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Neste podcast:
- Qual é a melhor, dieta baixa em CARBOIDRATOS ou baixa em GORDURAS? Será que temos um veredicto?
- Além do mais, seria LOW CARB perigosa para mulheres GRÁVIDAS como divulgado pela mídia recentemente?
Nos acompanhe neste nosso bate-papo de hoje a medida que analisamos a evidência de tudo isso!
Passe adiante!
Compartilhe! Seja saudável, seja em forma, seja feliz! =)
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🙂
Ouça o Episódio De Hoje:
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Referências
Estudo de Stanford
Post do Dr. Souto
Examine.com (HDL-C)
Examine.com (Triglicerídeos)
Artigo no G1 Sobre Cortar Carboidratos ou Gorduras
Artigo da Revista Saúde
Estudo Mostra Que é Prejudicial Cortar Carboidratos Durante a Gravidez
Casos de Sucesso do Dia
Transcrição do Episódio
Rodrigo Polesso: Olá! Bom dia para você e bem-vindo a mais um episódio aqui do nosso podcast semanal, o podcast da Tribo Forte que você já conhece e está acostumado a seguir com a gente aqui semanalmente. O podcast hoje é o número 103. 103! Três dígitos, já! E hoje o podcast está recheado, viu! Está recheado. Saíram duas coisas notórias nesses últimos dias, bem recentemente. E também foram repercutidas na mídia. A gente recebeu bastantes mensagens do pessoal. E aí, comenta sobre isso… comenta sobre aquilo… Então a gente vai fazer nosso melhor para fazer isso. Compartilhar, principalmente as partes principais sobre essas coisas que saíram. A gente vai falar hoje sobre low carb versus low fat. Um ensaio clínico randomizado novo que saiu com resultados interessantes. E um ensaio clínico bem conduzido. A gente vai falar sobre isso. E também sobre a questão de mulheres grávidas e low carb. Que saiu na mídia, não sei se você que está escutando viu. Na mídia saiu que low carb pode não ser adequada para todas as mulheres, com esse medo do defeito do tubo neural nos bebês. Então, a gente vai comentar um pouco sobre isso aí nesse podcast. Está bem recheado, bastante informação bacana para você. E claro, para te proteger, para te ajudar a viver a sua vida e baseado nas melhores verdades que a gente tem disponível, e não em coisas comprovadamente balelas. Dr. Souto, tudo bem?
Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo. Bom dia para mim, boa noite para você. E bom dia para os nossos ouvintes.
Rodrigo Polesso: Eu vou usar um panorama rapidinho sobre esse primeiro estudo aqui. Para o pessoal ficar na mesma página. Depois a gente discute. Tem vários aspectos que a gente discutir aqui. A gente vai tentar focar no que é útil para você saber, para você entender um pouco mais sobre isso, já que é um assunto um pouco… que pode ser potencialmente um pouco mais técnico. Mas os resultados não são tão técnicos assim, então são fáceis de entender. Basicamente é um ensaio clínico randomizado que foi feito com 609 pessoas, por um período de 12 meses. Foram dois grupos: um grupo deles foi low carb e um grupo foi low fat. Um baixo carboidrato e o outro baixo de gordura. E ambos foram sem controle calórico. Ambos foram sem controle de calorias. Nos primeiros dois meses o grupo low carb foi instruído a consumir até 20 gramas por dia de carboidrato, e o low fat até 20 gramas de gordura por dia. Depois desses primeiros 2 meses, eles foram instruídos a relaxarem como achassem melhor para manter isso indefinitivamente. Então o pessoal do low carb podia relaxar um pouco nesses 20 gramas até uma quantidade que eles achavam melhor, mais adequada para longo prazo. E também o pessoal das gorduras a mesma coisa. No final o grupo low carb estava consumindo já um pouco mais que 130 gramas de carboidrato por dia, no final desse estudo de 12 meses. Então, não seria de fato uma dieta que a gente consideraria low carb. Esse é um ponto interessante de se notar. A comparação final foi de uma dieta moderada em carboidratos (no final do estudo), e uma dieta moderada em gorduras. Mas ambas, e aqui está o ponto importante, tudo foi baseado em comida de verdade, ou seja, foi low fat saudável baseado com low carb saudável. Ou seja, alimentos de verdade e limitado em substâncias comestíveis. Os resultados notórios foram os seguintes: a perda de peso no final, e isso que saiu em todas as matérias, a perda de peso ao final dos 12 meses foi 6 quilos em média para o low carb e 5,3 para o low fat. Ou seja, diferença estatisticamente não significante. E aí que surgiram todas essas matérias na mídia, que eu acho que é um ponto legal para a gente começar a discutir porque tem várias nuances a respeito disso. Mas então na mídia saiu: “ah, gordura é melhor que carboidrato”, aquela briga de sempre par atentar discutir. Então a gente viu que nesse estudo, nesse ensaio bem conduzido, o resultado de diferença de perda de peso, aparentemente foi uma diferença insignificante. E foi um estudo interessante e único por eles terem controlado a qualidade da alimentação, regulado low fat, low carb, mas mantendo a qualidade da alimentação que é um ponto bastante principal. Então, dr. Souto, veio muita gente pedindo para a gente comentar esse resultado, e as pessoas focam na conclusão: a perda de peso foi igual, então, as dietas são iguais e é isso, acabou. Mas acho que tem várias nuances, não é?
Dr. Souto: Muitas, muitas. Hoje nós vamos falar sobre dois artigos. Esse é um artigo muito bem feito, muito bem conduzido. Um desses que a gente tem prazer de falar. E o outro, o próximo que nós vamos falar é um artigo péssimo, que a gente tem raiva. Então hoje vai ser bem florido. Uma coisa interessante que as pessoas tem que ter em mente sobre este artigo que nós vamos comentar agora é que o objetivo original dele não era testar se low carb era melhor, ou low fat era melhor. Não era esse o objetivo dele. Então vamos dar um pouquinho de histórico: o autor principal desse estudo se chama Christopher Gardner. É um sujeito muito respeitado, ele é um autor que há 10 anos atrás conduziu um estudo clássico, que saiu publicado no New England, com quatro braços, testando quatro dietas diferentes. Então chamava estudo A à Z. A de Atkins e Z de Zone. Então, assim, ele pegava desde uma dieta bem low carb que era Atkins, até a dieta Ornish bem low fat, quase vegetariana. E naquele estudo, low carb (no caso, Atkins) foi melhor em vários parâmetros. E o dr. Gardner fez então uma chamada análise post hoc, quer dizer, aquela análise que não tinha sido prevista originalmente no estudo de 2007. Então ele diz assim: olha, vamos tentar ver se tem algo que ajuda a predizer quem é que vai responder melhor a uma dieta. Porque ele, Gardner, observou naquele estudo de 2007, que, embora Atkins tivesse sido melhor que as outras, mas teve gente que respondeu muito bem a cada uma das quatro dietas. E teve gente que não respondeu bem a cada uma das quatro dietas. Então ele disse assim: em média, low carb parece ser melhor, mas para algumas pessoas low fat é melhor. E ele queria saber porquê. Então ele fez um estudo na época e esse estudo sugeriu que conforme a pessoa fosse mais resistente à insulina, conforme ela estivesse mais próxima do espectro da síndrome metabólica, do diabetes, essa pessoa responderia melhor à low carb. Então, esse estudo de agora cresceu a partir daquele. Dessa vez o estudo era para testar essa hipótese: será que a gente tem como saber, antes mesmo de começar uma dieta, qual é a dieta melhor para a gente baseado em exames? Então, ele fez o seguinte, primeira hipótese primária do estudo: será que genes específicos ajudam a predizer a resposta à dieta? Então eles pesquisaram 5 genes que favoreceriam uma melhor resposta à dieta low fat e 9 genes que favoreceriam uma melhor resposta à dieta low carb. E a segunda hipótese é a seguinte: será que a secreção de insulina que a pessoa tem quando ela faz um teste de tolerância à glicose, se a gente medir a insulina também aos 30 minutos, será que isso ajuda a predizer quem é que vai responder melhor a cada dieta? Porque a hipótese faz muito sentido. A ideia é assim: se quando você consome carboidrato seu organismo secreta muita insulina, é possível que se você fizer uma dieta pobre em carboidratos, você tenha uma resposta melhor do que aquela pessoa que quando come carboidratos secreta só um pouquinho de insulina. Então, esse estudo é fascinante! Já começa por aí. Porque ele testou essas duas hipóteses que nunca tinham sido testadas com esse rigor, ou seja, com 600 pacientes, em um ensaio clínico randomizado, e com todas essas hipóteses definidas a priori. E, vou acabar com a surpresa do povo, não deu diferença em coisa nenhuma. Então tem muita gente por aí vendendo a ideia de que você pode fazer exames, testes genéticos, e que esses testes genéticos vão dizer qual é a melhor dieta para você. Esse estudo mostrou que a coisa não é assim. Na realidade…
Rodrigo Polesso: Até agora a genética só deu furada.
Dr. Souto: Exatamente, e isso serve de alerta para aquilo que a gente sempre fala. Já está virando um lema nosso aqui. Que a realidade tem primazia sobre os mecanismos. O pessoal estava usando os testes genéticos sem que nunca tivesse havido um ensaio clínico randomizado para ver se isso prestava ou não. Só que era assim: quem tem determinados genes, em estudos observacionais, isso está associado com uma melhor resposta à uma dieta low carb. Bom, estudo observacional só serve para levantar hipótese. E aí vem o ensaio clínico randomizado e mostra que esses testes genéticos, pelo menos esses que foram feitos nesse estudo (e foram vários), não adiantaram em nada para predizer quem é que ia responder melhor ou não. E o que a mim, Rodrigo, pessoalmente surpreendeu mais foi o fato de que nem mesmo o teste de secreção de insulina conseguiu dizer quem é que ia responder melhor a cada tipo de dieta.
Rodrigo Polesso: Essa é a parte mais interessante, também achei.
Dr. Souto: É muito interessante. Claro, tem um detalhe importante que as pessoas têm que saber. É um detalhe muito importante. Um você já salientou: as duas dietas foram de excelente qualidade. Então, o grupo low fat, o grupo que foi instruído a restringir a gordura, também foi instruído a restringir açúcar, e também foi instruído a restringir farinha branca, e também foi instruído a restringir alimentos processados. De modo que isso atenua a diferença entre os grupos.
Rodrigo Polesso: Com certeza.
Dr. Souto: Esse é um detalhe. O outro detalhe importante é que só entraram nesse estudo pessoas com sobrepeso, mas que não eram diabéticas e pessoas que não tinham dislipidemia, que não tinham síndrome metabólica manifesta. Então esse estudo aqui não está discutindo se low carb é melhor para diabetes ou não. A gente sabe que é. Tem ensaios clínicos randomizados, tem metanálise mostrando isso. Esse estudo aqui não está discutindo se low carb é melhor para quem tem síndrome metabólica, para quem tem triglicerídeos altos, HDL baixo, pressão alta, glicose limítrofe, porque a gente também sabe que low carb é maravilhoso nessa situação. O que esse estudo está discutindo é exclusivamente peso. Peso e mais nada. E vendo se testes genéticos ajudam a decidir quem vai responder melhor a uma dieta ou não, e vendo se testes de insulina ajudam a predizer quem vai responder melhor ou não. Então para peso e com as dietas formuladas dessa forma, não houve diferença. O que é muito interessante.
Rodrigo Polesso: Sabe uma coisa interessante a respeito dessa questão do peso, já que você tocou? À medida em que o tempo passou, as pessoas começaram a comer mais carboidratos, as pessoas começaram a comer mais gorduras. Então apesar de não estar contido na publicação principal do estudo esse detalhe, a diferença de peso em 3 meses e 6 meses, está disponível no material suplementar do estudo. Tem um link lá de material suplementar. Aos 3 meses… porque nos 12 meses a gente falou. Em 12 meses não teve diferença significativa de peso. Só que aos 3 meses o low carb perdeu, em média, 6,9 versus 5,8. Um pouquinho maior a diferença. E daí com 6 meses o low carb perdeu 9,1 ao invés de 7,5, que é uma diferença que está próxima de ser estatisticamente significante. E a diferença no final dos 12 meses é de apenas 0,7 quilos dos dois. Mas aos 6 meses, quando a dieta ainda continuava com menos carboidratos, ainda mais no começo que estava com menos, já era de 1,6 na média, na média geral. Que é uma diferença que já começa estatisticamente ficar significante. Aliás, eu acho também que, apesar disso, foi justamente nesse período (até 6 meses) que o grupo low fat ingeriu ligeiramente mais calorias que o low carb. Ligeiramente. Então ele comeu um pouquinho a mais, pelo que o gráfico mostra, e ainda assim até os 6 meses a diferença foi consideravelmente maior quando o pessoal do low carb não tinha aumentado tanto o consumo de carboidrato. Mas é um detalhe que está lá no suplemento, não está na aplicação principal.
Dr. Souto: Perfeito. Um detalhe interessante ainda nesse assunto na questão da qualidade dos alimentos, eu vou ler aqui da postagem que eu… Escrevi uma postagem sobre isso no blog. Então assim: ambos os grupos foram instruídos a maximizar a ingestão de vegetais, minimizar o consumo de açúcares adicionados, farinhas refinadas e gorduras trans, focar em alimentos integrais que tenham sido minimamente processados, que fossem densos em nutrientes e preparados em casa sempre que possível. Então, veja bem, muito daquilo que nós na comunidade de comida de verdade defendemos foi abraçado por esse estudo nos dois grupos: no grupo low carb e no grupo low fat. E aí eu sigo escrevendo ali: isso é muito importante porque talvez tenha sido a primeira vez que um ensaio clínico randomizado assegura a qualidade da dieta em ambos os grupos. Até agora o foco vinha sendo exclusivamente em macro nutrientes: gorduras, proteínas e carboidratos, e não em qualidade. Acontece que isso poderia conferir uma vantagem indevida aos grupos low carb dos demais estudos. Porque que eu digo isso? Olha só, low carb por definição não vai incluir açúcar, está certo? Por definição se é low carb não tem açúcar. Nem farinha, de tipo nenhum. Nem refinada nem não refinada. Nem a maioria dos alimentos processados. Por que a maioria dos alimentos processados tem o que? Açúcar ou farinha. De modo que, não sei se vocês se deram conta disso, vocês que estão nos ouvindo… mas simplesmente orientar que uma pessoa consuma, digamos, menos de 40 gramas de carboidrato, praticamente assegura que a dieta vai ter alta qualidade. Que ela vai ser uma dieta pobre em processados, pobre em açúcar, pobre em farinha. Composta basicamente de carnes, peixes, aves, ovos, vegetais e frutas de baixo índice glicêmico.
Rodrigo Polesso: Enquanto low fat não necessariamente, não é?
Dr. Souto: É! Então, se eu pegar e… ao contrário. Se eu disser simplesmente: olha, a única regra é consumir menos de 20 ou menos de 40 gramas de gordura. Bom, é possível, teoricamente, construir a pior dieta que vocês podem imaginar se eu simplesmente limitar a gordura. Por exemplo: cereal açucarado, pão, massa, biscoito low fat, sorvete low fat, suco de fruta de caixinha, picolé, refrigerantes normais, doces, guloseimas. Tudo isso é baixa gordura. Então o que esse estudo aqui levanta, uma coisa muito interessante, é que… Veja bem, pessoal, não se está questionando… E isso é muito interessante, esse estudo já não questiona se low carb funciona ou não. A gente já sabe que funciona. O foco mudou para: será que se eu fizer uma low fat boa, uma low fat sem essas porcarias todas, será que ela não pode ser, pelo menos, tão boa quanto low carb? Assim, praticamente o que a gente viu na blogosfera, no twitter, são as pessoas que não apoiam low carb tendo um grande alívio de que pelo menos nesse estudo low carb não foi muito superior. Por que que não foi muito superior? Por dois motivos óbvios: primeiro porque não foi exatamente low carb, o Rodrigo já falou para vocês. O pessoal depois dos primeiros 2 meses, com 3 meses já estava comendo 95 gramas de carboidrato por dia. E ao final do estudo estava comendo 130. 130 já saiu praticamente realmente da definição de low carb que a maioria das pessoas aceita. E por outro lado, o grupo low fat reduziu o seu consumo de açúcar e farinha. Então foi um low fat que também foi um pouquinho low carb, comparado com um low carb que não era muito low carb.
Rodrigo Polesso: Exato, exato!
Dr. Souto: Então, assim, todas as notícias da mídia e tal, estão focando na coisa errada. Esse estudo não tinha como objetivo ver qual é a dieta que é melhor. Não era esse objetivo. Se as pessoas duvidam, peguem o estudo do JAMA e leiam. Ele diz assim: o objetivo primário é testar o efeito da genômica em qual das dietas o paciente vai responder melhor. E o estudo, o segundo primário, é testar o efeito da resposta insulínica para ver se pode predizer respostas às dietas. Não está como objetivo do estudo ver qual dieta é melhor. Até porque…
Rodrigo Polesso: A gente não está competindo com ninguém, Dr. Souto. A gente tem uma coisa em comum, que é a comida de verdade.
Dr. Souto: Claro, tanto que… O título que eu botei na minha postagem é assim: O Triunfo da Dieta LowCrap. Crap é porcaria. Na realidade esse estudo mostrou que dietas pobres em porcaria, pobres em alimentos processados, pobres em açúcar e farinha refinada, mas ricos em alimentos nutricionalmente densos e minimamente processados… Essas dietas vão funcionar mesmo sem restrição calórica – sendo ela low carb ou low fat. E aí tem um gráfico nesse estudo que é um dos gráficos mais fantásticos. Ele é um gráfico que colocou um risquinho correspondendo à perda de peso ou até o ganho de peso de cada um dos 603 pacientes, divididos em cada dieta. A gente vê que os gráficos são praticamente iguais, Rodrigo. Ou seja, tem gente que tem respostas fantásticas a essa intervenção meio low carb e tem gente com respostas fantásticas a essa intervenção meio low fat de comida de verdade. O que significa que realmente tem pessoas diferentes. Os testes genéticos não permitem saber quem é quem. O teste de insulina não permite saber quem é quem. De modo que o que vale é você mesmo testar em você mesmo o que que funciona melhor. Mas o estudo mostrou que seja lá o que você for testar em você mesmo, tem que ser com comida de verdade e não tem necessidade de restrição calórica voluntária. É fantástico isso.
Rodrigo Polesso: Até porque o gráfico mostra que ambos os grupos reduziram espontaneamente a quantidade calórica ingerida.
Dr. Souto: Ambos os grupos reduziram em cerca de 500 calorias por dia, sem terem sido obrigados a reduzir as calorias. Então, em low carb isso é clássico. Nós já sabemos que acontece. Agora o que esse estudo está sugerindo é o seguinte. Talvez não seja tanto por ser low carb que isso acontece e sim pela qualidade da dieta. Se fizermos ela low fat, mas ela tiver qualidade, ocorre uma redução espontânea do consumo calórico também. Eu acho que esse estudo é um estudo que vai ficar na história como um estudo muito bem feito para chacoalhar algumas convicções. É o tipo de estudo que a gente comenta feliz aqui para vocês. É bom que tenha um estudo que derrube alguns mitos e crie novas hipóteses e teorias a serem testadas.
Rodrigo Polesso: E que seja muito bem controlado também. Tem outros detalhes entre os dois grupos, só para deixar mais completo. Eles testaram também alguns marcadores biológicos. Teve um aumento na questão do HDL… No pessoal do low carb teve um aumento de 2,64 miligramas por decilitro, em comparação a 0,40 do pessoal do low fat. Achei mais interessante a questão dos triglicerídeos aqui. Diminuíram 28,2 pontos no pessoal do low carb e apenas 9,9 no pessoal do low fat. Até por isso a gente… Como você falou muito bem dito… A reversão de condições como diabetes, resistência à insulina ou síndrome metabólica… O low carb continua apontando benefícios nesse sentido. Como você falou, não dá nem de contestar. A gente já sabe que é a melhor intervenção. Só vamos manter as coisas em perspectiva.
Dr. Souto: Acho bom ter comentado isso. Mais uma vez, não vamos fazer confusão. Não tinham pacientes diabéticos nesses 609. E o estudo não tinha pacientes com síndrome metabólica, dislipidêmicos. Ele era um estudo focado em peso para ver qual era a melhor forma de predizer quem vai responder a uma dieta ou à outra. Porque não teria sentido perder tempo e gastar 8 milhões de dólares – que é o custou esse estudo – para demonstrar aquilo que todo mundo já sabe, que para síndrome metabólica low carb é melhor. Para gordura no fígado, low carb é melhor. Para diabetes, low carb é melhor. Então, o que nós estamos vendo é o seguinte. Para pessoas saudáveis, mas que estão com um pouco de excesso de peso… Pode ser que a pessoa prefira uma dieta low carb. Por exemplo, eu, mesmo sabendo desse estudo, não me passa pela cabeça consumir uma dieta com menos de 20 gramas de gordura. Isso para mim seria a morte. Eu simplesmente sou muito satisfeito com o estilo de vida low carb que eu sigo. Mas eu entendo que possa haver pessoas que têm um resultado melhor, como esse estudo mostrou… E que gostem, que prefiram, fazer uma dieta com uma quantidade maior de carboidratos. E aí vem a chave: carboidratos minimamente processados, sem açúcar, sem farinha refinada, mas com menos gordura. E se ambos podem produzir uma perda de peso significativa sem que haja necessidade de restrição calórica voluntária… Poxa vida, é mais uma alternativa que o nutricionista pode oferecer para seu paciente, agora baseado em evidência. Porque até então low fat era uma coisa que só funcionava nos estudos que controlavam calorias. Todo e qualquer estudo em que low fat produziu uma perda significativa de peso com resultado semelhante a low carb, era o seguinte… Ou o estudo controlava as calorias para que elas fossem iguais nos dois grupos ou o estudo deixava o grupo low carb comer à vontade, mas controlava as calorias do grupo low fat. Mas por quê? Porque é aquilo que falei antes, o grupo low fat só era orientado a controlar gordura. E aí é claro, o pessoal comia açúcar para caramba, comia alimentos processados. E aí, se não controlasse as calorias, a fome fazia com que a pessoa ganhasse peso. Então, repito, eu acho um estudo interessante. E aqui vou ler um outro parágrafo que eu escrevi. Eu acho que eu falei antes, mas escrito está melhor. Percebam, pessoal, a narrativa mudou. Poucos anos atrás, low carb era condenado porque seria uma alternativa doida, maluca, com riscos fictícios para os rins, fígado e coração. Até botei os links onde falei do fígado e coração… Para cada postagem onde a gente desmistifica essas bobagens. Hoje, 2018, a questão é tentar demonstrar que não é tão bom assim, e muita gente respirou aliviada quando finalmente surgiu um ensaio clínico randomizado que não mostrou superioridade de low carb. O que o pessoal está comemorando é a equivalência, dizendo assim: “Felizmente, low carb não foi melhor, foi igual.” Vê como mudou a narrativa. Como passa o tempo. E aí eu ainda acrescento assim. Se é equivalente (o que o estudo está dizendo é isso e as manchetes todas estão mostrando)… Estão dizendo, “Olha, as duas são iguais para perda de peso”. Então, eu botei: Se é equivalente, precisa ser incorporado às diretrizes nutricionais como opção válida e ensinado nas faculdades de nutrição. Eles não estão dizendo que é equivalente? Por ser equivalente… Tu não pode ter das duas formas. Ao mesmo tempo a gente comemora que o estudo mostrou que é equivalente, mas a gente continua achando que é ruim e dizendo na faculdade que não pode fazer. Não, se estão dizendo que é equivalente, têm obrigação de incluir no currículo como mais uma ferramenta a ser oferecida. Até porque é equivalente se for feito dessa forma, com comida de verdade e exclusivamente para peso, pessoal. Quando fala em diabetes, low carb é melhor. Quando fala em síndrome metabólica, low carb é melhor. Então, se chega para mim um paciente gordinho e com síndrome metabólica, qual é a melhor opção? Low carb. Se chega para mim um paciente gordinho e com diabético, qual é a melhor opção? Low carb.
Rodrigo Polesso: É. Eu acho que… É complicado. Eu acho que esse estudo, por mais que ele seja bem controlado, e é bem melhor controlado do que a maioria dos ensaios que a gente viu por aí… A gente não pode esquecer que nós estamos tratando de seres humanos. É quase difícil a gente fechar todas as lacunas e tentar controlar perfeitamente como se fosse um robô, como se fosse um ensaio in vitro, no laboratório. Então, existem algumas nuances que faz a gente pensar um pouco… Se a nossa vida dependesse dessa decisão, qual das duas rotas a gente tomaria? É difícil saber essa resposta com certeza. Tem vários pontinhos fracos. Só para ganhar uma sobriedade também, para entender isso que a gente falou de empatar… Que é o primeiro estudo que empatou… O primeiro não, mas enfim. É entender justamente isso. Não é o primeiro. No momento existe 29 ensaios clínicos randomizados sumarizados pelo Public Health Collaboration UK, que mostram uma vantagem estatisticamente significante de perda de peso para low carb, quando comparado com low fat… 29. No entanto, existem também 28 ensaios clínicos randomizados que também não mostram essa diferença estatisticamente significante. Ou seja, mostram um empate. Esse estudo de agora entraria nesse grupo de 28… Ele não é único, entra no bolo.
Dr. Souto: Sabe o que que não existe?
Rodrigo Polesso: O oposto, low fat sendo melhor…
Dr. Souto: Isso. Então, levem essa mensagem. Está bem. É muito interessante. Eu gostei do estudo. Comemorei, escrevi essa postagem. Mas isso que o Rodrigo falou é verdade. tem lá 29 estudos em que a low carb é melhor. Em 28 que low carb e low fat estão empatados. Mas esses 28, praticamente todos é com controle calórico. Agora, não existe um único estudo em que low fat tenha sido estatisticamente superior. O que mostra para vocês que… Assim… Tipo… Não precisa competir. Esse estudo mostra que podemos oferecer diferentes opções para diferentes pacientes. Mas se quiser competir, tem um vencedor.
Rodrigo Polesso: É, tem um vencedor bem claro.
Dr. Souto: Não pisa nos nossos calos.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Acho que essa mensagem é importante… A gente deixar aqui frisada. Eu falo direto… Sempre que eu posto… A alimentação forte… O fundamento dela… É alimento de verdade. Dentro dessa filosofia de alimento de verdade, você se adapta melhor com uma dieta cetogênica, dentro disso… Uma dieta low carb… Ou moderado… Uma parte mais alta em carboidrato… A escolha é sua. Mas o rótulo alimentação forte significa baseada em alimentos de verdade. A gente não está competindo com ninguém. A gente está defendendo uma alimentação como sempre foi na nossa evolução humana. Com alimentos de verdade, não alimentos criados na indústria necessariamente. Essa que é a constante que a gente defende aqui na Tribo Forte, Dr. Souto. A gente não está competindo com ninguém. A gente está defendendo a alimentação que a gente está evolutivamente programado para digerir, para metabolizar. Isso que é importante ter em mente aqui. Não é um podcast de… Apesar do low carb ter grande vantagem, a gente não veste a camisa e sai por aí na rua com placas, né, Dr. Souto? Bacon, bacon, bacon, low carb, low carb, low carb… A gente defende comida de verdade. Principalmente, além de tudo.
Dr. Souto: É isso aí. Esse estudo é o triunfo da comida de verdade.
Rodrigo Polesso: Tem uma mensagem antes de fechar esse assunto. Eu estava lendo no… Às vezes me divirto lendo a mídia. Ela repercute essas notícias. Tem no portal G1, do Bem Estar… No portal do Bem Estar eles repercutiram essa notícia. Tem uma parte interessante que eles pediram… Eles sempre pedem opinião de um especialista. Bom, tenta entender o tipo de problema cognitivo que essa pessoa tem. Mas ela falou assim. “Para os cientistas relacionados do estudo, independente da dieta, é fundamental pensar em um ponto na hora de comer: um refrigerante pode ter pouca gordura, mas não é saudável. Assim como a gordura da carne tem pouco carboidrato, mas comer um abacate seria mais saudável.” O que você tira disso? Eu tive que ler umas cinco vezes para tentar entender o que isso quer dizer.
Dr. Souto: É, basicamente… Há uma necessidade compulsiva de dizer que a carne faz mal. Eles não perdem a oportunidade. Mas, enfim…
Rodrigo Polesso: “A gordura da carne tem pouco carboidrato.” Não entendo essa parte.
Dr. Souto: É, mas é fato. A gordura da carne tem pouco carboidrato.
Rodrigo Polesso: É fato, mas é meio ridículo de dizer.
Dr. Souto: Deixa eu aproveitar e falar de um estudo… Nós não vamos cobrir ele hoje, Rodrigo, mas assim… Ele encaixa bem no que estamos falando. Saiu publicado na revista Cell Metabolism, agora na semana passada também, um estudo curto, com poucos pacientes, mas para tentar medir o efeito de uma dieta de baixo carboidrato em gordura no fígado, em esteatose. Mas com um detalhe muito interessante. Neste estudo eles mantiveram as calorias em 3.100 por dia. Era para garantir que ninguém emagrecesse. Ou seja… Porque o pessoal sempre diz assim… Por que que low carb pode ajudar para gordura no fígado? Porque a pessoa sente menos fome e come menos. Não, pessoal. Low carb produz melhora significativa na gordura no fígado mesmo que você entupa a pessoa de calorias.
Rodrigo Polesso: É uma mudança qualificativa, não quantitativa.
Dr. Souto: Por isso que nós estávamos dizendo. Aquele outro estudo está mostrando… Não é para diabetes, não é para síndrome metabólica, não é para gordura no fígado. Para gordura no fígado, low carb é imbatível. Então, olha lá. Uma dieta com essa restrição – menos de 30 gramas – rica em proteínas (24%), com o mesmo número de calorias (3115 por dia) foi oferecida por 14 para 10 participantes, que eram obesos e tinham fígado gorduroso. Apesar de todo esforço que eles não perdessem peso, eles ainda perderam 1,8% do peso corporal, porque low carb é foda. Apesar da pequena perda de peso, houve uma enorme redução da gordura do fígado. Sabe quanto? 43% de redução na gordura do fígado em 14 dias.
Rodrigo Polesso: É muito rápido.
Dr. Souto: Quem está nos ouvindo… Não tem remédio que faça isso. E não tem low fat que faça isso. Para situações como síndrome metabólica, diabetes, gordura no fígado, low carb reina soberana. Ali nós estávamos discutindo assim… Para pessoas saudáveis existe a possibilidade da comida de verdade, sem ser low carb, como alternativa para perda de peso. Não vamos confundir as coisas. A imprensa está confundido tudo.
Rodrigo Polesso: É, exatamente, exatamente. Fazer um break entre esse ponto e próximo. Tem dois casos de sucesso aqui. Sempre é legal ver coisas positivas. O Carlos… A gente já falou do Carlos antigamente. Uma pessoa muito exemplar dentro do fórum da Tribo Forte. Ele postou recentemente uma foto bem bacana dele numa piscininha com a filha dele… Numa foto que ele tinha feito antes com a mangueira na cabeça, com água espirrando na cabeça e depois também ele fez… Para comemorar o aniversário dele, segundo ele. Aniversário do Código Emagrecer de Vez. Aniversário de um ano que ele começou o programa, na verdade. Então, o resultado desse um ano, falando em melhora de condições… Ele perdeu 42,6 quilos. Ele perdeu 39 centímetros de cintura. 35 centímetros de barriga. 28 de peito. 25 centímetros de quadril. E por aí vai. A lista é grande. Ele o seguinte. “Finalmente chegou o dia de comemorar o primeiro ano do Programa que me propôs ter minha saúde de volta.” Isso sim é mudança. É incrível, incrível, incrível… De ver este tipo de mudança. Faço questão de falar aqui. Um ano, pessoal. Mudança de vida e saúde.
Dr. Souto: No estudo lá que nós estávamos falando eram 603 pessoas. Ninguém teve essa perda de peso que ele teve. Então, realmente… Como seria o resultado daquele estudo do JAMA se as pessoas mantivessem, realmente, low carb por um ano? Porque comendo 130 gramas de carboidrato por dia, obviamente o resultado já não vai ser tão bom. E claro, aquilo era um estudo randomizado. Isso é bom porque diminui alguns vieses, mas num estudo randomizado você é sorteado para fazer uma determinada dieta. Já o nosso amigo, nosso leitor aqui não foi sorteado. Ele escolheu isso para si. Então, ele vai seguir com muito mais afinco, com muito mais dedicação. E, claro, quanto mais dedicação você coloca, mais retorno você obtém.
Rodrigo Polesso: Perfeitamente colocado. Eu dizer… No ensaio clínico randomizado são 600 pessoas. Como você vai saber se essa pessoa não está comendo parte dos carboidratos de açúcar… Comer um donut aqui ou ali. As pessoas estão em vida livre. Não tem como controlar.
Dr. Souto: Com certeza. Aqueles que tiveram os melhores resultados daqueles 600 estavam seguindo mais certo qualquer uma das duas hipóteses de dieta.
Rodrigo Polesso: Tem gente que ganhou peso, inclusive.
Dr. Souto: Teve gente que ganhou peso, nas duas dietas, tanto em low carb quanto em low fat. Teve um pequeno grupo que ganhou peso nas duas dietas. Dificilmente a pessoa está fazendo direitinho. Até acredito que tenha dificuldade de perder, mas para ganhar…
Rodrigo Polesso: É. Quando fala em controlar comida, as pessoas têm uma visão bem distorcida. Mas isso só mostra quão difícil é de controlar os seres humanos nesse aspecto, quando eles não compram a ideia eles mesmos, como é o caso do Carlos aqui e também da Eliana, que é o segundo caso de sucesso aqui. Ela postou duas fotos. Muito bacana a diferença muito grande nessa foto. Às vezes a gente não vê diferença, nessa dá para ver bastante. Uma diferença de menos 13 quilos. Ela falou, “Feliz com tudo isso.” Ela também agradeceu… a também aluna do Código Emagrecer de Vez. É basicamente alimentação forte, comida de verdade, otimizada de uma forma estratégica, passo a passo, com protocolo de jejum intermitente e também uma estratégia mais low carb. Porque isso tende a ajudar a maior parte das pessoas. Obrigado a vocês depois por terem mandado o caso de sucesso aqui. Muito bom saber disso. Falando em estudo bom… Agora é hora de falar de um estudo ruim, então. Será que low carb é perigosa para mulheres grávidas? Na revista Saúde saiu o seguinte. “Dieta low carb não é para todas as mulheres.” Não estou falando “pode ser” ou “talvez não seja”. É “não é para todas as mulheres”. ” Quem está grávida ou pensando em engravidar não deveria cortar os carboidratos radicalmente da rotina. Segundo estudo, isso traz prejuízos para o feto.” O motivo… O argumento para dizer isso é que me deixa gargalhando. Mas a gente vai chegar lá, olha só. Dr. Souto, vou deixar você falar primeiro, porque vou ler a parte desse estudo que é a parte engraçada. Você pode falar a parte séria do estudo para o pessoal.
Dr. Souto: Bom, então assim… Nós acabamos de falar antes de um estudo super bem feito. Ensaio clínico randomizado padrão-ouro. Um dos autores daquele ensaio clínico randomizado era o Dr. John Joanides… Que é um dos maiores bioestatísticos… Um cara brilhante. O trabalho dele é sensacional. Bom, esse aqui é um estudo observacional, mas ele não é apenas um estudo observacional. Ele é o pior tipo de estudo observacional que tem. O mais fraco do ponto de vista metodológico, que é chamado estudo de caso-controle. Aqueles que a gente normalmente discute aqui que a Escola de Saúde Pública de Harvard gosta de fazer é assim… Eles têm uma coorte. Tem pacientes que eles vão acompanhando, aplicando questionários… Depois de uns anos eles veem quem adoeceu, quem não adoeceu e o que a pessoa respondeu no questionário lá trás. Aqui eles fizeram o seguinte. Pegaram um banco de dados de mães de crianças que nasceram com problemas fetais de tubo neural. E aí escolheram outras que tivessem a mesma idade, o mesmo perfil étnico para comparar. Não era um grupo que eles vinham acompanhando. Esse tipo se chama caso-controle. É o pior delineamento que tem, porque os grupos tendem a ser diferentes em várias outras características que os pesquisadores simplesmente não conseguem controlar. A hipótese deles de estudar o assunto da dieta é absolutamente fascinante. Estou passando a bola para você de novo, Rodrigo.
Rodrigo Polesso: Vou ler o que o bendito do artigo aqui fala. Essa história toda do estudo tem a ver com ácido fólico. Ácido fólico é vitamina B9. Na verdade não… Essa é uma diferença crucial que eu quero pegar aqui. A gente fala ácido fólico em português, mas em inglês tem o folic acid e tem o folate, que é a mesma coisa de vitamina B9. Veja, o folate e a vitamina B9 são as formas naturais dessa vitamina. Acontece naturalmente na natureza. A gente absorve muito bem. O ácido fólico, folic acid, que a gente fala em inglês… Ele é sintético. Não é uma forma natural disso. Só para deixar claro. Tem vários alimentos que são fortificados com esse ácido fólico, que não é a forma natural dele. Mas vamos lá… O que o estudo fala? O estudo não. O artigo fala. “Trata-se do nutriente essencial para garantir o bom desenvolvimento do tubo neural (o ácido fólico). Nos Estados Unidos, desde 1998 os produtos à base de grãos são enriquecidos com o ácido fólico. No Brasil, não é diferente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária também exige que as farinhas de trigo e milho sejam turbinadas com a substância.” Essa parte que é legal. “De olho nisso, fica fácil entender por que abolir massas, pães e companhia não é uma boa ideia durante a gravidez ou no momento que antecede a concepção do bebê.”
Dr. Souto: Agora pausa. Pausa. Rodrigo, será que até o advento dessa lei em 1998 nos Estados Unidos não existia ácido fólico na nutrição das pessoas? Não existia folato nas pessoas?
Rodrigo Polesso: É isso que eu disse. Se dependesse de farinha e massa para ter gravidez saudável, a gente já teria sido instinto há 2 milhões de anos pelo menos.
Dr. Souto: É, ou então o ser humano sintetizaria sua própria vitamina B9. Se ela não existisse na natureza… Pessoal, olha que interessante. O nome “fólico” vem de folha, porque o ácido fólico – folato – foi originalmente isolado em folhas, sabe de quê? Não é de trigo. Nem de milho. Foi isolado em folhas de espinafre. Mas não é só o espinafre que tem. Tudo o que é verdura, tudo o que é alimento verde, tudo o que é fruta tem ácido fólico. Eu até brinquei na minha postagem. Eu disse que a vitamina B9 não se chama ácido “farínico”, nem “carboidrático”, nem ácido “biscoitico”. Ele se chama fólico por um motivo, porque ele está presente nas foliosas. Então, uma pessoa que faz uma alimentação forte, uma alimentação com comida de verdade vai ter mais ácido fólico na dieta e não menos. Que tipo de mente deturpada imagina que se a pessoa não comer farinha, então ela não vai consumir ácido fólico nenhum porque a única fonte de ácido fólico é o ácido fólico artificialmente introduzido num alimento que não tem nenhum ácido fólico, que é a farinha e o milho. Se a pessoa não consumir alimentos processados, farináceos, pães e tal ela vai ser deficiente de ácido fólico. Bom, só se ela comer só porcaria. Agora, quem segue uma alimentação forte, quem segue uma alimentação low carb, quem pegar o livro do Dr. Atkins em 1972 vai ver ali as xícaras cheias de vegetais que ele manda comer. Qualquer um que tenha lido um livro de dieta low carb, qualquer um que tenha ido num nutricionista que orientou uma dieta low carb, qualquer um que siga o que a gente está falando aqui, qualquer um que siga tanto a low carb quanto a low fat do ensaio clínico randomizado que nós falamos no início do podcast… Vai estar comendo ácido fólico para caramba. É grotesco isso.
Rodrigo Polesso: Eu me arrepio quando um jornalista começa a colocar opinião ou a concluir coisas, que é nesse caso… Nessa parte que ele falou: “De olho nisso fica fácil entender que abolir massa, pães e companhia não é uma boa ideia quando está na gravidez.” Massa pães e companhia é tão ruim que os caras têm que colocar vitamina dentro. Ácido fólico não é a única vitamina que é colocada lá. E tem que colocar artificialmente coisas lá dentro para ser útil de alguma forma para o corpo. Como você falou, as melhores fontes de vitamina B9, folato, ácido fólico não são as mas vitaminas… Se se pedir para comer vitamina… Comer farinha e massas para ter uma ingestão correta de ácido fólico, é como se nós precisássemos comer, sei lá… Comer um bolo de aniversário para nutrir o corpo de proteína. Tem proteína no bolo de aniversário, mas tem muito mais coisa que vai te causar mal do que a proteína.
Dr. Souto: Eu também escrevi na postagem sobre isso… Eu botei assim… Apenas para que fique mais claro: a deficiência nutricional não advém da falta de farinha. É o contrário. A farinha, ao deslocar outros alimentos realmente nutritivos, e, portanto, a farinha gera deficiência nutricional. E o que que a lei faz? O que a vigilância sanitária faz? Para remediar a carência nutricional de quem se alimenta basicamente de carboidratos refinados… Porque quem se alimenta basicamente de carboidratos refinados acaba desenvolvendo carências nutricionais porque estes carboidratos refinados não têm nutrientes. Para remediar isso aí, então se faz a fortificação nutricional obrigatória da farinha, com ferro, ácido fólico. Seria como a gente dizer assim… Você está consumindo um negócio tão pobre em nutrientes, tão desprovido de nutrientes, que você deveria também consumir um suplemento de vitaminas. Mas nós vamos facilitar sua vida. A gente já vai misturar as vitaminas na farinha. A conclusão que eles chegam nesses artigos é sensacional, porque basicamente é o seguinte. A solução do problema não é você consumir uma dieta mais nutritiva, é você consumir uma dieta menos nutritiva, mas suplementada com ácido fólico. Enfim, é duro.
Rodrigo Polesso: Algumas das melhores fontes de ácido fólico natural… Não esse ácido fólico sintetizado… Eu falo o folato – folate – a vitamina B9 natural… O Dr. Souto já falou… Espinafre, alface, saladas no geral. Folhas. Aspargos. Brócolis. Frutas cítricas. Abacates. Sementes, nozes, amêndoas. Couve-flor. Cenouras e abóbora. Ácido fólico, Dr. Souto… Não é de folha não… Olha só… A segunda melhor fonte de ácido fólico…
Dr. Souto: Fígado.
Rodrigo Polesso: Exatamente. Fígado, claro. A segunda melhor. Não é a primeira, mas é a segunda melhor. Para variar, fígado é o alimento mais nutritivo da face da Terra. Está aí no ácido fólico também. E não é nem do mundo vegetal. Quem que falou no grupo… Cadê a salada? Vou comer salada para que se o bicho que estou comendo já comeu ela por mim?
Dr. Souto: É. Claro, eu estava brincando ali… Obviamente o que aconteceu é que… Em vez de botar uma foto da salada que eu comi e depois botar a foto do churrasco que eu comi, eu botei só a foto do churrasco. Não preciso ficar fotografando cada coisa que boto na boca. O objetivo era só mostrar para as pessoas, olha que gostoso essa carne com queijinho. Um detalhe interessante para quem está nos ouvindo é o seguinte. Esse estudo não estudou pessoas fazendo low carb. Deixa eu repetir isso para vocês, porque é importante. Quem lê as manchetes não fica com isso claro. Ele não foi um estudo que pegou pessoas estão fazendo dieta low carb e comparou com controles que não estavam fazendo dieta low carb. Eles pegaram aqueles questionários alimentares que as pessoas respondem que são completamente não confiáveis e viram aquelas mulheres que relatavam nos questionários que consumiam menos carboidrato. Se elas consumiam aquilo que elas estavam relatando, eu não sei. Se elas estavam tentando fazer uma dieta low carb, eu não sei. Eles pegaram quem relatava consumir menos de 95 gramas de carboidrato. Menos de 95 não é uma dieta low carb, muito menos cetogênica, tradicional. Se a pessoa está consumindo 90, 80 gramas de carboidrato ela está consumindo bastante vegetais. Eu acho assim, Rodrigo… Não custa dizer… Ninguém está propondo que se faça uma dieta cetogênica na gestação. Até porque não existem estudos sobre a segurança disso. Mas uma pessoa que está consumindo 95 gramas de carboidrato, ela não está fazendo uma dieta cetogênica, ela está consumindo… Sabe quanta batata precisa comer para comer 100 gramas de carboidrato? Precisa comer meio quilo de batata. Alguém consegue comer meio quilo de batata numa sentada?
Rodrigo Polesso: Se for frita…
Dr. Souto: O estudo se quer… Se fossem pessoas que estão seguindo uma dieta low carb, bom, como eu falei antes… Quem segue low carb come mais vegetais do que quem não segue low carb. Na maior parte das vezes. Ou seja, tem mais ácido fólico. Inclusive, eu cito aqui nessa minha postagem um estudo que saiu na mesma semana no qual se fez uma comparação dos nutrientes de pessoas seguindo uma dieta low carb, pessoas seguindo uma dieta ocidental padrão e, sem que haja nenhuma surpresa no que vou dizer, o grupo low carb consumia mais ácido fólico. Mais ácido fólico, inclusive, do que o mínimo requerido. O que se sugere para as mulheres que vão engravidar é que consumam pelo menos 400 microgramas de ácido fólico por dia. Pois o grupo low carb nesse estudo recente consumia 550 microgramas de folato por dia. Folato natural, obtido nos alimentos.
Rodrigo Polesso: Espetacular. O fígado… A gente estava falando… A segunda melhor fonte de folato… 100 gramas de fígado têm 63% do ácido fólico que você precisa no dia. Só 100 gramas. A primeira fonte… Olha só que curioso… A primeira fonte de ácido fólico, ou folato, que eu prefiro dizer, é o grão de bico. Quem diria. Grão de bico. Primeira fonte. A fonte mais poderosa de folato.
Dr. Souto: Até deixa eu contar para nossos ouvintes. Eu andei testando o efeito glicêmico de vários alimentos, que eu estava testando um monitor contínuo de glicose. A pasta de grão de bico, o hummus, feito com grão de bico e o tahine, que é o óleo do gergelim… Uma delícia. A pasta de grão de bico, pelo menos em mim, que não sou diabético, praticamente não teve efeito nenhum na glicose. Então, o grão de bico tem um índice glicêmico bem baixo e consumido na forma de pasta de grão de bico… Que aí tem a gordura junto… E a gordura diminui ainda mais o índice glicêmico… Eu consideraria, pelo menos em mim, nos testes que eu fiz, como um alimento low carb.
Rodrigo Polesso: Olha só. Interessante. E de brinde é um ótimo suplemento de folato, aparentemente.
Dr. Souto: E gostoso.
Rodrigo Polesso: E muito gostoso. A moral da história que a gente está vendo hoje… A constante de hoje… De novo, pode ser low carb, high carb, médio carb… O que quer que seja… Só vai funcionar e ser saudável se for baseado em comida de verdade. Não é surpresa para ninguém. Entre todas as variáveis possíveis esta parece ser a única constante de todo esse assunto. Enfim é hora de falar de comida. Você está acordando. O que você comeu ontem à noite para compartilhar com o pessoal?
Dr. Souto: Ontem à noite eu acho que belisquei alguma coisa qualquer, Rodrigo. Não jantei. Devo ter pego um punhado dessas coisas com folato, tipo uma castanha. Hoje de manhã eu peguei… Os nózinhos de provolone.
Rodrigo Polesso: Sei, sei.
Dr. Souto: Aqueles queijinhos que parecem umas bolinhas assim. Eu peguei quatro nozinhos de provolone, botei num pratinho, botei páprica picante em cima, derreti no micro-ondas, comi, tomei um café e fui trabalhar.
Rodrigo Polesso: Fácil, fácil. Tranquilo. Muito tranquilo.
Dr. Souto: Infelizmente não tinha pão para eu receber meu ácido fólico.
Rodrigo Polesso: Vai ficar deficiente, vai fazer o quê.
Dr. Souto: Mas agora no almoço vai ter uma saladinha.
Rodrigo Polesso: Aí já compensa um pouco. Em vez da saladinha, pega o fígado com a cebolinha…
Dr. Souto: Sou mais o grão de bico.
Rodrigo Polesso: É impressionante como o pessoal vira o nariz para isso aí. Eu degustei um salmão delicioso. Coloquei uma banha de porco primeiro só para não grudar. Um salmãozinho, um abacate inteiro, uma fatia de queijo brie. Meus Deus do céu, estou no paraíso. Não preciso de mais nada. Por eu repetiria isso diariamente também. Enfim… Comi de verdade. Coloquei no Instagram também. De vez em quando eu mostro para o pessoal. Não é rocketscience, Dr. Souto… É só pegar alimento que a gente reconhece no mercado. Alimento de verdade, outro, outro, cozinha, pronto… Rápido. Não precisa nem fazer massa, nem colocar fermento, nem misturar como se fosse um laboratório… Cresceu, não cresceu… Você cozinha está pronto. Ficou satisfeito. Está resolvido.
Dr. Souto: É isso aí.
Rodrigo Polesso: Maravilha, pessoal. Isso aí. Esse podcast está recheadíssimo para você. Espero que tenha sido útil. Com certeza a gente se fala semana que vem novamente. Mantenha as coisas em mente. Comida de verdade acaba reinando sobre todas as outras balelas sobre todas nuances. Dr. Souto, obrigado por sua atenção. Tenha um bom dia. E também o pessoal… Uma ótima semana. A gente se fala semana que vem.
Dr. Souto: Obrigado. Obrigado a você que nos escuta. Até semana que vem.