com fome! E eu pensei assim: que estranho! Porque normalmente, se tem uma coisa que eu não tenho é fome no meio da tarde. E aí eu me dei conta que, claro, eu comi peito de frango com salada. Então assim, se tivesse uma fatia de queijo, se tivesse um ovo para comer junto, ou então se fosse uma sobrecoxa de frango com a pele, aí a sensação seria bem diferente. E isso é uma coisa que eu sempre tenho dito para as pessoas quando eu estou conversando sobre low carb. Eu digo que a gordura na dieta cumpre duas funções muito importantes: sabor e saciedade. Quando a gente tira… Está bem, eu entendo que a pessoa não queira colocar demais, porque a pessoa está querendo perder peso e a gordura tem um componente calórico. Mas também não pode ser muito pouco. Quando é muito pouco dá fome e se torna contraproducente. Além do que não é tão gostoso.
Rodrigo Polesso: Com certeza! Acho que todo mundo deve ter tentado comer brócolis no vapor e peito de frango sem gordura e não vejo ninguém que transformou a vida fazendo isso e continuou seguindo isso como um estilo de vida. Eu acho que isso fala bem alto.
Dr. Souto: Eu acho que melhor seria dar o brócolis para o frango e comer o frango, não o peito.
Rodrigo Polesso: De preferência não o peito! Exatamente! Eu comi um fígado hoje. Achei fígado aqui no mercado. Estou na Costa Rica agora, em uma cidadezinha muito pequenininha de 7 mil habitantes, mas achei o fígado. Que bênção! Peguei esse fígado e também ovos de granja (que aqui tem bastante). Essas duas coisas: ovo, fígado, fiz num azeite de oliva numa frigideira aqui, tá feita a festa! Um queijinho de cabra de sobremesa e não precisa de mais nada. Realmente, como você, dr. Souto, eu também como duas refeições por dia. E não é porque eu me forço a fazer isso, é porque simplesmente não tenho fome. Eu como almoço e como janta e isso chega. Não existe mais lanche da tarde, lanche da manhã, lanche antes de dormir. E acredite, já fiz 6 ou mais refeições por dia e eu sentia fome em todas essas refeições. Isso não é vida! Imagina, uma pessoa tem que ficar no avião… Por isso que é engraçado no avião, eles servem várias refeições. Várias não, quando é um voo bem longo de 10 horas te servem janta, passam durante o voo para te dar uma barrinha de cereal e no final te servem um café, que é um misto. E muitas pessoas compram antes de embarcar vários quitutes para ficar comendo ao longo do voo, porque elas não aguentam esses intervalos, de 3, 4 ou 5 horas entre uma refeição e outra. Então, na verdade, quando eu vou no avião e tenho que comer ou como por algum motivo, duas coisas acontecem. Uma: eu sinto mais fome quando eu como comida de avião. Duas: eu fico inchado pra cacete! Isso toda vez acontece. É de se pensar! Então é isso aí! Pessoal, vocês ouviram hoje duas falcatruas aqui. Então vocês devem estar pensando sobre isso. Se protejam, porque ninguém tem mais interesse em proteger a sua saúde do que você mesmo. E mais os benefícios que a gente viu que vão muito além da perda de peso somente. E depois você ficou sabendo o que a gente comeu nas nossas refeições. E agora chega, esse episódio ficou longo demais! Siga a gente no Instagram, se rodeie de pessoas que estão alinhadas com o seu objetivo. Siga lá o dr. Souto: @jcsouto. Siga lá o @rodrigopolesso e a @ablc.org.br. Se rodeie de informações, que é assim que a gente se protege. Todo mundo ajuda todo mundo. Pessoal, a gente se vê semana que vem! Obrigado, dr. Souto! Um grande abraço!
Dr. Souto: Obrigado e até a próxima!